O Lado Escuro da Lua escrita por MaeveDeep


Capítulo 9
Capítulo Nove




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O Lado Escuro da Lua – Capítulo Nove

Com tudo resolvido, o professor foi o primeiro a se levantar para sair, sendo alegremente seguido por Gabriel, que resistiu ao seu impulso primitivo de gravitar ao redor de Apolo para saltitar ao seu lado.

O que, infelizmente, deixou Artemis para trás com Apolo, que parecia satisfeito enquanto andava ao seu lado com as mãos nos bolsos. Artemis não gostava de homens que andavam daquele jeito, com tamanha falta de porte.

– A gente deveria sair.

– Sair? – Sua incredulidade deve ter sido evidente, Apolo riu.

– Para conversar sobre como você quer a música. Eu não estava brincando, nunca compus nada para uma peça de balé.

– E por que eu duvidaria disso?

A julgar pela linha em sua testa, Apolo estava obviamente tentando não se deixar ofender.

– Em Nova York todo mundo é assim?

Claro que não – ela o respondeu, revirando os olhos para a pergunta idiota.

Todos os garotos de Boston são loiros, lindos, charmosos e confiantes como você?, era o que queria acrescentar, para provar seu ponto, mas não o fez. O que era uma pena, pois aquele era um ótimo argumento.

Apolo suspirou.

– Você gostando ou não de mim, ainda vamos ter que conversar sobre a música.

– Podemos fazer isso aqui na escola. Melhor, você pode falar com algum professor, ou com qualquer pessoa que não seja eu. – Ela fez uma pausa. – Honestamente, Apolo, vai precisar de uma desculpa bem melhor para sair comigo.

Contrariando as expectativas de Artemis, o vinco na testa de Apolo sumiu, e o garoto abriu um sorriso.

– Acha que eu preciso de uma desculpa para te convencer a sair comigo?

– Para me convencer, Apolo, bem mais que uma desculpa – Artemis o respondeu, muito digna. – Provavelmente um pacto com alguma entidade sobrenatural. O que está escrito na sua camiseta? É uma banda?

Apolo abaixou o olhar para a própria camiseta e riu.

– Uma banda? – conferiu, parecendo estar se divertindo. – Você nunca ouviu David Bowie? É parte da letra de Rebel Rebel.

Artemis levantou as sobrancelhas, sem se impressionar. Ela não sairia por aí com uma camiseta dizendo You like me and I like it all, mas Apolo obviamente não tinha o bom-senso e o bom-gosto que ela tinha.

– Eu não gosto desse tipo de música – explicou, como se já não estivesse óbvio. – O que já me eleva para um nível bem mais alto do que o daquelas garotas que acham rock and roll sexy e babam em cima de você.

O olhar que Apolo lhe lançou foi desconcertante, como se ele estivesse ao mesmo tempo memorizando seu rosto e considerando o que ela havia dito.

– Você não sabe o que está perdendo – ele finalmente disse, dando um tom à frase que deixava claro que estava se referindo tanto ao rock and roll quanto a ele mesmo.

Artemis desviou o olhar, observando Gabriel falar, animado, de algo aparentemente chamado “Johnlock”. Ela não fazia ideia do que aquilo poderia ser, e o professor-psiquiatra parecia estar ouvindo apenas com metade de sua atenção.

– Eu não vou sair com você – acabou dizendo, virando-se para Apolo de novo. – Não adianta insistir.

– Eu acho que você vai – Apolo a corrigiu, seguro de si. – E também vai me agradecer depois.

Você que iria, se soubesse.

– O tempo é seu para desperdiçar – foi tudo o que Artemis disse, indiferente, enquanto chegavam ao lance de escadas a partir do qual seguiriam caminhos diferentes.

Apolo então se dirigiu a Gabriel.

– A gente podia sair para conversar sobre a música, não é?

Artemis quis rosnar. Porque ao charme de Apolo talvez ela resistisse, mas à insistência infantil, irritante e retardada de Gabriel? Artemis daria uma voltinha no Inferno só para fazer o garoto calar a boca.

– Seria ótimo, né, Artie? – Gabriel se virou para ela, entusiasmado.

– Não.

– Poderia ser um encontro só nosso, então – Gabriel disse a Apolo, que balançou a cabeça.

– Não.

– Então todo mundo vai ter de ir – Gabriel concluiu, logicamente.

Artemis revirou os olhos.

– Por que o professor Chamberlain não leva você e Apolo? Tenho certeza de que chegariam a conclusões maravilhosas juntos.

