Falling For You escrita por Gii, CarolBeluzzo


Capítulo 37
Fun isn’t why he does this for


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal, tudo bom?
Mais um capitulo para vocês!

Boa leitura!



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Capítulo 36 — Fun isn’t why he does this for

 

Helena tentou esticar a mão para pegar a pena, mas as mãos desesperadas de Bella a impediram, pensando que talvez ela fosse continuar a se retorcer. A menina não sabia se devia abrir a boca e dizer que precisava da pena; tinha medo de que se tentasse falar, começaria a gritar com a dor que, de alguma forma, aumentava a cada segundo em contato com o líquido, mas ela não tinha escolhas. A anja precisava tocar nem que fosse só um pouco naquela pluma…

— B-Bella… — balbuciou tentando controlar os gritos que ameaçavam sair do fundo da sua garganta.

— Shh, tudo vai ficar bem, Helena. Estamos aqui… — Bella tentava acalmar a menina.

— Não… A p-pena. Eu p-prec... — Helena tentou voltar a esticar a mão, mas as de Bella continuavam em cima da sua, e ela nunca, nem em seus melhores dias na terra, teria força o suficiente para sair do aperto de um vampiro.

Foi Renesmee quem percebeu o que a menina queria, com dificuldades, pois a maioria das coisas que ela dizia saia abafada nos seus soluços. A meia vampira agachou, pegando a pena branca do chão, sem entender como era possível: Apesar de o chão estar sujo de sangue e líquido prateado, a pena continuava tão branca quanto uma nuvem.

A anja se agitou ainda mais, tentando se esticar de qualquer modo em direção à Renesmee e a menina olhou hesitante para ela. Pedindo para que Bella a soltasse, a meia vampira entregou a pena à Helena que parecia ansiar desesperadamente para tê-la.

Com alívio imediato, a pena tocou a pele das mãos sujas de Helena e o corpo tela relaxou imediatamente. Sentiu como se água gelada se derramasse lentamente sobre seu corpo, preenchendo suas veias conforme seu coração batia, restaurando sua força. Aquela sensação a fez arquejar, sugando o ar para seus pulmões com força.

Toda a dor que sentia se esvaiu rapidamente, como se a pena lhe devolvesse a capacidade de se curar tão rapidamente quanto qualquer anjo.

Alice se sobressaltou, e Carlisle e Bella se afastaram de Helena imediatamente. A ferida em suas costas começou a se curar, a pele onde o líquido prateado havia tocado se regenerando em vez de abrir mais buracos em suas costas. Aliás, onde o líquido ainda estava em contato com a pele, foi como se fosse absorvido pelo seu corpo, começando a brilhar levemente na pele de Helena.

Aquela seria a sua glória retornando para o corpo dela?

Renesmee arquejou, deslumbrada.

— A pena… — murmurou Alice em choque — Ela curou você! Apesar de ainda sair um pouco do líquido do machucado das asas, ele não está mais abrindo feridas, Carlisle, olhe isso!

— Essa cicatrização não pode nem ser comparada com a dos humanos… Até à dos lobos perdem para isso! — comentou Carlisle com fascinação, com um bilhão de ideias passando pela sua cabeça enquanto via diante dos seus olhos a pele crescendo e sobrepondo a pele exposta de Helena. Mas Helena não estava disposta a compartilhar da descoberta deles. Ela não tinha tempo para aquele momento que eles estavam tendo, mesmo que para ela mesma fosse uma novidade, ela tinha prioridades maiores.

— Onde está o Seth?!

Bella colocou a mão no ombro da menina, tentando a acalmar. Ela mesma não se sentia calma, contudo, depois de toda aquela cena, o sangue de Helena por todos os lados… Bella tentou se focar na garota em sua frente, que a cada segundo mais parecia revitalizada.

— Calma Lena, ele foi atrás de Raziel. Não se preocupe, Edward, Jasper e Emmett estão com ele.

Oh, não!, foi o primeiro pensamento de Helena. Olhando desesperada para todos, ela tentou pensar rápido no que fazer.

Agora que ela tinha um pouco da sua força de volta, ela percebia melhor o que estava acontecendo. Helena tinha perdido sua percepção deste que perdera sua glória, passara por toda a dor da queda, toda a situação com Mady, mas agora voltava a notar o que, antigamente, para ela era óbvio: Não havia como enfrentar um anjo.

