O Entregador de Estrelas escrita por Beatriz Azevedo


Capítulo 30
O que Sobrou




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Mathew me guiou de volta para dentro da hospedaria e nós entramos no nosso quarto.

"Eu guardei isso por medo do que você iria fazer." Ele suspirou. Semi cerrei os olhos confuso. "Enquanto você passava o dia fora e eu tomava conta do Doutor ele lia e escrevia coisas."

"Coisas?" Perguntei. Mathew andou até o arrmario e abriu a gaveta onde Victória se encontava. Ele tirou o passarinho e a colocou no chão, depois tirou as meias que lhe serviam de cama. Me aproximei quando ele tirou vários papeis da gaveta. Ele me entregou e eu continuei o encarando incrédulo.

"Lembra quando seu tio disse 'você já sabe'?" Ele perguntou e eu fiz que sim. "Ele achava que eu e você eramos a mesma pessoa.

"Você sabe onde a Matilda está?" Perguntei soltando as folhas e sentindo falta de ar.

"Ele escreveu..."

"Porque escondeu isso de mim?" Perguntei vendo meu rosto ficar vermelho pelo reflexo da janela.

"Na- Carteiro, a única pessoa que sabe ler é a Mary." Ele passou os dedos pelo cabelo e sorriu de leve mesmo que não fosse um sorriso feliz. "Eu sei, eu sei de tudo que você é capaz e mais do que você sabe. E quando você descobrir você vai atingir todos próximos de você, o problema é que, mesmo que você não queria você é sim ligado às pessoas e confie em mim, Carteiro, você vai se arrepender." Ele olhou para o chão. "E a Mary não vai mais fazer o que você quer por que ela gosta de você. Esse é o seu problema, você odeia ser contrariado. Tudo que eu fiz foi para salvar ela e lá no fundo, salvar você também."

Suspirei. "Onde está a Matilda?" Repeti.

"Como é?" Ele falou lentamente por entre os dentes.

"Onde ela está?" Falei olhando para o chão.

"Eu estou falando tudo isso por nada?" Ele franziu a testa frustado.

"Mathew, onde ela está?" Insisti.

E pela primeira vez na minha vida eu me encontrei inteiramente sozinho enquanto Mathew se misturava com o ar. Organizei as folhas e me sentei embaixo da mesa do lado dos papeis. Os abri revelando a calegrafia do meu tio. Uma batida na porta me fez tentar levantar e acabar batendo a cabeça. Mary abriu a porta e me encarou surpresa.

"Estou atrapalhando algo?"

"Pelo contrario. Você chegou em um bom horário." Tentei sorrir e ela se sentou do meu lado embaixo da mesa. Passei as folhas para ela e ela simplesmente as colocou de lado.

"O que você veio fazer aqui?" Seus olhos eram sérios e eu olhei para cima me deparando com a mesa. "Você tem sempre essas coisas sem sentido."

"Por favor, eu preciso que você me diga o que está escrito."

"Você poderia aprender a ler por si mesmo."

"Acredite em mim, não seria uma boa ideia." Ela arrqueou a sombrancelha.

"Acredito que você não irá me explicar por que." Mordi meu lábio e fiz que não. Ela suspirou, coçou o olho e sorriu cinicamente. "Bom, meu caro Carteiro, acho que já sabe que de mim nada vem de graça."

"Mary, só um parágrafo, por favor..." Ela concordou de leve. Sorri de verdade enquanto ela escolhia um dos papeis e de repente encostou a cabeça no meu ombro. Mordi o lábio e me mantive parado.

"Ok... onde você arranjou isso? Um poeta?" Ela olhou para mim sem levantar a cabeça do meu ombro.

"Poeta?" Perguntei olhando por cima de sua cabeça.

"Está tudo escrito em versos e... nada rima, mas é com toda certeza um poema-" Mary parou de falar naquele instante deixando um ar de que a frase não estava acabada e me deixando com ansiedade que me fez tremer e suspirar.

"O que foi?!" Perguntei.

"Eu não entendo o que quer dizer." Ela colocou o papel mais próximo da vela e sorriu de leve. "É uma história."

"Não deve ser tão complica-" Parei de falar quando ela me encarou com raiva.

