One and Only escrita por Nina Spim


Capítulo 5
Chapter Five


Notas iniciais do capítulo

Gente, minha faculdade e o estágio recomeçaram, então as postagens só virão de fim de semana. Já estou um pouquinho adiantada no processo de escrita, mas como tenho outras fanfics em andamento, pode ser que alguns capítulos se atrasem, ok?
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/469936/chapter/5

Dia 37Rachel Berry

Sigo o conselho de Quinn.

Não sobre comprar uma passagem de trem para Lima apenas para transar com o meu namorado, é claro. Compro-a para fazermos outras coisas, também. Porque uma coisa que nunca dizem sobre a saudade é como ela pode ser criativa. De repente, você consegue arquitetar 1001 chances e/ou jeitos de ficar perto da pessoa que você ama sem tirar as roupas. Dormir de conchinha, por exemplo. Jogar cartas (eu sei, parece uma coisa ultrapassada). Ou então ir ao parque de diversões.

Começamos pelo parque, é claro. Finn vence em dois jogos de barraca, o que me rende um coelho de pelúcia e um colar de estrela (foi ele quem o escolheu) daqueles bastante vagabundos, mas fico feliz do mesmo modo. Não é como se Finn pudesse me dar um desses colares de ouro e coisa e tal. Porque ele ainda vive com a mãe dele e, além da faculdade, não faz muita coisa – é o que ele está me dizendo:

– Acho que não tem muita graça estar sozinho aqui. Você roubou toda a graça desde que foi embora.

O jeito como fala ate parece que está me acusando. Olho para ele; estamos caminhando pelo gramado em direção aos carrinhos de bate-bate. Sou péssima motorista, e eu sei que ele já atropelou um carteiro. Colidiremos várias e várias vezes, já posso prever. Mas ainda assim é divertido, porque estou com ele. Não seria divertido se não estivesse com ele.

– Não fui embora – eu digo. Não estou exaltada, mas isso me incomoda. Até parece que eu fiz essa escolha sozinha. De ir para Nova York, quero dizer.

Ele me disse para ir, ele me disse que eu deveria conseguir a minha independência. Não entrei na NYADA (mas nada me impede de me inscrever no ano que vem, é isso que tem me consolado), mas mesmo assim há um pouco de independência na minha vida. Sou responsável por informações que as pessoas leigas e pessoas de renome compram. Eu faço parte dessa rede de procura-oferta em relação ao que as pessoas lá fora querem saber. Eu sou uma intermediária, é isso.

– Estou aqui, não estou? – pergunto.

– Eu sei, é que às vezes é mesmo muito ruim saber que todo mundo está seguindo com as suas vidas, e eu continuo aqui.

Você quis assim – suspiro um pouco mais incomodada – Não quis ir para NY, lembra?

– Está tudo bem, não estou reclamando. A faculdade é boa e há grandes chances de eu pegar uma turma interina ainda neste semestre.

Finn quer ser professor. Não que eu pense que ele poderia ter escolhido qualquer outra profissão – talvez jogador de futebol, já que ele era realmente muito bom nisso na época da escola –, afinal é a vocação dele. Como é a minha vocação ser cantora, não jornalista. Não tenho vocação para me adequar às regras do tipo: frases curtas; frases claras; sujeito + verbo + complemento; vírgulas estendem o texto. E blábláblá.

É claro que a NYU é apenas uma experiência. Talvez eu consiga uma vaga no próximo ano na NYADA. E daí sim minha independência estará começando pra valer. Agora parece apenas brincadeira de criança, ainda que eu já tenha sido vítima da grosseria alheia inúmeras vezes desde aquele primeiro dia.

– E você? Como está indo lá? – ele quer saber.

Ele parece meio desinteressado; mas ele sempre foi assim. É como se não fizéssemos parte do mesmo mundo, ou algo assim. Não que... Bem, é claro que uma cantora da Broadway não combina, exatamente, com um professor. É meio estranho.

Mas eu não me importo.

