One and Only escrita por Nina Spim


Capítulo 4
Chapter Four


Notas iniciais do capítulo

Queria pedir desculpas pelo vácuo de atualizações. Primeiro, eu não conseguia acessar o site, e segundo, fiquei meio afastada do word por alguns dias.
Afora isso, aproveitem o chapter!
Beijos!



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Dia 22Rachel Berry

Já faz duas noites que estou aqui de volta ao quarto que divido com Quinn.

Puck passou daqui algumas vezes, é claro, para rir um pouco da minha cara (eu realmente não o entendo) e para convidar a Quinn a “dar um passeio”. Eu sei que esses “passeios” aconteceram no quarto dele, nas ocasiões em que o novato dele, o Blaine, estava na biblioteca. É sempre meio tarde que ele aparece. De manhã, ele bate à porta. Percebi que eu acordo antes da Quinn e, quanto tomo banho, Puck entra no quarto e fica lá na cama dela. Agora eles não ficam mais se beijando na minha frente. Agradeço mentalmente, é claro. Porque ver esse tipo de coisa me faz ter saudade do meu próprio namorado – apesar de Puck não ser oficialmente o namorado da Quinn.

– Somos amigos que gostam se brincar de vez em quando – Quinn me disse na noite em que retornei ao aposento.

É meio engraçado. Ela não tem vergonha nenhuma de dizer esse tipo de coisa. Ela simplesmente diz tudo o que lhe vem na cabeça. Não se importa se vai ofender, ou não. Não que me ofenda, é claro. Saber que Puck e ela mandam ver porque têm uma amizade colorida, ou algo assim. Quando ela não está me destratando acho incrível essa capacidade das palavras dela nunca passarem por um filtro. Ao contrário de mim, que sempre penso demais para falar.

O gênio dela também é muito incrível. Ela é bem mais agitada. Não que eu tenha problemas para ser faladeira, mas isso só acontece quando estou nervosa demais, ou então inserida devidamente em meu grupo. É claro que fico nervosa o tempo todo aqui, afinal é um novo mundo, mas procuro medir minhas palavras. E até então, apesar de estar gostando de conversar mais com Quinn, não me sinto próxima a ela, nem de ninguém de seu grupo. Quando Quinn está ausente, eu ainda gosto de chamar a Tina para ficar comigo, porque ela é bem mais parecida comigo.

O dia ainda não raiou direito por aqui, mas eu já estou acordada. Acho que é a excitação de saber que terei um dia diferente dos outros. Kurt conseguiu se desvencilhar um pouco de seus dias de glória e se juntará a mim a um piquenique no Central Park. É bom, porque há 22 dias que não saio do campus, além de para ir ao Mc Donald’s mais próximo. E vai ser ótimo reencontrá-lo, é claro. Agora que as coisas estão mais acertadas entre mim e Quinn – apesar de nós nunca mais mencionarmos a palavra “desculpa”, ou outra coisa que lembre as circunstâncias do passado – quero dividir essas novas experiência com meu melhor amigo. Posso dizer a ele sobre como a minha pauta parece ridícula, mas difícil de se arrebanhar informações, simplesmente porque existe gente que se nega a me ajudar. É claro que vou esconder todos os meus momentos-fraqueza pelos quais já passei, especialmente os que envolvem lágrimas. Mas tudo bem. Não estarei mentindo a ele, apenas omitindo. Não será tão ruim. Porque aposto que houve alguns dias horríveis para ele também na NYADA, ele apenas não quis dividir isso comigo. É completamente compreensível.