"Olha aqui, quem sabe ler sou eu, não você." Ela voltou a ler o papel. Olhei para frente onde Mathew sentava na cama balançando as pernas devagar e sorrindo. O encarei confuso, mas ele continuou sorrindo. "Hum, ok, então está escrito é:

O que ela tentou gritar foi eccoado no corredor escuro de seu ouvido.

O que ela repetiu em diversas cartas foi ignorado por seus olhos de vidro.

Quando ela esticou seu braço tentando o resgatar ele correu mais adiante.

E quem foi abandonado no começo agora foge.

Seria medo, arrependimento ou simples covardia?

A chançe de rever a pessoa que lhe assombra ainda o amedronta."

Apoiei minha cabeça no queixo e olhei para o chão. Exatamente o que eu queria tio, suas últimas palavras me chamando de covarde... "Tem mais alguma coisa?" Perguntei e ela riu.

"Hum, o trato era só um poema, então, boa noite, Carteiro." Ela beijou minha testa e fez menção em se levantar. Segurei sua mão e ela suspirou com raiva. "O que é?"

"Mary..." Coçei a cabeça e voltei meu olhar para o chão. "Você poderia ficar aqui mais um pouquinho?" Seus olhos se arregalaram e ela pareceu examinar cada sarda do meu rosto. "Por favor?"

"Porque?"

"Hum..." Coçei a cabeça novamente e olhei para Mathew que balançava suas pernas um pouco mais rapidamente e agora fazia um gesto de incentivo. "A coisa é que-" ela me encarou ansiosa e minha mente fez tudo congelar. Mordi o lábio, me levantei e a ajudei a levantar. "E só queria..." Ela continou me fitando séria. "Er, não, eu esqueci, que pena, tenha uma boa noite, Mary." A empurrei até a porta onde ela deu meia volta para me encarar confusa e depois que eu fechei a porta na sua cara e me encostei nela para que ela não à abrisse ouvi Mary sussurrar "Boa noite".

"Qual o seu pro-" Mathew começou a falar.

"Nem venha com essa, você sabe qual meu problema é. Além do mais, você gosta dela, o que você queria que acontecesse?! Se ficassemos nós dois aqui nós-"

Mathew suspirou alto o suficiente para que eu parasse de falar.

"Você é tão inteligente, pense um pouquinho." Ele cruzou os braços. Me sentei na ponta da cama e franzi a testa. "Carteiro, eu sou você." Caí da cama e olhei assustado para Mathew. "Eu sou o você alternativo, por isso que você aceita tudo que eu falo." Ele riu de leve. "Agora seguindo a simples linha de: eu sou um você alternativo e eu gosto da Mary..." Ele fez um gesto de incentivo para que eu falasse algo, mas eu me mantive calado. "Não é assim tão complicado!!! Eu sou você se desde o início você tivesse tomado outras alternativas!!! Eu até gosto de me imaginar como a gente que deu certo."

"Está dizendo que eu estou errado?!"

"Uhh... sim." Mathew parou por um instante. "De qualquer forma, quando você está com a Mary é como se eu estivesse com ela também, quando você mata alguém é como se eu estivesse matando a pessoa também, quando você não consegue dormir, eu também não consigo, quando você morrer eu também vou morrer." Suspirei e revirei os olhos.

"Olha, isso é- Eu- Se você é alternativo você não tem noção do que aconteçe agora! Você não sabe se eu estou construindo um eu perfeito agora." Mathew franziu a testa.

"O problema é que eu sei que não é o que vo- eu- nós teriamos querido quando ela te deixou na estação!" Coloquei minha mão na testa e pensei por alguns instantes.

"Eu vou seguir o meu plano."

"É... exatamente o que faríamos e ai... bom, ai a gente morre."

"Eu havia suposto que você sabia que eu não me importo em morrer." Encolhi os ombros e suspirei. Voltei meus olhos para o Mathew que me encarava atento. "Esta é a minha intenção. Eu quero morrer!" Mordi o lábio. "Mas eu preciso fazer algo brilhante antes!" Passei minha mão pelos meus cabelos e olhei para o chão. "Esse é o meu único objetivo."

Mathew abriu a boca para falar umas três vezes até olhar para o chão, chutar meu telescópio e sumir.


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