O Lado Escuro da Lua escrita por MaeveDeep


Capítulo 30
Capítulo Trinta




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O Lado Escuro da Lua – Capítulo Trinta

Não levou mais de meia hora para que Zoe adormecesse no colo de Apolo. Ela estava encolhida sobre o garoto, sua mãozinha pequena segurando a camiseta do The Doors entre os dedos, um braço dele passado protetoramente ao seu redor.

– Ela adorou você – Apolo murmurou, depois de um curto silêncio.

Artemis inclinou a cabeça para o lado.

– Sério?

– Ela não é assim perto de outras pessoas. Costuma ter medo delas, e não desgruda de mim. Já chegou a ter ataques de pânico.

– E se tivesse acontecido? – Artemis perguntou, surpresa. – Você deveria ter pensado nisso.

– E eu pensei, mas como ela poderia não gostar de você?

Artemis estreitou os olhos.

– Isso é sarcasmo?

Apolo pareceu achar graça.

– Claro que não.

Ela suspirou.

– Bom, nunca ensine as constelações de verdade para ela – acabou dizendo, em tom carinhoso.

– Como você não me ensinou nada, eu não poderia ensinar a ela nem se quisesse.

– Não entendi nada daquela ursa – Artemis afastou para longe a reclamação dele. – Nem do cisne, nem do caranguejo.

Apolo balançou a cabeça, com um ligeiro sorriso. Parecia tão fácil para ele deixar as coisas passarem.

– Só ela entende.

Artemis inclinou a cabeça para o lado, observando Zoe dormir.

– Ela pegou no sono logo.

– Já estava meio cansada, brincou a tarde inteira. A festa começou com um almoço e parecia que não iria acabar nunca. O bolo foi o castelo da princesa do Aladin – Apolo deu uma risadinha. – Minha mãe achou que seria adequado, mas meu pai não gostou muito.

Artemis sorriu, imaginando que a verdade era que, provavelmente, dormir sobre o peito dele era bom demais para resistir, estando cansada de uma festinha ou não.

– Você ainda tem que levá-la para casa essa noite, não é?

– Meu pai disse que viria buscá-la, para eu não ter o trabalho de ir e voltar.

– É o aniversário da sua irmã, acho que você poderia dormir em casa essa noite – Artemis argumentou, solidária.

Apolo deu de ombros.

– Não ligo de dormir aqui. Não é tão ruim quanto parece – comentou, fazendo Artemis sorrir, porque a Academia envergonharia um hotel cinco estrelas.

Os dois ficaram em silêncio por um tempo, e Artemis permitiu-se se inclinar um pouco, deitando a cabeça para trás e observando o céu. Era tão lindo, estrelas prateadas piscando naquela imensidão escura.

– Eu já li uma vez que, se todas as estrelas do universo fossem toda a areia das praias do mundo, o que nós podemos ver seria apenas uma mão cheia – Artemis comentou. – Somos tão insignificantes.

– Mas temos mais neurônios do que estrelas visíveis no céu – Apolo a informou, também olhando para cima.

Artemis o olhou de soslaio.

– Isso é um fato ou uma curiosidade sem referências do facebook?

– E pensar que você estava se comportando tão bem.

Artemis não respondeu, observando as estrelas brilharem. Um suave e inesperado sopro de vento gelado fez com que ela estremecesse de leve, mas Apolo foi perceptivo o bastante para notar.

– O meu casaco está aqui – ofereceu, pegando o casaco escuro que Zoe dobrara e trouxera até o banco. – Você não--

– Não – Artemis prontamente recusou. – Eu sou absolutamente contra momentos clichês, obrigada.

– Clichê seria se eu te abraçasse para trocar calor humano, ou alguma coisa assim – Apolo apontou, soando ofendido.

Artemis o analisou criticamente.

– Você adoraria fazer isso, não é?

O canto dos lábios dele se curvou em um pequeno sorriso, mas Apolo deu de ombros, sem se comprometer.

Artemis ia dizer alguma coisa, mas então o celular dele vibrou em seu bolso. O garoto afrouxou o aperto ao redor de Zoe e pegou o aparelho, lendo qualquer coisa na tela e o guardando logo.

