O Entregador de Estrelas escrita por Beatriz Azevedo


Capítulo 31
Minha covardia




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Um estalo alto me fez focar meus olhos no homem baixinho vestido de mágico à minha frente.

"Vamos, hipnótizar não é fácil, não é rápido e precisa de concentração." Ele falou e eu me sentei apoiando minha cabeça em minhas mãos. "Onde está a sua cabeça?"

"Dando voltas e voltas?" Perguntei como resposta e suspirei. Pisquei tentando afastar o sono e eu coloquei os pés no chão.

"A três dias você tem passado a maior parte do seu tempo treinando comigo, mas não teve avanço nenhum. Você não está aqui para treinar e sim para se distrair e-"

"E hipnótismo precisa da droga da concentração! Eu entendi!" Respondi cruzando os braços e voltando meus pés para o sofá. Me encolhi e tossi de leve. O mágico se apróximou de mim.

"Sempre que você entra por essa porta você está confiante e disposto para qualquer coisa, o que está acontecendo com você?" Ele colocou a mão no meu ombro e eu me afastei.

"Você sabe! Não venha com perguntas se você consegue saber!"

Ele cruzou os braços. "Você não é assim, é uma transformação que lá no fundo você sabe que não quer, vamos, volte a ser você." Sua voz era calma e eu me encolhi mais.

"Eu não quero! Se eu desistir agora-" Me interrompi ao senitr uma gota quente deslivar dos meus olhos. Logo o mágico se sentou do meu lado e colocou a mão no meu ombro novamente. Quando ele fez isso algo pareceu explodir dentro de mim e eu comecei a chorar.

"Pronto." Ele manteve sua mão no meu ombro. "Um com o poder de hipinóse não deve o usar sem ser necessário." Ele riu de leve. "E eu prefiro muito mais conversar."

"Eu fiz alg- muita coisa errada. Há três dias eu não vejo o meu melhor amigo. Mesmo que eu o odeie eu preciso que ele esteja comigo." Coloquei meus pés novamente no chão e olhei para o mágico. "Eu só não consigo repetir isso para ele."

"Bom... mágia nenhuma vai te ajudar neste caso." enxuguei meus olhos.

"Não! Eu não preciso dele, eu preciso de algo brilhante!" Me levantei em um pulo. "Senhor mágico, nossas aulas acabam aqui."

"O que?!" Ele perguntou se levantando também. "Mas você n-"

"Eu aprendi o suficiente."

"Você acha que não tempo, não é?" Ele perguntou sorrindo. O encarei sério. "Apareceu outra mancha, Carteiro?" Ele apontou para minha calça melada de sangue e para meu casaco onde nada aparecia. "Uhh... parece que o vilão está com problema. Como anda a tosse?" Mordi o lábio. O mágico tirou a bengala do suporte de casaco e a enganchou na gola do meu sobretudo me fazendo abaixar e acabar com meu rosto na frente do seu. "Se eu tivesse o pouco tempo que você tem, meu caro, eu me desesperaria atrás de formas para que quando eu desse meu último suspiro eu pensasse 'tudo certo'." Pisquei e soltei a lona que cobria a abertura da tenda.

"Você faria isso?" Perguntei e ele fez que sim. Olhei para o chão e chutei uma pedra. "Eu pensava que tinhamos algo em comum. Saí da tenda.

"Carteiro, espere! Não vá! Você não vê que tudo que eu faço é para te ajudar e te protejer? Você é como um filho para mim, volte. Eu posso adotar você, podemos ser uma família!" Me virei e ajeitei a minha bolsa de carteiro pensativo. "Eu só queria que você me visse como alguém de confiança, como o seu pai."

"Meu pai está morto." Respondi e olhei para outro lado irritado.

