O Lado Escuro da Lua escrita por MaeveDeep


Capítulo 67
Capítulo Sessenta e Sete


Notas iniciais do capítulo

Demorei uma eternidade, mas considerem como um presente adiantado de Natal.



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O Lado Escuro da Lua – Capítulo Sessenta e Sete

Era engraçado como o outono era lindo e, no entanto, tudo estava morrendo. Artemis apoiou os dedos no vidro da janela, observando as folhas secas do pátio do hospital enquanto ouvia seu pai falar.

– Ele vai ficar feliz em saber que você se preocupou – disse, esperando que o seu sorriso chegasse à sua voz através do telefone. – Recebeu alta ontem.

E saíra tão satisfeito, David apoiando-o até seu carro no estacionamento... Gabriel conseguia andar, é claro, precisava apenas de repouso, mas Artemis conseguia imaginá-lo fazendo drama e implorando ajuda ao seu professor preferido. (Por que David teria cedido, contudo, Artemis não fazia ideia.)

– Tivemos uma reunião ontem – continuou dizendo, notando um pássaro azul pousar em um galho seco. Outro logo se juntou a ele, e o galho pendeu um pouco. – Não sabemos o que fazer com a apresentação, Gabriel poderia ser substituído caso o papel fosse dele, mas o falecimento de Andrew... – sua voz falhou não por delicadeza, e do lado de fora o galho quebrou com um estalo seco e os passarinhos saíram voando.

Deu as costas à janela e percebeu que Apolo havia aberto os olhos. Olhava-a com uma expressão estranha, e Artemis mal ouviu o que seu pai dizia enquanto buscava ignorar a ansiedade se acumulando em seu estômago.

– Preciso ir, a professora está me chamando – disse, sem saber se escondia bem sua pressa. – Obrigada – lembrou-se de agradecer, antes de se despedir e desligar.

Guardou o celular sem saber o que dizer.

– Estava mentindo para quem?

A falta de delicadeza a surpreendeu, mas fez com que Artemis desse passos pequenos até a maca. Estava na hora de lhe dizer adeus para sempre, o que talvez não fosse conseguir se Apolo agisse como ele mesmo.

– Me contaram que você tinha acordado – disse, observando o curativo em sua testa. Mais um pouco e teria sido fatal, havia lhe dito o médico chamado Graham. – Como você está?

Apolo não respondeu. Seu silêncio pesou, e Artemis sentiu-se resignadamente desnuda. Havia se preparado para tudo. Para gritos, palavras gentis de partir corações, xingamentos e até lágrimas. Havia até se preparado para aquele silêncio, mesmo que na hora não soubesse o que fazer com ele.

Assim que vira Apolo pela primeira vez, afinal, tinha feito o que sabia fazer melhor – mantivera distância. Havia sido tão insuportável e tão insensível quanto podia, o que, verdade fosse dita, não tinha sido realmente difícil. Ainda assim, ele havia insistido até se aproximar o bastante para conhecê-la de verdade; o que o levara, sem mais nem menos, a uma maca de hospital.

Artemis observou seu rosto bonito, perguntando-se se ele teria a coragem de perdoá-la. Não ter ido ao seu Festival não fora mais do que uma retomada dos seus antigos planos, uma tentativa de afastá-lo de novo. Era só ficarem afastados por uns dias que ela já voltava a repensar todos os riscos, não podia evitar.

E ainda assim, a culpa pesava tanto. Fazia a coisa certa e sentia um aperto no coração ao ver Apolo tão magoado, tentava salvá-lo e ouvia Anna murmurar, em meio às lágrimas, que ele quase chorara no palco.

Aquele silêncio era uma despedida por si só.

– Gostaria de ter ficado ao seu lado – Artemis disse, mas era como se Apolo sequer a ouvisse, seus olhos castanhos observando seu rosto, a curva do seu pescoço, descendo por seu cabelo. Quase como se nunca mais fosse vê-la de novo. – Mas não pude.

