O Entregador de Estrelas escrita por Beatriz Azevedo


Capítulo 10
Asas e minhas filosófias




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O fato é que eu não matei o Robert. Pelo menos eu tinha certeza que nunca foi minha intenção. Meus pensamentos não seriam capazes de tal feito. Seriam?

Este pensamento me deixou em pânico e eu resolvi não pensar sobre isso caso fosse verdade o que me deu outra grande ideia: Nunca pensar em mais nada.

Acordei com o som de tosse. Thomas tossia demais e eu me aproximei dele curioso.

“Eu tomei banho ontém.” Ele falou observando meus olhos.

"Como você se sente?" Sussurrei.

"Eu sinto que vou morrer." Ele respondeu tossindo mais.

Concordei observando seu cabelo loiro mais claro.

“Você vai ficar bem?” Eu perguntei e ele só olhou para o outro lado melancolicamente. Observei seu rosto vermelho de tanto tossir e mordi o lábio indeciso. Ele encolheu os ombros e eu notei que eu estava o irritando ao lhe encarar. Lhe desejei um bom descanço e voltei para minhas coisas.

Guardei meu livro dentro da bolsa de carteiro junto com a pequena adaga e chapéu. Ascenei em despedida a quem estava no quarto e saí.

O sol estava forte e batendo direto na neve, mas a camada era tão grossa que parecia impenetrável pelos raios. Encontrei Mathew me esperando no patio.

“Carteiro, eu consegui! Vamos juntos para Nordstrand!” Ele falou sorrindo. Brinquei com meus dedos e logo seu sorriso virou um rosto preocupado. “O que houve?”

“O...” Começei e desisti de continuar.

“Robert?” Ele perguntou e eu franzi a testa em sinal de surpresa por ele saber a quem eu me referia. Mathew suspirou. “O que voce tem a ver com isso?” Ele perguntou impaciente.

“Eu pensei nele morto” Respondi e ele colocou as mãos na cintura e me encarou incrédulo.

“Você acha que tem algo a ver?” Olhei dentro de seus olhos e concordei. "Acho que você deveria pensar um pouco, dê um tempo, separe a paranô-"

"Não é paranôia!" Falei cortando-o. “É a segunda vez que prevejo uma morte, e aconteceu!”

“Não exatamente, carteiro. A Mary não foi bem uma previsão, pelo que você me disse você montou a cena.”

“O que quer dizer?!” Bati meu pé tentando segurar minha raiva e Mathew me encarou sério com os braços cruzados. "Eu..."

"Você montou a cena de morte do Robert?" Fiz que não, Mathew sorriu calmamente. "Carteiro, é normal presentir coisas ruins e as vezes as coisas são extremamente previsíveis."

"Mathew, é normal estar vendo a cena?" Mathew aregalou os olhos com a ideia pensou um pouco e encolheu os ombros. "Eu vi quem foi o autor de cada soco, eu ouvi o que eles falavam. Eu estava lá, na sombra, observando." Ele passou a mão pelos cabelos mal penteados e respondeu por fim:

“De qualquer modo tire a cabeça disso e pense na viagem que faremos.” Concordei de leve e Mathew continuou “So tem um problema”

“Como sempre...” Murmurei.

“Eu vou trabalhando então não vou poder estar com você em todos os momentos da viagem” Ele sorriu de leve. "Quando chegarmos à Nordstrand, mesma coisa."

“O que importa é que você estará lá”

Ele sorriu novamente e tirou o relógio de bolso do casaco. "Bom, hora de eu ir andando para a fábrica."

"Eu vou para o refeitório."

"É caminnho." Ele falou.

Caminhamos em direção ao refeitóro silenciosamente. O pátio podia dizer-se vazio a não ser as charretes como sempre pegando mercadoria e algumas freiras indo em direcao a capela próxima ao refeitório. A verdade é que não importava quem estivesse pelo pátio, ninguém levantava a cabeça e quando levantava, pelo menos para mim, os olhos passavam direto, como se eu não estivesse lá.

“Deixe-me revisar seu plano: vamos para Nordstrand, encontramos a garota, a transformamos em estrela e voltamos para casa? Meio entediante” Mathew falou cortando o silêncio glácial do pátio e me fazendo voltar a atenção à ele.

“Nao importa. Eu preciso ir.” Pensei um pouco. "Você está tentando me fazer desistir da viagem?" Mathew olhou para o chão e depois para mim concordando de leve. "Você sabe que-"

"Não há nada que vá lhe fazer mudar de ideia, é sua única chançe de realizar o seu único desejo." Ele completou e bufou de leve fazendo com que fumaça saísse de sua boca por causa do frio.

"Se você entendesse o quão é importante para mim." Respondi e ele fez que não parando de andar. Meti minhas mãos no bolso e esperei ele falar algo.

