Happy Birthday, Molly escrita por Louise


Capítulo 3
Dois dias


Notas iniciais do capítulo

Bom, meus xuxus, Tia Lua aqui de novo. A partir de agora, alguns flashbacks vão começar a acontecer, então se liguem para não ficarem perdidos no espaço tempo continuum o/ Espero que curtam :D



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*Flashback, dois anos atrás (logo após o suposto suicídio do Sherlock)*

__ Bom dia, Sherlock - a legista cumprimentou. Ela, sentada confortavelmente na mesa da sala de jantar, o observava descer as escadas. Sherl jogou os cachos com a mão, tentando arrumá-los. No rosto, os espólios da guerra do dia anterior já não sangravam, mas ainda eram evidentes, cortes espessos.

A casa de Molly era espaçosa o suficiente para duas pessoas. Dois quartos - o dela e o de hóspedes -, a sala, um cômodo aconchegante (sobretudo nos meses mais frios, pela lareira), uma cozinha perfeitamente e bem organizada e um jardim enorme, onde Lara - a gata siamesa da ruiva - descansava sob o sol da manhã.

__ Hm, oi - ele respondeu. - O que é isso? - apontou para a mesa posta.

__ Isso é o café da manhã, bobinho - ela respondeu, rindo. - Nunca viu?

__ Nope - respondeu, sério. - Posso?

__ Claro, senta ai.

O detetive sentou-se. Diante de si, uma mesa farta, com cesta de pães, chá, café, leite, frios, queijo branco e outras coisas, que ela sabia que ele gostava. Molly fizera as últimas compras mensais baseadas no gosto do hóspede. Serviu-se com chá e leite, puxou algumas bolachinhas e calou-se.

A legista estava, de certo modo, feliz. Seu amor, morando em sua casa, ambos dividindo o mesmo teto. Ela sabia que aquilo seria temporário, e que a mudança de casa não era por espontânea vontade. "É só um truque de mágica" ela repetia a noite, com a cabeça no travesseiro. Mas ainda era válido.

__ Então... - ela começou - O que vai fazer? Quero dizer, não pode aparecer no hospital para trabalhar, ou sair por ai andando. Você está morto... Para eles - completou.

__ Vou ficar aqui - ele respondeu, entre dois goles de chá. - Preciso falar com Mycroft.

__ Tudo bem, sem problemas - "Vou ter que fechar TODAS as trancas do meu quarto". - Bom, vou indo.

Levantou-se da mesa, puxando o casaco do encosto da cadeira.

__ Fique a vontade. Tem um chuveiro no banheiro dos hóspedes, no andar de cima.

Ele, nada respondeu. Fitou-a, enquanto mastigava uma torradinha.

__ Adeus, Sherlock.

Molls beijou-lhe a bochecha. Ele sentiu a pressão dos lábios quentes em sua pele fria, enquanto aproveitou a proximidade para escaneá-la. Calças jeans, camiseta preta. A lingerie por baixo mais o sobretudo caro, iria sair com alguém a noite, provavelmente sem voltar para se arrumar.

"Consegui, ele notou a lingerie. Ou não teria olhado duas vezes para o meu decote - que nem estava tão generoso assim".

Saiu devagar, passando pela sala para pegar a bolsa preta. Logo que tocou a maçaneta da porta, ouviu seu nome. Virou-se automaticamente para a fonte do som, que agora localizava-se a poucos metros de seus olhos. Diante de si, o peitoral do moreno. Olhou-o nos olhos.

__ Obrigado, Molly Hooper.

Deixou um beijo tocar a testa da anfitriã, mas antes, envolveu-a em um abraço apertado. Ele precisava agradecê-la de alguma forma. Ela era a única que, mesmo vendo mentiras e mais mentiras sobre ele sendo contadas, o veneno de James sendo derramado sobre seus amigos, manteve-se fiel, acreditou em Sherlock. A única que o ajudou, justamente quando ninguém o fez. Aquela que não era obrigada a ajudá-lo.

Uma Hooper confusa saiu porta afora. Que turbilhão! Ela, há dois dias atrás, mal poderia imaginar o quanto sua vida mudaria. Sherlock Holmes, em dois dias, mudara-se para sua casa, fingira sua própria morte, sumira por um dia inteiro e só aparecera no dia seguinte, a noite, todo escorado e machucado.

