O Lado Escuro da Lua escrita por MaeveDeep


Capítulo 78
Capítulo Setenta e Oito


Notas iniciais do capítulo

Oi, amores! Eu nem sei como me sinto em relação ao final de OLEDL... tem sido tudo tão maravilhoso... e, por Deus, foi tão difícil escolher como acabar essa história! Haha, devo ter escrito umas três possibilidades até me decidir por esta. Achei doce e normal, mas não se preocupem que ainda faltam uns três capítulos até o fim derradeiro. Obrigada por tudo.



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O Lado Escuro da Lua – Capítulo Setenta e Oito

Às sete e treze da manhã, Anna abria a porta de sua casa resmungando, deveria ter ido dormir no ateliê. Provavelmente era Apolo querendo enforcá-la por não ter sido acordado na noite passada (era óbvio que Lena lhe contaria tudo, mimava aquele loiro sem noção de horário mais do que deveria), e isso que ela mal havia dormido.

Na pequena varanda de sua casa, contudo, estava Artemis.

Parou no lugar, sem palavras. A ruiva continuava com um aspecto péssimo, com aquele jeito de modelo que havia de repente sido jogada em um apocalipse zumbi, mas ao menos seus olhos pareciam decididos.

– Humm, oi – disse, quando a garota não falou nada. – Entre – pediu, se afastando.

Ainda estava de pijamas, seus pais dormindo profundamente no andar de cima. Só havia ouvido a campainha porque dormira no sofá, Logan em um colchão no chão. (O quarto de visita dos Wright estava ocupado, e, mesmo podendo dormir em qualquer outro lugar da casa, de alguma forma ele acabara ali).

Artemis andou dois passos, sem dar a entender que queria entrar mais.

– Eu preciso de ajuda. De novo – acrescentou, soando envergonhada e um pouco grata.

Anna esperava que não fosse vergonha por culpa de seu pai. Charles havia contado tudo a ela e Logan enquanto Lena tentava acalmar Artemis no andar de cima, e Anna teria de chachoalhar a ruiva pelos ombros até arrancar sua cabeça do corpo se isso significasse fazê-la entender que era logicamente impossível qualquer coisa ter sido culpa dela.

– Vem, vamos acordar o Logan. Quer comer alguma coisa?

Artemis a seguiu balançando a cabeça, e Anna chutou o colchão do garoto assim que chegaram à sala. (Seus pais não haviam dito nada quanto àquilo, mas Anna sempre havia tido a impressão de que tinham medo dela. Ou talvez não quisessem reprimi-la, ou ainda torná-la parte daquela triste estatística de pessoas super inteligentes que se suicidam por não se encaixarem no mundo.)

Logan tinha um sono pesado; ela teve de chutar seu ombro com uma força razoável para ele se virar, incomodado, e então Anna saltou para o sofá e encolheu as pernas para observar Artemis com atenção.

– Pode falar.

Ela ainda lançou um olhar preocupado a Logan (que agora resmungava) antes de começar.

– Quero voltar para Nova York. Sei que posso depor lá. Preciso da sua ajuda para saber como posso dispor do meu dinheiro no banco sem meu cartão e documentos, como alego que houve um incêndio? E meu pai – a partir de então ela despencou em uma série de tantas preocupações, sua voz cada vez mais urgente, que Anna apenas ficou olhando para ela enquanto fingia ouvir.

Artemis queria ir embora. Depois de tudo aquilo, depois de todo o seu desespero e de tudo o que havia passado na noite anterior, ela estava fugindo.

– Você não pode – disse-lhe de súbito. – Não pode ir embora.

Artemis pareceu agoniada. Era uma figura pequena e trágica aquela garota nervosa, seu cabelo ainda revirado e seus olhos cheios de angústia.

– Por que não?

– Apolo – Anna lhe disse, como se fosse óbvio ao mesmo tempo em que quase soava como uma pergunta.

Aquilo fez Artemis se encolher um pouco.