Permaneço na cama até que percebo – em meio aos meus pensamentos – que o quarto está inundado pela luz matinal do sol. Estou empolgada demais para ficar parada, por isso me levanto e tomo um banho meio demorado. Não temos uma banheira nem nada assim, é claro, mas prolongo o banho o máximo que consigo: abro todos os óleos corporais que trouxe e aproveito o momento, porque, apesar de não estar sozinha, sei que Quinn não irá acordar a menos que Puck se adentre no quarto. Saio do banheiro cheio de vapor e, ainda enrolada na toalha, com o meu cabelo úmido e limpo, procuro algumas roupas. Pretendo gastar o começo da minha manhã na biblioteca caçando novos livros (é incrível a minha capacidade de perder a hora quando estou lá dentro). Procuro um short de seda que é muito confortável e uma blusa qualquer. Enquanto desembaraço o meu cabelo, sentada na cama, Quinn se mexe. Ela está virada para a parede, mas rola de barriga para cima e me olha.

– O que está fazendo? – ela pergunta, piscando com a cara amassada.

– Vou sair um pouco do quarto - respondo, olhando-a e ainda penteando pelo cabelo. Uau, eu estou renovada. É incrível como um bom banho pode renovar todas as suas forças! – Pode continuar a dormir ou chamar o Puck para te fazer companhia.

– Ahn – ela resmunga e fecha os olhos – Vai para a biblioteca, acertei? – ela me inquere ainda com os olhos fechados. Há um sorriso nos lábios dela. Sorrio também. Parece que ela me conhece bem melhor do que eu a conheço. E nós voltamos a conviver há apenas dois dias. Uau.

Afirmo com a cabeça, mas como ela ainda não abriu os olhos, tenho de confirmar dizendo:

– É isso aí.

– Declino a sua oferta – ela diz.

– Eu sei – eu rio, porque apesar de não saber todas as manias dela, sei que ela não é do tipo que vai para a biblioteca às sete da manhã aspirar um pouco daquele ar empoeirado e ficar com rinite o resto do dia – Não estou te convidando, sei que você quer dormir.

– Quero mesmo – Quinn diz, rindo fraco e meio rouco – Tenho que parar de passar minhas madrugadas com Puck. Ele só ferra a minha vida.

– Achei que ele fosse o amor da sua vida – eu brinco. Eu se que ele não é. Não quando, sabe como é, ele está mais preocupado com sexo do que com romance.

– Ledo engano. Estou longe demais desse negócio de encontrar o amor da minha vida – Quinn responde. Ela me olha, agora. Já finalizei meu cabelo e estou aplicando um pouco de creme nas minhas pernas – Caramba, isso fede mais do que amoras silvestres! – ela exclama.

– É framboesa – eu digo.

– Horrível, horrível mesmo. Acho que estou até mesmo tendo uma reação alérgica.

Nós rimos, porque não há nada que eu possa dizer.

– Vai ficar dormindo mesmo? – quero saber, me levantando depois de fechar o potinho do creme – Não vou chegar aqui com vocês dois sem roupas e tudo mais, certo?

– Não garanto nada – ela se senta na cama, mais desperta – Você sabe, já deve ter percebido o quanto somos imprevisíveis.

– Vocês parecem ter uma carência de sexo muito grande – comento, distraída, me analisando no espelho do banheiro.

– Você sabe, temos de aproveitar as coisas boas da vida – Quinn diz, aparecendo atrás de mim. Como sempre está trajando somente uma calcinha e uma camiseta minúscula.

Viro-me para ela. Ela está toda bagunçada e com cara de cansaço. Mesmo assim, ela é bonita. É incrível como isso acontece com certas pessoas. Enquanto eu apenas pareço um cachorro atropelado nas primeiras horas do dia, há gente como Quinn que mesmo denunciando o cansaço e a olheira fica bonita. Olho para o cabelo dela, agora ele está verde-água. Ela o tingiu na noite em que voltei para cá. Levei um susto, sinceramente. Mas mesmo assim, mesmo parecendo uma elfa de um reino encantado, ela não parece esquisita. Quer dizer, é claro que é chamativo – todo mundo olha para ela e comenta. Quinn diz que não se importa, que o cabelo é dela e que o tinge da cor que quiser. Penso no meu próprio cabelo virgem e percebo que não teria coragem de mudá-lo; gosto dele assim. Meio que me acomodei ao vê-lo assim, às vezes desgrenhado por conta do frizz, mas sempre escuro.

