One and Only escrita por Nina Spim


Capítulo 6
Chapter Six


Notas iniciais do capítulo

Venho aqui envergonhada atualizar essa fanfic, mil perdões. Como já disse na nota anterior, minha rotina recomeçou e estou escrevendo outras fanfics, de modo que me esqueci completamente daqui! D:
Mas espero que me perdoem e que curtam este capítulo! *-*



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Dia 50Rachel Berry

Estou lendo um romance turco quando Quinn reaparece no quarto, saltitando.

– Ele topou!

Noto que ela está de calcinha e camiseta – mas não daquelas muito indecentes; essa é preta e tem um cachorro estampado. Mas as pernas dela continuam de fora. Se houvesse uma ronda pelos corredores ela estaria ferrada. Não que ela pareça se importar, de qualquer maneira.

Largo o livro e busco meu celular. Escrevo para Kurt:

Meus amigos vão sair amanhã, apareça. Estaremos no BOX 44, Washington Square. 19h.

– Espero que dê certo – digo, meio ansiosa.

É a primeira vez que faço uma coisa dessas, banco uma de cupido. E, na verdade, essa tarefa parece ser bastante divertida. Quer dizer, já que o meu namoro parece estar meio esquisito, pelo menos tenho a chance de fazer outro relacionamento dar certo. Primeiro passo: apresentação – vamos reunir todo mundo, inclusive Kurt, no Box 44. Com um grupo tão grande vai ser difícil o Kurt não se sentir animado, já que gosta desse tipo de coisa. E daí basta apresentá-lo ao Blaine (que a gente acha que é mesmo gay). Ainda não sei qual é o segundo passo, mas se o primeiro surtir efeito o resto se ajeita com o tempo. Não é assim? Pelo menos é isso que Quinn me garantiu antes de convencer o Blaine a sair conosco. Blaine é um novato quase mais aplicado que eu – na verdade, eu diria que estamos empatados nesse quesito. Encontro-o sempre nos ambientes reservados de estudos na biblioteca, sempre lendo as dicas de livros do Carrasco, o professor de Introdução ao Jornalismo. A maioria tem medo do Carrasco, mas odeia mais a professora de Metodologia, matéria que estou me saindo bem; a primeira prova dela é daqui um mês e parece que não é necessário muito esforço para conseguir um A, apesar de muita gente ficar apavorando os novatos quanto a essa cadeira. Quinn diz que vai perder outro semestre, mas já que estamos fazendo a primeira pesquisa juntas (sobre fidelidade em redes sociais) acho que não há por que reclamar.

– Temos de saber se é por garotos que ele se interessa mesmo – Quinn comenta, sentando-se na cama e olhando para mim.

É claro que isso já é meio evidente. Mas como não temos uma GRANDE certeza, apenas especulamos a sua orientação sexual. Eu quero dizer, não é como se pudéssemos entender todos os seus diálogos, geralmente envolvendo conteúdo ambíguo, além do mais ele dança bem demais para um cara e tem ainda aquele cabelo cheio de gel. Tipo, não tem como enganar. Decididamente, ele é gay. Quando me encontrei com Kurt pela primeira vez, tentei pescar o que seriam “atitudes gays”. Não deu muito certo, é claro, pois já estou acostumada demais ao jeito dele e qualquer coisa que ele faça é meio que normal demais para mim. Porque nós crescemos com esse segredo: eu sei que ele é gay desde dos doze anos. E apesar de conviver muito com ele, não dá, exatamente, para ficar dizendo quem é e quem não é gay. Não é como diferenciar um panda de um urso pardo, entende? As evidências, na maior parte dos casos, não estão ali para todo mundo ver.

– Deveríamos pedir ao Puck para investigar o lado do quarto do Blaine, aposto que ele acha até mesmo as revistas pornográficas gays mais bem guardadas do mundo – Quinn diz, rindo lá de sua cama.