Que bela confusão.

*

Holmes olhou para a porta do quarto de Molly.

Uma olhadinha só. Porque não?

Vamos, Sherlock, você é esperto o suficiente, ela mal vai notar que esteve ali.

Porque não?

Girou a maçaneta da porta branca. Trancada.

"Não seja por isso".

Forçou a porta no ponto certo, ouvindo, depois da segunda tentativa, as engrenagens funcionarem. Mexeu a maçaneta novamente. A porta entreabriu.

Estava mais arrumado do que ele esperava. Imaginou-o todo bagunçado, com as roupas jogadas pelo chão e os sapatos distribuídos em torno da cama, como nas casas de outras solteiras que conheceu. A imagem de John lhe veio a mente, e o quanto o quarto do solteirão era desarrumado – ele nunca conseguiu mantê-lo limpo por mais de três dias.

Não era muito mobiliado: uma cama debaixo da janela à direita, um guarda-roupa na parede oposta e a escrivaninha ao lado da porta do banheiro. A janela aberta deixava uma brisa fria entrar, e fazia com que o cheiro leve do perfume doce de Molly corresse até as narinas do intruso. Lembrou-se da primeira vez que sentiu aquele cheiro angelical. Ela estava excepcionalmente bela naquele dia, pelo que Sherlock podia recordar.

Algo dizia para ele não fazê-lo. “Ela vai te matar por ter arrombado a porta do quarto dela”, alguém repetia, tentando, a cada passo, fazer com que ele desse meia volta e saísse. Mas, por outro lado, alguém também o encorajava; “ela te ama; use isso a seu favor, ela não vai ficar brava”.

Parou diante da escrivaninha. Entre dezenas de papéis, laudos do necrotério e saquinhos de Butter Toffe, um caderno velho de capa vermelha chamava a atenção. Tirou-o do tampo e o abriu, esperando filhas amareladas pelo tempo e decoradas com palavras. Quando de fato o abriu, teve uma surpresa um pouco maior.

Desenhos. Muitos desenhos.

“Ela desenha. E muito bem”.

A cada página que virava, se impressionava mais com o talento da jovem. Grande maioria deles eram do próprio Sherlock trabalhando, cenas que ela via quase todo o dia intercaladas com visões de praias desertas, casas de campo no topo de morros e pores-do-sol. As datas, ao lado das assinaturas, progrediam desde 2011 até um que ela terminara ontem. Aquele era diferente dos outros. Estava colorido. Um par de olhos meio verdes meio azuis observava o detetive com repulsa, como se ordenasse que Holmes fosse embora.

__ Ela realmente gosta de você. Pena.

__ Fico feliz em saber que aceitou meu convite – ele ainda folheava o caderno, observando mais atentamente os traços da artista.

__ Você disse que queria me ver.

__ Achei que fosse demorar menos. Está ficando lerdo.

__ O que quer, Sherlock?

__ Saber para onde vou primeiro. Você está cuidando dos documentos, Mycroft.

__ Não consegue se manter um dia sequer fora do trabalho. Bom, Sherlock, diria que é mais prudente que começasse com a parte francesa da teia. Seus registros já estão prontos – olhou sobre o ombro do irmão, visualizando os olhos desenhados. – Moriarty parece que se esqueceu daquele canto, está mais vulnerável que o resto. Excelente lugar para começar. Ah, e vai precisar de um ajudante. Uma mulher, sendo exato. Ela seria uma boa peça para mexer no tabuleiro – maneou a cabeça em direção ao caderno de desenhos.

__ Molly? Não.

Ele já a tinha colocado em perigo, pedindo para ela aceita-lo em sua casa. Molls já estava enfiada até o pescoço nas tramoias do Holmes mais novo.

__ Ela não o ama? Vai querer ajudar você de bom grado. A garota Hooper é esperta, vai saber se virar se algo acontecer, é perfeita para o trabalho. O jatinho que o governo me forneceu parte da base secreta às oito horas da manhã. Você tem dois dias para resolver tudo antes de partir.


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Notas finais do capítulo

E ai, gostaram? Eu tinha falado que não iria postar até quinta, mas a vontade de escrever era tão forte que fiz mais um capítulo! Comments são sempre bem-vindos :3

Beijinhos da ruiva,

Amelia.