O Lado Escuro da Lua escrita por MaeveDeep


Capítulo 13
Capítulo Treze




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O Lado Escuro da Lua – Capítulo Treze

O ânimo de Artemis melhorou um pouquinho quando, em menos de quatro dias, a professora Victoria lhe avisou que tinha todo o repertório pronto. Ela só não deu pulinhos e sorriu porque, infelizmente, a professora também a designou para entregar uma cópia para o “professor responsável da Berklee.”

Tudo o que Artemis podia imaginar David fazendo com o repertório era dobrar as folhas em origamis distraídos, mas ela não iria dizer isso à sua professora preferida. Com uma expressão resignada e um sorriso forçado, acabou fazendo o caminho até o dormitório da Berklee, rezando a Deus para que Apolo estivesse bem longe.

Talvez eu devesse ter mandado Gabriel vir fazer isso, ele teria adorado. Suspirou antes de bater na porta. Mas isso também seria uma covardia, não seria?

Virou a maçaneta e entrou, esperando encontrar adolescentes alucinados fumando maconha e ouvindo músicas estranhas.

O que encontrou, contudo, foi um casal jogando videogame no sofá mais próximo. Havia desenhos estranhos pregados nas paredes com fita adesiva – ou seja, ela não havia errado de dormitório – mas, para sua surpresa, havia uma calmaria no ar que ela não encontrava na Academia fazia um tempo.

(Em seu dormitório, Artemis usualmente se trancava no quarto, porque Gabriel dependurado na escada cantando Defying Gravity era uma tortura realmente desnecessária.)

— Com licença? – pediu, sua voz soando alta em todo aquele silêncio. (Ela não entendia muito de videogames, mas era normal eles não terem som?). – Eu preciso entregar isso para o professor Chamberlain.

O garoto não deu sinal de tê-la ouvido, muito ocupado apertando uma infinidade de botões em seu controle, mas a garota loira se virou para ela com um sorriso. Seu cabelo era cacheado, e seu suéter realçava os olhos cinzentos. Teria parecido uma boneca se não houvesse qualquer coisa esperta demais na curva do seu sorriso, e inteligência queimando por trás de seus olhos.

— Artemis, certo?

Desconfiada, Artemis levantou uma sobrancelha.

—O professor está? – perguntou, sem confirmar nada.

Sem desviar o olhar de Artemis, a loira apertou alguns botões em seu controle (ao seu lado, o garoto estava encarando a televisão com os olhos arregalados), encolhendo os ombros.

— Para a felicidade de todo mundo, inclusive a dele, não, ele está bem longe. Já saiu faz um tempo, com um pouco de sorte até sofreu um trágico acidente e faleceu. Os índices de acidentes no tráfego aqui em Boston tem andado bem altos, você reparou? Com um pouco de sorte vamos vê-lo no jornal das oito debaixo dos destroços daquele SUV importado ridículo. – Pela primeira vez, ela desceu o olhar para os papéis nas mãos de Artemis. – São os atos da apresentação?

— São – Artemis respondeu, um tanto confusa. – Quem é você?

— Anna.  APOLO!

Com as sobrancelhas levantadas, completamente chocada, Artemis assistiu a Anna voltar para seu jogo com a mais pura indiferença, enquanto alguma porta no andar de cima batia. Gabriel era mestre em parecer inocente após fazer algo errado, mas a expressão de Anna era impecável.

Não era ela a menina com que David implicava tanto?

— Você me chamou?

Artemis ergueu os olhos para cima. Apolo estava descalço no topo da escada, com uma camiseta do Deep Purple amassada e jeans escuros. Ele estava encarando o cabelo de Anna com um ar confuso, mas, quase como se sentisse o olhar de Artemis, acabou se virando para ela logo.

— Aah. – Sua expressão confusa deu lugar a um sorriso todo charmoso e cheio de segundas intenções. – Artemis.

— Não vim aqui para te ver – ela deixou bem claro, muito séria. – A professora Victoria pediu que eu entregasse o repertório para o David.

Descendo as escadas, Apolo parecia satisfeito ainda assim.

— Então por que me chamou?

— Não foi exatamente eu quem te chamou – Artemis desviou o olhar para Anna, que continuou encarando a televisão.

— Você não esperava que eu ligasse para o Sr. D., não é? – a loira replicou, pelo nível de intimidade, obviamente falando com Apolo. – E pode me agradecer depois, não ligo.

Definitivamente falando com Apolo.

Artemis deu um passo para trás quando notou que o dito garoto estava a observando com atenção, uma expressão curiosa no rosto, as sobrancelhas claras espontaneamente franzidas e um trejeito pensativo nos lábios. (Pessoas que expressavam o que sentiam sem pensar morriam mais cedo. Ela tinha certeza de um dia ter lido algo assim em algum lugar.)

— Você está bem?

Artemis juntou as sobrancelhas em educada surpresa.

— Por que não estaria? – perguntou, estendendo as folhas a Apolo antes que o garoto pudesse respondê-la. – Entregue a David, por favor.

Apolo brincou com as folhas nas mãos.

— O que ele é suposto a fazer com isso?

— Campeonato de arremesso à cesta de lixo, ou origamis – Artemis não pôde evitar responder, ouvindo a própria voz sair debochada. – Parece que é isso que vai acabar fazendo, de qualquer forma.

— Aham. – Apolo concordou, sem se importar com a apresentação mais importante do mundo. – Então, quer sair de novo qualquer dia desses?

Foi difícil não revirar os olhos.

— Essa sua insistência está me cansando.

— O que é uma pena – Apolo concordou. – Eu conheço formas melhores de te cansar.

— Felizmente, não preciso de você para me cansar. Estou bastante ocupada ensaiando. – Deu um passo para trás, decidindo que já haviam conversado muito para um dia só. – Só entregue as folhas para o David.

