O Lado Escuro da Lua escrita por MaeveDeep


Capítulo 73
Capítulo Setenta e Três


Notas iniciais do capítulo

Pretendo atualizar de novo no próximo sábado. Então, vocês podem ler, correndo o risco de se depararem com um cliffhanger, ou esperar até lá, em uma decisão menos acalorada. Só um aviso, contudo, porque sou fofinha: Loganna.



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O Lado Escuro da Lua – Capítulo Setenta e Três

Anna já havia passado muito tempo na casa dos Wright, mas ele nunca havia se arrastado tanto. Naqueles degraus desconfortáveis, lembrou-se dos dias de sol em que se sentava ali para desenhar enquanto Apolo lavava seu carro, sem se lembrar daquela madeira ser tão incômoda.

– Acha que deveríamos ir embora? – Logan perguntou.

Anna o olhou de lado.

– Você está dormindo aqui, não está? Iria embora para onde?

Garotos podiam ser tão estúpidos.

– Vou embora na semana que vem – Logan disse, trazendo à tona um assunto completamente aleatório. Anna não gostava de coisas que não faziam sentido. – Já foi a Cape Cod antes?

– Não – porque Anna não gostava de praia, e também porque sabia que Logan morava lá. Ela abaixou o olhar para as próprias mãos, encolhendo-as mais dentro das mangas compridas de sua camisa. Já estava ficando frio. – Por que já está indo embora?

– Vai sentir minha falta?

Tão estúpidos.

– A única falta aqui é a do seu senso de compromisso. – Anna o olhou bem, sem conseguir entender seu sorriso. – Ainda não me ajudou a pintar todo o ateliê.

– Posso voltar quando você quiser.

Anna bufou.

– Seu tempo livre é tão grande assim?

Logan encolheu os ombros, começando a parecer embaraçado.

– Pensei em voltar a estudar. Eu estava gostando da faculdade – desviou os olhos para a grande árvore que os Wright tinham no jardim. – Então eu pararia de trabalhar um pouco, só nos fins de semana... Sei lá.

Por que ele estava tão nervoso? Aquilo fazia Anna se sentir incomodada, por algum motivo irracional achando que era culpa sua.

– Engenharia Naval, não é? – perguntou. – Se você foi aceito uma vez, não pode ser tão difícil assim.

Logan riu de forma depreciativa.

– Para você seria uma brincadeira de criança. O que está fazendo na Berklee?

Há algum tempo a relação entre os dois havia evoluído para aquilo: perguntas pessoais sendo feitas pouco a pouco, uma cumplicidade enquanto cada um descobria um mundo diferente do seu.

– Musicoterapia. Tenho algumas aulas com Apolo, mas bem poucas.

O garoto fazia Composição e Performance ao mesmo tempo, em um horário que só ele entendia. Levaria seis anos para se formar quando a maioria das pessoas precisaria de oito, mas era Apolo, então Anna não chegava a se surpreender.

– Legal – Logan disse, e então hesitou um pouco. – Escuta, você poderia retribuir a cortesia uma hora... Cape Cod não é muito longe daqui. Eu viria te buscar, se você quisesse.

Anna juntou as sobrancelhas.

– Quer que eu vá te visitar?

Logan estava decididamente nervoso, de uma forma que Anna nunca havia visto antes.

– Sei que você não gosta muito de praia, mas o mar é lindo no fim da tarde. Posso arrumar um espaço na minha oficina para que monte seus cavaletes e traga suas coisas, e você pode ficar por... um tempo.

Era um convite simples e no entanto soava como algo importante, Anna sentiu a percepção atingi-la e quase se afastou, surpresa.

– Você...?

– Sem compromisso – ele se apressou a dizer. – Eu não quero apressar nada, não... – parou, sem palavras. Encarou Anna com aqueles olhos verdes que tanto lhe davam vontade de correr para seus vidros de tinta, os desceu para seus lábios e os ergueu de novo de uma forma que fez seu coração parar um pouco. – Gosto de passar meu tempo com você. E sei que você não está acostumada, você me disse como era... como era difícil para você lidar com garotos, e eu sei que nunca vou estar à sua altura, mas, se você quisesse...