– É, me leva? – Gabriel se ofereceu, chegando perto do professor, que o ignorou.

– Vamos, Apolo? Falaremos mais sobre isso depois.

– Claro – o garoto concordou, se adiantando para acompanhá-lo. – Até amanhã – e ele sorriu para Gabriel e Artemis, sem saber que a garota faria o seu melhor para não vê-lo tão cedo.

{...}

E o melhor de Artemis, usualmente, era algo impressionante. Por cinco dias, ela não se encontrou não só com ele, mas com qualquer outro estudante da Berklee, fazendo questão de comer na segurança do dormitório e de sair das aulas sempre sozinha (já que Gabriel provavelmente daria um jeito de arrastá-la para junto de seu precioso ídolo, vulgo Apolo bonitinho Wright).

No momento, ela estava treinando com Gabriel em uma sala vazia, o garoto fazendo piadas sobre ter o quarto revestido com espelhos quando crescesse, e Artemis perguntando se ele iria morar em algum motel vagabundo.

– Falando em espelhos, qual o seu problema com Apolo?

Artemis o encarou, confusa.

– O que espelhos têm a ver com Apolo?

– Espelhos me lembram de pessoas bonitas, e pessoas bonitas me lembram de Apolo – Gabriel explicou, com facilidade, e Artemis revirou os olhos para a linha de raciocínio absurda, insatisfeita com o assunto trazido à tona.

– Por que quer saber? – perguntou, desviando o olhar para o próprio reflexo e então franzindo o nariz criticamente. Detestava exercícios com espelhos, porque se via sempre corada, e ela detestava ficar vermelha.

– Porque Apolo é perfeito e está interessado em você, e tudo o que você faz é tratá-lo como o Kermit.

– Kermit?

– Aquele sapo dos Muppets – Gabriel explicou, como se Artemis tivesse a obrigação de ter aquele tipo de informação inútil no cérebro.

– Apolo não é perfeito – Artemis disse em voz alta o que já havia dito para si mesma um milhão de vezes.

– Não é perfeito, até parece. Ele no mínimo pediu desculpas à enfermeira pela bagunça logo depois que nasceu – Gabriel disse, muito sério, fazendo Artemis sorrir contra a própria vontade.

– Eu só não quero me envolver com ninguém agora, e não com alguém como ele – acabou dizendo, incerta.

– Como assim, alguém como ele? – Gabriel perguntou, incrédulo, fazendo com que Artemis o olhasse. – Eu sei que você é uma vadia arrogante, mas não é possível que não consiga admitir que Apolo seja o melhor cara dessa cidade. O que poderia ser melhor?

– Nós não temos nada em comum – Artemis disse, se impacientando com toda aquela idolatria. – Apolo é um guitarrista vagabundo sem perspectiva nenhuma de vida e de futuro que gasta o dinheiro dos pais com uma faculdade inútil de música. A única coisa remotamente boa que você pode dizer a respeito dele é a sua aparência, o que não passa de um efeito genético – concluiu, sem saber como ninguém mais reparava naquilo.

Gabriel, contudo, a encarava como se Artemis tivesse enlouquecido.

– Artemis, Apolo não tem, abre aspas, uma boa aparência. Apolo é gostoso, fim. E é um ótimo músico, interessante e inteligente, e eu já disse gostoso? – concluiu, ainda horrorizado com o que Artemis havia dito. – Apolo deveria dominar o mundo.

Artemis revirou os olhos.

– Você está sendo idiota. Não adianta olhar sempre tudo pelo lado bonito, Gabriel.

– Não faria mal algum se você tentasse de vez em quando – alguém disse atrás deles, e Artemis se encolheu, reconhecendo aquela voz de imediato.

Pelo espelho, pôde ver Apolo escorado no batente da porta, e então várias coisas aleatórias correram por sua mente em uma fração de segundo. A primeira foi a percepção de que estava tensa, o que era ridículo. A segunda foi o quando era despropositado o peso em sua consciência, já que não havia dito nada além da verdade, e a terceira era que Apolo era a última pessoa que ela queria que a visse naquela situação, corada e descomposta depois de um ensaio, vestindo meia-calça justa e uma regata só um pouquinho mais larga.

– Ela não estava sabendo, não é? – Apolo se dirigiu primeiro a Gabriel.

A tranquilidade distante da sua voz deixou Artemis com a impressão de que, talvez, o houvesse ofendido de verdade. O que é melhor para todo mundo, não é?

– Eu estava indo falar com ela – Gabriel explicou, em tom de quem pede desculpas.

