O Lado Escuro da Lua escrita por MaeveDeep


Capítulo 8
Capítulo Oito




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O Lado Escuro da Lua – Capítulo Oito

– Eu estava pensando em um conto – Artemis começou. – Um conto sobre a morte. Algo curto, que lembrasse as tragédias gregas antigas, e também tivesse magia e morte.

– Magia e morte? – Gabriel repetiu.

– Loucura é um tema que não vemos trabalhado com tanta frequência, ainda mais de forma curta – Artemis continuou, ignorando a pergunta. – Ansiedade e desespero também não. Eu gostaria de algo bem real, um homem realmente atormentado.

– Atormentado pelo quê?

– Por um anjo – Artemis decidiu-se pelo nome. Estivera até então dividida entre anjos ou espíritos, mas a ideia de usar asas belamente emplumadas nas costas era particularmente encantadora.

– Um anjo? Qual deles? – Gabriel perguntou, confuso.

Apolo estava observando Artemis falar sentado muito quieto, o professor também a vendo por cima dos óculos. Ela percebeu que tinha a liberdade de ignorar perguntas e só continuar a história.

– Vamos supor que haja um anjo da morte. Algo como a Morte que vemos em histórias antigas, aquela criatura sombria com a foice que ceifa vidas. Mas dessa vez não é uma criatura encapuzada, é um anjo de verdade. De roupas pretas e uma máscara, gracioso e cruel como uma força da natureza.

“Ele busca a alma das pessoas assim que elas deixam esse mundo, guiando-as para o eterno mistério pós-morte no qual não nos cabe adentrar agora. Vamos supor que ele seja sempre cuidadoso para não ser visto, até que um dia, por descuido, um homem o vê.”

– Vamos trabalhar com a ideia de que esse anjo é uma bailarina? – Apolo a interrompeu, mas com cuidado. – Uma garota? Você?

– Provavelmente – Artemis encolheu os ombros. – A não ser que a audição de Gabriel consiga bailarinas melhores.

– Não diga audição do Gabriel – o dito menino bufou, indignado. – Não são normas minhas, são da Academia. Você que se acha muito.

– Continuando – Artemis prosseguiu, não lhe dando ouvidos. – O homem vê o anjo e por ele se apaixona perdidamente, passando os próximos dias desesperado para vê-lo de novo. E então alguém próximo dele se vai, e o reencontro acontece. Ele junta os pontos e compreende o que deve fazer para tornar a vê-lo mais vezes.

“E então ele mata. Torna-se um assassino, mas assombrado pela ideia de que nunca consegue ter o anjo para si por tempo suficiente. É quando lhe acontece a ideia final de que nada seria tão efetivo quanto matar a si mesmo.”

– Eu sei que a história não terminou – Apolo falou de novo. – Mas seria interessante se fizéssemos com ele matasse toda sua família. Entre os gregos, isso seria uma ofensa e um sinal de loucura e maldade terríveis.

Então ele conhecia história e mitologia? Artemis anuiu com a cabeça, satisfeita.

– Isso. Havia pensado nesse detalhe também.

– E então ele se mata? – Gabriel perguntou, voltando à história.

– Sim. Podemos fazer disso um grande momento na peça, mas então, com ele caído no chão, o anjo não aparece. Podemos ter deuses dançando rapidamente, como se para indicar que estão discutindo, irritados com toda aquela maldade cometida. Até que chegam a uma conclusão.

“A alma do homem se desperta. Ergue-se do chão, olha ao redor do palco agora vazio, angustiado ao não ver o anjo. Mas então ele aparece – exceto que não é o anjo de vestes negras e máscaras que ele sempre quis, e sim um de branco e capuz, completamente distante e frio, que o leva para o além após uma dança que pode ser lenta, rígida e cheia de pesar.”

Artemis via também as almas das vítimas dançando em torno deles, o pobre homem atormentado e cheio de arrependimento.

– Ele por fim sai do palco – terminou, em tom de conclusão. – Mas esse anjo retorna. Olha para os lados, parece triste por ter tido de fazer aquilo. Joga tudo que lhe é branco no chão... é possível termos isso, uma roupa sobre a outra, ou então algum outro efeito de teatro... – Artemis sorriu, já se vendo sob as luzes, os olhos dramaticamente no chão, o queixo erguido, o rosto virado para o lado. – Era o anjo da morte o tempo inteiro. Talvez ele tenha se apaixonado também. Talvez não quisesse ter de fazer aquilo.

– Mas fez – Apolo completou, arrebatado pela história.

Artemis se virou para ele, para seus olhos castanhos encantados e cheios de expectativa. Vaidade a invadiu, e se viu cheia de vontade de dançar para ele. Parece bom, não parece? Espere só até me ver no palco.

– Bom... – o professor fez, devagar. – Parece que a história nós já temos. Não há muito o que ser discutido. Consegue transformar tudo isso em atos? Converse com suas professoras a respeito disso. – Ele se pôs de pé, e então se virou para Artemis de novo. – Não entendo realmente nada de balé. Assisto a algumas peças de vez em quando, contudo. – Concedeu-lhe o menor dos sorrisos. – É uma boa história.

Artemis não precisava de seu elogio. A expressão de Apolo já lhe valia muito.

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Notas finais do capítulo

Imagino uma Artemis muito, mas muito linda de anjo.
E vocês, amores?



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