Pensei nas revistas pornográficas gays. E daí, me flagrei que nem todo mundo é igual ao Puck: ele é o tipo de menino que guarda todas as edições da Playboy, desde que começou a assinar. E se Blaine não for do tipo que deixa suas provas tão na cara? E se ele for o tipo de pessoa que não liga para revistas pornográficas (gays)?

– Não – eu disse, e daí consertei – Quer dizer, Puck com certeza já deve ter feito isso. E ele não veio nos relatar nada, certo?

– Bem, ele não é exatamente um tipo que odeia gays.

– É claro que não. Mas você sabe que se ele soubesse de algo falaria.

Quinn parece meio frustrada, agora que eu arruinei a sua investigação. Por que ela quer tanto bancar uma espiã para somente descobrir se um amigo é gay? Por que não perguntar? Não é isso que os seres humanos fazem? Interagem entre si?

– Como saber se alguém é gay? – Quinn me pergunta.

– Google.

– Não, de verdade – ela responde – Você é amiga do Kurt, como você soube?

– Não soube – neguei – Ele me contou. Apesar de que, é verdade, todas aquelas músicas da Britney e da Lady Gaga denunciavam totalmente. Mas sabe como é. Eu não sabia com certeza.

– Mas todo mundo ouve Britney e Lady Gaga – Quinn contrapõe.

– É, em festas. Não no seu próprio carro, ou no seu quarto. Nos fins de semana, eu e ele dançávamos no meu quarto esse tipo de música. Era estranho.

– Você dançou Lady Gaga? – Quinn joga a cabeça para trás, revelando uma gargalhada alta.

– Foram poucas vezes – logo me defendi, elevando as palmas das mãos.

Ela continua a rir.

– E aí, ele respondeu? – ela quis saber, se referindo a Kurt e à mensagem que mandei a ele.

– É sexta à noite, acho que ele tem mais o que fazer – respondi – Mas eu tenho certeza de que ele vai.

É claro que Kurt responde. Ele tarda, mas não falha. É o jeito dele.

Três horas antes do encontro, ele me manda a seguinte mensagem:

Finalmente vou conhecer seus amigos, hein! Sua colega de quarto ainda é uma louca?

Ai, meu Deus! Esqueci que chamei a Quinn de louca no primeiro fim de semana! E se ele abrir a boca quanto a isso? Não vai ser agradável. Apesar de que, muito provavelmente, ela já saiba que agia feito uma louca comigo. É meio inevitável, é claro. Mas tudo bem. Kurt só tem que ficar calado. O que não é uma tarefa muito simples.

Quinn e eu vamos no carro dela, pois ela sabe que vai ter de dar uma carona para Kurt até a NYADA. Por isso, eu já digo:

– Trate de se manter sóbria, ok?

Mas ela sabe. Por isso rola os olhos.

– Obrigada pelo conselho, mamãe – ela me responde. Eu acabo rindo.

O trajeto é rápido, já que o Box fica a apenas a uns três ou quarto quilômetros da faculdade. Santana e Britt já estão reservando três mesas ainda desocupadas.

– Temos de dar um jeito de manter os dois na mesma mesa – Quinn diz.

– Vamos deixá-los na nossa mesa.

Quinn assente e escorrega para o assento da segunda mesa.

– Hey! – Santana exclama, não entendendo a nossa atitude.

– São quatro lugares em casa mesa, certo? Eu, Rachel, Kurt e Blaine ficaremos nessa – Quinn explica. Santana faz um gesto de entendimento com a cabeça – Aliás, cadê Puck com Blaine? – vejo-a procurar Puck nos contatos do whatsapp.

Santana dá de ombros e bebe um pouco mais de sua cerveja.

Quinn escreve:

CADÊ VOCÊS?????

Ela parece ansiosa. Mais do que eu.

Puck, no entanto, não responde.

– Relaxa, ok? Vai ser perfeito – eu digo para tranquilizá-la.

