O Entregador de Estrelas escrita por Beatriz Azevedo


Capítulo 4
Cavalos




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Foi fácil passar pelo portão despercebido já que eles descarregavam uma entrega de enorme de legumes e além de fazer uma bagunça na calçada todos estávam distraídos fazendo o trabalho o mais rápido possível. Eu só tive que me esconder atrás das caixas quando eles se aproximavam do portão trazendo mais e mais pacotes. Quando os três homens simultâneamente voltaram para a caroça para pegar mais caixas eu me preparei para correr. Olhei para o lado me garantindo que ninguém na fábrica estáva no pátio, dei de cara com olhos castanhos me encarando. Tentei não gritar quando Mathew sorriu.

“O quê...” Eu comecei a falar e me certifiquei de que ninguém o veria já que ele é alto e usa uma boina para onde quer que vá.

“Vi você saíndo… o quê está fazendo?” Ele se agachou mais.

“Eu preciso visitar alguém…”

“É uma menina?” Ele fez uma careta.

“Sim, mas não do jeito que imagina. Ela brilha” Sorri e ele me encarou não tão animado. "É como uma mensagem da minha avó." Mathew revirou os olhos e eu tentei o convencer outra vez. "Ela falou que eu iria fazer alguma mudança na vida dela. Ela é uma estrela brilhante e minha avó a quer!"

“Brilha?” Ele pronunciou a palavra como se fosse algo novo e depois aregalhou os olhos. Eu o encarei incrêdulo por falar mais de duas frases e ele conseguir só uma palavra. Costumo pensar que eu sou mudo e Mathew é surdo. Não somos nenhum dos dois. Mathew pensa demais em frases e passa muito tempo para analisá-las e eu, bom você já sabe. “Carteiro... você quer dizer como– como, uma–”

“Estrela? Sim.” Eu completei e ele fez uma cara como se tivesse levado um soco na barriga.

“Você vai... tentar descobrir se as pessoas realmente viram estrelas?”

“Eu sei que sim, vou fazer por outro motívo.”

“Qual motívo?” Ele riu, mas não estava sorrindo. “Tirar a vida de alguém por que?” O encarei por alguns instantes e voltei a andar. "Carteiro, e se você fizer isso? Como vai ser depois? Se você faz algo do tipo você nunca mais volta."

"Vou ter que descobrir." Falei e ele correu para me acompanhar.

"E se não for uma descoberta boa?"

Parei de andar e ele me encarou asusstado. Coloquei minhas mãos em seus ombros e olhei dentro de seus olhos castanho claro.

“A minha avó mandou, eu preciso fazer isso” Acho que o asusstei por que ele só manteve seus olhos arregalados e concordou de leve. Me afastei dele e voltei a andar casualmente.

Ele ajeitou a boina que eu não sei se sempre foi marrom ou se a sujeira e idade haviam a colorido. “Estou sempre com você” Ele falou dando um pequeno salto e voltando a me seguir. "Mas não posso lhe impedir de cair, só te avisar do buraco."

Mathew era meu melhor amigo ou tálvez o único amigo, ou sendo ainda mais específico a única pessoa viva que eu me sinto à vontade para falar qualquer coisa. A única pessoa que eu confio. Ele ja teve milhões de oportunidades para me abandonar, mas não o fez e que beneficio ele teria em ser meu amigo?

Isso me faz acreditar que talvez eu nem sempre seja o problema. Mathew trabalhava na fábrica, mas morava com a família, portanto ele podia muito bem sair no horário certo e não ter de trabalhar em horas extra. Talvez a única coisa ruim de voltar para casa é que ele não jantava consoco; A fábrica lhe pagava alguns centávos e juntando com o dinheiro que seu pai conseguia concertando relógios e caixinhas de música, e que sua mãe conseguia lavando roupa eles sobreiviam.

Nos encostamos numa das paredes sufocadas por outras paredes e olhamos para cima onde havia a janela da casa da Sr. Hills. Ela passa o dia inteiro bisbilhotando o que aconteçe na fábrica e denunciando todos que saem ou que não estão trabalhando.

“Ela nao esta aí hoje” Mathew sorriu e começou a assobiar uma melódia que as caixinhas de música do pai dele tocam. Viramos para a esquerda e localizamos a pequena loja que também era sufocada e cinza. Tudo em Essex é sufocado e cinza, menos a noite quando o céu fica azul e tem um grande contraste com a cidade.