– Eu tenho um namorado e não precisava tanto assim desse tipo de coisa – acabo falando.

– Você tem um namorado? – ela pergunta; antes que eu confirme, ela rola os olhos mesmo trôpega e afirma por conta própria – É claro que tem um namorado. Mas é aí que está, é claro que vocês não precisavam de sexo o tempo todo, porque estavam namorando. Em um namoro, e nem tente negar, tem que ter um pouco de romance, e aposto que você é do tipo romântica e tudo mais. Se seu namorado quisesse sexo toda hora, você iria se cansar dele. É por isso que, enquanto eu e Puck temos essa relação de apenas sexo, tudo funciona melhor. Eu não preciso de um buquê de flores, nem de cartõezinhos bonitinhos.

Saio do banheiro minúsculo para que ela possa usá-lo. Ela fecha parcialmente a porta do recinto.

– Namorar alguém é ser conquistada todos os dias. Você não quer ser conquistada? – pergunto, procurando o último recibo de devolução da biblioteca dentro da minha bolsa. Minha bolsa é um lixo gigante, coloco tudo dentro dela.

– Hmmm. Não – é a resposta de Quinn.

– Certo. Imagino que este não seja o local certo para você encontrar o amor da sua vida.

– Acertou.

– E por que me disse que eu poderia encontrar o meu, se você nem acredita nisso? – estou ao lado da porta do banheiro, agora. Estou meio intrigada.

– Só quis te dizer alguma coisa legal. Não sabia que você tem namorado. Nesse caso, esqueça-se do que eu disse e continue com o seu namorado. Qual é o nome dele?

É claro que eu vou esquecer. Eu amo o Finn. Não quero encontrar nenhum amor aqui na NYU. Não sei que tipo de pessoa Quinn é, mas sei que tipo eu sou: eu sou fiel, apesar disso parecer clichê. Sexo sem compromisso funciona para ela, porque talvez Quinn não seja clichê.

– Do meu namorado? Finn. Estudamos na mesma escola em Lima.

– Ah, é verdade. Você é desse fim de mundo – ela fala – E quando vai vê-lo? Aposto que ele está necessitado de um pouco de sexo – Quinn diz, rindo um pouco.

– Sabe onde fica Lima? É meio longe, sabe como é.

– Metrôs existem para isso. Compre uma passagem somente para transar com ele. Aposto como vai ser uma surpresa legal.

– Você é insana – estou balançando a minha cabeça, completamente abismada – Por que não podemos apenas ir a um restaurante e acabar a noite vendo filmes?

– Porque isso é sem graça. Sexo dá graça na coisa toda. Não seja tão romântica. Românticos são chatos.

– Eu não sou chata.

– Você é um pouco, você sabe. Por que você gosta tanto assim das flores? Você não sabe que dali a uma semana elas estarão definhando?

– É um gesto legal receber flores de alguém.

– Não é, é apenas bobo.

– O que você gostaria de receber então? – pergunto, porque não entendo muito bem como a mente dela funciona.

– Nada. Por que temos de receber coisas em troca do amor? Isso é um pouco interesseiro. Eu me contento com o sexo, obrigada.

Quinn sai do banheiro. Seu aspecto está melhor.

– Talvez um dia você vá entender – dou de ombros, quando ela volta a se deitar na cama. Ela se espreguiça e me olha.

– Você não sabe nada sobre as coisas boas da vida – ela pontua.

Balanço a cabeça, meio inconformada.

Por que ela tem que ser sempre assim? Tão... Não sei, como se fosse a dona da verdade? Será que ela não pensa que pode estar errada?

Acho que não.

– Estou indo – aviso, já com a minha bolsa no ombro e tudo acertado.

– Cuide-se, rata de biblioteca – ela diz.

Dia 22Quinn Fabray

Pauso This Isn’t Everything You Are.