Eu sei que teremos muitas brigas pela frente por conta das nossas escolhas. Isso, de modo algum, muda o que sinto por Finn. Eu acho.

É claro que eu gostaria que ele demonstrasse um pouco mais de entusiasmo, mas não é como se eu pudesse reclamar: não tenho a mínima vontade de ficar ouvindo-o dizer sobre as aulas dele.

Às vezes, parece que estamos em momentos diferentes de nossas vidas. A fase de andar lado a lado meio que já passou, cada um foi procurar seu próprio objetivo de vida, e confesso que tenho medo que isso acabe nos separando.

Não sei muito bem o que esperar no futuro. Ele parece incerto demais.

Dou de ombros.

Nada que eu já não tenha dito pode prolongar essa conversa. Sinceramente, prefiro que fiquemos calados. Assim, evitamos qualquer tipo de desapontamento ou incômodo. Falar sobre algo que a gente não tem certeza é um terreno perigoso.

É claro que as aulas estão ótimas; são a minha coisa preferida. Mas o estágio continua um pé no saco. E não quero dar a entender que estou um pouco chateada por tudo não estar funcionando em perfeita harmonia.

– Estou gostando – é o que acabo falando, sem opção. É uma meia-verdade, pelo menos.

Finn assente, e não diz mais nada. Entramos na fila dos bate-bate, e a conversa enfim morre.

Horas mais tarde, e já é noite, faço uma visita aos meus pais. É claro que eles sabem que estou na cidade, pois eu já tinha lhes dito, no entanto quis gastar a tarde com Finn. Hiram parece que vai dar uma festa pelo meu aparecimento e começa aquela típica função de preparar a minha lasanha vegetariana preferida. Eles querem saber das novidades, então depois da janta especial, vamos até o piano e cantamos umas três músicas.

Uau, como sinto falta disso.

– Nunca mais cantei – confesso a eles – Minha rotina está meio doida, então não encontro muito tempo livre.

– Sabe o que você deveria fazer?

– Já fugi de casa, pai. E estava levando bem mais dinheiro que a Madonna.

– Você poderia cantar em algum bar – Hiram olha para Leroy com uma energia renovada.

Eles são tão sem-noção.

– É, arranje um emprego melhor do que aquela redação – Leroy completa.

Eles não entendem, é claro. Eu preciso do estágio. Vai para o meu currículo. Como posso colocar no meu currículo que fiquei no Editorial por menos de dois meses?

– Sei. Ser garçonete em um bar? Parece decadente demais, desculpa – respondo torcendo o nariz.

– E daí? Pelo menos você poderia fazer o que realmente gosta. Porque a NYU...

Eles ainda não aprovam a minha decisão de perder um ano na NYU estudando Jornalismo. É claro que, por eles, eu permanecia em Lima e frequentaria aulas preparatórias para entrar na NYADA. Mas ficar em Lima parecia uma opção bem pior do que cursar a NYU. Porque eu sei como Finn se sente. Ele se sente preso aqui.

Mas ele escolheu isso. Eu, ao contrário, decidi trilhar meu próprio caminho longe dos meus pais.

– Pai, já discutimos isso. Já chega, ok? – peço, cortando-o na mesma hora. Estou cansada de entrar nessa discussão.

Então engatamos uma conversa sobre o universo no qual me adentrei. Ao contrário do que faço com Finn, confesso a eles os meus problemas e minhas decepções. É claro que eles tentam, em seguida, perguntar: para quê continuarei naquele lugar se ele me faz infeliz?

Eu não sei.

Tem o negócio do currículo, é claro.

Mas tem também a minha amizade com Tina, Mike (ambos meio que fizeram amizade com Blaine, então todos nós agora somos do mesmo “grupinho”), Quinn, Santana (que está bem melhor comigo), Brittany, Puck (que nunca mais de viu seminua) e Blaine (ainda preciso apresenta-lo ao Kurt!).

Você pode odiar o lugar no qual trabalha, pode odiar fazer o que faz, mas as amizades... Isso, você não quer abandonar. Porque, afinal de contas, só você sabe que são elas quem te mantém operante todos os dias.