“Eu vou indo então… boa sorte no seu encontro-não-encontro” Mathew ascenou e apontou na direção de outra rua que era provavelmente a rua de sua casa. Ascenei e caminhei ate a loja. A encontrei limpando o vidro da loja. Ela se virou e sorriu.

Cocei a cabeça.

“Então... quer sair hoje?” Eu ajeitei o casaco que falhava em me aquecer. Ele era cheio de remendos e eu me perguntava se valia mesmo a pena o usar já que eu parecia um maltrapílho naquilo. A questão real é que todos da vila pareciam maltrapilhos e eu era um maltrapilho. A neve havia comecado a cair ha poucas horas e ja havia coberto a rua suja por caválos que passavavam. “Nao e’ um encontro romantico” Completei assim que a vi lançar um sorriso charmoso em minha direção ao qual eu retribuí com meu olhar frio como o gelo que cáia.

“Hoje? que horas?” Ela perguntou fingindo examinar uma mancha na vitríne onde eu identifiquei algumas letras, mas eu não sabia que palavras formavam.

“Hoje de noite.” Falei observando o manto em cima de seus ombros que com toda certeza estava fazendo um ótimo trabalho em lhe aqueçer.

Ela ajeitou o manto ao notar que eu o examinava “Pretende roubar meu manto, carteiro?” Ela perguntou rindo.

Olhei para o céu e evitei rir “Nao consigo correr, estou morrendo de frio.”

“Isso é um alívio.” Ela falou e fingiu um suspiro aliviado. "Se não estívesse com frio o roubaria?"

"Por que eu iria querer um manto se não está frio?" Ela encolheu os ombros. "E eu não robo nada. Nunca roubei, nem nunca roubarei."

Respirei fundo.

“Onde vamos nos encontrar?” Ela perguntou depois de passar alguns segundos me fitando curiosamente.

“Na praça?”

Ela sorriu.

“Estarei lá.”

“Sozinha?” Levantei uma sombrancelha.

Ela riu “Pareçe que foge da polícia ou algo assim. Confie em mim”

“So confio em pessoas que tiveram a oportunidade de me abandonar e não o fizeram ou que eu consiga saber exatamente como pensa.”

“Não precisa esperar esta oportunidade, à final, somos amigos” Ela estendeu a mão e eu olhei para o lado. “O que foi?”. Ela pegou minha mão e eu engoli um gemido. Ela tirou o cahcecol lentamente e me encarou asusstada com os machucados. “O que aconteceu com a sua mão?!”. Engoli em seco e ela fez menção em tocar nos machucados.

Coloquei minha mão no bolso da calça e ignorei sua pergunnta.

“Ele fez isso com você?” Ela mordeu o lábio “Isso é comum, nao é?” Hesitei e depois concordei de leve “Por que não foge?” Seu tom de inquisisão me deixou nervoso e eu cerrei os punhos, quando ela notou ela me encarou asusstada e respirou fundo olhando para meus punhos. “Agora vá com calma... Solte os punhos” Ela sussurrou e eu vi minha mao ficando mais vermelha com a forca que eu apertava. “Vamos, você consegue, solte os punhos” Sua voz era doce, mas asusstada e eu fechei os olhos tentando me aclamar. Após alguns segundos respirei fundo e soltei os punhos. Ela levantou uma sombrancelha e voltou a limpar a janela. “Desde quando?”

“O que?” Perguntei sentindo o arder da palma de minha mão. Enrolei o cachecol novamente no machucado.

Ela levantou uma sombrancelha novamente com a expressão de ‘você sabe muito bem o que’.

Escondi minha mao e suspirei “Nao sei.”

“Na infância?” Ela parou de limpar a janela para me encarar e se apoiar no batênte “Algum tráuma?”

“Não!”

“Ei, era uma pergunta, nao fique nervosinho.” Ela tentou disfarcar um sorriso “Quando você fica com raiva no que pensa?”

“Tudo fica preto.”

“Se concentre mais, sempre tem um mótivo.

“Eu não sei qual!”

“Amor?”