(Porque ficara ao lado de Harry uma vez, seu cabelo muito escuro e seus olhos muito claros, os lençóis brancos logo tingidos de vermelho. Ficara ao seu lado o quanto pudera, os olhos cheios de lágrimas, até ser afastada dali de punhos cerrados e corpo trêmulo.)

– Gostaria de ter te visto tocar – retomou, quando ele não disse nada; mordeu o lábio inferior brevemente, Apolo não parecia acreditar nela. – Sinto muito. Anna me disse que foi a sua melhor música. E... obrigada por tudo.

(Continue mimando-a assim e essa garota acabará sozinha, Sebastian...)

– Obrigada por tudo? – Apolo repetiu, e estivera Elizabeth tão errada assim? – E sente muito?

Artemis se afastou daquela voz branda da mesma forma que se afastava dos gritos de sua mãe, procurando irracionalmente por qualquer forma de defesa.

– Eu fiz o que era certo quando não fui – disse, buscando convencer a quem? – Não espero que você entenda.

– Ninguém entenderia – Apolo reagiu, inflexível. – Foram quantas semanas sem falar comigo, duas?

Não continue, Artemis percebeu-se pedindo aos céus, não continue. Em uma fração de segundo percebeu que não queria mais aquele sentimento horrível de culpa, não queria que ele verdadeira se zangasse com ela, nunca quisera nada daquilo. Não é minha culpa, não de verdade, por favor, não brigue comigo. Lembrou-se de sua mãe se aproximando com os olhos cheios de faíscas, afastou-se de Apolo como se ele fosse agredi-la também.

E ele o fez, naquela voz magoada cheia de acusações.

– Eu me deixei ficar para o final, Artemis. Eu sabia que você iria, sabia que iria aparecer a qualquer momento. Mas você não veio, e eu toquei para quarenta mil pessoas quando tudo o que queria era te jogar contra a parede – confessou, frustrado. – Te bater, te beijar, qualquer coisa. Qualquer coisa – repetiu, e o coração da garota se quebrou em pedaços.

Deu passos pequenos para trás; eu acho que estou me apaixonando por você, quase sentiu cheiro de chuva naquele dia morno de setembro. Eu sinto tanto, tanto. Observou seu rosto, seu cabelo, lembrou-se da tempestade contra a janela e da mão em sua coxa na manhã seguinte; sentiu os olhos arderem.

– Eu amo você.

Foi quase um sussurro, e talvez tenha saído meio embargado, mas Apolo congelou no lugar e a olhou como se realmente nunca fosse vê-la de novo. E então sua expressão foi resignada, conformada, quase triste.

– Eu sei que você pode me amar – lhe disse, voltando a se recostar melhor na cama. Estava desistindo, por fim, e o coração de Artemis falhou uma batida. – Quando não houver ninguém para culpar. November Rain, Artemis – a gentileza a fez tremer. – Ela me lembra de você às vezes.

E aquela raiva calma era devastadora, Artemis sentiu-se encolher e disse para si mesma que talvez merecesse aquilo tudo. Piscou os olhos para afastar as lágrimas, engoliu em seco e se afastou na direção da porta. Apolo nada disse ou fez para impedi-la, ela parou no batente por pura fraqueza.

Olhou-o por cima do ombro e sentiu como se abandonasse uma criança pequena. Apolo tinha nascido depois, não tinha? Mais do que isso, contudo, abandonava a melhor parte do mundo que havia conhecido. Conteve o choro, encolheu os dedos e entendeu o que era um coração partido.

{...}


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Notas finais do capítulo

Eu tenho uma teoria de que os capítulos mais emocionalmente carregados devem ser os menores possíveis. Ainda assim, vocês não acreditariam se eu dissesse que revisei isso tudo aí praticamente todos os dias. A música que Apolo cita é November Rain do Guns 'n' Roses, e ela também faz com que eu me lembre do relacionamento dos dois e de Apolo desistindo de alguma forma. Enfim, eu gosto tanto de reviews quanto de chocolate. Feliz Natal, amores! Meu novo icon não é uma gracinha? Sou eu de orelhinhas cor de rosa de coelho. Mil beijinhos.