É muito bom ter amigos. Não ter amigos quando se está longe de casa pode ser horrível. Eu sei bem disso, porque antes de ficar amiga de Quinn eu era completamente uma retardada. Agora, posso dizer que estou menos retardada.

Conto-lhes também sobre meus amigos. Eles gostam de saber que já estou enturmada, já que nos ensino médio as coisas eram meio diferentes, eu era introvertida demais para me socializar.

Quando a noite termina, eu ligo para Finn. Ele não fala muito, pois tem um artigo para terminar de ler, e eu entendo isso. Tantos textos e livros preparatórios eu já tive de ler desde que entrei na NYU... É compreensível.

Quando estou indo me deitar no meu antigo quarto, penso que não gosto mais disso. De dormir sem uma companheira de quarto, digo. Já me acostumei tanto com Quinn, com as suas calcinhas coloridas e as suas risadas, que estar sozinha no meu antigo quarto me faz sentir como se eu já não pertencesse a Lima. Lembro-me da última coisa que Quinn me disse:

– Cuide-se.

Ela vive dizendo coisas assim. Essa é a sua frase preferida. Ela gosta de dizer às pessoas para se cuidar. Quando olho minha caixa de mensagens, noto que há uma réplica disso na última mensagem recebida. Mando uma resposta:

Hey, você também! Boa noite!

P.S.: aproveite que estou fora para transar com o Puck o quanto quiser, haha.

É claro que ela não me responde, deve estar ocupada realmente transando com Puck.

Melhor assim.

Alguém está se divertindo nesta noite.

Acordo, de manhã, com o meu celular tocando. É Finn.

– Pronta para um piquenique? – ele me pergunta.

– Ainda estou dormindo – meio que sussurro.

– Vamos lá, vamos nos divertir.

– São... Nove da manhã! De um domingo!

– Não é você que diz que é acordada com a sua colega de quarto transando com o amigo dela? – Finn pergunta.

– Hey, eu nunca disse isso! Nunca fui acordada assim. Mas ok. Aonde vamos? Não me diga que é Lincoln Park. Passei de lá ontem e... Meu Deus, o que aconteceu com aquele lugar?

– É, não é um lugar muito bem-frequentado agora. Pensei de irmos ao Cook Park. As ruas ainda permanecem limpas lá.

– Você passa daqui a...

– Uma hora?

Duas horas, por favor. Você acha que eu acordo maquiada e tudo o mais?

– Você não precisa disso.

– Preciso, sim. Pelo amor de Deus, eu sou uma garota.

Ele ri. Eu não rio, porque ainda estou um tanto quanto trôpega de sono e um pouco irritada.

Desde quando eu peguei a preguiça toda do Puck? Será que ele passou sua doença para mim?

Quer dizer, certamente ele tem muita disposição para sair do próprio quarto às sete e quinze da manhã num dia de semana para ir transar com a melhor amiga dele.

Mas acho que, tratando-se do fim de semana – de um domingo, fala sério! – acho que tudo bem não sair correndo da própria cama para aproveitar um piquenique com o namorado. Porque, sabe como é, eu tenho alma. Sou uma pessoa que está cansada da viagem de trem e tudo mais. Deveria ser compreensível.

Demoro-me para me arrumar. Não estou mesmo a fim de sair da cama. Mas ao mesmo tempo ficar na cama, nesse lugar que parece que não é mais meu, é meio agonizante.

Olho minha caixa de mensagens de novo. Estou sendo ridícula, é claro. Quinn tem mais o que fazer às dez da manhã ao invés de ficar me mandando mensagens.

Acabo de me arrumar, porque estou impaciente demais, agora, para ficar em casa. Preciso um pouco de ar puro, de ar livre.

Quando Finn chega, já estou meio irritada, mesmo que ele tenha aparecido quinze minutos antes do combinado.

– Achei que pudéssemos aproveitar o dia inteiro – ele logo me diz, enquanto dirige – Podemos jantar no seu restaurante preferido e depois... – ele me olha com um sorrisinho sacana.