“Não.” Fiz uma careta “O que a faria pensar que –”

“Não, não amor romântico, amor de família, ou amizade.” Ela jogou o pano no balde e colocou as mãos na cintura. “Não importa a pergunta a resposta é sempre amor” A encarei perplexo “Li em algum lugar, nao é minha frase”

“Eu não sei porquê” Olhei para o chão. “só aconteçe. A qualquer instante.”

“Preste mais atenção, tenho certeza que isso nao lhe faz bem” Ela ajeitou a franja e olhou novamente para minha mão já segura com o pano verde do cahcecol. “Vamos fazer um curatívo e-” Ela pegou meu braço e me puxou para a porta da loja, mas eu me afastei.

“Se você fizer um curativo vão saber que eu não estou na fábrica. Está tudo bem!”

Ela suspirou.

“Eu preciso voltar agora” Falei ajeitando a alça da bolsa de carteiro e chutando a neve.

“Já?” Ela perguntou ajeitando o manto em seus ombros e eu sabia que ela fazia isso de propósito por que ela disfarçava um sorriso.

Fiz que sim.

“A propósito, você é brilhante.” Falei levantando meus olhos para a encarar.

Acho que ela entendeu como um elógio, uma espécie de cantada.

“Minha avó também é.” Incrementei fazendo-á me encarar confusa e eu disfarçar a risada que eu queria dar.

“Nos vemos de noite então.” Ela ajeitou o vestido. Fiz que sim e ela sorriu. “Eu vou brilhar como uma estrela.”

“Com toda certeza.” murmurei e tentei não rir novamente, afinal, posso ser muito engraçado em meus pensamentos. Me virei em direção a fábrica.

“Ah! Carteiro! Oliver Twist!”

