O Lado Escuro da Lua escrita por MaeveDeep


Capítulo 59
Capítulo Cinquenta e Nove


Notas iniciais do capítulo

Como vou me abster de notas finais - vocês vão entender! - , vão aqui alguns recadinhos: esse é meu capítulo de aniversário para mim mesma! Obrigada, obrigada. E a música é Blurry, do Puddle of Mudd, que eu altamente recomendo que vocês escutem com o capítulo. É uma das minhas preferidas, e sintam-se lisonjeados ao serem apresentados a ela. Ah, e escutem a versão de estúdio, porque a acústica não é nem de longe tão boa (mesmo). É isso aí, meus amores.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/472294/chapter/59

O Lado Escuro da Lua – Capítulo Cinquenta e Nove

A noite estava linda. Havia chovido forte nas duas últimas semanas, mas naquele sábado o céu era todo estrelas e luar. Um vento frio soprava, eriçando as quarenta mil pessoas reunidas à frente do palco, gritando e comemorando qualquer coisa que Apolo não conseguia entender.

Era a noite do seu Festival. Há um ano, terminara um show para passar os próximos trezentos e sessenta e cinco dias pensando no próximo – escolhendo as músicas, antegozando o furor do público, sorrindo cheio de esperteza ao se ver como o melhor da noite. Agora que estava diante do microfone, contudo, não sabia como se sentir.

Artemis não viera. Duas semanas haviam se passado desde a noite em que a deixara sozinha no telhado, mas nem por um segundo havia duvidado de que a garota viria. Artemis não o havia procurado, mandado um recado ou sequer dado um sinal de vida durante todo aquele tempo, mas Apolo achara que estivesse fazendo a coisa certa ao lhe dar um pouco de espaço.

Havia tido aquela fé cega – apaixonada? – de que Artemis não faltaria à sua apresentação, não com ele se dedicando tanto à dela. Mas já estava no palco, o microfone a centímetros dos lábios, os dedos gelados de frio encostando nas cordas da guitarra; e nada de Artemis. Nenhum sinal, nada.

E quem havia dito que o nada não existia? Era como estar completamente oco por dentro, incapaz de tomar parte na empolgação de seus colegas e da multidão à sua frente. Apolo estudou seus rostos sem realmente vê-los, eram tantos, se movendo tão depressa, gritando, batendo palmas, sem perceber que aquele seu sorriso não passava de pose, de protocolo.

E logo Apolo, sempre tão espontâneo, tão genuíno em tudo o que fazia. O garoto ergueu os olhos para o céu, sentindo inveja dos que tinham fé o bastante para pedir ajuda a Deus. Até porque não sabia o que pedir; Artemis? Abaixou o olhar para o chão, tocou um acorde ao acaso e percebeu que não estava vazio, não estava oco, não estava nada daquilo.

Era apenas raiva. (E há três coisas que o sábio teme, não há? O mar na tormenta, uma noite sem luar e a ira de homem gentil – de que livro era aquilo?) Fechou os olhos, e, quando os reabriu, já estava tocando.

Everything’s so blurry, and everyone’s so fake... – Artemis, Artemis, Artemis; como seus colegas acompanharam aquela música inesperada tão rápido? – And everybody’s empty, and everything is so messed up… preoccupied without you, I cannot live at all. My whole world surrounds you, I stumble then I crawl… – Olhou para o chão, faria mal se mudasse uma palavrinha? – You could be my someone, you could be my sin... you know that I’ll protect you from all of the obscene... I wonder what you’re doing, I imagine where you are… there’s oceans in between us, but that’s not very far…

Fechou os olhos, respirou fundo e gritou, porque Artemis precisava ouvir aquilo de onde quer que estivesse.

Can you take it all away? Can you take it all away? When you shoved it in my face, this pain you gave to me… Can you take it all away? Can you take it all away? When you shoved it in my face?

Voltou fácil ao tom baixo e rouco; abriu os olhos e tudo o que via era vermelho.

Everyone is changing, there’s no one left that’s real... so make up your own ending, and let me know just how you feel... ‘cause I am lost without you, I cannot live at all… my whole world surrounds you, I stumble then I crawl... And you could be my someone, you could be my sin... you know that I will save you from all of the unclean... I wonder what you’re doing, I wonder where you are… there’s oceans in between us, but that’s not very far…!

(Entendi por que quis que eu vestisse isso; pareceu um pecado não te mostrar.)

Can you take it all away? Can you take it all away? When you shoved it in my face? This pain you gave to me… Can you take it all away? Can you take it all away? When you shoved it in my face? This pain you gave to me…

Fechou os olhos; Artemis, Artemis, Artemis. Eu acho que estou me apaixonando por você, havia dito, e também eu te amo, e então seu olhos azuis cheios de lágrimas; a primeira garota para quem aquelas palavras haviam feito sentido pela primeira vez, eu posso ficar sozinha? (Não, não pode.)

Oh, nobody told me what you thought, nobody told me what to say, everyone showed you where to turn, told you where to run away… nobody told you where to hide, nobody told you what to say, everyone showed you where to turn, showed you where to run away…! – E abrir os olhos para quê, quando tudo o que via era ela? – Can you take it all away? Can you take it all away? When you shoved it in my face? This pain you gave to me… Can you take it all away? Can you take it all away? When you shoved it in my face? This pain you gave to me… No! This pain you gave to me!

Um filete de suor escorria por sua têmpora, e Apolo já estava rouco depois de gritar tanto e tão alto; mas sua voz estava agora perfeita para o final baixo. Sentia-se mais forte e mais exposto do que alguma vez já havia se sentido, mas não era como se fosse culpa do palco – quando havia sido tão sincero?

So take it all, take it all away – murmurou ao microfone, dizendo a quarenta mil desconhecidos o que era para uma pessoa só. – The pain you gave to me... this pain you gave to me, take it all away... – pediu de novo, tocando a guitarra tão mais suavemente. Balançou a cabeça, consternando todo o público; seu dedo tremeu um milímetro no que era vontade de chorar. – This pain you gave to me, this pain you gave to me – repetiu, terminando em um sussurro, encerrando a música o melhor que pôde.

O estádio inteiro ficou em silêncio pelo tempo de uma batida de seu coração – alto, tão alto – antes de explodir na maior salva de palmas que Apolo já havia recebido. Aliviado e de coração partido, ele abriu um sorriso que era uma conquista, esperando que as lágrimas não caíssem.

{...}


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!