É claro que quero transar com ele, por favor. Estou com saudade disso também. Mas ainda são onze da manhã, não estou operante o suficiente para pensar em sexo. Talvez Quinn estivesse, mas eu não sou assim.

– Depois é depois – digo – Temos muitas horas pela frente ainda.

Não sei por que sou tão seca com ele. Acho que é por conta do horário. Estudos dizem que as pessoas não estão operantes antes das dez da manhã. Eu acho que não estou operante nunca. Porque tudo que quero agora é ir para um lugar tranquilo onde eu não precise pensar no depois. Será que ele não sabe que ainda faltam umas dez horas para o depois? E ainda dizem que garotos não são capazes de planejar nada com antecedência como as garotas, tsc tsc tsc...

O piquenique é pequeno. Ficamos mais apreciando a companhia um do outro do que realmente saboreando as geleias e tal. Acabo percebendo que não estou no clima de piquenique como nos velhos tempos. Isso parece tão passado, agora.

Quando o telefone dele toca, enquanto eu estou escorada no peito dele, quase adormecendo, levo um susto. Ele parece sem graça, mas não deixa de atender a ligação. É claro que, se Quinn ou Tina me ligassem, eu atenderia. Mas tudo bem, porque é uma coisa de meninas. Sabe? É muito diferente de quando você pega uma garota ligando para o seu namorado um pouco depois do meio-dia e a conversa se segue assim:

– Ah, oi, Kath – Finn diz. Kath. Quem é essa garota que ele chama pelo apelido? Não lembro de nenhuma Katherine, Katrina ou derivados! Quem é a pessoa que está desafiando a minha paz mundial? – Não, tudo bem, pode falar.

Pode falar?

Alô, estamos em um encontro. Do tipo romântico, devo dizer!

– Agora não dá – ele responde e aí fica em silêncio enquanto a tal da Kath lhe inquere algo – Amanhã antes da Experiência Acadêmica é um bom horário – há uma pausa – Tudo bem, até mais.

Fico mirando-o, porque não sou capaz de fazer mais nada.

É claro que é ridículo. E é claro que estou com ciúmes.

Afinal de contas... De onde surgiu essa pessoa?

– Minha colega de monitoria – Finn responde, antes que eu lhe pergunte qualquer coisa – Nós vamos ter uma reunião, sabe como é.

– Não, não sei – rebato. Meu Deus, estou parecendo uma idiota.

– Temos de preparar algumas escalas para os outros monitores, já que somos os monitores-chefes – Finn me explica. Ele diz tudo isso como se nada tivesse muita importância.

– Achei que não tivesse nenhuma turma até agora.

– Não, não tenho. É um projeto paralelo. É para um evento que vai acontecer no fim de semana que vem. Vamos receber alguns bolsistas de outras partes do estado.

– Ah – digo. Não sei o que dizer. É claro que ele não está me traindo com ela. E daí que ele a chamou de Kath? Isso não revela nada de incomum. Amigos chamam uns aos outros por seus apelidos, certo?

Fico ainda mais desanimada com o piquenique depois disso.

De repente, quero voltar para NY, para o meu atual quarto e conversar com Quinn sobre a situação. Ela não é a melhor conselheira amorosa do mundo, mas é verdadeira – até demais em alguns casos, é preciso ressaltar.

O resto da tarde é monótona, pois vamos ao Country Club nos encontrar com alguns amigos de Finn, da faculdade. Ele não me diz quem é a tal de Kath. Acho que ela nem mesmo está ali.

Bobeira minha, eu sei.

Não quero que essa Kath me persiga. Mas é meio inevitável. Eu já sofri com o ciúme na época do ensino médio, eu sei o quanto dói. O quanto a gente para de pensar e só quer esmagar o pescoço da ordinária.

Mas eu serei madura. Vou fingir que estou bem, que tudo passou. Embora, é claro, eu esteja ligada na tomada por conta dessa Kath.