E os Cullens não entendiam o poder de um anjo e sua dimensão.

Sua Glória não era algo que alguém sem poderes poderia sonhar em tentar superar. Ela mesma, em seu julgamento, foi completamente submissa, sabendo que não havia o que ser feito. Enfrentar um anjo… Ainda mais alguém com influência como Raziel e com as intenções que tinha… Se Raziel foi capaz de salvar as suas asas apenas para a chantagear e a atacar, ele poderia muito bem parar de tentar ser indireto e usar sua glória para algo… Supremo.

Como uma epifania, Helena conseguiu ver todo o contexto e finalmente perceber o que estava acontecendo há tempos.

Os batimentos cardíacos de Helena aumentaram bruscamente quando tentou se levantar, decidindo o que fazer. Isso fez Bella e Alice voltarem segurá-la, mantendo-a presa.

Não foi necessário palavras, a determinação nos olhos da anja deixou claro para os vampiros que ela iria atrás de Seth e os demais. Imediatamente Carlisle e Alice se puseram a impedi-la, porém Helena parecia muito mais que saudável naquele momento. Qualquer um da sala poderia sentir algum tipo de força vindo dela.

Alice, prevendo que ela poderia facilmente se livrar das mãos que a impediam pensou rápido e avançou em direção a anja, querendo recuperar a pena que a garota segurava.

— Helena! — exclamou Alice quando Helena fechou a mão, a impedindo de pegá-la de volta.

— Me soltem. — disse calma.

— O que…? — Finalmente entendendo o que acontecia, Renesmee retrucou — Você não pode ir atrás deles, Helena! É perigoso!

— Perigoso é eles irem atrás de Raziel! Me soltem agora! — Exclamou se agitando, tentando escapar das mãos das vampiras, que seguravam seus braços agora, com uma força de aço.

Carlisle se juntou as meninas, segurando as pernas de Helena que se moviam descontroladamente, realmente preocupado com o fato de agora, ela ter força o suficiente para derrubá-los.

— Raziel está machucado Lena, os meninos estão em vantagem — Carlisle tentou a persuadir — Tenho certeza que essa é a chance que esperávamos todo esse tempo. Se tem um momento que podemos derrotá-lo é agora…

— Não, não é! Vocês estão tão cegos como eu estava antes de recuperar um pouco da minha força! Viver como um de vocês fez eu esquecer de tudo que eu era, mas agora eu entendi! O tempo louco, os acidentes que tive, até mesmo os avisos que Raziel me deu na floresta! Tudo isso é ele tentando não intervir diretamente, tentando nos derrubar sem tocar. — Helena encarou os olhos de Carlisle profundamente — Mas se os meninos o forçarem demais e ele se sentir realmente ameaçado e usar sua força verdadeiramente… Todos estão em grande perigo!

Tudo aquilo havia ficado claro como água na mente de Helena, agora que ela tinha novamente sua pena. Percebeu o quanto ela mudara depois da queda e o quanto viver entre os humanos fazia sua mente se parecer com a deles. Não que fosse algo ruim, para um anjo caído, machucado e traído, foi sua salvação, mas para a situação que encontravam-se agora, não era. Ela precisava pará-los antes que Raziel decidisse por fazer algo que colocaria os que ela amava tanto em grande risco.

Eu era uma ceifadora de vidas, pensou Helena, eu mais do que ninguém deveria saber o que um anjo é capaz de fazer.

Buscando os olhos de Carlisle, Helena tentou verificar a posição dele sobre a situação. Era imprescindível que Helena encontrasse Raziel e parasse com toda aquela briga, mas para isso ela precisava ir atrás dele naquele segundo!

— Carlisle, nós precisamos salvar os meninos agora. Se eles fizerem algo enquanto estamos aqui… — Helena tentou dissuadi-lo, com o olhar sofrido.

Carlisle suspirou, soltando suas pernas lentamente, pensativo.

— Você, Helena, sabe mais sobre Raziel do que nós… Mas acha mesmo que ele ainda não usou sua força total em nós? Nós somos fortes, você sabe…

— Se ele tivesse usado vocês, com certeza, saberiam que não se deve caçar um anjo. Precisamos ir atrás deles imediatamente…

Carlisle olhou para os olhos da garota e nele viu medo, determinação e urgência.