Me virei para demonstrar minha cara confusa, mas ela ja havia entrado na loja.

~~~~~~~~////~~~~~~~

O frio da chaminé era intenso e o pó que cáia em mim enquanto eu a limpava me fazia espirar sem parar. Eu me perguntava por que meu físico tinha que ser perfeito para entrar nas chaminés da fábrica fazendo que mesmo que eu tivesse 16 eu ainda tinha este trabalho.

“Está tudo bem ai em cima?” Ouvi a voz de Stwart gritando debaixo. Ele segurava a escada frágil que rangia quando eu tentava me apoiar em outro canto. Subi mais alguns degráus e me vi na saida da chaminé. Em cima do telhado cheio de neve. Eu conseguia ver Essex inteira e o rio mais ao longe. Suspirei e observei o sol se pôndo. ‘Quase lá’ pensei sorrindo para mim mesmo. A primeira estrela em breve brilharia no céu.

“Oh nao!” Ouvi Stwart gritar e senti que ele havia largado a escada e espirava.

“Stwart!” Gritei, mas foi tarde demais, a escada caiu e eu caí junto. Por sorte havia algo mácio que previniu minha morte trágica. Embaixo de mim e da escada cheia de farpas estava Stwart. Voltei aos meus pés rapidamente e tirei a escada de cima de Stwart. Ele gemeu e tentou levantar os braços, mas eles nao obedeciam. Logo muitas crianças que trablhavam embalando e outras que limpavam a chaminé estavam cochichando e apontando para ele. A freira logo apareçeu e olhou para mim hororrizada. Encolhi os ombros.

“O que você fez?” Ela perguntou com o rosto vermelho e eu tentei me afastar, mas ela me segurou pela blusa. “O que você fez?”

“Nada, eu juro.” Respondi baixo. Ela me soltou e voltou para o menino machucado.

“Vamos, veremos o que posso fazer… creio que não muito” Ela falou gesticulando para que alguns garotos levassem Stwart para a enfermaria.

Arregalei os olhos. Sera que Stwart tambem desapareceria?

Olhei para o céu que já estáva mais escuro e faltava provavelmente 2 horas para as oito da noite. Tatiei minha bolsa de carteiro e me certifiquei de que a adaga que meu pai havia me dado de aniversário estava intacta. Ela tinha um grande trabalho para cumprir hoje. Fiquei até às nove horas embalando o algodão e pensando nos casacos grossos e quentes que as meninas iam costurar depois. Grande ironia, trabalhar para aquecer pessoas quase sem roupa. Obviamente todos os trabalhos que envolviam ficar perto da lareira ou algo do tipo já havíam sido escolhidos. Eu nao tive outra escolha. Ficar no porão velho, frio, cheio de fumaça com somente uma janela pequena atrás e com mais um montão de crianças sobrou para mim.

De vez em quando a Sra. Clancy se aproximava dos meninos e espetava agulhas em suas mãos para os fazerem trabalhar mais rápido então eu separava os algodões que prestávam dos que não prestávam o mais rápido possível.

Na hora do jantar corri para o dormitório. Stwart não estáva lá. Andei por alguns segundos a tóa, mas depois de um tempo parei e encarei meu reflexo no espelho rachado. Meu rosto estáva mais sujo que o normal, mas lavá-lo só piorária. Caso more no Reino Unido na epóca Vitoriana preste atenção a este conselho: evite a agua. A agua é imúnda.

Tirei o cachecol que estáva enrolado em minha mão e o passei no meu rosto que aparentou ficar mais limpo. Inclinei meu rosto ainda mais na direção do espelho e identifiquei as sardas que minha mãe tanto sonhava em tirar. Lembro de pensar que ela não havia voltado por causa de sua frustação com meu rosto ou que ela agora tinha outra família com várias crianças perfeitas.

Dobrei a manga da minha camiseta revelando um braço cheio de machucados e me belisquei em um lugar do braçco não machucado ainda. Senti a dor e mesmo que meu corpo anunciasse que eu não consegueria torçer minha pele mais do que já estáva eu continuei segurando. Senti lagrimas chegarem nos meus olhos e meu rosto ficar vermelho escondendo qualquer mancha nele. Finalmente soltei e observei o machucado. Me joguei no chão, mas encontrei forças e me levantei novamente virado para o espelho, ia voltar a me biliscar quando apareçeu outra pessoa no espelho entrando no quarto. Imediatamente cobri eu braço com a manga da camiseta.

“O que foi?” O reflexo de um menino de cabelo castanho claro e olhos castanhos apareçeu no espelho.

“Mathew?” Me virei para o encarar. Ele olhou ao seu redôr como se procurasse alguém e depois concordou “Eu estou me sentindo horrivelmente mal”

“Por que?” Ele arregalou os olhos “Você a…” Ele olhou para a porta e se grantiu que nenhuma alma estava por lá. “Matou?”

“Não!” Me abraçei “Mas sou culpado pelo Stwart.”

“Ele morreu?”

“Não sei! A enfermeira o levou para o hospital”

Mathew riu e olhou seu reflexo no espelho. Notei que ele já havia reparado no meu rosto vermelho, mas felizmente ele não comentou. “Você é uma pessoa esquisita, quer tornar pessoas estrelas, mas fica se sentindo mal quando faz alguém quebrar um osso.” Ele se agachou e olhou embaixo de uma cama.

“O que esta fazendo?”

“Pessoas guardam coisas que você nem fazia idéia debaixo da cama”

Suspirei e voltei ao primeiro assunto.

“Estrelas brilhantes não sentem dor quando morrem. Elas se sentem bem.” Ele me encarou incrédulo. "Eu sei que sim."

“Sua avó lhe falou isso?” Ele falou fazendo uma careta enquanto arrastava algo de debaixo de uma das camas.

“Sim.”

Ele olhou para o outro lado sem acreditar e depois se concentrou na caixa que havia consêguido.

“Não deveria mexer nestas coisas.”

“De quem é essa cama?”

“Stwart.”

Mathew sorriu malignamente e abriu a caixa revelando um passarinho.

Me levantei num salto ao ouvir o pássaro piar.

“Hey, carteiro, olha que gracinha” Mathew riu observando o pássaro com diferentes tons de marrom. "A quanto tempo pensa que ele esconde este pássaro?” Mathew parou de acariciar a cabeça do passáro e me encarou.

“Nao sei, mas nao deveria mexer nele.” Respondi e sorri falso para o passarinho com olhos grandes e brilhantes.

"Você está com medo de um pássaro?" Mathew perguntou fitando-me.

Bati minhas pernas na estrutura de madeira da cama.

“Ei, qual o problema?” Ele perguntou respondendo sua pergunta anterior.

“Eu estou aflíto!” Reclamei tirando meus olhos do passarinho que parecia estar de bico fechado, mas eu o ouvia piar sem parar.

“Ok, é só falar." Ele semi cerrou os olhos e olhou para meu braço coberto. Talvez estas coisas aconteçam por que você não se expressa e o jeito que seu corpo encontra para alíviar todo estes sentimêntos que você tranca em segredo é estourar em raiva.”

“Nunca ouvi tanta besteira!” joguei minha cabeça no travesseiro e ouvi o passarinho cantando.

“Não se preocupe, o Stwart vai ficar bem.” Mathew falou seguido de um suspiro. “Eu falei com a enfermeira quando o vi entrando no hospítal… daqui há algumas semanas vai estar tudo certo.”

“A enfermeira lhe falou isso?” Perguntei parando de brincar com meus dedos. Sorri, mas o som do pássaro me irritou e eu bati minha cabeça na parede.

Mathew fez que sim e fechou a caixa com o passarinho dentro. Ele susurou algo para a caixa e a guardou novamente embaixo da cama.

“Sabe o que significa ‘Oliver Twist’?”

“É um nome, suponho.”

“Sim… Matilda falou isso, mas eu não entendo. De quem?”

“Pergunte para ela de noite.”

“Eu preguntei para você.”

Ele encolheu os ombros e olhou para o relógio de bolso dourado que o pai dele o deu de presente.

“Eu preciso ir. Bom encontro ou o que quer que seja.” Ele falou se levantando e me encarando. "Você vai ficar bem?"

Ascenei. Ele saiu e eu olhei para o céu. ‘Vai dar tudo certo.’ Pensei em tudo que se passava, mas parei por que logo comecei a ficar com dôr de cabeça, me joguei em minha cama e fechei os olhos. Acho que dormi por algum tempo por que quando meus olhos se abriram já estáva mais escuro.

“Você nao vem?” Charles aparecêu na porta e eu levantei meu olhar para encarar seus olhos verdes brilhantes e seu cabelo loiro escondido por um chapéu velho e encárdido. O cabelo dele não brilhava. Era opaco, sujo e cheio de cinzas. Não que o meu não tenha cinzas, mas por ser castanho esconde mais. O que é um alívio já que além de ser suja a água é extremamente gelada. Às vezes, em alguns eventos as freiras nos mandam tomar banho e meu cabelo castanho consegue escapar. “Ele vai ficar bem, vamos, William e Charlie estão nos esperando e eu estou morrendo de fome.”

Olhei para o teto, coloquei minha bolsa de carteiro e o acompanhei.

