O Entregador de Estrelas escrita por Beatriz Azevedo


Capítulo 17
Minha transformação




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/471857/chapter/17

Gostei de pensar por aquela noite que eu sabia o que estava fazendo. Gostei de passar a imagem de que estava tudo sobre controle para o Mathew, mas minha mente roubava. Dizer para ele que ele fazia parte da minha imaginacao nao foi extremamente educado. A verdade e’ que nenhuma palavra que havia saido de minha boca estava realmente pensada e eu nao tinha certeza do que havia dito. Talvez eu realmente esteja louco.

Outra coisa que me perturbava e tirava o sono e’ que uma pequena parte de mim repetia o que eu havia feito enquanto o que eu sentia ser a outra grande parte ria de satisfacao. Mata-lo era necessario. Mata-lo era necessario?

Rolei na cama evitando o brilho do sol que nascia e cobri meu rosto com o lencol. Eu nao me importava em ter o matado, pelo menos nao grande parte de mim. Mas a pequena parte anunciava sua profunda queda no sub-solo do oceano, algo que eu nunca mais recuperaria. Mas nao importa agora, eu posso cumprir o que devo cumprir e era isso que eu pretendia fazer. Levantei um pedaco do cobertor para espiar em Mathew que roncava no sofa. Eu o via e ele era real. Ele era real. Talvez em minha mente ou talvez na mente de todos.

Meus pensamentos comecaram a me sufocar ate eu nao conseguir mais ficar deitado. Me levantei, coloquei meu casaco e bolsa de carteiro e sai do quarto para o quintal do hotel. Absorvi um pouco do sol escondido atras das nuvens e espreguicei. Devia ser umas 4 horas da manha. Olhei em volta e contmplei o silencio do vazio.

“Voce!” uma voz estridente cortou o silencio. Me virei para encontrar um moco alto de olhos bem azuis. “Estou te procurando a tanto tempo.”

“Desculpe senhor, deve ser um engano, eu nao te conheco.” Falei e sem perceber eu ja procurava em minha mente uma morte.

“Seu nome nao seria...” Tentei nao parecer acostumado com o branco que as pessoas tem ao tentar pronunciar meu nome. Alguns instantes depois ele parou de falar e levantou uma sombrancelha. “Senhor Maynton?”

O encarei com mais atencao. Ele tinha um aspecto grosseiro e espantador mesmo que seus olhos fossem suaves. Seu rosto era estreito e rude com o labio de cima sedo mais cheio (ou mais enchado) que o de baixo, um de seus olhos era mais fechado que o outro e se nao fosse a barba negra charmosamente cortada e a cartola brilhante que ele usava eu o consideraria uma das criaturas mais medonhas ‘a andar na terra. Sua camiseta estava arregacada nas mangas e revelava um braco cheio de cicatrizes. Tateei a adaga dentro de minha bolsa.

“Como sabe o meu nome?” Pensei em subir nas pontas dos pes para nao parecer tao pequeno em relacao a ele.

“Eu precisava te conhecer” Ele falou e rapidamente segurou meus dois bracos antes que eu tirasse a adaga da minha bolsa.

“O que esta fazendo?” Perguntei quando ele me encostou na parede, tirou minha bolsa de carteiro e a jogou no chao.

“Eu venho te observando a muito tempo, mocinho.”

“Eu nao fiz nada!”

“Ah e’?” Ele continuou me segurando na parede com uma mao enquanto que com a outra ele tirou um pedaco de jornal do bolso. “Esta aqui, nas manchetes.” Ele colocou o jornal no meu nariz. ‘Homem que fugiu do sanatorio foi encontrado no rio’.”

“O que eu tenho a ver com isso?” Com esta pergunta ele me esmagou mais contra a parede.

“Nao brinque de sinico, ja falei que te observo a cada detalhe.”

“Voce e’ doente!”

“Nao meu caro, doente e’ voce.” Ele me soltou e colocou a mao no meu ombro. “Eu fiquei mais de meio mes num barco atras de voce.”

“Por que?”

“Por que voce tem um dom incomum e eu estudo essas coisas.”

Franzi a testa.

“Voce quase me estrangulou.”

“Sei que vai tentar me matar. Eu vi voce fazendo isso com o homem ontem.”