Não tinha certeza do quanto ela sabia sobre o poder de um vampiro, já que nunca presenciou uma demonstração enquanto estava morando com eles, mas ela parecia ter certeza sobre a força do anjo. Ele precisou dar seu braço a torcer, não podia deixar seus filhos morrerem por pura ignorância.

— Ok. Vamos salvá-los então. — sentenciou, fazendo as vampiras soltarem Helena da sua prisão de mãos. Apesar de não estarem seguras, as duas vampiras aceitavam a palavra de Carlisle. — Alice, alguma ideia de onde estão?

— Sei que eles não estão um longe na floresta. — Disse Alice, um pouco hesitante — Apesar de não conseguir ver direito por causa dos lobos e do anjo, consigo ter flashes de Edward, Jasper e Emmett. Não sei exatamente onde estão, mas posso dizer com toda a certeza que já chegaram para fora da nossa fronteira.

— Jacob deve estar o empurrando para perto da matilha do Sam — Disse Renesmee, pensando em quais estratégias seu namorado utilizaria em uma ocasião como aquela.

— Então não temos tempo a perder. — Finalizou Carlisle, assentindo. Virando-se, o vampiro chamou por Esme, que demorou apenas alguns segundos para aparecer — Esme, esqueça o leito, vamos precisar da família toda para encontrar os meninos na floresta.

Helena só havia percebido naquele momento que Esme não estava ali até o momento. Leito? Ela estava preparando outro lugar para colocá-la?

Alice já se colocou de pé, pegando Helena pelo braço para ajudar a se levantar. Helena sorriu agradecendo.

— As meninas terão que ir nas nossas costas para chegarmos mais rápido do outro lado da fronteira. — Disse Bella.

— Sem problemas, mamãe — Sorriu Renesmee — Adoro brincar de cavalinho com vampiros.

Alice franziu a testa para a garota, achando o comentário de muito mal gosto. Bella olhou irritada para filha, não gostando nada do ela disse também.

— Renesmee!

— Calma, foi só uma brincadeira! Não precisa me dar um sermão, nem nada! O clima estava tenso demais, só queria descontrair.

— A cada dia mais você se parece ainda mais com aquele cachorro. — Disse Alice, pensando que algumas vezes ela tinha que concordar com o temperamento averso a lobos de Rosalie de antigamente.

— Obrigada! — Respondeu ela, com petulância.

— Isso não foi um elogio — murmurou Alice.

— Ok, as meninas vão nas nossas costas. — Cortou Carlisle — Precisamos nos apressar.

Carlisle, já se dirigindo ao primeiro andar da casa, levou consigo, três vampiras, uma híbrida e um anjo caído para salvar o resto da sua família.

 

***

 

Helena percebeu que, mesmo na corrida rápida dos vampiros, atravessar o que eles chamavam de fronteira demorou alguns minutos ainda. Alice havia ido na frente, guiando até onde ela havia conseguido ver que os meninos haviam passado, porém não era muito recentes suas visões. Ela estava com medo de que o bando de Sam já tivesse se juntado a eles, pois não conseguia ter mais nenhuma informação nova.

Renesmee, mesmo pendurada nas costas de sua mãe, levando sacolejadas de propósito pela brincadeira do cavalinho de mais cedo, estava comentando que Alice não parecia tão frustrada por não ver nada.

— Faz anos que não vejo algo claramente, não adianta eu ficar me forçando atoa e acabar com uma dor de cabeça incomoda. — respondeu Alice, como se não estivesse correndo — Ah, que saudade de quando meu único ponto cego era o Jacob.

A mãe de Renesmee sorriu, parecendo entrar no mesmo sentimento nostálgico que Alice.

Pouco tempo depois, Alice parou e todos os vampiros fizeram o mesmo.

— Eu consigo ouvir alguns sons na floresta, mas creio que eles estão separados. Está vindo de diversos lugares.

— Acho que é melhor nos separarmos — Disse Carlisle, já descendo Helena de suas costas — O objetivo é encontrar todos os meninos e se possível avisar ao menos um lobo de cada matilha.

