O Entregador de Estrelas escrita por Beatriz Azevedo


Capítulo 34
O verdadeiro detetive




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Naquela mesma tarde o detetive apareceu novamente na hospedaria e me convidou para tomar chá.

"Eu falei com o dono da hospedaria... Você pretende voltar para Grande Inglaterra logo, não?" Ele falou me fazendo parar de olhar para o chão.

"Pretende? Eu vou."

"Infelizmente não, meu caro senhor Maynton. Como um dos meus suspeitos você não pode sair daqui até capturarmos o assassino da noite." Chegamos no restaurante e sentamos.

"E como quer que eu fique aqui? Eu tenho trabalho na Inglaterra e também não tenho onde ficar aqui."

"Bom, Carteiro, eu pensei um pouco e-"

"Com toda a educação, senhor detetive eu pensei um pouco também." Falei olhando para minha xícara de chá na mesa que tremia devido ao meu hábito de balançar as pernas quando eu estava muito nervoso ou ansioso. O Detetive me encarou surpreso e inclinou a cabeça um pouco esperando que eu continuasse. "Eu acho que você já esperou demais." O encarei sério. "Diga... por quantos dias pretende me chamar para tomar chá, fazer perguntas e me mandar embora novamente? Principalmente já tendo a chave principal?" Ele arregalou os olhos. "Eu sempre suspeitei que era você." Me levantei da cadeira e estiquei meu braço pela mesa até parar na cartola do detetive. Ele me encarou horrorrizado. "Bom dia, cara Matilda." Tirei sua cartola e seu cabelo longo, cacheado e castanho caiu como uma cascata em seus ombros. "Agora, me diga o que aconteceria se alguém soubesse que uma mulher está enganando a pólicia inteira... uma mulher vestida de homem."

Matilda abriu a boca diversas vezes e eu devolvi sua cartola. Estavamos no fundo da loja e toda a atenção estáva no balcão. Matilda pegou a cartola e eu baixei meus olhos para suas mãos que tremiam.

"Co-como?"

"Bom eu consigo reconhecer pessoas facilmente..." Ela me encarou confusa. "Mesmo que elas usem algo para esconder o rosto, como maquiagem ou mascara." Ela olhou para o teto sorrindo.

"Parabéns."

Dei de ombros e tomei um gole do chá já frio.

"Mas isso não tira todas as minhas suspeitas de você." Observei ela fazer um coque e colocar a cartola em cima. "É claro que eu estava esperando pelo momento que poderíamos conversar francamente." Ela colocou um ombro na mesa. "Você não imagina o quão difícil foi não te perguntar de uma só vez: O que você está fazendo aqui?"

Abri a boca três vezes antes de começar a balançar minha perna novamente e olhar para o chão. Ela continuou me encarando e eu encostei meu polegar nos meus lábios. "Esta é uma excelente pergunta." Respirei fundo. Minha chance. Pensei, mas fui interrompido por uma voz que eu não escutava à muito tempo. Ainda não. Arregalei os olhos e olhei em volta, minha garganta apertou.

"Você está bem?" Matilda perguntou se levantando.

"Eu vim ver minha mãe."

"Sua mãe?" Ela inclinou a cabeça para o lado completamente confusa. "Eu pensava que ela estava morta."

"Eu também." Respondi. "Mas ela está viva." Dei de ombros e Matilda mordeu o lábio.

"Você pode até ter descoberto minha identidade antes, mas eu sei reconhecer qualquer mentira." Ela me fez levantar da cadeira segurando meu casaco. "O que você está fazendo aqui?"

"É óbvio que eu vim atrás de você." Respondi, ela arregalou os olhos me soltando e eu caí no chão. Matilda se sentou na cadeira novamente e olhou para outro canto pasma.

"Por essa eu não esperava..." Ela sussurrou e eu me levantei.

"Por que você está fazendo isso?" Perguntei e se virou para mim. "Por que está vestida de... homem?"

"Primeiro é confortável." Ela sorriu ao tocar na textura da calça. "Segundo seria mil vezes mais difícil falar com você se fosse eu, machista." Cruzei os braços. "Terceiro, eu sempre quis ser uma detetive... principalmente depois do meu irmão ser vítima do assassino da noite."

"Seu irmão..."

"Na mesma noite que o homem desaparecido foi empurrado pela janela." Ela me encarou séria. "Eu na verdade tomei o lugar do meu irmão." Matilda apontou para seus olhos. "Meu olho verde deve ter me denunciado."

"Mais ou menos." Respondi olhando para o outro lado.

"Eu só queria ser como os personagens dos meus livros favoritos e eu só queria me vingar de quem matou meu irmão."

"Matilda, você vai continuar atrás do assassino da noite?"

Ela me encarou séria.

"Eu não sei..."

Me agacehei do seu lado.

"Eu posso te ajudar."

"A acha-lo?"

Fiz que sim e ela sorriu. "Porquê?"

"Por que se eu te ajudar conseguimos pega-lo ainda esta semana e portanto eu serei considerado inocente e poderei ir embora."

Ela pensou um pouco, tomou um pouco de chá e concordou.

"Certo, carteiro, você terá de me ajudar."

"Eu prometo." Respondi e Matilda colocou a xícara de porcelana na mesa.

"Você disse que veio atrás de mim." Ela olhou para outro canto. "Por que?"

"Você lembra quando disse que tinha algo ligando nós dois?" Matilda mordeu o lábio e eu olhei para dentro de seus olhos. "Eu vim por causa disso."


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