Anna o ouvia com metade da sua atenção. Nunca havia gostado de romances, nunca prestara atenção às descrições. Despreparada, sentia aquela suave falta de ar e aquela letargia nos movimentos sem entender o que acontecia. Logan estava se declarando? Era aquela a palavra?

E, de todas as pessoas, para Anna?

A porta se abriu de repente, sobressaltando os dois. Com o encanto totalmente desfeito, se entreolharam envergonhados antes de se voltarem para Lena, que tinha uma expressão cansada e não parecia ter se dado conta do que havia interrompido.

– Entrem, por favor. – Ela tentou sorrir. – Estamos com um problema.

Anna não soube muito bem o que fazer, não achava que aquela fosse uma conversa que pudesse ser adiada. Mas Logan já estava de pé, estendendo a mão para que ela se levantasse, evitando seu olhar.

Seguiram a mãe de Apolo para dentro, Anna sufocando a torrente de pensamentos que bagunçava seu cérebro para se focar no problema maior que tinham em mãos. Foco, Anna, foco.

– Artemis precisa de um lugar para ficar – Lena ia dizendo, em tom baixo. Na sala, a ruiva estava de pé, obviamente tendo acabado de discutir com Charles. Os dois se encaravam como se estivessem se medindo, de uma forma assustadoramente semelhante com o que às vezes acontecia entre pai e filho. – Não quer ficar aqui e Charlie não acha seguro que retorne.

Não é seguro – o homem dirigiu-se exclusivamente a Logan, como se esperando que ele entendesse. Anna bufou, afrontada. – Ela não deve ficar ao alcance de um assassino. Estaríamos a colocando em perigo se a mandássemos para lá!

– Sou eu quem tem de decidir isso! – Artemis replicou, exasperada. – Meu pai jamais me machucaria. Não a mim – abaixou a voz, abalada. – Mas se me perder de vista, é capaz de cometer uma loucura.

Oh. Então ela havia falado sério, seu pai era mesmo um assassino. Anna inclinou a cabeça para o lado, interessada, tentando juntar os pontos enquanto Charles voltava a falar.

(Ao seu lado, Logan tinha os braços cruzados na frente do corpo. Ele e Apolo eram ridiculamente protetores quando se tratava de garotas, mesmo que um fosse um romântico idiota que arrumara a primeira namorada no jardim de infância e o outro um recém-caído-na-real que já havia transado com garotas o bastante para desafiar a memória magnífica de Anna.)

– Não se iluda achando que pode entender a cabeça de um louco – Charles zombou, agressivo. – Se alguma coisa acontecesse a você, como acha que nós nos sentiríamos?

O olhar que Artemis lançou a ele era dor e raiva em todos os tons de azul do mundo.

– Eu diria que entendo a sensação.

Aquilo pareceu calá-lo. Anna mordeu a parte interna da bochecha, ardendo de vontade de perguntar pela história completa. Aquilo parecia ótimo, nunca havia visto uma atmosfera tão carregada. Mas ninguém na sala disse nada até Lena dar um passo à frente, falando com Artemis como se estivesse se dirigindo a um animal assustado.

– Eu sei que você pensa que ele jamais te machucaria. Mas não podemos arriscar isso. – Ela fez uma pausa em que o nome de seu filho pareceu pairar no ar. – Já concordamos em não chamar a polícia, como você pediu. Entendemos que quer conversar com seu pai antes da matéria ser publicada, compreendemos seu desejo de que nada disso seja verdade. Por favor, não volte para lá.

Artemis ficou em silêncio, seu cérebro obviamente tentando chegar a uma conclusão. Anna revirou os olhos, um pouco impaciente.

– É do seu pai que estamos falando? – perguntou então, atraindo a atenção da garota. – Você já está aqui há uma hora, ele provavelmente nem notou sua ausência. Se não voltar, o que ele poderá fazer? Seria impossível adivinhar que está aqui.