— Se avisar um lobo pode ser mais rápido. — Disse Renesmee, já no chão — Se algum outro lobo estiver perto dos nossos tios podem avisá-los.

— Pena que o cheiro deles está por toda parte — Disse Esme — Não dá para seguir assim.

— Não há tempo a perder — Disse Helena, apressada — Vamos lá!

Imediatamente, Helena saiu correndo, para oeste, sem pensar duas vezes. A verdade era que ela não queria encontrar ninguém além de Raziel. Alguém chamou ela nas suas costas, mas ela ignorou, correndo sem se importar de olhar para trás.

Na sua cabeça só havia imagens de Seth pulando em cima de Raziel e atravessando a janela. Ela temia, mais do que tudo, o que Raziel pode ter feito com ele, e apenas achando o anjo era que ela poderia parar qualquer coisa, por mais que ela se preocupasse com Seth.

A menina abriu um pouco a mão, vendo a sua suave penugem branca balançar com o vento da sua corrida humana. A pena era o que iria guiá-la pelo caminho mais rápido até Raziel.

Quando Lena quis encontrar Raziel, ele a visitava em seus sonhos dando a dica, e ela tinha o instinto de saber exatamente onde ir. Agora, com a pena, ela não precisava que ele lhe desse nenhuma dica.

Fechando os olhos, a anja se concentrou apenas na pena em sua mão, desejando com seu coração encontrar seu irmão. Com os olhos fechados, ela correu pela floresta, desviando das árvores, com os seus pés guiando o caminho.

Naquele estado, era quase como se ela meditasse. Vagamente se lembrava de fazer aquilo no céu. Agora que pensava bem sobre essa memória, percebia não conseguia lembrar com tanta clareza sobre as coisas que viveu no céu.

Claro, lembrava das coisas que mais gostava: Da sensação dos seus vestidos tocando seu corpo, de como era voar, de proteger os seus amados vampiros e lobos de Forks e de suas amigas anjos, mas as demais coisas, como sua rotina, as conversas e toda a sua vida pareciam imensamente vagas.

Será que aquilo era algum tipo de efeito colateral por ter sido jogada? Não se lembrar direito como era morar nas nuvens parecia algo como um castigo. Aquele lugar maravilhoso… Perfeito, de todas as formas possíveis da palavra, esquecido? Agora, correndo ali, de olhos fechados, ela estava muito longe daquele mundo… As roupas ensanguentadas, no meio de uma guerra iniciada pelo seu próprio irmão.

Passo após passo, Helena correu floresta adentro, sentindo exatamente onde precisava ir, porém, subitamente algo fez o seu sangue se agitar nas veias. Abriu os olhos, um sentimento lhe dominando o corpo. O medo e a adrenalina lhe possuindo como se fogo lambesse seu corpo.

Aquele sentimento não era seu.

Sem pensar duas vezes, saiu correndo desesperadamente. Sentia a dor que Raziel estava sentindo, e graças a isso sabia com precisão onde ele estava. Seu irmão sofria uma dor terrível, tão forte que ela conseguia sentir em seu próprio corpo.

No meio das árvores mais afastadas, foi impossível não ver ao longe as asas negras dele. Espremidas ao redor do seu corpo, como se tentasse protegê-lo. Suas roupas em fiapos.

Ao chegar mais perto foi que Helena teve a confirmação que sentia. Ele estava passando por aquela agonia tremenda que ela havia também passado alguns momentos antes de tocar a sua pena. Segurando a mão, corroída pelo veneno de Helena, ele continuava escorado na árvore, imóvel.

Segurando sua pena firmemente em suas mãos, Helena marchou até o irmão pisando forte; Os pés descalços dando passos decididos sem se importar com os danos que sofreriam.

Raziel percebeu sua presença, e não se moveu, concentrado na agonia da sua mão. Não se importava com a presença da garota, tudo o que ele pensava era como ele chegaria no céu com isso sem ninguém notar, para então, tentar se curar.

Helena parou em frente ao irmão já não sabendo mais o que sentir. Ela tinha que se apressar e resolver aquilo antes que qualquer um chegasse.

— Raziel, você precisa parar.

Ele a avaliou devagar.

— De qual parte está falando, especificamente? — perguntou, falhando ao tentar ocultar a agonia visível em sua voz.