Estou sozinha, porque Puck está (surpreendentemente) estudando. Eu também deveria estudar, é claro. Deveria ler o texto de Jornalismo Online I para a primeira prova, mas é chato ficar sozinha. Não sei como Rachel suporta.

Estou entediada. Por isso, estou olhando a minha timeline enquanto ouço música, deitada no meu canto. São quase oito da noite e Rachel ainda não chegou. Não a vi o dia inteiro. Achei que tivesse dito apenas iria à biblioteca, mas parece que ou conseguiu uma autorização para fazer uma cabaninha e morar lá em definitivo, ou foi atacada por alguém que a está mantenho refém.

É claro que essas teorias desaparecem quando ouço o barulho da chave. É Rachel.

Retiro os fones e direciono meu olhar para a porta.

– Está atrasada. Umas seis horas, pelo menos – eu digo. É claro que não estou brava, ou algo assim. Ainda bem que não preciso ficar pajeando-a a todo instante. É bom que ela tenha uma vida.

– Desculpe. Esqueci-me de dizer. Saí com Kurt, depois – Rachel entra no quarto e larga a chave dentro da bolsa, arremessando-a em sua cama.

Não sei quem é Kurt.

– Achei que o seu namorado fosse o Finn.

Rachel, de costas para mim, porque está fechando as cortinas da nossa janela diz:

– Kurt é meu amigo. Ele está na NYADA. Nunca mais nos vimos pessoalmente desde que entramos na faculdade, então passei o dia com ele. Hey, você acha que aquele Blaine é gay?

A pergunta é meio aleatória. Mas penso nela.

Com todo aquele gel? Certamente não está copiando Danny Zuko.

Quer dizer, não que dê para saber, assim, só de olhar se uma pessoa é ou não gay. Na maioria das vezes, ninguém parece.

– Isso tem alguma relevância? – pergunto, afinal.

– Kurt está precisando de alguém.

– Kurt é gay? – não sei por que mas quero rir. Rachel, definitivamente, não é o tipo que parece andar com gays.

– Sim. Não conversamos muito sobre isso, porque é sempre esquisito, mas ele sabe que o amo mesmo assim. E ele está reclamando demais da vida, precisa de alguém.

– Hmmm – digo. A ideia é boa – Seremos cupidos, então?

– Não seria o máximo? – ela me olha com um sorriso de criança. Não sei o que ela fumou, mas ela definitivamente precisa parar de sorrir desse jeito como se tudo fosse brilhante e lindo.

– Se você diz – dou de ombros. E aí meu celular toca.

– Vou tomar um banho – Rachel me avisa, antes que eu atenda.

É a Santana. Olho Rachel retirar o short e a blusa, deixá-los em cima da cama e andar até o banheiro.

– Dancing Queen! – Santana ri do outro lado da ligação.

– E aí, Santânica – eu devolvo.

Eu e Puck colocamos esse apelido nela quando ela fez um protesto para todo mundo ouvir sobre o respeito entre as etnias, porque ela é latina e diz que ninguém a respeita, porque apenas querem ver “seu sangue latino ferver”. Estávamos no mesmo período, o segundo, quando aconteceu. Ela realmente parecia satã cuspindo suas palavras em cima daquela cadeira no meio do saguão...

Dancing Queen foi Puck que inventou. Na verdade, é mentira. Ele apenas copiou o título da canção. Pois, quando nos conhecemos, estava tocando essa canção. Dançamos essa canção em questão, também. Estávamos numa festa no começo do primeiro semestre quando isso aconteceu. No final dela, é claro que fomos pra cama. Foi meio automático. Coisas assim acontecem sempre, e desde então mantemos tudo assim, porque é fácil de manter e de explicar.

– Precisamos sair. Não temos nossas noites de Luluzinha desde que o semestre começou – Santana fala – Levo Britt, e você, a sua novata. Vamos brincar de verdade ou consequência e Quem Nunca no Box 44 daqui meia hora, combinado?