"Você tem que achar outros caminhos e se desligar de coisas que lhe impedem de ver além!" Acho que ele falou algo mais, mas eu continuei andando e logo seu grito se tornou um simples rúido. Nesse dia eu me sentei no meio da rua virado de frente para a casa de porta azul. Observei a cortina se mover e olhei para o chão. Brinquei com a poeira da calçada de Paralelepípedos com meus dedos. A rua era calma e nenhum caválo passou. Enfim a pessoa da janela soltou a cortina e caminhou em direção a porta. Me levantei num salto e corri em direção à esquina.

"Nate, espere!" Ela gritou, mas eu não virei para trás, quando finalmente cheguei até a esquina corri dentro de um bar e esperei. Alguns segundos depois a barra de um vestido amarelo passou e eu a reconheci pelo som que seus sapatos faziam ao bater na calçada.

"Posso lhe ajudar, senhor?" Um homem limpando a mesa falou se dirigindo a mim. Caminhei até a mesa e sentei na cadeira da bancada.

"O senhor não teria chá?" Perguntei.

Ele riu. "Inglês, não?" Então ele parou de limpar a mesa e me olhou dos pés à cabeça. "Inglês?" Ele riu novamente e eu apoiei minha cabeça na mão. "Pensava que eles eram um pouco mais... Inglêses?" Me mantive calado e ele encolheu os ombros "Prazer, eu sou da Escócia" Ele estendeu a mão e eu a olhei até que ele a tirou da minha frente e continuou a falar "Eu devo ter um pouco de chá na cozinha." Ele logo voltou com uma xícara de porcelana com um líquido avermelhado.

"O senhor não conheceria Matilda, sim?" Perguntei e o homem parou de secar um copo para me encarar sério. "Da família Groyal?"

Abri minha boca em surpresa e acabei deixando a xícara de chá cair dos meus dedos. Senti o ar fugir dos meus pulmões e tudo ficar preto.

"Quer dizer que pode me dizer onde ela está?" Perguntei enquanto ele limpava o chá derramado e levava a xícara de volta para a cozinha.

"Claro." Ele falou voltando para a bancada. O observei se abaixar e finalmente colocar um jornal em alemão na minha frente. "No jornal."

Franzi a testa.

"Eu não-"

"Tragédia..."

"O que?"

"A família Groyal foi vítima do Assassino da Noite" Ele respondeu e eu o encarei com a boca aberta por não sei quanto tempo.

"O que?!" Perguntei tão alto que enquanto minha garganta ardia como nunca todos os olhos do bar se voltaram para nós. "Quando?!"

"Senhor, acho que deveria voltar para casa." Tossi e fiz que não.

"Eu preciso pagar pelo chá." Respondi suspirando e procurando por algumas moedas na minha bolsa de carteiro.

"Isso não será necessário, senhor, o chá já foi pago."

"Sério? Quem foi?" Me ajeitei na cadeira, mas fui imeditamente empurrado para fora do bar. Me virei para entrar novamente, mas a porta já estava fechada. Suspirei e olhei para frente onde caválos e pessoas transitavam.

"Como Nordstrand é uma cidade pequena." A voz de Mary me assustou e me fez virar imediatamente. No momento que me virei ela colocou os braços para trás das costas, corou e olhou para o lado. "Pensei que se eu te abraçasse de trás você não fugiria..." ela riu de leve. "Sempre enganada." Observei ela ajeitar a franja do cabelo e olhar para o lado. "Você vai fazer algo agora?"

"Hum eu ia-" Olhei para cima e mordi o lábio.

"Hey, eu estou aqui." Olhei para ela e ela me olhou dentro dos olhos. "Você vai me convidar para sair?" Abri a boca três vezes, mas nada saiu. Ela cruzou os braços e não tirou seu olhar do meu. "Isso é quase um convite meu."

"Eu... eu preciso ir."

"Sei..."

"Talvez outra hora?"

"Não invente desculpas." Ela falou me empurrando e indo embora.

Mordi o lábio e caminhei até a esquina. A moça me observava pela janela.


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