— Precisa parar de atacar todo mundo, como está fazendo. Só porque é um dos anjos maiores não significa que tem o direito de brincar com a vida das pessoas desse jeito. — Helena falava calmamente, já estava cansada de toda aquela confusão. Estava cansada de lutar contra seu próprio irmão.

— Não estou brincando com ninguém, Helena. Eu vim aqui com um prop-

— Veio aqui com um propósito. Sim, eu sei! Você veio aqui para me matar. Eu estou aqui, Raziel, parada na sua frente, sem proteção e sem me esconder atrás de ninguém. Você está livre pra fazer o que quiser comigo.

Raziel riu, voltando a olhar sua mão machucada.

— Você está se entregando? Você deve estar se achando a heroína com esse discurso pronto. — disse ele, irritado — Guarde isso pra seus vampiros, ok? Você sabe que mesmo que esteja aqui eu não posso fazer nada.

Ele sorriu de lado, quando outro pensamento ocorreu:

— Claro, a não ser que você cometa suicídio. Isso facilitaria as coisas para mim.

Helena mudou de posição, incomodada.

— Você sabe que eu não posso me matar. — O peso por ter sido Ceifadora falava mais alto. Ela sabia o que acontecia com quem comete suicídio.

— Ora, pensei que você tivesse abandonado as esperanças para sua alma. Pelo que ouço no céu, você não tem orado muito… Agora está preocupada com o que acontecerá com você se morrer?

Helena travou seus dentes.

— Isso não é da sua conta. — respondeu seca — Eu não quero morrer, seja por suicídio ou por suas mãos… Eu não estou me entregando porque eu quero, tão pouco! Estou aqui porque você não parará essa perseguição sem motivos até conseguir o que quer. Você acha que não lembro como você é quando coloca algo na cabeça? Sua incrível determinação?

O anjo sorriu.

— Obrigado, eu faço meu melhor.

Sua resposta irritou Helena, quase a fazendo perder a paciência.

— Eu vim aqui para terminarmos com tudo isso, Raziel, não brincar! Você quer me matar, pronto, estou aqui. Estou facilitando as coisas para você! Tudo o que eu te peço é que faça logo, antes que eles cheguem e você se sinta tentado a levar a vida deles de brinde. Antes que estrague ainda mais a vida de quem–

Helena travou. Sua voz ficou presa na garganta e ela parou de se mexer. Seus ouvidos não se enganaram. Realmente ela podia ouvir os ruídos inconfundíveis de passos na floresta. Provavelmente não estavam tão perto, mas ainda assim, se ela os podia ouvir, eles podiam ouvi-la, e podiam ouvir a Raziel.

E ela não queria que eles soubessem sobre o que ambos falavam.

O som das folhas sendo esmagadas por passos no chão da floresta a fez arrepiar. Se arrependeu imediatamente de ter iniciado aquela conversa com Raziel sem antes achar um lugar onde não seriam encontrados.

Ela olhou ao redor, pensando em fugir, mas sabia que Raziel não iria colaborar com seu plano. Viu o rosto do seu irmão virando para o som também, constatando o mesmo que ela. Sentiu medo ao ouvir os passos ficando cada vez mais próximos.

O que ela poderia fazer para fugir daquela situação?

— Antes que estrague a vida de quem, Helena? Do que você tem tanto medo? — perguntou Raziel, estreitando os olhos.

Agora ela queria saber o que dizer, queria poder pará-lo. Ela sabia o que Raziel faria, sabia que ele estragaria, de alguma forma, tudo o que havia entre eles quando finalmente entendesse sua hesitação. Mas Helena não teve reação para impedi-lo. Ficou parada ali, olhando para o irmão, enquanto os passos chegavam mais perto.

O que podia dizer para parar o que Raziel e impedi-lo de dizer qualquer coisa da sua conversa?

— Helena? — perguntou Emmett, surpreso.

A menina respirou fundo, mas não se virou. Ela podia sentir também a respiração pesada de um dos lobos atrás de si.

Raziel sorriu.

— Tem medo de eu destruir a vida das pessoas por quem você sacrificou a sua? — Ele levantou os olhos dos de Helena e olhou diretamente para as pessoas atrás dela. — Tem medo por eles?