– Eu quero ser uma boa cupido – ela comenta meio preocupada, olhando para a entrada do estabelecimento.

– Eu estou nessa junto, não vai sair nada errado – respondo.

– E se Kurt não vier? – ela olha para mim, com os olhos repentinamente arregalados.

– Ele vai vir, ele quer vir. Ok? Agora vê se para de drama.

Quinze minutos se passam. Santana já está na segunda, ou talvez terceira, cerveja, enquanto Britt se contenta em molhar batatas fritas em um molho verde. Quinn deixa o whatsapp aberto na conversa com Puck, mas nada de ele responder.

Peço uma porção de batatas fritas também com o intuito de distrair a Quinn. Há molhos interessantes dispostos ao redor do prato. Tem um molho de berinjela picante que, definitivamente, me deixa engasgada.

Alguém chega.

É Sam e está sozinho. Ele cumprimenta Sant e Britt, mas vem em direção na mesa que estou dividindo com Quinn.

– Oi, gente – ele sorri. Sorri, em especial, para Quinn. Ela parece não se importar. Só olha para ele quando Sam faz menção de sentar-se ao lado dela.

– Não! – ela exclama de imediato – Aqui não!

Ele freia a tempo e me olha.

– Blaine e meu amigo é que vão sentar aqui – respondo, tentando minimizar a grosseria de Quinn. Querendo ou não, ela foi meio grossa.

– Vai para outra mesa – Quinn sugere à Sam. Ela nem disse um oi a ele. Qual é o problema dela? Por que ela precisa ser tão grossa assim? É porque ele é novato também? Não entendo.

Sam realmente se junta à Santana e à Brittany.

Inclino-me um pouco para o lado – já que estamos reservando o outro lado da mesa para Blaine e Kurt – e sussurro:

– Ele só quis ser legal, não precisava dar uma patada nele! E acho que ele está meio a fim de você.

– É, não sou cega – ela retribui, também sussurrando – E eu não quero namorar um novato.

– Qual o seu problema com novatos? – inquiro, ficando meio impaciente. Porque ela é tão intolerante à quase tudo?

– Nada, tirando o fato de que eles são um pé no saco – ela retruca, de olho na porta – Tirando você, é claro – ela logo adiciona.

– Obrigada – digo, mas meu tom é azedo. Gostaria que ela parasse de desprezar os novatos.

– Eu vou m...

A Quinn está começando a formular sua frase quando, milagrosamente, Kurt aparece. Ele parece estar meio afobado.

– Eu me atrasei, desculpe. A estação é do outro lado, sabia disso? Você não pôde ter me avisado? – ele já chega reclamando, porque esse é o feitio dele. Mas daí ele senta à minha frente e acena para Quinn – Oi, sou Kurt – e daí oferece a mão dele.

Quinn aperta seus dedos e em seguida diz:

– Quinn – e daí olha para a porta – Algumas pessoas ainda não chegaram, mas tenho certeza de que estão vindo.

Tina e Mike chegam juntos e se espremem junto a Sam na mesa de Santana.

Já são sete e quarenta e nada de Puck e Blaine chegarem. A segunda porção de batata fritas já está terminando, pois estou dividindo-a com Kurt também. Ele e Quinn conversam um pouco, então ele se apresenta à mesa ao lado, de Santana e de todo mundo. Ele fica por lá, noto.

E agora? E se Blaine chegar, e Kurt não se interessar? Como vou lidar com o meu primeiro fracasso nisso tudo? Vou ser uma péssima cupido desse jeito! Preciso chamar a atenção dele e fazê-lo voltar para cá, para a minha mesa.

– Eu vou dar na cara do Puckerman se eles não aparecerem! – Quinn está angustiada ao meu lado.

– Eu tenho certeza de que ele tem uma ótima explicaç...

Minha voz morre, porque estou sorrindo. Dou uma cotovelada em Quinn, que está de olho no celular ainda e me olha feio. Faço um gesto com a cabeça.