– Não é comigo que eu estou preocupada – Artemis a respondeu, ferida por sua lógica crua. – Ele está com meu celular – lembrou-se, cheia de arrependimento, virando-se de novo para Lena. – Não deixe que Apolo atenda, caso eu ligue. Ou mande uma mensagem, ou qualquer coisa. Por favor.

Ainda um pouco ofendida, Anna teve vontade de perguntar se Artemis não colocava boas senhas em suas coisas. Enquanto Lena perguntava o que ela poderia ter de registro, preocupada, Anna imaginou como tudo seria mais fácil se apenas acordassem Apolo e mandassem os dois para a Alemanha ou para a Rússia com identidades falsas.

– ... poucas mensagens. Uma ou duas ligações.

– Pouca coisa – Charles julgou, em tom técnico. – Tem o nome dele?

– Não, mas isso não o eximiria de qualquer suspeita. – Artemis pausou e, por um segundo, Anna teve medo de que ela começasse a chorar. – Por favor, quando ele acordar, não digam... não digam que eu estive aqui.

– Está pensando em ir para onde? – Charles voltou a altear a voz, e Artemis estava quase rosnando em exasperação quando Logan interferiu.

– Anna não mora longe daqui. – As duas garotas se viraram para ele ao mesmo tempo, mas Logan falou olhando diretamente para a loira. – Ela poderia passar a noite lá.

– Sim. – Concordou, percebendo que não era um plano de todo ruim. Perdia pontos em imaginação, mas deveria ser eficiente. Virou-se para Artemis, sentia o olhar de Logan com um pouco de nervosismo. – Mesmo que ele te procure, não tem como te encontrar na minha casa. E, com Apolo não o respondendo, ele vai simplesmente supor que vocês não se falam mais.

Era racional o bastante, é claro, mas Artemis demorou a começar a acreditar naquilo. Contendo sua impaciência e se lembrando de Apolo pedindo a ela para tentar ser mais compreensiva e emotiva, Anna fez seu melhor para esperar com inexpressividade.

Foi quando ouviu seu celular tocar. Curiosa, o tirou do bolso, sem entender por que Veronica estaria ligando para ela àquela hora da noite. A menina era colega de Apolo, não dela.

Talvez houvesse sido um engano. Rejeitou a ligação e guardou o celular no bolso de novo, mas, mal havia se passado meio minuto, ele começou a tocar uma segunda vez.

– Atenda – a mãe de Apolo pediu, com a voz seca.

Anna a obedeceu com satisfação.

– Veronica?

– Anna?! Onde você está?! – Suas perguntas soaram histéricas, e a loira afastou o celular do ouvido, incomodada.

– Em casa. Bom, na casa do Apolo, mas não faz muita diferença. Quer falar com ele? Por que está me ligando?

O suspiro de alívio de Veronica foi ouvido por todos, mas, do outro lado da linha, Anna prestou atenção pela primeira vez no tênue barulho de uma sirene. Artemis devia ter ouvido a mesma coisa, deu passos instintivos em sua direção, os olhos azuis implorando para que não fosse outra tragédia.

Consciente de estar sendo muito observada, Anna encolheu-se um pouco antes de falar de novo.

– O que foi que aconteceu? Onde você está, Veronica?

A Academia – a garota lhe disse, só um pouco mais calma. – Um incêndio, Anna. Dos grandes. Começou há cerca de meia hora, não conseguimos te encontrar e não sabíamos onde Apolo...

Anna deixou de ouvi-la, os olhos fixos em Artemis. A ruiva não parecia ter entendido tudo, apenas o bastante. Assentiu de forma breve, como se já enlutada, e se virou para Charles, mas o homem não respondeu ao desafio, já vestia seu casaco e pegava as chaves de seu carro.

Um incêndio, Anna. Dos grandes.

{...}


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Notas finais do capítulo

Talvez a palavra-chave não devesse ter sido Loganna e sim incêndio, ou ainda 'Sebastian, o Psicótico, ataca novamente', mesmo que essa última possibilidade tenha mais de uma palavra... mas bom, se você chegou até aqui, olá! Como eu disse, ssh, está tudo bem, tem mais no próximo sábado. Maeve ama vocês.