Eu já estava com saudade do Box 44. É o meu bar preferido.

– RACHEL, NÃO ENTRE NO BANHO, VAMOS SAIR! – berro – Fechado – digo para Santana.

Rachel, assim que desligo, coloca a cabeça para fora do banheiro.

– Ah, não faça isso comigo! – ela reclama.

– Você precisa conhecer o Box 44. É do tipo antigo e acolhedor.

Posso ver que ela já tirou o restante da roupa e que estava preparada para entrar na água.

– Sério, eu fiquei o dia inteiro fora. Realmente quero ficar um pouco lendo – ela me diz e volta para dentro.

– Eles tocam Barbra Streinsand o tempo todo – joguei a minha última cartada.

O rosto de Rachel volta a aparecer.

– Isso parece uma chantagem.

Claramente é uma chantagem – confirmo – Por favor. Vai ser legal, eu prometo. Vamos comer pizza e falar mal dos garotos. Talvez ficar um pouco bêbadas, ou sei lá.

– Hmmmm.

– Isso foi um sim? – pergunto, esperançosa, sorrindo.

– Aceito a pizza, mas não vou ficar bêbada – Rachel diz e daí volta para dentro do banheiro para recolocar a calcinha e o sutiã.

Em vinte segundos, pego o primeiro vestido que vejo na minha frente, um roxo de babados, e me apronto. Quando Rachel sai de lá para escolher uma nova roupa, já estou me maquiando.

Como Rachel não molhou o rosto, sua maquiagem está intacta, de modo que em quinze minutos já estamos prontas para sair.

O Box 44 é na mesma avenida que o campus da NYU, o que facilita bastante. Mesmo assim precisamos andar por uns quinze/vinte minutos. Parece desperdício de gasolina ir até lá de carro, quando podemos apreciar a noite e o ar agradável.

Ultrapassamos um dos portões, o que fica aberto vinte e quatro horas por dia. Eu de salto fico bem mais alta que Rachel. Ela está usando sapatilhas que brilham no escuro, há purpurina nelas, ou algo assim. No meio da caminhada silenciosa que estamos fazendo, Rachel engancha um dos seus braços no meu. É engraçado, parece que somos pré-adolescentes, ou algo assim. Aceito o gesto, porque é reconfortante.

– Então – eu digo.

– O quê? – ela grita um pouco, por conta de tráfego.

– Você acredita no que me disse mais cedo? Sobre ser conquistada todos os dias? O seu namorado, por exemplo, ele te conquista todos os dias?

Rachel troca um olhar comigo e olha para frente.

– Acho que já passamos dessa fase de conquista, especialmente agora que estamos longe. Sustentar um namoro à distância não é tão fácil quanto todo mundo acha. Eu vivo pensando coisas idiotas.

– Que ele está com outra?

– Basicamente – Rachel fala. Há um pesar na voz dela, e ela parece que está realmente cansada do seu dia. Parece que precisa mesmo relaxar um pouco. Olho um pouco mais para ela, mas quando ela se vira de novo para mim, eu desvio o olhar e penso que senti falta dela a tarde inteira – Ele sempre foi popular no colégio. Eu já tive muitas crises de ciúmes.

– Mas ele ainda continua contigo, certo? – pergunto. Ela assente – Isso quer dizer que ele quer mesmo o namoro. Os garotos são assim mesmo, eu acho. Eles gostam de passar insegurança pras meninas.

– Finn não é assim – Rachel logo pontua com exatidão, com uma certeza além da conta. Ela não conhece muito o universo, penso eu – É claro que ele gostava da atenção que recebia, mas eu confiava e ainda confio nele. Como você ainda não se apaixonou pelo Puck? Não que ele seja apaixonável, mas... – ela solta uma risadinha, e eu a acompanho – Como mantêm essa relação de sexo sem compromisso?