– Você sabe de tudo. Eu e ele, não... – ela suspirou quase como se aquilo lhe doesse. – ele merece alguém melhor – seus olhos imploravam que Anna entendesse.

Mas a loira só juntou as sobrancelhas. Aos seus pés, Logan havia finalmente despertado, encarando Artemis como se também tentando entender aquilo.

Apolo não era só apaixonado por Artemis, era bobo por ela. Desde o primeiro encontro dos dois havia ficado com aquele ar eterno de tenho de tê-la porque ela é perfeita para mim no rosto, tão irritante que até mesmo David e Anna reviraram os olhos um para o outro uma vez, em um acordo mudo de não estourar aquele balãozinho de felicidade.

– Ele não vai querer outra pessoa – foi o que Anna lhe disse, devagar. – Sabe disso, não sabe?

Artemis balançou a cabeça.

– Ele não me conhece. – Por um segundo, Anna teve medo de que ela chorasse de novo. Estivera simplesmente assustadora na noite anterior, tremendo e murmurando o nome de Apolo, encolhendo-se e não querendo que ninguém a tocasse. – Depois que souber de tudo, seria impossível... – sua voz falhou. – Eu poderia tê-lo matado. – Ergueu os olhos para Anna, implorando. – Por favor. Me ajude a sair daqui.

Anna olhou para Logan. Ele ainda parecia meio grogue, mas o verde dos seus olhos lhe dizia não – e ela não poderia concordar mais.

– Não. Você não vai fazer isso com ele – decidiu portanto, ignorando a expressão horrorizada da garota. – Talvez não tenha percebido, mas como acha que ele vai se sentir quando descobrir tudo? Ele merece ouvir de você. E não só o que vai sair no Times, mas tudo. Merece conhecer todos os detalhes de todos aqueles garotos e ter certeza de que todas aquelas loucuras que você fez foi para mantê-lo seguro – e seu tom de voz saiu mandão e ríspido, mas seria impossível se conter.

Era de Apolo que estavam falando. Seria simplesmente cruel. E Anna normalmente empregaria algo do tipo “atitudes egoístas e cruéis” ao invés de loucuras, mas Artemis ficou mais pálida e desviou o olhar, então o recado havia sido ao menos passado. Apertando a poltrona com os dedos, a ruiva murmurou alguma coisa embargada que soou como “não quero dizer adeus a ele de novo.”

Logan sentou-se melhor, inclinando-se na direção dela enquanto Anna revirava os olhos para aquele sentimentalismo desnecessário.

– Não vai ser um adeus – ele lhe disse. Soava tão seguro que era como se fosse uma promessa. Anna ficou um pouco imóvel, impressionada por aquele tom. – Venha, você deveria comer alguma coisa.

Artemis não o respondeu, acabou só o seguindo para a cozinha. Logan lançou a Anna um olhar por cima do ombro que era um convite, mas ela só fez um gesto dizendo que iria depois. Observando o lugar em que Artemis estivera, ponderou aquela decisão difícil. Soltou um suspiro lento, resignada ao tomar sua decisão.

Que Apolo nunca mais lhe cobrasse favor nenhum.

{...}

David Chamberlain.

Ele soava entediado até mesmo por telefone, ou talvez estivesse com sono. Anna lembrou-se do horário, mas apenas encolheu os ombros.

– É a Anna, mas se eu disser Clarisse, Samantha ou Madonna talvez você saiba quem é. – Não obteve resposta, mas imaginou seu sorriso torto. – Artemis está querendo voltar para Nova York.

– Imaginei que fosse – o sr. D disse, com uma voz calma, talvez preguiçosa. Estaria ainda na cama? Falava baixo também. – Ela continua transtornada?

– Você é o único qualificado a dizer algo a respeito – Anna o respondeu, só porque não gostava de admitir quando não sabia de alguma coisa. – Este é, aliás, o único motivo de eu estar te ligando e rompendo nosso acordo tácito de ignorância mútua.