– Algo me diz que ela não vai querer ir – Apolo voltou-se para Artemis, e ela percebeu que lidaria melhor com uma explosão de ultraje do que com aquele ego silenciosamente ferido. – Ou vai?

– Se você vai, provavelmente não. – (Porque é isso que um animal ferido faz, ele morde – e Artemis reconheceu isso assim que as palavras deixaram seus lábios. Fraca, fraca, fraca.)

Apolo levantou as sobrancelhas loiras, e então voltou a se virar para Gabriel, abrindo um sorriso. (Artemis não havia notado até então o quanto sentira falta daquele sorriso. Sempre fora bonito assim? Na sua cabeça, ele não era tão branco e perfeito. E isso que só havia ficado longe dele por cinco dias, Deus.)

– Às oito, então. A gente se encontra na entrada?

– Com certeza.

Antes de sair, Apolo deu uma última olhada na direção de Artemis, daquelas que a garota odiava, e ela fez o seu melhor para ignorá-lo. Quando Apolo já havia se afastado, Artemis se virou para Gabriel, mas o olhar do garoto a pegou de surpresa.

– O que foi?

– Eu ia falar com você, a gente ia sair hoje para jantar e conversar sobre a apresentação – Gabriel a respondeu, frustrado. – Apolo queria ter falado com você pessoalmente, mas você sumiu esses dias. O David não queria ir, mas eu usei minhas covinhas e o meu charme e ele até concordou em pagar a conta. Daí eu fiquei de falar com você.

Ele ficou um tempo em silêncio e, como Artemis não disse nada, uma parte de sua mente ainda se perguntando desde quando ele chamava o professor de David, acabou por dar uma risadinha exasperada.

– Bom, você fodeu com tudo. Ele ouviu o que você disse, e a péssima impressão dele foi carimbada com o selo da rainha.

– Eu não ligo – Artemis disse, tentando parecer altiva. Melhor assim.

– Artemis, eu não vou saber conversar com eles sobre a música – Gabriel avisou, sem parecer se importar. – Você sabe disso. E o David vai ficar olhando para o teto, e eu vou ficar dando em cima dos dois, enquanto Apolo respira e é lindo e David é lindo também e me ignora.

Artemis bufou, porque, infelizmente, ela podia ver aquilo acontecendo.

– Você tem que ir – Gabriel concluiu.

– Acha que Apolo vai querer que eu vá depois disso?

– E você não é toda “eu não dou a mínima para o que pensam de mim, vou fazer minha apresentação perfeita e blá blá blá”? – Gabriel perguntou, fazendo aspas no ar e usando um tom debochado de voz. – E você pode pedir desculpas, sabe.

– Eu não peço desculpas – Artemis resmungou. – E também não disse nenhuma mentira.

– Artemis, você foi uma vaca.

Artemis revirou os olhos, mas sua consciência pesou um pouquinho.

– Você quer que eu converse com ele? – Gabriel perguntou, gentil.

– O que você vai dizer? – perguntou, cautelosa.

– Ah – o garoto deu de ombros, como se não fosse nada. – Que ele com certeza sabe que nós três não vamos conseguir fazer nada sozinhos, então você precisa vir junto, e que não é para ele levar a sério o que você disse porque, sei lá, você é chata com todo mundo. E, além do mais, se ele te levar, é uma chance a menos de eu dar em cima dele – acrescentou, feliz.

– Acho que esse é o melhor argumento de todos – Artemis alfinetou, mesmo que se sentisse um pouquinho melhor. – Obrigada, Gabriel.

O garoto sorriu, dando de ombros.

– Eu sou ótimo, não sou? – perguntou, esticando o braço para pegar a mochila.

– O que vai fazer?

– Ligar para Apolo, é claro – Gabriel disse, revirando os olhos enquanto procurava pelo celular. – Para explicar tudo isso.

– Conseguiu o número dele em menos de uma semana? Você é bom nisso.

– É só sorrir assim – ele disse, mostrando suas covinhas, e Artemis teve que rir.

Gabriel ainda sorria enquanto discava o número, mas, quando ele colocou o telefone na orelha, Artemis percebeu que não queria ouvir a conversa.

– Estou indo. Às oito?

– Às oito – Gabriel confirmou. – Oh, Casa de explosivos Garrison, onde, se você deixar cair, você paga; Garrison não está porque deixou cair na semana passada. Boa tarde! – ele disse ao telefone, muito animado, à guisa de “oi”, e Artemis saiu da sala revirando os olhos.

{...}


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Notas finais do capítulo

Oh, Artemis... não é assim que se faz amigos u.u



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