Eu dou de ombros. Eu tinha dito que é fácil explicar – e é; o difícil é a outra pessoa entender.

Pelo visto, Rachel ainda não entendeu.

– Acho que o amor complica as coisas – é a minha concepção – É claro que nos amamos como amigos, e é uma relação bem melhor. Não há ciúme, não há medo de perder, não há nada de ruim. A gente se entende melhor do que qualquer casalzinho apaixonado. Por que essa coisa de receber flores e todo o resto é tão importante?

– Porque são detalhes – Rachel responde. Ainda estamos a uns cinco minutos do bar, mas caminhamos compassadas, sem afobamento. E dá pra perceber o quanto essa conversa é agradável. Rachel não quer fugir dela, nem eu. É a segunda conversa que temos que não me incomoda por completa – Tipo, você perde tempo para escolher o buquê certo e quando diz que ama a pessoa é a sua palavra, ou seja, você está se doando à outra pessoa de propósito. Não porque você é obrigado, mas porque quer fazer a outra pessoa sorrir com essas coisas.

Fico em silêncio.

Isso parece bonito, colocando assim.

O amor, quero dizer. Ele parece bonito. Bem, talvez ele o seja. Nós, as pessoas, é que o complicamos. Todo mundo o quer porque ele parece assim, tão bonito. Meio altruísta, enriquecedor e edificante. Mas daí, sempre tem alguém que o estraga.

É claro que não posso reclamar.

Não tenho o amor, nunca o tive. No entanto, não há por que agora eu achar que devo maldizê-lo. Eu sempre quis mais me divertir do que me “doar” a alguém. Quando estou com Puck estou me divertindo não quero que ele se apaixone por mim, ou que me compre bombons.

Tudo que preciso dele, eu já tenho. E não estou falando somente de sexo, é claro.

– Acho que você já se decepcionou com isso e quer se manter longe, acertei? – a pergunta de Rachel aparece de supetão, me fazendo voltar para a noite. Continuamos caminhando.

– Errou – respondo. Rolo os olhos e continuo – É claro que já tive umas paixões por aí. Mas nada sério. Nada que valesse a pena lutar.

– Você nunca teve aquele momento?

– Que tipo de momento? – olho para ela.

– Você sabe, aquele momento que acontece que te diz: “É isso, não consigo respirar”, ou “Por onde você estava todo esse tempo, pessoa da minha vida?”.

– “Pessoa da minha vida”? – eu rio; ela também – Você realmente disse isso?

Rachel me olha e, embora ainda esteja rindo, pergunta:

– Você quer esperar para sempre? – ela volta a ficar séria – Porque eu não quero, é tempo demais, entende? É por isso que há pessoas nas nossas vidas, pessoas que valem a pena. Às vezes, nós não entendemos o recado do destino a princípio. Mas aí, quando percebemos... Pode ser tarde demais. Para fazer qualquer coisa, até mesmo mandar flores.

– Não dá para acreditar que você é uma perita nesse quesito – é tudo o que consigo dizer. Começo a me sentir em dúvida: acho que não estou mais à vontade com essa conversa.

– É claro que não sou – Rachel diz, balançando a cabeça –, mas qualquer um que já se apaixonou sabe um pouco sobre o amor.

Eu acho que sei pouco sobre isso. Bem pouco mesmo.

Nunca tento para não me decepcionar. É assim que funciona.

Se você der um passo, pode cair. E a outra pessoa, quase sempre, te deixa cair.

Então pra que arriscar? Só pra se machucar? Não, obrigada.

Caminhamos mais um pouco. Ficamos em silêncio, porque a conversa morreu. De qualquer modo, eu não tinha nada agradável para lhe dizer. O incômodo já estava brotando e eu não queria ser arrogante ou insensível.

O bar, de fora, parece comum. E pequeno.

Mas é só a aparência dele.

Rachel, de início, fica encantada com a decoração. O chão é preto e branco, há banquinhos estofados com cores vibrantes no balcão – que tem o desenho de um perfil de um carro rosa-chiclete –, há muitas jukebox com músicas antigas e cartazes de ícones do passado. As luzes são fracas e coloridas.