Ah! Finalmente! – ela exclama, aliviada.

– E aí? – Puck diz para todo mundo.

– “E aí?” – Quinn pergunta; uau, ela parece muito irritada, muito mesmo. Seu olhar está meio assassino – Onde vocês estavam, pelo amor de Deus?!

– Relaxa, princesa – Puck diz – Eu apenas estava na academia para parecer um pouco mais gostoso para você, beleza?

Quinn não aprecia muito a resposta dele, por isso está com os olhos esquadrinhados, parecendo que vai se levantar a qualquer segundo para dar na cara dele.

– Bem, eu só não vim mais cedo porque Puck realmente ficou me dizendo para esperá-lo - Blaine diz.

– E vocês vieram o quê, engatinhando? – Quinn fuzila Puck, que não dá a mínima e se senta na frente dela.

No mesmo minuto ela praticamente berra:

– SAIA DAQUI!

– Meu Deus, mas essa sua tpm não acaba nunca? – ele pergunta, e eu sei que é uma pergunta retórica.

– Cala a boca! – ela exclama, se levantando. E daí, ela agarra o braço do Blaine e o empurra para o banco estofado à nossa frente, do outro lado da mesa – Sente aí, por favor – apesar de parecer educada, o seu tom não está nada agradável.

Estou meio sem saber o que fazer. E agora? Ela vai o quê, agarrar Kurt e jogá-lo ao lado de Blaine, é isso? Preciso pará-la a tempo, sinceramente...

– Quinn – eu digo – Relaxa – eu aconselho entre dentes. E daí eu olho para Kurt, que está em pé, na frente da mesa da Santana olhando para Puck como quem não sabe onde está, ou em que está se metendo. Eu diria que ele tem razão, ele está mesmo um pouco ferrado – Hey, Kurt, venha se sentar aqui – eu o chamo, sorrindo, porque não quero parecer uma ninja assassina como Quinn quer.

Kurt, apesar de ainda intrigado e depois de dizer um oi rápido para Puck, senta ao lado de Blaine. Eles se olham, e Kurt faz uma careta que expressa “alguém me socorre!”.

– Oi – Kurt diz para Blaine.

– Então – Quinn está sorrindo agora, um pouco mais satisfeita. Posso ver Puck sentando-se na terceira mesa com Sam. Olho de novo para Blaine e Kurt sentados lado a lado. Eles parecem bonitinhos assim, tão perto um do outro – Esse é o Blaine – ela diz para Kurt – Blaine, Kurt – ela olha para Blaine e aponta para Kurt.

– E aí? – Blaine responde, acenando com a cabeça.

Esse “e aí?” parece formal demais. O “oi” do Kurt foi muito mais gracioso. Por que Blaine não é gracioso como Kurt? Meu Deus, será que eles já se detestam?

Kurt retribui o gesto de Blaine da mesma forma. E daí olha para mim. E depois para Quinn.

– É a colega de quarto louca, certo? – ele pergunta para Quinn.

Vou dar na cara do Kurt agora mesmo...

Relanço um olhar insatisfeito a ele. Mas Quinn apenas ri e aperta a mão de Kurt. E daí olha para mim, ainda sorrindo.

– Temo que sim – ela responde.

Eu acabo sorrindo, também. Estou meio desconfortável, porque não queria que ela soubesse o que eu disse sobre ela pelas suas costas (mas não é como se ela já não pudesse imaginar).

Kurt olha para mim, e eu sorrio para ele. E depois para Blaine. Esse negócio de troca de olhares tensos é meio esquisito. Não sei se gosto disso. Por isso, eu logo invento de falar um pouquinho de Kurt para Quinn, como se ela nunca soubesse da existência dele, quando na verdade estou discursando desse jeito para que Blaine saiba um pouco sobre Kurt e se interesse por ele. Quando digo que Kurt está na NYADA, Blaine exclama:

– Mas eles aceitam apenas vinte por ano! Uau, você deve ser um gênio, ou algo assim!

