O Lado Escuro da Lua escrita por MaeveDeep


Capítulo 15
Capítulo Quinze




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O Lado Escuro da Lua – Capítulo Quinze

Artemis conseguiu passar uma semana toda evitando Apolo, o que era seu novo recorde. Evitar o refeitório era simples, a parte mais complicada, realmente, sendo fugir de Gabriel. Não que a culpa, claro, fosse de Gabriel. O garoto, infelizmente, apenas dava um jeito de se esbarrar em David mais vezes do que poderia ser considerado acidental, e, novamente por uma infelicidade, David parecia só sair do dormitório acompanhado de Apolo.

Artemis suspeitava de que Apolo obrigasse o professor a sair para a luz do dia de vez em quando.

Bom, o fato era que Artemis estava funcionando como aquelas indústrias que contavam os dias sem acidentes e exibiam o número em uma placa à frente do prédio. Sete dias, para Artemis, era um ótimo número.

Pena que, aparentemente, fosse também o número de azar. Ela acabou descobrindo isso quando, passando distraída pela porta do refeitório, foi praticamente molestada verbalmente por gritos dramáticos de "ARTIE", "SUA SEXY" e "ARTIEEEEEE".

Recusando-se a acreditar naquele escândalo, Artemis se virou, apenas para ter o desprazer de descobrir que Gabriel estava sentado em uma mesa com Lily e – é claro – Apolo, acenando para ela quase que como se Artemis não houvesse ligado os gritos absurdos à sua pessoa.

Respirando fundo, ela assumiu uma expressão tranquila e fez seu caminho até a mesa, sentando-se ao lado de Lily e – mantendo as pernas bem seguras embaixo da cadeira – evitando olhar para o loiro.

— Olá, Gabriel – cumprimentou, a contragosto. – Faz quanto tempo que não nos vemos, você deve estar morrendo de saudades para ter agraciado o refeitório com toda essa baixaria. Hum, trinta minutos?

— Meu amor, cada minuto sem você parece uma eternidade – Gabriel a respondeu, lambendo o papel do bombom como se para absorver o último resquício de chocolate. – E faz tempo que não comemos juntos. Refeições com você são legais.

Artemis encarou o papel todo lambido.

— Tenho certeza de que sim. – Virou-se para Lily, percebendo que ali estava uma pessoa que não via fazia mais tempo. – Não te vi nas aulas de hoje.

— Eu não fui – a monitora a respondeu, melancólica.

Sem entender, Artemis se virou para Gabriel, esperando por ajuda. O garoto estava muito ocupado abrindo outro bombom, contudo, então ela teve que contrariar seus planos e se virar para Apolo. Que não foi de muita ajuda, é claro – loiro apenas deu de ombros e lhe lançou um olhar quase solidário.

Com um suspiro, Artemis se virou para Lily e tentou adotar um tom de voz paciente.

— E por que você não foi? Está tudo bem?

Deus, ela era mesmo péssima com pessoas

— Porque eu não aguento mais. – Lily a respondeu, chorosa, obviamente sem perceber o desconforto de Artemis. – Phil me passou a coreografia ontem, e é muito complicada. Eu... – Lily fungou, como uma criancinha. – Eu não vou dar conta.

Só me faltava essa.

— Vocês dançaram Lago dos Cines ano passado – Artemis tentou ser racional. – É o mesmo nível de dificuldade, talvez um pouco mais se você considerar--

— Eu não dancei no ano passado – Lily a interrompeu, com amargura.

Oh. Artemis mordeu a parte interna da bochecha, perguntando-se se seria muito rude perguntar como sequer Lily havia chegado às sapatilhas de ponta.

— Bom, vamos ter muito tempo para treinar até o dia da peça – tentou, hesitante. Talvez Lily pudesse ficar com um papel secundário, não é? Falaria com Phil sobre isso. – E os professores disseram que podemos treinar sozinhos, então se você quiser--

— Eu não quero treinar! – Lily exclamou, alto demais, como se repetisse algo que Artemis já deveria ter entendido há séculos. Artemis até afastou-se um pouco, surpresa. – Vou me matar ensaiando, e para quê? Para que a sua peça seja perfeita?