"Pare com esta coisa de necessidade” Ele falou cruzando os braços. "Eu sei que você poderia encontrar outra forma, outra opção sempre existe."

Dei de ombros e olhei para as escadas em direção à porta grande de madeira antiga.

“Bom, eu tenho que ir ver as últimas coisas para viajar... volto logo” Mathew falou apontando para a fábrica.

“Quando?”

“Nao se preocupe carteiro, na hora que o barco sair eu vou estar la.”

Asenti e entrei no refeitorio. A maior parte das meninas estavam de pe e eu procurei pela Victoria.

“Bom dia carteiro. Parece perdido. O que aconteceu?” Elizabeth perguntou.

“Sabe onde a Victoria esta?”

“Ela nao apareceu depois”

“Depois?”

“Do banho” Elizabeth tombou a cabeca de lado tentando decifrar qualquer coisa como se eu escondesse algo em minhas frases.

“Banho?!” Perdi o ar. “Ela nao voltou desde ontem de noite?”

“Nao...”

Sai correndo em direcao ao meio do patio. Olhei em volta. Fechei os olhos. ‘Victoria’ ‘Victoria, por favor’.

“Mudinho, voce esta bem?” Levantei meus olhos para encontrar Mary.

Me afastei dela e ela segurou meu braco me impedindo de continuar correndo.

“O que esta havendo?”

“Victoria...”

“Venha” Ela me puxou em direcao a enfermaria. Olhei para minha mao palida de medo. “Fique calmo, esta tudo bem”. Subimos um par de escadas e chegamos na porta de internacao.

Mary abriu a porta e eu suspirei aliviado em encontrar Victoria em pe do lado de Stuart que dormia.

“Carteiro” Victoria sorriu “Nao pude voltar para o dormitorio ontem, nao conseguiria dormir, vim fazer companhia para o Stuart” Victoria cumprimentou Mary com um aceno e ela saiu sorrindo.

“Ele esta melhor?” Perguntei olhando para Stuart por cima de seu ombro. Ele estava deitado com a cabeca virada para outro canto me impedindo de ver se seus olhos estavam abertos ou fechados, mesmo que, em meus devaneios tenho certeza que o ouvi roncar.

“Nao, ele nao esta nada melhor”

“Mas ele estava bem ontem e –”

“A enfermeira disse que ele esta sangrando por dentro.”

Pensei em perguntar exatamente como ‘sangrar para dentro’ funciona, mas o que aconteceu com Robert me fez pensar que qualquer jeito de morte descoberto por mim poderia ser fatal.

Victoria mordeu o labio incerta e depois se virou para mim.

“Por que exatamente esta indo para la?”

“Eu preciso encontrar a Matilda”

“Nao a conheco... para falar a verdade, nao conheco a maioria dos seus amigos...”

“O Mathew vai comigo para Nordstrand, posso apresentar voces”

Ela fez que sim e me abracou. Me senti meio desconfortavel e a afastei. Ela me encarou confusa.

“Qual o problema?”

“Nada” Respondi rapido demais e ela entortou o labio.

“Voce pretende me explicar por que...-”

“Carteiro!” Stuart interrompeu e eu sorri e me aproximei dele. “Veio para se despedir de mim?”

“Na verdade vim atras da-” Olhei para Victoria e ela sussurou ‘nao se atreva a estragar tudo de novo’ “Sim, queria lhe ver antes de... ir...”

“Que otimo” Ele sorriu. “Esta aprendendo a ser mais educado, a Victoria esta fazendo um bom trabalho”

Olhei para cima desinteressado.

“Eu ia falar a verdade nao o educado. Eu prefiro-”

“Ok, Carteiro, vai falar com o Stuart ou nao?” Victoria perguntou cruzando os bracos.

“Eu volto em 2 meses” Falei em um so suspiro.

“Quanto tempo dura a viagem?”

“Meio mes”

“Vale mesmo a pena?”

“Nao”

“Por que vai entao?”

Encolhi os ombros. Eu e Stwart observamos Victoria atravessar a sala em direcao a Phelip. No momento que Stwart se certificou que ela nao estava nos observando ele sussurrou ‘Eu tenho um passarinho dentro de uma caixa embaixo da minha cama... Eu o encontrei no patio, algum menino atirou nele por diversao, mas ele sobreviveu’ Ele parou a frase para se certificar novamente da falta de atencao da Victoria ‘Eu... eu nao posso mais cuidar dele, talve eu fique aqui por muito empo, talvez eu nunca mais saia.’ Abri a boca para falar, mas ele me impediu. ‘Cuide dele e quando ele estiver na idade adulta o solte.’

Fiz que nao, mas ele segurou meu braco com forca. ‘por favor, faca isso para compensar minha perna quebrada.’ Suspirei e assenti.

“Boa sorte.” Ele sorriu “vai precisar” Ele murmurou olhando para Victoria que me encarava seria do outro lado da sala.


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