– Ah, meu Deus! – Rachel exclama. Eu sei, é muito tentador passar o resto da vida aqui dentro. E para completar há um palquinho, onde qualquer um pode subir e cantar. Acho que é a isso que Rachel está se referindo com esse “ah, meu Deus” – Eu nunca mais cantei! – ela diz, meio que para si mesma. Mas eu ouço, porque ainda estou perto o suficiente dela, apesar de Evergreen estar tocando muito alto.

– Então você canta? – eu pergunto. Vejo Brittany e Santana numa das mesas já com bebidas coloridas.

Rachel não me responde e continua a olhar o local, parecendo a Alice em Wonderland.

Vamos até as meninas.

– Eu amei esse lugar! – Rachel anuncia como uma grande criança na véspera do Natal. Meu Deus, ela é tão... Como dizer? É, ela tem esse espírito sensível e alegre. Acho que ela mal o nota. Ela parece tão feliz aqui – Preciso tirar muitas fotos!

Britt e eu acabamos rindo. Britt porque, aparentemente, é boba demais, está sempre rindo de tudo. E eu, porque, como eu disse, Rachel tem esse espírito sensível e alegre. Gosto disso. Porque ela é genuína.

– Vem! – não dá tempo de eu me sentar, ou de trocar um oi com Santana, porque Rachel está me puxando para o lado contrário. Ela pesca seu celular da bolsa e aciona a máquina fotográfica dele – Eu nunca tinha entrado num lugar assim, é tão bonito! Acho que vou morrer com tanta coisa linda! – ela diz, se posicionando na frente de uma jukebox e depois dos vários cartazes de Elvis para tirar uma foto. Eu rio, é claro. E daí, ela me puxa junto para a foto. Não sei como lidar com isso: não gosto muito de aparecer em fotografias. Tento dizer isso a ela, somente balançando a cabeça num gesto de negação, mas ela está excitada demais para prestar atenção em mim. Nós nos emparelhamos. Vejo-a sorrir e, quando estou preparada para olhar para a câmera para também sorrir, o flash é acionado. Levo um susto, é claro. Rachel verifica a foto – Você não estava olhando para a câmera! Olhe para a câmera! – ela comanda, rindo.

Não sei como e quando isso aconteceu.

Essa coisa de, de repente, eu a sentir como alguém próximo. Ela não me perguntou se eu queria aparecer nas fotos, ela simplesmente me agarrou e me persuadiu a tirá-las. E agora ela tem uma foto horrível de mim olhando para ela, ao invés de mim mirando o celular.

Nós andamos para frente de outros cartazes, agora de bandas como The Romantics. É tão decadente, meu Deus. Por que simplesmente não saio de perto dela?

Mas é certo dizer que, apesar de odiar aparecer em fotos, eu gosto do que está acontecendo. Essa coisa da nossa relação não parecer tão forçada. Porque eu sei que Rachel está sendo espontânea, e eu, pela primeira vez em muito tempo, estou me deixando levar.

Não tenho tempo de sorrir como uma pessoa normal. Por isso meu sorriso sai esquisito, daqueles que você não sabe se só foi o ângulo errado, ou se a pessoa estava mesmo nervosa na hora.

– Eu saí horrível! – reclamo na mesma hora.

– Mais uma! – ela diz, ao invés de qualquer outra coisa.

Meu rosto sai franzindo nessa.

É oficial. Eu não deveria tirar fotos, saio esquisita e/ou terrível em todas!

Mas quando voltamos à mesa, vejo que Rachel não apagou nenhuma das três que eu e ela saímos juntas. Isso não me deixa nem um pouco aliviada. Quando é que ela vai perceber que essas fotos ficaram uma porcaria?