~~~~~~~~///~~~~~~~~~~~~~

“Obrigado senhor pelo alimento que nos é oferecido...” Abri um olho e observei todas as crianças agachadas na frente da mesa. Elas continuavam a rezar e eu não sabia o que fazer. Charles me cutucou e eu o encarei. Ele fez um gesto para que eu imitasse todos a meu redor, concordei e fechei meus olhos novamente. A freira falou com sua voz grossa e o coro de vózes femininas e masculinas respondendo “Amém” me inquietou. Abri meus olhos depois de todos sentaram-se e apreciaram os farélos de pão. Levantei meus olhos além das cabeças agítadas que conversavam com a boca aberta ou comiam verozmente e tentei entender o que estáva escrito na faixa: T H E F U T U R E A W A I T S.

Forçei meu cérebro a entender o que estáva escríto, mas so vinham trechos das histórias que vovó contáva e eu tenho certeza de que não era uma historia sobre uma menina na floresta. Charlie me cutucou e eu voltei minha atenção para o pão. ‘Não se chateie, hoje o céu ganha mais uma estrela brilhante.’ minha mente sussurrou e eu sorri.

“Você ficou sabendo? Foi horrível!” William falava intrígado.

“O quê?” Charles perguntou.

“Uma criança foi atrôpelada ontem... um caválo que perdeu contrôle” William respondeu e todos concordaram “Está no jornal junto com o homem que apanhou até a morte!” Olhei paras as migalhas de pão tentando evitar ouvir o que falávam sobre o segundo caso.

“Ela está bem?” A voz de Charlie me fez levantar a cabeça.

“As chançes de ela sobreviver são tomadas por impossíveis.” William respondeu.

“Besteira dela de estar passeando pela rua. Não foi culpa de ninguém além dela.” Edward falou e alguns concordaram.

“É, ela se auto-amaldiçoou” Henry falou e eu tremi.

Charlie me encarou.

“O que foi?” Ele perguntou e eu franzi a testa.

“Nunca pensei em morte por caválos” Respondi e levantei da mesa.


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