Isso me incomoda um pouco, porque, pessoalmente, eu me acho muito mais “gênio” do que Kurt em termos musicais. Mas é claro que não vou mencionar nada. Vou guardar a minha mágoa apenas para mim. Porque é isso que eu faço sempre.

Kurt sorri, meio encantado (pelo menos é isso que parece). E dá de ombros.

– Minha audição foi realmente muito boa – ele diz, nada humilde. Porque humildade não é muito com Kurt, ele prefere deixa tudo assim: bastante esclarecido.

Eles se interagem muito rápido. De repente, Blaine já está contando que, apesar de estar na NYU, gosta também de cantar e que, soubesse que tem alguma chance no ramo da música, investiria nisso. Kurt está concordando, dizendo que Blaine deve seguir o que gosta de fazer. Olho para Quinn, e sorrimos secretamente.

Parece que enfim alguma coisa está dando certo.

E se não é na minha vida, fico feliz que seja na vida de Kurt.

~*~

Dia 51Quinn Fabray

Santana está sentada na cama de Rachel, porque Rachel não está aqui. Está, como sempre, na biblioteca, apesar de ser ainda oito da manhã num domingo. Sim, num domingo. Rachel é meio neurótica com livros, ou simplesmente gosta de ficar algumas horas sozinha. Não sei por quê. Eu estou sendo uma boa companhia. Nem sempre fui, é verdade, mas eu melhorei demais. Parei de criticá-la e estou ajudando-a o quanto posso, em tudo.

Menos, talvez, no quesito moda. Mas isso ocorre devido ao fato de ela não ligar muito para isso, ela simplesmente gosta dessas roupas de professora do primário com bichinhos e patinhas estampadas. Eu já lhe disse que isso é um terror, mas ela não liga. E se ela não liga, por que deveria mudá-la? Ela, ao contrário de mim e do meu cabelo colorido, se satisfaz por ser quem e como é. Não sei como suporta, mas parece funcionar para ela.

– É isso, vamos fazer uma intervenção! – Santana desgruda os olhos de sua revista de fofocas – Vai ser divertido.

– Hmmm, não podemos obrigá-la – eu disse com um pouco mais de juízo.

– É claro que não vamos obrigá-la – ela balançou a cabeça – Vamos falar que é somente, sabe como é, uma saída entre meninas. Daí, quando ela começar a entender, não vai poder escapar.

– Ela parece não se importar.

– Por favor, é claro que ela não se importa: ela não sabe o milagre que um novo guarda-roupa faz.

– Ainda não podemos...

– Ok, espere que ela chegue. Vou fazer o meu milagre – ela jogou a revista na cama e seguiu para a porta.

– Santana, espere aí. Aonde você vai? Você ouviu o que eu disse?

– Vamos precisar de reforços. Vou chamar Britt e Tina.

Péssima ideia.

De onde Santana tirou tanta disposição de repente para levantar o astral de Rachel? É justo dizer que Santana nem gosta tanto assim de Rachel! Ela apenas suporta a Rachel, pois é minha amiga. É um simples fator de convivência!

Não posso dizer que seja legal, mas também não posso afirmar que vá ser uma experiência errônea. Porque Rachel meio que anda precisando de uma levantada no astral. Ela só fica ou enfiada no whatsapp, ou conversando com seu namorado pelo celular num tom baixo e meio febril. Sempre que tento pescar algo parece que estão num debate meio esquisito. Esquisito do tipo acho-que-quero-terminar-com-você-mas-não-tenho-coragem-de-dizer. Sempre que lhe inquiro acerca disso, sobre as ligações, ela dá de ombros e tenta despistar.

“Está tudo bem, eu acho”, é o que sempre me diz.

