O Entregador de Estrelas escrita por Beatriz Azevedo


Capítulo 7
Minha sorte e azar




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Olhei para o relógio. O tempo passava e cada vez mais eu ficava mais inquieto. Olhei para o corredor que a fez desaparecer e me certifiquei de que não havia nenhum movimento. Tirei o livro da minha bolsa de carteiro e sorri para a capa “Oliver Twist” observei as letras coloridas da capa e o nome do autor C H A R L S D I C K E N S. “Di.-” Parei tentando identificar a próxima letra, mas acabei desistindo. Abri o livro e observei a figura.

“Olá” Uma voz grossa me pegou de surpresa e eu me assustei jogando o livro para baixo do sofá. Me levantei ainda não recuperado do susto e levantei meus olhos para a pessoa que se apoiava na parede do corredor. A figura insatisfeita de Sr. Samson me fez gaguejar.

“De-desculpe… já estou saindo-”

“Fique, temos que conversar” Ele respondeu sério e eu olhei para minhas opções de fuga. Nenhuma. Minha mente tinha razão. Era uma armadilha. Ele apontou para uma poltrona e eu cambaleei em sua direção e me sentei. “Obrigado por salvar Mary.” Ele começou.

Fiz que sim com a cabeça.

“Quero lhe provar o quanto sou agradecido com um presente”

Evitei semi cerrar os olhos suspeitos que eu queria lançar sobre sua figura. “Obrigado, mas eu não sinto falta de nada.”

“Nem de sua mãe?”Ele perguntou levantando uma sobrancelha e eu me esforcei para continuar com minha cara sem sentimentos aparentes. “Por que se recusa em receber crédito?”

O encarei por alguns segundos “Eu quero ir para Nordstarnd.” Falei por fim como se fosse algo que pesasse dentro de mim e que quando eu falei pareceu me deixar mais leve.

“Por que? Isso é longe”

“Eu preciso ir” Olhei para o chão depois de notar meu tom tentei concertar: “desculpe, eu…”

Ele colocou a mão nos bolsos e um sorriso estranho apareceu em seus lábios. Tentei não parecer assustado com suas reações.

“Digamos que eu lhe coloque em um navio para Nordstrand, você viaje por meio mês, chegue em Nordstrand e tudo. Como vai sobreviver lá?”

Grunhi mentalmente e evitei a vontade de me jogar da escada. Eu tinha que ir, não era uma escolha.

“Não importa, eu vou voltar.” Respondi.

“Quanto tempo pretende ficar lá? No frio? Com fome? Sozinho?”

“Eu não sei!” Arregalei os olhos e ele pareceu surpreso em me ver gritar.

“Calma, se você precisa vai.” Ele respondeu e eu o encarei admirado com a facilidade que consegui completar meu objetivo.

Sorri.

“O barco vai sair daqui amanhã levando as mercadorias da fabrica, você pode ir com eles.” Seus olhos azuis que normalmente são opacos ficaram mais suaves “O barco volta em poucas semanas, depende do tempo que levará para vender todo o estoque, provavelmente umas 5 semanas, se tiver que voltar esteja lá.”

Tentei conter minha respiração acelerada “Obrigado! Muito obrigado!”

Ele sorriu de leve e olhou para o livro que estava embaixo do sofá.

“Sabe ler?”

“Gosto de fingir que sim.” Falei me virando para pegar o livro.

Sr. Samson estendeu o braço e eu encarei sua mão por alguns instantes sem saber o que fazer. Quando enfim caiu a ficha eu corei e lhe entreguei o livro. Fiquei com medo do brilho que havia sumido de seus olhos.

“Como o conseguiu?”

“Eu… achei dinheiro na rua.”

“E gastou em um livro que você não consegue ler?”

Mordi o lábio.

“Você é uma das pessoas mais esquisitas que eu já conheci.”

Ele fez um esforço para não fazer uma careta.

“Eu vou saindo então, obrigado, novamente.” Falei e ele me devolveu o livro.

“Tem ate amanhã para desistir da viagem.” Ele anunciou.

“Eu não posso desistir.”