– Meu pai está lá embaixo – informou, se levantando. Zoe murmurou qualquer coisa em seu sono, e Artemis ia se pôr de pé também quando Apolo ergueu uma mão. – Me espera voltar – pediu, persuasivo.

– Melhor não, Apolo – ela se esquivou, em tom baixo, dobrando as pernas debaixo do banco em desconforto.

– Me espera – ele repetiu, a voz descendo para aquele tom tão macio e irrecusável. – Eu vou rápido.

– Não posso ficar aqui até tarde, eu--

– Volto em vinte minutos – Apolo prometeu, com um sorriso.

Artemis odiava quando garotos faziam promessas, mas não se moveu enquanto ele se afastava.

{...}

Eu deveria descer, trancar o caminho até aqui e ir para o dormitório. O que Apolo está planejando?, Artemis se perguntou, olhando para o céu. Todo o tempo em que ficamos aqui não se pareceu em nada com um encontro. Foi divertido, quase como se fossemos amigos. E Zoe é realmente uma graça. Será que é agora que parte supostamente romântica de se estar em um telhado vai começar a acontecer?

Provavelmente não, ela concluiu, se lembrando do anticlímax da última vez em que esperara um beijo dele.

Ouviu passos subindo as escadas, e respirou fundo, se preparando. Escutou a porta ser fechada, e os passos deliberadamente lentos de Apolo até ela. O garoto parou atrás do banco, e Artemis já ia dizer alguma coisa quando sentiu o elástico que prendia seu cabelo ser puxado, as ondas ruivas macias caindo sobre seus ombros.

– Você fica muito mais linda assim – Apolo comentou, correndo os dedos por seu cabelo.

Artemis virou um pouco o rosto, olhando de soslaio para o braço erguido dele.

– Achei que eu não pudesse ficar melhor.

Apolo deu uma risadinha baixa, acariciando seu ombro.

– Você não deixa nada passar, deixa? – ele perguntou, afastando-se apenas para dar a volta pelo banco e se sentar ao lado dela de novo, a mão voltando para ao redor dos seus ombros logo depois. – Dificulta toda a minha vida.

Por motivos óbvios, o telhado não era o lugar mais bem-iluminado da Academia. Ainda assim, mesmo na luz fraca, o cabelo de Apolo mantinha seu tom inacreditavelmente loiro. Como na noite de sexta, havia qualquer coisa diferente por trás de seus olhos, um misto de seriedade com diversão. Artemis estreitou os olhos para ver o que achava serem sardas por cima do seu nariz, e levantou uma mão para correr os dedos pela linha do seu maxilar.

Pôde sentir pelos fininhos por baixo de seus dedos, a pele morna mesmo contra aquele vento frio. O canto dos lábios dele tremeu, e Artemis mal se surpreendeu ao vê-lo abrir um pequeno sorriso. A resposta de Apolo à carícia foi escorregar a mão que estava ao redor de seus ombros para sua cintura, encaixando-a perfeitamente à curva do seu corpo.

Como se estivesse a ensinando a dançar, em uma ironia doce, ele também trouxe a mão dela para seu ombro. Artemis encolheu os dedos, sentindo o músculo firme por baixo da camiseta macia.

Apolo se aproximou o bastante para que roçasse o nariz no dela, quase que com o claro objetivo de fazer sua respiração falhar. Havia realmente sardas sobre seu nariz, e espalhadas embaixo de seus olhos. Artemis as observou por um breve segundo antes de tornar a erguer os olhos para ele.

Apolo fala em dificultar sua vida, quando já bagunçou toda a minha.

Artemis encostou os lábios nos dele, sentindo-os secos e macios, exatamente como se lembrava de tê-los sentindo contra as costas de sua mão. Apolo sorriu, inclinou a cabeça e a beijou de um jeito que a fez fechar os olhos.

Os dedos de Artemis se entrelaçaram em seu cabelo antes que ela sequer percebesse o que estava fazendo, suas pernas tremendo. Seus dedos se curvaram dentro das sapatilhas, sua outra mão se erguendo para segurar o tecido de sua camiseta.

