__ Está no meio de uma teia. Uma teia invisível, mas que o observa a cada instante. Um passo em falso, e tudo se quebra. Todas as cordas da teia se cortam, e nunca mais vamos conseguir acabar com isso. Precisa ter cuidado, Will. Precisa ter cuidado com as aranhas.

Ele a olha nos olhos, absorvendo cada palavra da irmã. Sentada em uma poltrona de veludo vermelho, e sem o casaco pesado, Sophia era deslumbrante - mal parecia ter a idade que tinha. Era três anos mais velha que Mycroft, e, pelo visto, tão ou mais genial que ele. Uma geração inteira de uma família, todos gênios psicóticos. Deliciosamente curioso.

Dispostos ao torno de uma lareira, no hall do pequeno hotel em que Sophia alugara um quarto para a dupla, os três discutiam os planos para o dia seguinte. Molly finalmente pudera tirar o excesso de roupas, restando somente uma blusa branca, uma jaqueta preta, as calças jeans claras e os tênis confortáveis. Ao lado de sua poltrona listada de branco e bege, uma mesa deixava a disposição dos hóspedes uma garrafa de whisky, algumas bolachinhas doces e uma bomboniere cheia de pequenos docinhos.

Sherlock fizera questão de tirar o casaco e o cachecol, deixando o paletó e a camisa roxa – que ele escolhera propositalmente – a mostra. Sentou-se ao lado da irmã, a frente do fogo. Molly e Sophia se encaravam. Não que Sophia não tivesse gostado da vinda da garota, ela realmente poderia ser namorada de seu irmão. Mas não parecia ser o tipo de mulher que trabalharia junto com Will. Era isso que temia. Que o garoto Holmes tivesse que fazer tudo.

__ Sabe que eu sempre fui muito cuidadoso, Phia – ele responde. – Sei como fazê-los dançarem nas nossas mãos.

__ Sei que sabe. Mas tomei algumas precauções. Criei duas identidades falsas para vocês. Poderão pegá-las amanhã de manhã, quando começarem a trabalhar. Vão a esse endereço, e receberão as carteirinhas. Depois, sigam Sebastian até...

__ Sebastian?

__ Sebastian Moran – ele pronuncia, devagar, arrumando-se na poltrona a direita. – Atirador de elite, era braço direito de Moriarty. Coordena os esquemas do lado francês e sérvio. A irmã, Charlotte Moran, organiza as pontas britânicas e russas.

__ Achei que o nosso país não estivesse dentro dos esquemas.

__ Está mais do que eu gostaria de admitir, ma chérie – ela deu uma bicada na bebida. – Os britânicos parecem extremamente propensos a fazerem acordos com psicopatas. Olhe quem deixaram entrar no governo: Mycroft.

Os três riem, observando o crepitar da chama na lareira.

__ Mas enfim, por hoje, é tudo que precisam saber. Molly, querida, vai passar muito frio aqui. Sugiro que pegue algumas roupas minhas. Vão lhe servir, embora você tenha mais peitos que eu.

Molly corou, deixando a pele em um tom quase magenta. Sophia a analisa da cabeça aos pés, medindo cada parte do corpo da jovem. É um pouco vergonhoso, mas Molly tentou não se incomodar.

__ Obrigada, mas não será necessário. Posso comprar algumas coisas, trouxe bastante dinheiro.

__ Sem problemas, fique a vontade – ela força o “r” francês. – Ah, e mais uma coisa. Daqui duas semanas, teremos uma festa de gala, só para os chefes de estado e os mais influentes. Obviamente, Moran e a irmã estarão presentes, assim como eu. E quero vocês dois lá também. Então, chérie, sugiro que guarde o dinheiro para um vestido parisiense. E você, irmãozinho, trate de se comportar nessa festa. Você sabe que não foi feito para o álcool – ela bebe mais um gole, fazendo as pedras de gelo tilintarem no copo.

Seria uma longa aventura. Maior do que qualquer um poderia imaginar.