Mas eu posso enxergar na face dela que praticamente nada está bem. Ela ainda tem aquele medo besta de que ele a esteja traindo com aquela tal de Kath. É claro que na frente dela eu tento ser legal. Digo que não deve se preocupar. Mas quando estou no quarto escuro e penso sobre isso, sei da verdade. E a verdade é que certas pessoas gostam de passar insegurança às outras, acho que pelo simples fato de que isso é o suficiente para mantê-las por perto, presas a uma relação que está fadada ao fracasso. Rachel já me contou como, de início, era tão ótimo namorar Finn, que ela quase se esquecia da insegurança. Mas é claro que o ciúme acaba aparecendo mais cedo ou mais tarde, arruinando quase tudo. De repente, a confiança que você sente não existe mais, ou está por um fio.

De qualquer modo, não posso virar para ela e dizer:

– Então, Rachel, sabe o seu namorado? Acho que ele está mesmo mandando ver com outra garota. Siga em frente, agora.

Isso seria esmigalhar o coração esperançoso dela.

Fico pensando nisso enquanto fico sozinha no quarto.

É estranho, eu sempre preferi ficar na ala D, junto aos quartos individuais. Mas nesse semestre eu me inscrever para ser madrinha e dividir um quarto. E agora que vivo com Rachel, não sei como seria capaz de regressar à solidão. Não que ela seja soberbamente engraçada – mas é inteligente. Nossos diálogos não são fúteis ou ridículos. Gosto de conversar com ela, porque ela sempre fala sobre seus livros e sobre suas citações preferidas. Nunca é tão fresca como Santana. E nunca faz comentários ácidos. Ela é gentil, como eu já tinha percebido. Faz apenas 51 dias que estou perto dela e já me sinto muito melhor. Parei de criticar todo mundo (não totalmente, mas já meço melhor minhas palavras), estou muito mais responsável (porque acho que essa coisa de ser responsável pega por amizade) e não me sinto sozinha. Porque viver num quarto somente com as suas coisas, com a sua bagunça, apesar de em alguns aspectos ser mais vantajoso, não há como negar que é solitário. E ainda que Puck sempre fosse lá ao meu quarto, e Santana também... Agora com Rachel dividindo tudo comigo (até o secador dela) é como se... Não sei, eu me sinto um pouco mais especial.

Não que eu seja ou mereça ser especial, afinal, eu não tenho pena das pessoas e não me importo em não ser legal com a maior parte dos meus colegas. Mas mesmo assim, ser um pouquinho especial te dá uma nova perspectiva de vida. Você começa a perceber que ter outra amiga por perto é muito melhor do que ficar aguentando as loucuras da Santana, por exemplo. E é muito mais legal reclamar da Santana com a Rachel. E depois seguir os conselhos da Rachel para refazer as pazes com Santana. Não que a culpa seja minha, é Sant quem sempre provoca algum dano na nossa amizade, porque ela é o Satã em forma de menina, ou algo assim. É o que Puck diz, ao menos. E eu meio que acredito nele.

Como sei que Rachel, enquanto está lendo na biblioteca, mantém o celular por perto – acho que para o caso de Finn ligar para ela, ou algo assim – mando uma mensagem via whatsapp:

Volte logo, tenho uma surpresa para você.

Eu sei, é meio que uma mentira. Quer dizer, é claro que é uma surpresa. Mas não é do tipo que, muito provavelmente, ela vá gostar. Porque Rachel é acomodada demais para apreciar um banho de loja. Ela prefere ficar enfurnada na biblioteca a andar por NY ao estilo Sex and the City. É certo dizer que Rachel é meio louca.

Não sei se é a ansiedade ou o tédio que a fazem chegar aos dormitórios em menos de dez minutos e antes mesmo de Santana.

– Ok, pode ir dizendo – ela abre a porta e manda. Está com cinco livros nas mãos e sei que há mais dentro da bolsa porque ela está toda estufada. Ofereço-me para pegar os que estão em seus braços. São todos relacionados à fidelização de clientes devido à nossa primeira pesquisa em Metodologia. Ela parece meio cansada, mas está meio agitada. Coloco seus livros em cima da nossa bancada conjunta de estudos e olho para ela.