— Helena, o que está acontecendo? — foi a vez de Renesmee perguntar.

Helena engoliu em seco, olhando desesperada para o irmão. Um pedido mudo para ela parar. Ele riu ao entender tudo.

— Espera… É por causa disso que você estava transpirando agora de pouco? — Riu o anjo, sem conseguir acreditar — Você não contou para eles a verdade, Helena, e agora está com medo que eles descubram? Que péssima filha você é…

Desta vez Helena não conseguiu evitar olhar sobre os ombros rapidamente.

— Raziel. Isso é entre eu e você. — disse entre dentes.

— Ahh, não irmãzinha! Isso está longe de ser apenas entre nós dois. Isso nunca foi algo entre eu e você. Eu nunca concordei com o que vocês faziam para privilegiar esses aí e eu nunca concordei com você enfiando ideias na cabeça dela. Isso é entre todos nós.

A mente de Helena ficou em branco, esquecendo-se completamente do que a pouco a preocupava tanto. Seus olhos correram rápido para o rosto do anjo, tentando entender.

— Dela? Do que está falando?

— Ora, não se faça de fingida, Helena. Isobel esteve com você em todos os momentos em que salvaram esses vermes. E ai, você a jogou montanha abaixo e virou as costas para a bola de neve que estava se formando.

— Eu não joguei ninguém!! — Gritou Helena, mas ao notar como o céu começava a arroxear de nuvens, tentou se conter — Pelo contrário, ela foi jogada porque cometeu um crime. Eu tentei ajudá-la, mas…

— Foi você quem a convenceu a cometer o crime, sua maldita hipócrita!! Fez ela pensar que ajudar esses vampiros era uma coisa boa, Helena! Você é a culpada, não adianta tentar fugir disso agora!

Os ventos se tornaram fortes, as roupas de Helena que remexiam ao seu redor como se uma tempestade gigante se aproximasse, de forma ameaçadora. Helena sabia que precisava ter muito cuidado agora, o tempo estava reagindo as emoções do seu irmão.

— Eu não a convenci de nada, Raziel. Ela fez o que quis desde o começo.

— Por sua influência! — berrou Raziel e raios tomaram os céus, colorindo as nuvens negras que haviam se formado rapidamente — Ela não teria feito nada se não tivesse visto você fazer antes! Ela estaria viva no céu, se não fosse você e essa paixão doentia que tem por esses monstros nojentos! Ela está morta, Helena, você por acaso esqueceu disso? E pelo quê?

Helena abaixou a cabeça, sentindo seus olhos arderem com lágrimas, incapaz de não reagir às palavras cruéis de Raziel.

Isobel. Sua melhor amiga, conselheira e um anjo tão puro que era um pecado pensar mal dela. Nunca iria esquecê-la e, mesmo que a culpa tivesse mesmo consumido ela no passado, havia percebido fazia tempos que não era isso que Isobel quereria para ela. Se culpar não era o caminho. Isobel amava-os tanto quanto ela mesma e fez tudo sabendo das consequências.

Helena sabia das consequências e não tinha arrependimentos. Sabia que Isobel pensava da mesma forma.

— Ela queria isso, Raziel. — Disse com convicção, apesar das lágrimas que brotaram no canto dos seus olhos e o vento que jogava seus cabelos para todos os lados. — Ela escolheu isso, assim como eu… Pagamos por isso.

Um som ensurdecedor a ponto de os ouvidos ouvirem apitos, se fez de imediato. Se não tivesse com a pena na mão lhe dando energias, Helena tinha certeza que teria sido arremessada ao chão, com a força que o mesmo tremeu. As asas, antes escondidas de Raziel, estavam abertas de forma ameaçadora, negras como breu e seus olhos ardiam no rosto dela.

Com um rápido olhar, ela viu que o chão ficara negro ao seu lado, onde um raio havia acabado de cair.

Aquele era o ponto que ela tanto temia que ele chegasse.

— VOCÊ PAGOU? Você está viva! Sorrindo junto com esses demônios que você tem coragem de chamar de família! E Isobel?! Onde está?! — Ele agarrou o rosto dela com força, sacolejando — VAMOS ME RESPONDA!