O aperto em sua cintura era firme, mas nunca o bastante para incomodá-la, e cada pequeno movimento era tão passional que ela já estava completamente derretida quando Apolo se afastou. Comparados àquele, todos os beijos que Artemis já havia recebido haviam sido brincadeira de criança.

Respirando suavemente pelos lábios entreabertos, Artemis demorou a abrir os olhos para ele, incerta quanto ao que veria. Apolo não parecia tão descomposto quanto ela, por mais pesada que sua respiração estivesse – o que a encantou foi o suave rubor em seu rosto.

Lembrou-se de Lily dizendo, no que parecia ter sido décadas atrás, o quão adorável era Apolo vermelho de tanto rir. Havia debochado na época, mas, acariciando a lateral de seu rosto, tinha que admitir que a antiga monitora talvez estivesse certa.

– Por que não me beijou na sexta-feira? – perguntou, antes que pudesse se conter.

– Por capricho – Apolo sussurrou de volta, com a ligeira sugestão de um sorriso. – Achei que nunca perguntaria. Bom saber que foi tão difícil para você quando foi para mim.

– Eu nunca disse isso.

Sem respondê-la, o garoto se aproximou mais, e Artemis estava quase cedendo à persuasão gentil quando uma súbita sirene de polícia a sobressaltou, a fazendo se afastar de Apolo. Encarou o garoto, assustada, enquanto, lá embaixo, a viatura seguia seu rumo, o barulho se tornando mais tênue a cada segundo.

Apolo tinha as sobrancelhas franzidas, e Artemis desviou o olhar, procurando se recompor, agradecendo aos céus pelo barulho por ter trazido seus pés de volta para o chão. Nós não deveríamos ter feito isso. Sentada na beirada do banco, observou as luzes da cidade brevemente antes de se voltar para Apolo – que respirou fundo, parecendo resignado.

– É a clássica história do garoto que sempre teve tudo muito fácil correndo atrás da garota difícil, não é? E você vem me dizer que não gosta de clichês. Está fazendo da sua vida um.

– Facilmente – Artemis o corrigiu. – Tudo muito facilmente. O seu pai é mesmo jornalista? – perguntou, exasperada, quando Apolo ergueu os olhos para o céu em desespero. – Você tem que usar um advérbio se quiser--

E então Apolo estava se aproximando e a beijando de novo, e tudo o que ela pôde fazer foi fechar os olhos e os dedos ao redor de sua nuca, o arranhando de leve em frustração.

– Apolo – murmurou, em protesto, assim que ele se afastou. – Eu falei sério.

Mas o garoto estava quase sorrindo, e Artemis teve que correr os dedos por seu cabelo macio.

– Eu chamo isso de licença poética – ele lhe explicou. – Você não pode negar que soa bem. – Apolo fez uma pequena pausa. – Me amaria mais se eu escrevesse poesia?

Artemis lhe lançou o olhar que usualmente reservava a Gabriel.

– Eu te amaria mais se não me beijasse de repente. Foi rude, eu estava falando.

Sua reclamação foi afastada para longe com um sorriso de lado esperto.

– Não vai apontar o fato de que nunca me amou, em primeiro lugar? Eu estava esperando algo assim. Seu plano de não deixar claro seu óbvio interesse por mim está começando a se encher de falhas.

– E a culpa é de quem? – Artemis murmurou, descendo o olhar para seus lábios.

Observou seu sorriso diminuir.

– Eu vou adicionar isso à minha longa lista de qualidades memoráveis – Apolo considerou, antes de beijá-la de novo.

No terceiro beijo, Artemis achou que já estaria acostumada, mas seus pés pareceram ter saído do chão e ido tão alto quanto das primeiras vezes. Ela teve que suspirar quando se separaram, seus dedos emaranhados naquele cabelo loiro.

Era sempre tão difícil voltar a abrir os olhos. A respiração dele tão próxima era quentinha, a mão em sua cintura tão protetora como se estivesse cuidando dela. Assim que os abria, contudo, valia completamente a pena.

Os olhos de Apolo eram lindos. Os dela sempre haviam sido supervalorizados, elogiados demais, todas suas professoras e amigas de seus pais exclamando como era um lindo tom de azul, e perguntando, entre risadinhas, se ela não gostaria de trocar com eles.