Mas não quero que Finn perceba, por isso distribuo sorrisos e finjo que estou me divertindo com meu copo de cerveja intocada na mão. Não quero ter medo de perdê-lo.

A noite não termina como ele planejou. Isso porque nos demoramos demais no Country Club e, quando percebo, preciso ir para a estação. Preciso voltar para o meu lugar seguro, para o meu quarto, para a minha vida miserável.

Apesar de tudo, não me importo.

Estou preocupada demais para fazer amor com ele.

~*~

Dia 38Quinn Fabray

Rachel chega de madrugada. Ela é silenciosa, mas consegue me despertar mesmo assim. Puck não está comigo, não sei onde ele está. Estou sozinha na semiescuridão.

– E aí? – eu pergunto, ainda de olhos fechados. Minha voz está baixa demais. Acho que ela não me escuta.

Rachel é cuidadosa. Deposita sua mala num canto sem acender a luz para não me incomodar. Mesmo na pouca luz, posso vê-la retirar a roupa de viagem, ficando somente de calcinha e caminhar para o banheiro. Ela abre a torneira do banheiro e molha as mãos. Não sei por quê, mas isso me faz pensar que está mais cansada do que realmente está. Ou que carrega um desespero interno.

– Rachel? – chamo-a. O ruído da água corrente abafa minha voz, que continua rouca e meio sussurrada.

Então levanto-me da cama e caminho até ela.

– Hey.

Ela coloca a mão na boca para evitar de soltar um gritinho.

– Meu Deus, sua maluca! – ela exclama – Quase tive um AVC aqui!

Estou séria. Não tenho coragem de rir disso, pois ainda pressinto que há algo incomodando-a.

– Está tudo bem? Você parece nervosa – a claridade dos postes de iluminação penetra pela janela de vidro do recinto e posso averiguar seu rosto. El parece mesmo cansada.

– Apenas quero dormir um pouco antes das aulas – ela diz, dando de ombros e desligando a torneira – Está tudo bem por aqui? – ela quer saber, saindo do banheiro.

– É, tudo normal. E você? Como foi lá?

– Legal – ela fala. Há uma entonação diferente em sua voz. Como se ela estivesse mentindo.

Rachel pesca a sua camisola de seda do cabideiro e a veste. Senta-se na cama e suspira. É um suspiro longo, daqueles que a gente dá quando estamos confortados.

– Senti falta daqui – ela diz, e entendo o porquê do suspiro.

Ela deita-se de barriga para cima, encarando o teto. Faço o mesmo.

Para animá-la, eu pergunto:

– Como foi o sexo?

Ela demora dois segundos para responder:

– Não rolou. Fomos para o Country Club.

Há silêncio. Olho para o seu perfil de onde estou. Seus olhos ainda estão abertos e respira cadenciadamente.

– Quinn? – ela me chama – Se uma tal de Kath aparecesse na vida do Puck, o que você pensaria disso?

Ah. Então é isso.

– Que está atrasada – respondo – Quer dizer, ele não é meu namorado. Não estou apaixonada por ele, você sabe disso.

– É, eu sei – ela responde meio distante – Mas... Você não se sentiria... Não sei, jogada de lado? E se ele preferisse transar com ela ao invés de você?

– Bom, daí teríamos problemas – eu digo, rindo.

Rachel não diz mais nada; eu também não. Aos poucos, o cansaço me vence de novo.

Quando desperto, três horas depois, Rachel não está no quarto. Penso que está na biblioteca, por isso deixo isso de lado.

Finalmente encontro-me com Puck no saguão do prédio.

– Rachel chegou? – ele me pergunta. Assinto – Hey, sabe quem eu vi agora há pouco? – ele começa a rir, e eu nego com a cabeça – O babaca do Jesse St. James. Estava conversando com uma novata. Isso me lembra: cuide da sua novata.