“E se eu o fizer, quem vai achar que fui eu?”

“Saberia criar uma historia para justificar o fato de estar aqui no momento que eu morro?”

“Ataque cardiaco.” Dei de ombros.

Ele riu.

“Eu nao me mataria se eu fosse voce. Estudo voce, portanto tudo que consegue fazer esta’ copiado dentro de 3 pastas espalhadas para as pessoas que tenho mais confianca.” Ele falou e sorriu.

“O que voce quer?”

“Quero te ajudar.”

“Por que?” Perguntei.

Fomos interrompidos por uma moca que apareceu para pendurar a roupa no varal. Ao nos ver ela sorriu envergonhada e saiu. Voltei ao encarar e ele encolheu os ombros.

“Se quiser um preco, quando isso acabar voce me deixara estuda-lo.”

“Doutor, e’ isso?” Perguntei e ele fez que sim. “Temo que isso so vai acabar quando eu vou estar morto.”

“Estou aqui para impedir tal acontecimento.”

“E por que eu deveria aceitar sua ajuda?”

“Eu sei ler e eu por acaso posso fingir ter te adotado assim todos seus problemas viram minha responsabilidade, se for pego na rua eu posso lhe proteger.”

Cruzei os bracos e suspirei.

“E confiar num desconhecido?” Ri sarcasticamente. “Sem trato. Nao quero sua ajuda. Eu nao preciso dela.” Falei me afastando dele.

“Tome cuidado Carteiro.” Ele falou tirando o relogio de ouro do bolso e olhando as horas. Me virei e seus olhos se fixaram no meu. Caminhei em sua direcao.

“Nao, doutor, eu finalmente me sinto a pessoa mais poderosa do mundo. Quem precisa tomar cuidado e’ o senhor.”

Ele fez um sinal para que eu parasse de me aproximar.

“As pastas...” Ele falou como um lembrete.

Senti algo arder dentro de mim.

“Eu nao dou a minima para suas pastas!” Ele me encarou asusstado. “Eu vou atras de cada um delas e das copias das copias.” Fuzilei-o com o olhar. “Voce acha que alguem iria acreditar no que eu consigo fazer? So alguem ainda mais louco.”

Ele ficou desorientado e caiu.

“Agora o problema seria eu nao conseguir pensar em uma forma muito incrivel de voce morrer.”

“Voce tem mais problemas do que eu imaginava...”

“Problemas?” Repeti e senti o gosto da palavra em minha boca, me virei novamente para ele que continuava no chao me encarando. “Acha que alguem morre de locura? Por que pelo jeito que as coisas andam comigo eu encontro meu fim de diversas formas.” Dobrei minha calca mostrando minha macha negra que parecia ainda mais horrivel, sangrenta e contaminada que dois dias atras. “Me pergunto se terei tempo de morrer fisicamente tendo morrido mentalmente a tanto tempo.” De repente parei de encara-lo e tive um estalo. “Doutor, nao seria ironico e diferente se entrasse na cabeca de seus pacientes e visse a bagunca que se encontra dentro delas? O labirinto escuro e como as pessoas lhe olham diferente e fingem que nao?” Ele franziu a testa e eu me mantive estatico. “Imagine doutor, viver o que seus pacientes vivem, se soubesse veria que nao adianta lutar com algo dentro da cabeca de alguem com simples remedios.”

“O que vai fazer?”

“Eu aceito sua ajuda.” Respondi e ele comecou a se levantar. “Mas como disse eu precisaria confiar em voce.”

“Como poderia-”

“O jeito mais rapido de ganhar minha confianca e’ eu sabendo exatamente o que se passa em sua mente. Sem traicoes. Sem erros.”

Ele me encarou horrizado e fez mencao em correr.

“Observe doutor, seus ultimos momentos como profissional, para vitima.”

Levou alguns segundos ate que o doutor parasse de correr e caisse no chao. “Parabens doutor, voce acabou de ganhar minha confianca e se conseguir, depois pode me estudar a vontade.” Arrastei seu corpo desmaiado de volta para meu quarto. Fechei a porta e Mathew levantou. Ele olhou para o doutor e me encarou asusstado.

“Carteiro, voce esta passando dos limites.”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Entregador de Estrelas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.