De repente na defensiva, Artemis ergueu uma sobrancelha.

— Você quer uma audição? – Viu Gabriel se encolher em seu assento, mas não entendeu o porquê. – Quer competir pelo papel principal?

Lily não a respondeu; encarou Artemis com os olhos verdes arregalados por um longo tempo, e então acabou por lançar um olhar de socorro para Gabriel. Antes que o garoto pudesse interferir, Artemis já voltou a falar, indignada.

— Macey, eu estou falando com você. – O uso do seu sobrenome fez Lily se virar para Artemis como se houvesse sido eletrocutada. – Você quer competir pelo papel da peça ou não?

Por algum motivo, Lily se pôs de pé, parecendo tão indignada quanto Artemis.

— Você gosta disso? – a monitora explodiu, chamando a atenção dos alunos mais próximos. – Não tem graça! Todo mundo sabe que o papel do anjo é seu. Fique com ele e com a sua preciosa vaga no Bolshoi, eu não me importo – e ela soou magoada, mesmo com a voz toda embargada de choro.

Artemis estreitou os olhos.

— E eu vou mesmo – disse, maldosa – porque não é como se você fosse ter chance.

Lily arregalou os olhos em sua direção, uma lágrima escorrendo. Ela a secou e, sem um segundo olhar para a mesa, se afastou em passos rápidos.

Artemis só se virou para os dois garotos porque os olhares curiosos e hostis das pessoas no refeitório eram irritantes. Apolo estava a observando com as sobrancelhas muito altas, enquanto que Gabriel tinha os olhos arregalados, como se Artemis houvesse acabado de apedrejar um gatinho particularmente fofo.

— Você é uma vadia, sabia? – ele disse. – Lily passou uma meia hora aqui reclamando de como era horrível perder anos de treino para uma recém-chegada, e blá blá blá... só para você vir e fazer isso— Gabriel balançou a cabeça, exasperado.

— Oh, eu vim? – Artemis perguntou, indignada. – Foi você quem me chamou para cá, não lembra? Ou não ouviu os gritos que saíram da sua boca?

— É, e eu não sei por que não pensei que você seria malvada e chata – Gabriel revirou os olhos. – Achei que talvez devessem conversar, não achei que o assunto fosse surgir assim do nada.

— Foi ela quem despejou tudo em cima de mim – Artemis se defendeu. – Eu disse a verdade, e ainda ofereci a chance de uma audição, ela que não quis.

Gabriel a encarou como se ela fosse imbecil.

— Você não entendeu nada, não é? Lily sabe que não tem chance, e já está formada. Não tem nada a ver ela perder o tempo dela treinando se não vai ganhar nada por isso.

— Gabriel, se ela não é boa o bastante, não é problema meu – Artemis sustentou o olhar do garoto, sem nem entender como Lily havia se formado, em primeiro lugar. Nunca vi bailarina mais fraca. — Ela que lide com isso e comece a treinar ao invés de culpar outras pessoas. E não ganhar nada? É uma apresentação! Sempre se ganha alguma coisa. Não que ela fosse saber disso, não é?

Gabriel soltou o mais longo suspiro do mundo ao se levantar.

— Artemis, nem todas as pessoas têm o iceberg que acabou com o Titanic no lugar do coração como você. – Ele suspirou dramaticamente. – Eu vou ver como ela está, a gente se vê na aula do Phil – e acenou antes de se afastar, mostrando que, preocupado ou não com Lily, Artemis estava perdoada.

Artemis se virou para Apolo, que deu de ombros, quase como se não quisesse se comprometer. Ela se perguntou se ele havia notado que os dois não haviam se visto fazia uma semana, e se isso fazia alguma diferença para ele.

