O Entregador de Estrelas escrita por Beatriz Azevedo


Capítulo 29
Meu Jogo




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O detetive que olhava para o chão em silêncio levantou a cabeça e me fitou com seus olhos claros. E eu esperei ansioso para que ele completasse sua frase.

"Creio que já leu o que aconteceu ontem no jornal." Ele falou olhando para o céu.

"Eu não consigo ler Alemão." Respondi olhando para o céu também e tentando não sorrir já que, era sim verdade, as duas partes da frase.

O detetive concordou de leve e continuou "Um homem foi morto, dois na verdade." E desta vez, ao acabar a frase ele me olhou direto nos olhos e eu vi pura tristeza. Tossi. "Está se sentindo bem, Carteiro?"

"Coisa passageira." Falei fazendo um sinal para que ele continuasse.

"Enfim, as pessoas todas já acusaram alguém." Ele falou.

"O assassino da noite, presumo." Falei e o detetive murmurou algo. "Algum motivo em especial?" O detetive levantou os olhos do chão para me encarar confuso. "Para me seguir e pedir para conversar comigo."

"Sim, sim." Ele parou de andar e eu fiz o mesmo. "Onde você estava ontem de noite?" O detetvie possuia o estranho hábito de morder sua bocecha por dentro e andar perfeitamente.Eu deveria ser um pouco mais alto que o detetive, mas eu ando um pouco corcunda desde que me lembro. Tentei esticar minhas costas um pouco como minha governanta havia me ensinado depois de desistir da madeira que ficava amarada na minha coluna, mas aquilo só me machuchou e eu voltei a olhar para ele.

"Perdão?" Falei saindo dos meus devaneios de infância.

"O homem morto, era o Sr. Guilfred." Ele falou sério e eu o encarei melancolicamente.

"Está me acusando?" Perguntei mantendo um tom calmo.

"A morte do Sr. Guilfred não combina com o método do assassino da noite." Ele sorriu sem estar feliz. "E tem mais, o Sr. Guilfred foi sequestrado antes de morto. Isso nunca aconteceu em nenhum dos casos do assassino da noite."

"E isso quer dizer que eu sou o culpado?" Perguntei colocando meu polegar no lábio e refletindo.

"Você quer que eu explique novamente?" Ele falou calmamente. "Você é meu principal suspeito."

"Isso tem alguma base?"

"Tem, mas por enquanto você não pode saber."

"Ah..."

"Vamos, responda a pergunta."

"Eu estava no quarto do hotel."

"Então é pra lá que vamos."

"Sem problemas."

Caminhamos até o hotel e o detetive parou na recepção.

"Com toda a licença, madame, o cavalheiro aqui estava aonde às onze da noite?" O detetive me puxou pela manga do sobre tudo até a mesa e a senhora olhou para mim.

O momento chegará e eu seria pego, obviamente. Sem saída minha mente me deu uma opção. Quem sabe funcionaria? Como normalmente imagino pessoas morrendo a imaginei ficando confusa e não respondendo nada.

"Ele-" Sua frase foi interrompida por se mesma quando ela fechou os olhos e os abriu novamente olhando para tudo como se tudo fosse novidade para seus olhos. Ela caminhou por toda a extensão da mesa olhando para todos os lados.

"Senhora?" O detetive perguntou soltando minha mão e foi atrás da moça. Observei a cena assustado. A moça deu mais uma volta murmurando coisas incompreensíveis e finalmente caiu batendo a cabeça no chão. Senti o ar sumir dos meus pulmões.

O detetive pulou a mesa da recepção e se aproximou da moça.

"O que?" Ele perguntou virado para mim e eu encolhi os ombros. " O que você fez?"

"Você viu. Eu estou bem aqui parado." Falei brincando com a manga da minha camiseta.

"Não acha suspeito que-"

"Que ela morreu quando ia lhe dar a chave do mistério. Sim, eu acharia suspeito, mas talvez eu não devesse."

"Perdão?"

Arregalei os olhos. "Se me acusar de uma coisa sobrenatural está impondo uma das duas opções: você não acredita em Deus, e meu caro detetive, eu não acho seguro admitir isso ou que eu estou possuído." Tentei não rir com a cara indecisa do detetive. "E se você me acusar de estar possuído sem nenhuma evidência..." Suspirei. "Vai carregar na conciência o fato de ter matado um homem inocente."

"E seria mesmo esse o caso?"

"Bom, detetive, sem mentir com toda a certeza eu acharia suspeito, mas você tem que ver se a coincidência se repete. Você precisa esperar. Pelo menos é o que eu faria."

Ele suspirou e olhou para o teto.

"Senhor Maynton, não vejo outra escolha-" Cruzei os braços e o encarei sério. " a não ser aceitar o que você disse e te manter sobre vigilancia."

"Um prazer ajudar senhor detetive." Pausei por um instante. "E qual seria o seu nome?"

Ele engoliu em seco.

"David."

"Bom, então tenha uma boa tarde, David." Falei saindo da hospedaria.

"Eu disse que ele iria suspeitar." Mathew falou surgindo de repente.

"Ele está fazendo exatamente o que eu esperava." Respondi baixo.

"Para onde você está indo?"

"A barraca do mágico."

Mathew coçou o braço.

"Eu não entendo."

"O detetive já estáva me seguindo antes, mesmo que ele ache que eu não saiba quando ele está me seguindo eu sempre sei. De qualquer forma agora que eu sugeri que ele me seguisse ele precisa ver que eu continuo com essa rotina." Coloquei minhas mãos na cabeça e me espreguiçei.

"Hum... por que você não o mata logo?"

"Dois motívos: eu tenho certeza de que ele tem um subistituto e não há nada mais óbvio que o suspeito matar o detetive e é claro, eu sempre gostei de brincar."

"Isso é arriscado."

"Hum... Se realmente estivesse com vontade de me ajudar não guardaria segredos."

Mathew riu.

"Eu?" Ele perguntou incrédulo e eu o olhei com raiva. "Carteiro, tudo que fazemos é brigar agora, eu não vou deixar você continuar com isso." Me mantive calado e ele logo voltou a falar "Do que você está falando?"

Brinquei com meus dedos. "Você sabe de algo e isso é óbvio para mim." finalmente voltei a o encarar. "Algo importante. É claro que você pode escolher não me contar e bloquear seus pensamentos, mas eu resolvi te ajudar."

"Ajudar?"

"Sim." Sorri. "Oferta de paz?"

"Sei."

"Já discutimos isso, somos acorrentados um com o outro e eu não posso ficar com mais este problema." tossi. "Você queria... queria que eu te ajudasse a falar com a Mary." Os olhos dele brilharam. "Eu- eu quero te ajudar."

"E como pretende fazer isso, mente brilhante?" Ele suspirou. "Só você me vê e-"

"Hey, eu dou um jeito."

"Você vai... Não se atreva a fazer com ela o que fez com o seu tio."

"Hey, eu prometi que não ia a machucar." coloquei minhas mãos na minha frente tentando me defender dos olhos fuzilantes que se aproximaram de mim. "Mas você tem que dar a sua troca."

Ele colocou a mão no queixo e olhou para baixo.

"Isso é sobre o Doutor, não é?" Tossi e o olhei surpreso.

"O que tem o Doutor?" Perguntei e ele coçou a cabeça.


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