– Precisamos esperar Sant e as outras chegarem.

– Não vá me dizer que estamos indo ao Box agora! – ela ralha comigo naquele tom de escute-aqui-mocinha – Dá para perceber que ainda nem são dez da manhã? Não é hora para vocês beberem!

Ela é muito louca mesmo. Cristo, ela é insana.

– Eu disse que iríamos para lá? Não. Então pra que todo esse chilique? Eu apenas disse que temos de esperar as meninas chegarem!

Quero meio que rir, porque na verdade a reação dela me provoca isso. Mas não o faço, porque estou ocupada demais bancando a séria.

– Vocês vão me sequestrar? Só não me diga que vão me levar para uma sex shop. Eu realmente não estou no clima.

Dessa vez eu rio, porque sei que ela está tentando ser engraçada. Conseguiu, madame.

– Qual é o problema com a sex shop? – eu inquiro num tom meio divertido, embora eu esteja lhe questionando por pura curiosidade.

– Bem, estou há quilômetros do meu namorado, e parece que ele está transando com outra. E eu divido o quarto com você, pelo amor de Deus! Privacidade nenhuma para eu me divertir sozinha! – ela termina a última frase meio que rindo.

Acompanho-a no riso, porque isso parece ser fácil. Então o silêncio se esgueira por entre nós. Depois de um minuto, eu acabo dizendo:

– Eu sinto muito.

Não sinto tanto assim, mas me sinto no dever de dizer isso. É claro que estou me referindo ao fato de seu namorado estar com outra na cama.

Rachel, ao invés de se desmanchar em lágrimas na minha frente, dá de ombros. E diz:

– Acho que acontece.

Balanço a cabeça. Por que todas essas mulheres traídas dizem isso? Por que deveriam se acostumar com a traição? Só porque, segundo a generalização universal, homens sempre pulam a cerca?

– Não deveria acontecer! – pontuo minha opinião sendo muito enfática – Se ele te amasse realmente saberia que não deveria fazer isso contigo! Eu quero dizer, fala sério, qualquer um é capaz de segurar o tesão! É claro que ele não pode evitar olhar pra uma menina gostosa, mas pode, com certeza, evitar terminar a noite na cama dela!

Rachel olha para mim com dúvida. Ela parece meio frágil, agora. Agora que eu a assustei, ou algo assim. Disse verdades demais, como sempre. Quando é que vou aprender a ser legal com as pessoas, hein?

– Desculpa – eu digo, soando baixo. Não deveria pedir desculpas, é claro, mas não quero que ela se sinta mal – Eu não dev...

– Tudo bem, gosto quando você é sincera – ela me responde, me oferecendo um sorrisinho – Sabe de uma coisa? Apesar de você achar que não sabe nada sobre o amor, você meio que sabe alguma coisa. Fidelidade é um dos tópicos sobre o amor que quase ninguém entende, e olha só você. Você entende.

É claro que ela está sendo educada. Eu sou a pessoa com menos instrução sobre o amor da face da Terra. Quer dizer, eu transo com o meu melhor amigo apenas pela comodidade. Não sou o melhor exemplo de Pessoa que Sabe Muito Sobre o Amor.

Deixando seu elogio para trás, me aproximo mais dela e coloco uma mão em seu ombro, num gesto solidário, e digo:

– Você não quer mais se machucar, né? Então é melhor seguir em frente.

É claro que as pessoas dizem muito sobre seguir em frente, mas quase ninguém é capaz de, verdadeiramente, seguir em frente. O passado sempre parece muito encantador e muito resistente.