— SOLTE-A AGORA MESMO! — Alguém girou às suas costas, mas ambos anjos os ignoraram. Houve uma movimentação dos lobos, tentando se aproximar de Raziel, mas uma rajada de vento realmente forte os impediu. Raziel estava mantendo-os longe.

— Pare com isso! — Berrou ela de volta, não aguentando mais as lágrimas. — Pare agora mesmo! Isobel fez o que queria…

— Isobel está morta! Nunca mais voltará por culpa do seu amor nojento por eles! Eu posso até ser impedido de fazê-los pagar, mas eu posso dificultar as coisas para a vida deles. Agora… Para você, Helena… Você tem que morrer. Não consegue ver isso ainda?! É por isso que anjos são jogados do céu!! Para pagar com a morte!

— Pare… — Implorou Helena, às lágrimas, observando os lobos lutando contra o vento — Você pode fazer o que quiser comigo, mas não toque neles. Não ouse nem pensar nisso. Eu estou aqui, não estou? Eu me entrego para você. Faça o que quiser…

— Helena, não!!! — Gritou alguém às suas costas, que apesar do ruído alto do vento, pode ouvir suas palavras — Nós nunca vamos permitir…

Raziel gargalhou alto, fazendo mais trovões soarem junto à sua risada.

— Permitir? E como um de vocês me impediriam? Ou a ela? Todos vocês estão a deriva da vontade de Deus, sem poder fazer nada contra o que ele quer… E de que lado você acha que Ele ficaria? Dos vampiros?

Helena bufou, sem conseguir se controlar. Sentia sua raiva aflorar por ver o irmão falar em nome Dele tão despreocupadamente.

— Não ameace a eles, Raziel. Estou lhe avisando.

— Eles são mais importantes que a vontade de Deus, Helena? Qualquer ser que vive aqui está sujeito a isso… E agora, não há mais nenhum anjinho ceifador protegendo-os. — ele sorriu.

— Essa não é a vontade de Deus. É a sua. — Disse Helena. Sua voz foi tão dura, que pareceu com um rachar de vidro. — E se é para você intervir na vida deles mesmo depois de ter conseguido o que queria comigo, eu não vou deixar você me levar. Eu vou protegê-los de todas as formas possíveis.

O sorriso no rosto do anjo sumiu, em um piscar de olhos.

— Você só tem uma peninha sua, Helena. Eu tenho todas as minhas. — Ele apertou com mais força seu rosto — Tem certeza que quer apostar quem ganha essa luta?

Um rosnado alto retumbou pela floresta, e foi repetido por todos os lobos ali presentes, de modo que o ambiente ficou cada segundo mais ameaçador.

Helena podia sentir o olhar de todos os vampiros e lobos queimando às costas, como se a ameaça de Raziel fosse o suficiente para todos atacarem ao mesmo tempo, mas, apesar disso, o anjo em sua frente não pareceu minimamente se importar. Os olhos dele continuavam presos nos dela, esperando ela duvidar dele.

Ela precisava ganhar tempo, isso era tudo o que pensava naquele momento. Mesmo que a mão de Raziel fosse uma vantagem em uma luta, ele estava certo. Ele não precisava usar nem as mãos para vencer aquela luta. Ela não podia competir em poder com ele… Muito menos sua família.

Ela precisava que ele fosse embora e pudessem conversar sozinhos, outra hora, sem todos os lobos e vampiros. Ela precisava de outro plano para enfrentá-lo, sabia que ele não podia a atacá-la diretamente e aquilo era sua vantagem até o momento, e agora que havia descoberto sua principal motivação, ela precisava pensar. Isobel.

— Como você vai explicar para os Portões essa sua mão machucada? — Perguntou a primeira coisa que veio a sua mente, tentando maquinar uma saída rápida.

A anja quase sorriu quando viu a postura dele vacilar. Tirou a mão dele do seu rosto com facilidade, afastando o de si.

— Apenas uma pena minha pode fazer o veneno parar de corroer sua mão. E mesmo que você use as minhas outras penas para curá-lo, você mesmo disse que elas estavam muito bem guardadas, creio que dentro do céu… Para entrar no céu, precisa passar pelo Portão e ele vai ver essa ferida enorme de longe. E não é como se eles soubessem o que você anda fazendo aqui na terra, estou errada?