– Ela tem namorado, você sabe – digo, porque todo mundo realmente já sabe que Rachel namora Finn. Puck é do tipo que diz para ela se desapegar do namorado, porque relações à distância nunca dão certo. Talvez ele esteja certo, especialmente depois do que Rachel me perguntou ontem à noite. Ela parecia insegura. Ela está com medo de perder Finn para uma tal de Kath.

É por isso que o amor é tão ridículo.

– É, mas Jesse não se importa, disso você também sabe – Puck comenta.

Encontramo-nos com Santana e Brittany no restaurante mais próximo. Elas são estão sozinhas, têm companhia: um garoto loiro com uma boca esquisita.

– Sam, essa é a Quinn – Santana diz. Olho para ela e depois para o novato. Não estou entendendo.

E entendo menos ainda quando Puck dá um soco leve no ombro do garoto.

– E aí, Sam! – ele diz, sentando-se ao lado dele.

– Hmmm, e aí – digo para Sam, o Novo Garoto.

– Ele está procurando a sua Hobbit – Santana explica, antes que Sam pudesse retribuir o meu “e aí?” – Eles têm um trabalho de Comunicações para finalizar ou algo assim, não é, Sammy?

Sammy?

Desde quando a Santana é desse tipo?

– Ela deve estar na biblioteca – respondo, sentando-me na ponta da mesa, o único lugar que me sobrou.

– Oh, obrigado – Sam me diz.

– Sem problemas – retribuo. É impressão minha, ou o cabelo dele é, tipo, mais loiro do que qualquer garota que eu conheça? Mais loiro do que o meu! Que tipo de justiça é essa?! E... Ai, meu Deus. Ele não para de me lançar olhares de soslaio!

Sam, cai fora!, penso.

Peço uma torta fria de frango e vegetais e um café expresso.

Quando me encontro com Rachel, no Editorial, à tarde (já que não tenho aulas com ela pela manhã), estou curiosa para saber:

– Seu colega Sam estava te procurando. Ele te achou?

Rachel, ao meu lado, assente. Ela está olhando para a tela inicial do whatsapp.

– Rachel? – pergunto.

Ela me olha.

– Preciso de uns minutos – ela me diz, se levantando da cadeira – Se a reunião do dia começar, depois de reitere, ok? Ainda bem que não sou a pauteira de hoje – Rachel sai da sala levando consigo seu celular. Olho para Santana, que dá de ombros, sem respostas ou teorias para o comportamento de Rachel.

Não quero acreditar, mas acho que sei qual é o problema dela.

É claro que é Finn.

Ela ainda está pensando naquilo, na sua suposição de Finn preferir fazer sexo com essa tal de Kath, ao invés de com ela.

Leva um tempo para ela voltar. Fico imaginando que tipo de palavras ela está usando. Ela parece meio abalada.

Não que eu tenha pena, é claro. Já disse, não sou do tipo que tem pena das pessoas. Mas é claro que isso muda um pouquinho, considerando que ela é minha amiga. Não quero que ela sofra por um cara que não a respeita. E se ele estiver mesmo já transando com essa Kath?

Mas e se tudo isso for apenas fantasia da mente louca de Rachel (o que é totalmente possível)?

– Tudo certo? – pergunto, assim que ela se acomoda novamente.

– É, acho que sim – há um ânimo novo nela. Não está cem por cento, mas está melhorando.

Santana olha para Rachel e diz:

– Nós somos sempre as últimas a saber.

Isso, é claro, piora o humor de Rachel, que lança um olhar mortífero à Sant.

– Ele não está me traindo – Rachel afirma. Há muita convicção, fico até mesmo surpresa.

– É no que você quer acreditar, querida – Santana devolve. Fuzilo-a com os olhos. Santana sabe mesmo como acabar com uma tarde quase agradável...

– Apenas... Cale a boca, ok? – Rachel revida.

– Alguém precisa de um remedinho... – Santana comenta baixo, mas audível.

– Santana! – ralho com ela.

Ela rola os olhos e dá de ombros. Essa coisa de pedir desculpas também não é uma coisa corriqueira na vida dela. Por isso, ela meramente fica calada.