— Sem nenhum “por favor”?

Artemis o encarou, muito séria e, para sua satisfação, o sorriso de Apolo finalmente sumiu. Talvez Gabriel estivesse certo sobre seu olhar mortal, no fim das contas. Satisfeita, se virou para o perfil de Anna, sabendo que a garota havia escutado toda a conversa.

— Eu espero que você saiba que vai pagar por isso.

A loira não se virou para ela, mas o canto de seus lábios se curvou para cima.

Artemis estava prestes a se virar e sair quando Apolo a pegou de surpresa de novo.

— Você está bem mesmo?

Oh, Deus.

— Vou ficar melhor quando sair daqui.

Apolo assentiu lentamente, dando a péssima impressão de que estava ficando quieto apenas para agradá-la.

{...}

Artemis estava voltando para o dormitório quando ouviu seu celular tocar, um som breve que indicava a chegada de uma mensagem. Sem ter ideia de quem mandaria mensagem para ela àquela hora, procurou pelo celular na mochila e percebeu que Gabriel havia feito o favor de se adicionar à sua lista de contatos.

Sob o nome Gabriel gatinho, meow *u*.

Revirando os olhos, ela abriu a nova mensagem.

Onde a minha vadia ruiva preferida está?

Esperando não tropeçar, digitou uma resposta rapidamente.

Voltando para o dormitório. Quando pegou meu celular para salvar o seu número?

Um mágico nunca revela seus segredos *u*, ele a respondeu, depois de um ou dois minutos.

Artemis balançou a cabeça, mesmo que ninguém estivesse ali para vê-la.

Por que você não vai perturbar outra pessoa?

— Ora, Artie, porque você é muito mais divertida.

Incrédula, Artemis ergueu os olhos para um muito satisfeito Gabriel andando em sua direção, guardando o celular no bolso.

— Apostei um almoço com o Andrew no pôquer, e ganhei – ele contou, animado, como se Artemis houvesse perguntado. – Roubei descaradamente, mas os fins justificam os meios. A Isabella também vem, você quer nos dar a honra da sua presença? Vai ser legal.

— Você estava indo para o outro lado – foi tudo o que Artemis disse, já que o garoto havia começado a andar ao seu lado.

— Não, aquilo foi só para efeito dramático. Sempre quis estar por telefone com alguém e então aparecer do nada. Onde você estava? – ele perguntou, de repente. – Senti sua falta.

— A professora Victoria me pediu para entregar uma cópia dos atos para o David – Artemis contou, desgostosa. – Mas ele não estava. – Ela fez uma pausa, omitindo seu encontro com Apolo. – Conheci uma garota da Berklee.

— Quem?

— É uma garota, não precisa se interessar – Artemis não pôde evitar dizer, com um meio sorriso. – O nome dela é Anna.

— Ah, a Anna – Gabriel disse, com reconhecimento, sem responder à brincadeira de Artemis. – Ela é legal, acho. Meio esquisita, sei lá. Amiga de infância do Apolo – acrescentou, e Artemis levantou as sobrancelhas.

— Ela me reconheceu logo. Já nos encontramos?

— Claro que não, você foge deles como o David foge de mim – Gabriel deu uma risadinha. – Provavelmente Apolo só falou muito de você – cutucou.

— Ou talvez ela seja psíquica e tenha sonhado comigo.

— Ou talvez você esteja possuída pelo diário de Voldemort e não se lembre do que andou fazendo nos últimos dias.

— Achei que não houvesse lido Harry Potter – ela desconversou, porque não conseguiu pensar em mais sugestões absurdas.

— E não li. Mas assisti aos filmes. – Gabriel baixou a voz para um sussurro. – Tenho essa queda pelo Snape há um tempo.

Artemis o encarou, sem querer saber se ele falava sério ou não.

— Aham. Bom, eu não acho que vou almoçar com vocês hoje. Treinei mais cedo, vou precisar tomar um banho, arrumar meu cabelo...

— Artemis, pelo amor de Deus – Gabriel revirou os olhos de forma teatral. – Você está linda. É só soltar o seu cabelo – acrescentou, após pensar um pouco, enquanto Artemis perguntava-se como Apolo pudera ter perguntado se ela estava bem duas vezes enquanto Gabriel a achava linda e normal como sempre. – Ele é lindo demais para ser preso.

— Eu não gosto do meu cabelo solto.

— Mas você estava com ele solto quando nós saímos – Gabriel argumentou, com a petulância de uma criança.

— Foi por uma causa maior – Artemis improvisou.

— Aha, Apolito! – E Gabriel abriu o maior sorriso do mundo.

Artemis o encarou.

— Apolito, sério? Não, Gabriel, pelo amor de Deus, isso é pior do que Gay-briel. – Ela revirou os olhos, se afastando em passos mais rápidos. Fugindo, literalmente. – Bom almoço para vocês, a gente se vê à tarde.

{...}


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Notas finais do capítulo

E o mundo conspira para que os dois fiquem juntos, mas é claro que a teimosa da Artemis vai nadando contra a correnteza. (Imaginei um peixe com a cara da Sophie Turner fazendo biquinho e quase ri meus pulmões para fora.)
Vocês gostam da Anna? Ela é, particularmente, uma das minhas preferidas, mesmo que pareça uma estranha alucinada por enquanto. Teremos mais dela nos próximos capítulos, prometo.
E eu preciso avisar a vocês que vou voltar às aulas amanhã, então posso demorar um pouquinho mais para responder aos reviews. Como forma de compensação, postei dois capítulos. Sou linda, eu sei, como aqueles pais ausentes que compram os filhos com comida porque não têm tempo para ficar em casa com eles.
Deuses, sou bizarra.
Mil beijos da Maeve