As sobrancelhas de Raziel franziram diante das palavras de Helena.

— Aonde está querendo chegar?

— Vamos prometer algo. — Disse a anja, se sentindo subitamente mais corajosa ao ver a dúvida no olhar dele. Ela estendeu a mão direita, em um gesto de promessa feito por anjos — Eu curo seu machucado e você some daqui por uma semana.

— NÃO! Helena, essa é a nossa chance! Ele está machucado! — Gritou Jacob as suas costas, tentando se aproximar — Apenas saia da frente e deixe que nós cuidamos dele.

— Vamos Raziel, é uma semana humana. Para você será um piscar de olhos. — Helena continuou sem se deixar interromper — Nós dois sairemos ganhando.

Raziel estreitou os olhos, olhando profundamente para a garota. A tempestade ao redor deles aos poucos cedendo e os ventos parando se soprar o suficiente para os demais conseguirem avançar.

— E o que exatamente você está ganhando com isso?

— Tempo.

O anjo, lentamente, fechou suas asas enquanto começava a sorrir. A tempestade se foi, deixando o usual céu nublado. Havia um cheiro de desafio saindo da pele da anja, mas, apesar de Raziel ter pressa em finalizar aquele assunto, sentia que aquele desafio dela era algo para se pensar.

Claro, também tinha o fato de estar machucado. Aquele maldito veneno das asas de Helena era um problema em potencial se não curasse logo.

— Tudo bem, vamos fazer desse jeito. Eu prometo. — Respondeu, por final, levantando a mão e fazendo o juramento.

— Eu prometo. — Repetiu Helena, já dando um passo para frente para curar a mão de Raziel.

Imediatamente, todos os lobos e vampiros avançaram, sem serem reprimidos por qualquer coisa, cercando os dois anjos. Seth parou com a mão no ombro de Helena, segurando com força e a impedindo de dar um só passo.

As mãos dele tremiam fortemente, fazendo com que Helena congelasse em seu lugar.

— Não. — Foi o que Seth disse. — Eu não vou deixar que você chegue mais um milímetro perto dele, quanto menos curá-lo.

Helena trincou os dentes com a voz fria que vinha do seu namorado.

— Não é algo que você possa opinar, moleque. — Respondeu Raziel. — Pelo menos não mais. — riu ele.

— Helena, você não pode deixar ele ir assim. Vamos lidar com ele agora. — Disse Emmett, sendo reforçado com alguns rosnados dos lobos. Os lobos pareciam sedentos pela pele de Raziel de uma vez por todas.

— Vamos acabar logo com isso, estou de saco cheio desse drama. — finalizou Raziel, se aproximando o que faltava para Helena o tocar.

Imediatamente havia uma mão no pescoço dele, impedindo sua aproximação e aquilo ferveu o sangue do anjo. Ninguém podia tocar daquele modo em um anjo como ele.

— Não!! — gritou Helena quando as asas de Raziel abriram de uma só vez jogando todos que estavam ao seu redor para longe, menos Helena. Raziel estava prestes a estraçalhar o maldito vampiro que havia o tocado quando Helena segurou sua mão machucada, com a pena tocando sua pele.

— Não os machuque. — Disse ela, entredentes, com lágrimas escorrendo pelos olhos, lavando suas bochechas. Só precisou de dois segundos para já ter curado o suficiente para ele não sentir dor, então Helena o soltou, empurrando-o com toda sua força.

— Agora suma! Suma agora mesmo! — Gritou ela, com soluços saltando seu peito — Saia daqui, seu maldito, você jurou!!

Virando o mais rápido que pôde, correu em direção de Seth, que se levantava com dificuldade. Agora que ela olhava ao redor, pode ver o quanto longe todos foram arremessados, inclusive quem acertara uma árvore.

Parando de joelhos na terra molhada, Helena parou em frente de Seth. Ele segurava o seu próprio braço, com o rosto franzido.

— Seth, você está bem? — Perguntou ela, chorando, mas o lobo não respondeu. Tudo que ela ganhou foi um lento olhar, que ao encontrar seus olhos, parecia terrivelmente magoado.

O anjo de asas negras já havia sumido.


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Notas finais do capítulo

As coisas não estão fáceis para Helena, não é?



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