Eu e Rachel estamos saindo de Editorial, cinco horas depois, quando alguém grita a alguns metros de mim:

– Fabray!

É um garoto.

Ah... é um garoto que eu odeio. Por quê, Senhor? Por quê?

Rachel e eu nos viramos, embora o meu primeiro pensamento seja continuar a caminhar.

– Olá, novata! – Jesse diz para Rachel, cumprimentando-a com um beijinho no rosto. Eu me afasto dele, para evitar esse tipo de contato com ele. Ele me olha como se soubesse exatamente o que há na minha mente – Soube que suas duas pautas afundaram! – ele diz para Rachel.

Como é que esse filho da mãe sempre sabe de tudo?

Rachel parece desconfortável. Ela evita falar sobre esse assunto, porque acha que é uma péssima jornalista – quando na verdade o grande problema é apenas que ela é uma novata. As coisas quase nunca dão certo de primeira para os novatos.

– A culpa não foi exatamente minha – Rachel olha desesperada para mim – O Comitê dos Moradores de Rua não quis me oferecer as informações, e quando aos best-sellers...

– Relaxa, novata! – Jesse começa a rir – Está tudo bem. Não sou seu coordenador, ou algo assim.

– Schue entende que pautas caiem de vez em quando – respondo com frieza para Jesse, que ainda está perto de Rachel, sorrindo para ela como se fosse o Elfo Feliz – Agora, se der licença...

– Qual é, Fabray! Cadê a sua educação? – Jesse pergunta, cínico. Ele sempre foi assim, como fui me esquecer? – Não vai nos apresentar, não?

Antes que eu possa exclamar um “não!” incisivo, Rachel sorri inocente para Jesse e diz:

– Sou a Rachel.

Odeio novatas. Elas são tão ingênuas! Certamente, Rachel está pensando que Jesse está sendo genuinamente simpático e que está mesmo querendo conversar com ela. Jesse sempre foi um pé no saco. Ele fez dois semestres de Jornalismo, então largou para entrar em Cinema. É por isso que ele sabe tanto sobre o pessoal de Jornalismo: ele tem amigos aqui e lá. Então sempre tem alguém que o informa de absolutamente tudo.

– Oi, Rachel. Sou Jesse. Faço Cinema, sabia? Como está se saindo na cadeira de Audiovisuais? Já começaram as gravações para o documentário?

– Cale a boca, pare de agir como se estivesse interessado por tudo isso! – não tenho forças para refrear a onda de raiva que se alastra por mim, por isso quando vejo já estou falando alto e com ódio. Ando decidida até Rachel e puxo seu braço – Vamos!

– Mas, Quinn! – Rachel guincha, achando que estou sendo má educada. Estou mesmo. De propósito, porque St. James não merece nada de bom de mim – O quê... – ela tenta perguntar, mas eu já estou puxando sua mão para a minha.

– Vamos, Rachel! – eu comando.

Rachel lança um olhar perdido para Jesse, antes de se virar na direção que a estou puxando. Ouço a risada de Jesse atrás da gente.

– Muito bom te reencontrar, Fabray! – ele berra, quando já estamos um pouco longe.

Quando já estamos localizadas perto dos jardins do prédio da Central de Alunos, Rachel me força a parar e me larga. Ela continua confusa, mas está meio irritada.

O que foi aquilo?! – ela exclama, franzindo o rosto para mim.

– Você não vai querer se meter com aquele babaca – resumo para ela. Rachel continua me olhando, inquisidora – É tudo que você precisa saber, ok?

– Mas...

Eu sei que é insuficiente para ela. Mas não posso, exatamente, explicar a ela... Isso complicaria um pouco as coisas, é claro. E não posso me dar ao luxo de parecer ainda mais filha da mãe para ela.

– Esqueça isso, está bem? – mando, retomando a caminhar.

Rachel me segue, me olha, mas não fala nada.

Não sei se ela sabe, ou se somente supõe. Mas algo me diz que ela está dentro da minha mente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Reviews?
Beijos!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "One and Only" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.