— Ele está certo, você sabe – Apolo comentou por fim, apoiando os braços na mesa. – Não sobre a parte do coração, mas nem todo mundo é como você. David ficará feliz em saber que estava certo – acrescentou, com um pequeno sorriso.

— David? – Artemis franziu a testa, confusa, aceitando a mudança de assunto. – Certo sobre o quê?

— Sobre você.

Artemis levantou uma sobrancelha, percebendo que seu almoço ia de mal a pior sem que ela houvesse sequer tocado na comida.

— Vocês falam sobre mim?

— Claro – Apolo confirmou, sem o menor embaraço. – Seus pais são superprotetores?

— Que tipo de pergunta é essa? – Artemis perguntou, incomodada.

— David comentou isso depois do nosso jantar, quando estávamos falando de você. Foi quando eu contei a ele sobre... bom, sobre eu ter encontrado você e o Gabriel conversando mais cedo.

— Então eu ter te chamado de vagabundo desocupado quer dizer que meus pais são superprotetores – Artemis concluiu. – Não é isso que psicólogos preguiçosos fazem, dizem que são Freudianos e culpam os pais por tudo?

— Na verdade isso foi sua adorável falta de tato mesmo – Apolo retrucou. – Mas David acha que tem a ver com os seus pais, sim. Como se eles fossem te defender sempre que você fosse rude daquela forma.

A ideia estava um tanto longe da verdade, mas Artemis podia entender como o professor havia chegado àquelas conclusões.

— Então você e ele se entretêm falando sobre mim? Bastante ético da parte dele.

— Eu poderia estar me entretendo de outra forma, mas você ainda se recusa a sair comigo.

— Tenho certeza de que David, o incrível psiquiatra, poderá te ajudar a lidar com a rejeição – Artemis sorriu.

— Você está usando sarcasmo para se livrar de um assunto inconveniente – Apolo apontou, e o sorriso de Artemis sumiu.

— Talvez você seja bom nisso. Por que não vai fazer uma faculdade decente e some daqui?

— De novo.

Artemis revirou os olhos, e achou melhor ir embora. Mal havia se erguido da cadeira, contudo, e Apolo teve a ousadia de segurar seu pulso, a palma morna de sua mão fazendo Artemis congelar no lugar.

— Uma noite – ele pediu, parecendo conter um sorriso. – Para onde você quiser.

Artemis podia sentir o próprio rosto vermelho.

— Não. – Todo o refeitório parecia estar olhando para os dois, e Artemis se sentiu muito pequena, de um jeito que nunca se sentira no palco. – Desista.

Apolo pareceu achar que haviam chegado a algum lugar.

— Essa sexta.

Artemis engoliu em seco.

— Não estou indo a lugar algum com você.

Apolo demorou a soltá-la, e então apoiou os braços na mesa.

— Essa sexta. Na entrada da Academia, assim que terminarem as aulas.

— Não me espere – Artemis deu um passo para trás.

— Não se atrase.

Para que se preocupar com Lily quando havia garotos como Apolo no mundo?

{...}


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Notas finais do capítulo

Então, eu estou tendo aula faz pouco menos de uma semana e o terceirão já me fez rever todos os meus planos para o futuro e possibilidades de faculdade. Sério. O que eles querem, me matar? Minhas provas começam dia dezessete, acreditam? Os livros nem chegaram ainda T-T Sério, é uma transformação lenta e gradual até os Jogos Vorazes.
Estou usando meu humor não engraçado para disfarçar, mas, sério, sinto que surtarei lindamente esse ano com a escola. Todo o apoio de vocês será, assim, maravilhoso. (Isso parece até chantagem emocional para ganhar reviews, mas, sério, não é. Eu só aconteço de amar falar com vocês e me sentir útil ao postar capítulos.)
Voltando ao assunto que traz vocês aqui, o que acharam do que a Lily disse? Não se preocupem, que o assunto não acabou por aqui – Apolo apenas arrumou uma boa maneira de distrair Artemis e, de quebra, ainda arrumar um quase-encontro.
Beijinhos :3