Os de Apolo eram castanhos, contudo, assim como os da maioria do resto do mundo. Ainda assim, ela não conseguia deixar de olhar para eles, sentindo falta de uma luz que a deixasse ver os diferentes tons de marrom, de dourado, dos riscos da íris.

Respirou fundo, sem saber o que fazer.

– Preciso voltar para o meu quarto.

– Você sabe que assim parece que está fugindo de mim, não sabe? – Apolo acariciou a lateral do seu rosto com o polegar, e Artemis se afastou contra a própria vontade.

– Mas eu estou.

– Considerando que nós já nos beijamos três vezes, eu me sinto na obrigação de te avisar que precisa aprimorar seus métodos.

Artemis estava a meio caminho de responder quando entendeu, levantando uma sobrancelha e abrindo um quase sorriso, o encarando com uma expressão curiosa.

– Eu conheço esse jeito de falar. Você... está me imitando?

– Como se fosse possível replicar toda a sua petulância – e Apolo revirou os olhos.

Artemis riu, encantada, o fazendo sorrir.

– Eu nunca havia te visto revirar os olhos antes.

– É porque geralmente você está olhando para o outro lado, depois de ter revirado os seus – Apolo apontou. – Sério, é muito irritante.

Artemis balançou a cabeça, ainda sorrindo.

– E eu acho que nunca tinha ouvido a sua risada antes, então estamos empatados – Apolo acrescentou.

Artemis juntou as sobrancelhas, incomodada. Aquilo fazia com que ela se sentisse uma pessoa mais fria e indiferente do que ela achava ser.

– Já deve ter ouvido sim. Você que não se lembra.

– Eu me lembraria.

– Eu já avisei quanto aos clichês. Você já até não usou essa frase antes?

– Se lembrando da minha voz? – Apolo sorriu. – Eu disse que me lembraria caso houvesse te visto antes, foi na festa de boas-vindas de vocês.

Artemis assentiu, embaraçada pela pergunta. A verdade é que ela realmente se lembrava da voz dele dizendo aquelas palavras, porque a voz de Apolo não era do tipo da qual alguém se esqueceria fácil.

– Eu realmente preciso voltar para o meu quarto – decidiu, mantendo a voz suave. – E, quanto ao que houve aqui, ninguém precisa saber – disse, no que era mais um pedido do que qualquer outra coisa. Não conte a ninguém, por favor.

Achou que Apolo fosse protestar, mas o garoto assentiu, lentamente.

– Você quem sabe – ele disse, tranquilo. – Eu vou ficar aqui mais um pouco.

– Você não tem aula amanhã cedo?

– Posso faltar à primeira.

– Matá-la, você quis dizer.

– Você e a sua forma positiva de ver o mundo – Apolo suspirou, mas estava sorrindo. Artemis se levantou, e ele teve a ousadia de segurá-la pela mão. – Um último beijo? – pediu, quando ela se virou para ele.

– Você é ridículo – Artemis revirou os olhos, sentindo o rosto esquentar. – Não fica nem embaraçado de pedir algo assim?

– Por que eu ficaria? – Apolo se pôs de pé também, ainda segurando sua mão. Artemis se viu subitamente lembrada de que ele ainda era poucos centímetros mais alto. – E não foi você quem disse que não queria ser beijada de repente? Eu pedi dessa vez. Faltou só um por favor, mas eu ainda tenho muito amor próprio para isso.

Artemis suspirou, com um meio sorriso. Pôs a mão sobre seu peito, e se inclinou para um beijo rápido em seus lábios, não dando ao garoto nem tempo de fechar os olhos.

– Você chama isso de beijo? – Apolo perguntou, indignado, assim que ela se afastou. – Depois das três excelentes demonstrações que eu acabei de te dar?

Artemis revirou os olhos de novo, divertida.

– Eu chamo isso de capricho. Boa noite, Apolo.

O loiro suspirou.

– Eu sabia que você valia a pena – sorriu. – Boa noite, Artemis.

{...}


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Notas finais do capítulo

Reviews são a vida, vocês sabem. E os beijos do Apolo também.
Beijinhos da Maeve