– Acabou, turista? – Santana pergunta, quando Rachel insiste em registrar o nosso momento, nós quarto na mesa. Santana, não sei por quê, sempre é irritante com Rachel. Mais ou menos como eu era antes de tudo aquilo. Você sabe.

Rachel guarda o celular.

– Então, o que vocês estão bebendo? – ela quer saber.

– Vodca com suco de maça-verde – Santana aponta para sua bebida – E Vodca com suco de framboesa.

– Parece horrível – Rachel responde.

– Experimente! – Brittany oferece o canudinho dela.

– Acho que não.

– Vou pedir uma batida de menta para você, ok? – pergunto-lhe. Há pouco álcool, mas é muito refrescante.

– Mas...

– Você vai gostar.

Peço duas; uma para mim, outra para ela. Há uma pizza de mozarela. Eu pego um pedaço rapidamente, pois estou morrendo de fome. Rachel é a única que não coloca nada no prato.

Enquanto bebemos e comemos, Brittany nos conta sobre um incidente na turma de Audiovisuais (Rachel e Britt têm as mesmas cadeiras, mas estão em turmas diferentes) envolvendo imagens impróprias no projetor.

Santana logo quer jogar Verdade ou Mentira, porque saímos justamente para isso. Esse jogo é o prato principal dos nossos encontros, apesar de sempre sermos verdadeiras uma com a outra o tempo todo. Mas é claro que ela o quer jogar, pois há duas novatas conosco. Então fica com ela a parte das perguntas indecentes. Surpreendentemente, Rachel lida com isso numa boa. Não dá pra ver se fica vermelha nas perguntas sobre sexo e afins, por conta da má iluminação, mas dá para constatar que ela está se divertindo.

No decorrer de duas horas, já contamos mais do que o permitido e já rimos além da conta. Sinto calor e meio tonta. Rachel é a mais sóbria de nós quatro, pois só tomou um copo da batida.

– Ok, acho melhor suspendermos as bebidas por um tempo – Rachel diz. Ela está soando como uma mamãezinha. Rio disso, esquecendo-me de tudo. O mais legal de ficar bêbada é que qualquer coisa parece hilária e você não precisa ficar explicando por que está rindo. Você simplesmente ri.

– Deixa disso! – eu exclamo.

Acho que quem paga a conta é a Rachel, mesmo que ela tenha sido a minha convidada da noite. Quando entendo, eu já estou no estacionamento rindo de alguma coisa que Brittany está me contando.

– Vocês vieram de carro? – Rachel pergunta para Santana. Santana somente ri da cara de Rachel – É sério, como vamos embora com vocês tão bêbadas?

– Não vamos! – eu respondo, me acabando de rir. Por que tudo parece legal?

– É... Vamos morar aqui... Dormir naquele sofazinho vermelho, ele parece tão aconchegante! – Brittany diz.

Rimos, exceto Rachel. Olho para ela.

– Ah, qual é! – eu exclamo, colocando meus braços ao redor dela – Ria um pouco também!

– Isso não é engraçado – ela me responde, se afastando de mim.

Eu acabo rindo, mesmo assim.

Tudo fica meio esquisito. Tenho vontade de dormir no meio do caminho, enquanto me encosto na Rachel. Estamos caminhando, eu acho. Estamos? É, estamos.

Santana e Brittany estão atrás de nós. Ouço suas vozes. Elas estão conversando aos berros, ou assim parece.

Leva muito tempo até encontrarmos a entrada da NYU e andarmos até os quartos. Na ala dos quartos ao Sul, Santana e Britt desaparecem, e eu e Rachel seguimos em frente. Ela abre a porta do nosso quarto, e eu desabo na cama. Minha cabeça parece vazia. Não: parece que há um pote inteiro de algodão lá dentro. É tão esquisito! Não sei se aprecio isso.

– Você quer dormir, ou tomar um banho?

– Ahn...? – eu resmungo.

Não vejo mais nada. Nem ouço.

Está tudo tão quieto, de repente...


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Notas finais do capítulo

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