É claro que Rachel fica reticente na minha frente. Ela abre a boca, mas fecha. Depois dá de ombros de novo. Será que ela não percebe que estou tentando ajudá-la? Que quanto mais cedo ela se desvincular do garoto menos ela ficará pensando em voltar atrás em sua decisão? Quer dizer, ok. Eles estão juntos há, tipo, dois anos. Mas ela quer mesmo continuar infeliz? Por que as mulheres infelizes gostam de estar infelizes? Que tipo de lei é essa? Por que elas não fazem nada para serem felizes? É claro que, antigamente, era normal e aceitável uma mulher ter um marido que a traísse com sei lá quantas e ter que se contentar com a situação. Mas hoje? Alô, querida. Século XXI, tá sabendo? Muitos sutiãs foram queimados para que, agora, você não precise mais estar fadada a um casamento machista!

Rachel não responde. Ao invés disso, fica em silêncio lendo as contracapas dos livros que retirou da biblioteca.

– Aqui, fique com esse – ela me estende um – É sobre o monopólio de clientes. Vou ficar com a teoria da fidelização. Vou fazer Sam ler este, e os outros ficam com Paul e Tammy. Tente retirar alguns trechos importantes para colocarmos no artigo.

Assinto, mas quero retomar o assunto. Quero dizer-lhe algo, porque... É horrível ficar calada quando tenho ciência de seu drama. E quando ela fica agindo como se não fosse “nada de mais”. Será que ela não percebe?

– Rachel...

Nisto, Santana arromba a nossa porta, gritando:

– OK, MUNIÇÃO PREPARADA.

Rachel olha para Tina, Sant e Brittany sem entender nada. Lanço um olhar feio para Santana.

– E aí, Berry? Tá sabendo da boa? – Santana pergunta; Rachel olha para mim como que pedindo ajuda, mas Santana sai falando – Vamos fazer um passeio pela relva de pedra nova-iorquina.

Rachel me olha com mais intensidade. Agora ela parece ter entendido tudo.

– Hey! – ela diz para mim.

– Tente controlar Satanás, não é uma tarefa muito fácil! – me defendo.

– Dá licença? – Santana diz para mim, parecendo ofendida por eu tê-la chamado de Satanás – Vocês precisam da minha ajuda.

Olho para todo mundo. Tina tem um estilo meio gótico/emo. Santana é a própria vadia em pessoa. Brittany segue o rumo de Sant. Eu sou a normal do grupo, eu acho. Não pareço indecente, nem muito recatada. É, acho que isso não vai funcionar.

– Sinceramente... – começo a retrucar.

– Quer dizer, olhe só isso! – Santana puxa a blusa com um gatinho estampado de Rachel. Ela parece que tem, tipo, 13 anos. É verdade. Meu Deus, Rachel precisa de vestimentas adequadas para uma universitária!

– HEY! – Rachel desfere um tapa rápido e pesado na mão de Santana, que logo faz seu olhar recair na saia mais horrorosa que eu já vi na minha vida. E essa saia é Rachel quem está vestindo. É uma cruza entre uma saia escocesa com uma saia da vovó, em cor pastel.

– Você precisa de ajuda – Santana diz para Rachel.

Rachel somente a fulmina com os olhos. Todo mundo está fitando as roupas dela, o que a faz ficar ainda mais com raiva.

– O QUE É? – ela pergunta, alto, sem paciência nenhuma.

– Você precisa de nós, admita – Santana diz – Então vamos indo, temos muitas lojas para visitar. E aposto que você não tem nenhuma calcinha fio-dental – Rachel está prestes a retrucar alguma coisa, quando Santana olha para mim, pesarosa – Ai, meu Deus, isso vai ser o inferno.

É claro que vai.

Não é como se eu amasse fazer compras, também. Mas eu não saio por aí com uma saia intrigante e com uma blusa do tipo olhe-a-menininha-que-eu-sou.

Obrigada, Deus, por eu não ser Rachel Berry.

Santana empurra Rachel para fora do quarto e a nossa saga pela Big Apple começa.


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Notas finais do capítulo

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