O Lado Escuro da Lua – Capítulo Catorze

"Boston MA, domingo do dia vinte e sete de Julho.

Boa noite, pai. (Ou, pelo menos, eu espero que seja noite aí. Ainda não aprendi a calcular fusos-horários de cabeça, desculpe.)

Sinto muito pela demora em dar notícias, a vida aqui tem sido uma correria. Achei que seria mais fácil do que a Royal Academy, mas os treinos são tão puxados quanto. Nada que eu não dê conta, é claro, mas acaba não sobrando tempo para qualquer outra coisa. Tentarei mandar mais notícias logo que puder.

A apresentação de inverno vai ser mesmo um original! Estou tão feliz, será incrível. Oficialmente, ninguém comentou nada a respeito do papel principal, mas todos sabem que eu farei o anjo. A história é maravilhosa, mas não tem como contar por aqui. A propósito, você havia perguntado sobre o melhor horário para me ligar, e é depois das seis (queria ter herdado de você a capacidade de calcular os fusos-horários). Agora, todo o meu horário já está agendado direitinho, ainda bem.

As pessoas daqui são mais legais do que pareceram à primeira vista. Lembra-se do Gabriel, que eu chamei de barulhento e irritante no primeiro e-mail? Ele ainda é barulhento e irritante, mas temos passado bastante tempo juntos. Ele me faz rir, e é o único garoto com quem eu converso aqui. É tão gay como se agitasse uma grande badeira GLS todo o tempo, mas acho que já me acostumei. A Lily é mesmo a monitora-chefe, e é realmente adorável e perfeita. Acho que mamãe teria gostado dela.

Ah, e tem os músicos. A Orquestra não vai poder tocar na nossa peça – o que eu acho um absurdo, e tenho certeza de que você concorda comigo –, então recomendaram alunos avançados da Berklee, uma faculdade particular de música daqui.

Sim, amadores. Eles são esquisitos, irresponsáveis e arruinaram o próprio dormitório, mas a diretora Lee decidiu dar uma chance a eles."

Artemis pausou, pensativa, e então voltou a digitar.

"Ei, pai?

 Lembra quando eu tinha seis anos, e você me explicou de onde vinha o meu nome? Eu o detestava, na época, porque ninguém sabia falar direito. Nem na escola, nem no balé, nem nas aulas de francês ou de alemão – ninguém sabia pronunciar Artemis, e todo mundo dizia que era esquisito.

E então você apontou a Lua, e me explicou sobre a deusa, e disse que eu provavelmente era a única garota no mundo especial o bastante para ter o nome de uma deusa grega. Eu te perguntei se a deusa era filha de Deus, lembra-se? Você riu e disse que era diferente. Que ela era de uma época onde os homens não conheciam Deus, e que, quando Ele veio, ela e sua família puderam descansar.

Eu passei a amar mitologia grega nesse dia. Desde então, li tudo sobre o Olimpo e, principalmente, sobre Artemis. Com certeza sei mais sobre mitologia grega do que muitos estudiosos de história e arte.

E é claro que seria impossível ler sobre Artemis sem conhecer Apolo.

Artemis suspirou.

Conheci um garoto chamado Apolo.

Ele é lindo como o deus seria. Apaixonado por música, fácil de se gostar, adorado por todo mundo.

Artemis parou de digitar, lábios torcidos em um sorriso amargo. Apagou tudo o que havia dito sobre Apolo e começou de novo, sem mencioná-lo uma só vez.

(Apolo e Artemis nunca poderiam ficar juntos, não é? Estão sempre distantes demais um do outro, um de cada lado do mundo.)

{...}