Ele me encarou obviamente irritado com a seriedade que eu dava a tudo aquilo. Observei ele se sentar no sofá verde até que resolvi continuar meu trajeto para fora da casa. Quando eu estava longe do jardim da mansão parei e fiquei olhando para a neve. Eu sabia que minha avó estava me observando, ela estava orgulhosa. Sorri para a neve e senti que ia passar mal de novo. ‘você esta doente’ meu cérebro me avisava e eu fiz que não. Olhei para minha calça rasgada no joelho revelando minha perna. Minhas mãos haviam parado de doer tanto e eu pude me concentrar nas outras dores que eu sentia. Uma pequena mancha preta decorava minha perna pálida e magra. “A peste?” Perguntei para mim mesmo. Pensei que ia perder o ar. “Merda”. Fechei os olhos sem acreditar naquilo. Abri os olhos novamente e tive esperança de que a mancha havia sumido. Obviamente não. Ela continuava ali, me ameaçando. Tirei o cachecol da minha mão queimada e o amarei na minha perna pra que ninguém o visse, principalmente o padre que podia falar para o Sr. Samson e eu iria para longe. Pensei nos pecados que cometi para receber aquele presente do demônio. Olhei para cima. Estava de manha e obviamente eu não via nada além de nuvens e alguns raios congelados do sol que tentavam entrar na neve eterna. Arregalei os olhos com um estalo. Eu havia pensado em desistir de obedecer minha avó. Era castigo dela. Era uma ameaça. Eu não iria morrer se cumprisse meu dever.

“O que esta fazendo ai?” Mathew perguntou se aproximando de mim e logo direcionando seu olhar para o cachecol enrolado em minha perna.

“Eu… eu…”

“O que houve com a sua perna?”

“Nada” Falei passando por ele e indo em direção ao dormitório.

“Espere!”

O encarei e ele cruzou os bracos.

“O que está sentindo?”

“Estou me sentindo bem!” Respondi e senti algo em minha garganta me engasgando.

Ele se aproximou de mim e eu tentei segurar o que quer que estivesse me incomodando. Não consegui por muito tempo e acabei cuspindo na neve.

“Oh!!!” Mathew arregalou os olhos para a pilha de neve com uma mancha vermelha “Carteiro! Você esta doente, você esta com a…”

Tapei sua boca e ele se afastou de mim.

“Isso que você esconde embaixo do cachecol é uma mancha não é?” Olhei para o outro lado o ignorando “Você precisa procurar por ajuda”

“Não! Eu não preciso e não vou!”

“Não seja bobo! Você vai morrer, você tem que falar com um dos padres e…”

“Para ele me mandar para o outro lado do mundo para morrer no meio do nada? Nunca!”

Mathew colocou a mão na testa.

“Vai se arrepender.” Ele apontou para mim e eu olhei para seu dedo demonstrando calma.

“Minha avó só deixou um aviso, vou ficar bem.” Respondi afastando seu dedo.

Mathew suspirou.

“Como quiser, carteiro.”

“Sabe alguma coisa do Stwart?”

“Sabe que nunca o vi? não saberia o reconhecer.” Ele fez uma careta. "Eu só sei que era ele naquele dia por quê eu ouvi seu nome ser constantemente falado."

“Verdade... preciso apresentar vocês dois...”

“Ok, mas primeiro precisa decidir o que você vai fazer.”

“Vá comigo para Nordstarnd!” Respondi. "É isso que eu vou fazer, eu vou para Nordstrand."

“O que?!”

“Eu consegui! Eu vou para Norstrand! Vou voltar curado!”

Mathew mordeu o lábio incerto.

“Como?”

“Amanha, de barco. Sr Samson...”

“Sr. Samson?! Você confia nele?”

“Não sei.” Cruzei os bracos tentando me aquecer “Mas é uma chance que eu não posso perder.”

“Isso é mesmo muito importante para você?”

Fiz que sim.

“Vou pedir para trabalhar no navio... não prometo nada, mas vou fazer tudo para estar do seu lado”

Suspirei aliviado.

“Obrigado. Obrigado, obrigado”

Ele riu.

“Mas você tem que prometer que ira ver um padre quando voltarmos se a doença for seria.”

Fiz que sim novamente e ele suspirou olhando para outro lado.

“Eu preciso ir. Preciso procurar pelo Stwart.” Falei por fim.

“Deseje-o melhoras por mim.” Mathew falou acenando.


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