O que você quer, agendar para ela algumas sessões de terapia comigo? – ele debochou. – Onde você está? Apolo já sabe de tudo?

– Não, não, ela meio que fugiu – Anna supôs, especulativa. – Mas você conhece o remédio que o Apolo está tomando, ele vai acordar daqui a pouco. A doida da tia Lena então vai descobrir que Artemis não está em casa, e não vai conseguir procurá-la sem contar tudo àquela criança mimada. E então ou ele entra em um estado de choque ou entra no conversível vermelho e sai pela cidade gritando o nome dela.

São teorias plausíveis – ele parecia estar sorrindo. – O que espera, meio ponto por elas?

– Seus métodos de avaliação são duvidosos – Anna suspirou. – Quero que converse com Artemis. Você conseguiu tirá-la de perto de Gabriel e levá-la até nós ontem à noite, quem sabe seus talentos médicos compensem sua insuportável personalidade.

O Sr. D fez um som de hummm.

Talvez faça bem a ela ver Gabriel de novo. – Anna sequer queria saber se os dois estavam juntos àquela hora da manhã. O conceito de sexo gay era honestamente aterrorizante. – Vou te dar meu endereço. Traga a garota aqui e tentarei conversar com ela, depois a levo de volta para Apolo... se ele não a encontrar primeiro.

Nesse momento Logan apareceu de novo no corredor, chamando Anna silenciosamente. Ele dormira com as roupas que estivera usando na noite passada, bermuda e camiseta amarrotadas, seu cabelo uma bagunça ridícula. Ela mordeu o lábio para conter o sorriso, assentindo para dizer que já estava indo.

– Logo estaremos aí – disse, traçando um mapa mental até a casa do homem. – Gabriel está bem?

Sim. Estarei esperando por vocês.

E com isso ele desligou. Anna deixou seu celular de lado, andando até Logan e permitindo que o garoto passasse o braço por trás de seus ombros enquanto andavam até a cozinha. Não haviam retomado a conversa da noite anterior, mas, olhando-o tão perto e tão à vontade... Anna não entendia de onde lhe vinha aquela vontade de sorrir.

Encontraram Artemis na cozinha, contudo, e qualquer pedacinho de felicidade sumiu. A ruiva tinha o rosto apoiado em uma das mãos e, brincando com um biscoito, parecia a figura da própria depressão. Anna suspirou e, tentando encontrar em si um pouco de sensibilidade, chamou seu nome e andou até ela.

– Vamos lá – disse, e então hesitou. – Vai dar tudo certo.

Artemis ergueu os olhos para ela, e as duas sabiam que nada era tão fácil assim. Em outro mundo, talvez houvessem sido melhores amigas. Ou talvez ainda pudessem ser, Anna se viu pensando, mesmo que um pouco incerta. Fez então o que nunca havia feito, estendendo a mão para segurar a dela – oferecendo conforto. Artemis não pareceu senti-lo, mas levantou-se da cadeira e assentiu para Anna.

Sequer sabia para onde estavam indo, mas concordava ainda assim. Era o oposto da voluntariosa Artemis que Anna havia conhecido, talvez a menininha guardada fundo por trás daquela pose agora em caquinhos. Anna apertou sua mão com um pouquinho mais de força, de alguma forma decidida a protegê-la.

– Vai dar tudo certo – repetiu.

E dessa vez até mesmo acreditou.

{...}


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Notas finais do capítulo

Acho a Anna uma personagem tão boa... às vezes até penso em escrever uma long-fic dela e do Logan em Cape Cod, depois de OLEDL, mas então me lembro de que estou só começando uma das faculdades mais estressantes de todas e que já tem sido um sacrifício de tempo manter OLEDL atualizada e-e E não é um absurdo eu sentir ao mesmo tempo pesar e alívio por essa história estar chegando ao fim? Já faz mais de um ano... mas estou só sentindo saudades e tomando o tempo de vocês agora. O próximo capítulo não demora muito, prometo.