Diamante de Gelo - Diamond Ice escrita por AliceCriis


Capítulo 8
Capítulo 8 - A conversa.




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Capt. 8 – A conversa.


 


 


 Ao entrar em seu carro, ela perguntou; - O que aconteceu? Não espera que eu acredite, que você está passando mal... – disse ela rudemente.


 - Eu preciso caçar... – apenas fechei a porta, e encarei meus sapatos.


 - Espero que me responda, Srtª. Encenação. – ela havia ligado o carro, e dava a ré.


 - Eu...iria...atacar um garoto... – Ela me olhou estupefata.


 - O que? – ela me fitava, e sua expressão não era agradável – Já fazem sete anos! Esperava que já tivesse superado isso! – Ela berrava. Ela achava que eu era surda?


 - Eu sei... sete longos anos. – murmurei, na tentativa de esquecer o assunto.


 - Julie! Faça o meu favor... – ela abaixava o tom, e balançava sua cabeça, em negação – o que tinha nesse garoto?


 - Algo, que faz os humanos, terem um cheiro péssimo... – continuava a encarar meus tênis molhados.


 - Isso é alguma brincadeira? – ela fitava-me, sem reação.


 - Não... eu peço desculpa por seu dia... – eu me sentia um monstro, e ao mesmo tempo, fraca.


 - Tudo bem... – ela disse, olhando para frente, sem emoção. Ela estava me levando, ao local, mais longe da cidade. Onde eu poderia saciar minha sede.


 Aquele destino, levava horas. Mais ela não se importou.


 Depois de sua última resposta, não houve mais conversas, mais eu gostaria de entender algumas coisas...


 - Alana... – iniciei, e continuei a encarar meus pés – por que...? – ela entenderia minha pergunta. Eu queria entender o porque de seu ódio – não que eu não soubesse – eu queria ouvir dela.


 Ela continuou olhando o para brisa, e me questionou ;


 - Por que o que? – ela fingiu de desentendida.


 - Esses sete anos... de tanto ódio por mim... – comecei. Sabia que depois, isso me faria soluçar muito... mais eu queria ter algumas certezas.


 - Eu não odeio você... – ela me olhou, sentindo remorso. O que ela queria me dizer? – eu... ME odeio.


 - O que? – eu estava confusa demais.


 - Sim... eu tenho ódio para comigo... – ela repetia, para ela mesma – você entenderia se estivesse em meu lugar... – ela sussurrava.


 - Pode tentar, me explicar, ao menos...? – fui calma e pacífica. Estávamos sendo transparentes.


 - Eu sou um MONSTRO... – ela  suspirava – e provei isso á mim mesma... – eu estava perplexa. O torpor, me deixava perdida em pensamentos, e ela me tirou deles ; - acontecem muitas coisas em sete anos, Ju... – os soluços, começaram a chegar á ela.


 - Não diga isso... – foi o que consegui dizer.


 - Julie...eu não quero que sofra, como está sofrendo... você tem sua maneira de sofrer. E não é a mais correta. Eu estou sofrendo desde... – ela fitou a estrada.


 - Desde...? – a incentivei a continuar.


 - Desde que eu tive, que dar a permissão... – ela soluçou e seu rosto se contorcia em dor.


 - Que permissão? – ela me deixava confusa. E cada vez mais.


 - Você não merecia estar passando por isso... – ela se negava a aceitar, o que eu ainda não compreendia – você está sofrendo todos esses anos, por minha culpa. Eu pensei em ser o melhor para ambos os lados... Mas, eu vi que estraguei sua vida. – Ela fitou-me, com um ar de culpa – Eu passei todos esses longos sete anos, tomando decisões erradas... como um verdadeiro monstro. E não sou digna de seu perdão, nem o de ninguém.


 Minha irmã, sofria. De uma maneira que eu não entendia. Mas eu sabia que isso também,  era culpa minha. Ela sofria por mim.


 - E... por que me tratou assim,  por todos esses anos? – eu tentei parecer composta.


 - Pensei... que se a mantivesse longe de mim... não a faria mais sofrer... mais á muito, o que eu ainda vou lhe contar, e você jamais me perdoará... E acreditará, que sou mesmo um monstro... – Sua voz, era misturada em sofrimento e dor. -  Eu não sei mais... o que devo fazer... – ela tentou se recompor, numa tentativa fracassada.


 - Eu não quero você longe de mim, Lana... – tentei ser o máximo convincente. Mas aquilo que eu dizia, não era mentira. – Eu nunca, nunca mesmo, te odiei...


 - Julie... você não sabe o que eu fiz... eu sou um monstro, Ju... – ela tinha uma agonia em seus olhos, que era indescritível.


 - Então. Me fale! O que você fez? – perguntei séria, fazendo algumas pausas.


 - Eu...não posso... contar á você... – ela se torturava.


 - E qual é o motivo? – retruquei.


- Preciso de mais algum tempo... – dizia ela – eu não quero perder você agora... – ela se auto-flagelava, assim como eu fazia nos meus primeiros anos de recém criada.


 - Lana... eu nunca lhe odiei, eu nunca quis me afastar de você... você não consegui realizar seus planos... – sorri sem humor.


 - Ju... se eu continuar perto de você... mais vou magoa-la... – ela cessava suas lágrimas.


 - Você está me machucando... me mantendo longe de você... – peguei em minha bolsa. O bilhete, que meus pais haviam nos deixado. Aproveitei, e peguei uma caneta e um caderno.


 Abri o bilhete – já gasto, de sete anos de companheirismo – apoiei-o em cima do caderno, e rabisquei algumas palavras;


Alana Katie Wants, eu sei, e tenho total certeza, de que hoje, eu sou sua única família. E sei que dentre todo seu ódio aparente, existia uma razão muito nobre, através dela. Jamais esqueça de sua felicidade, eu já abri mão da minha... não faça o mesmo. Você tem a chance ao seu lado. Não importa o que faça ou o que fez. Eu sempre vou estar com você. E te apoiar á qualquer decisão que você tomar. Você sempre teve as melhores intenções para comigo. E eu sempre falhei muito com você. Peço meus sinceros votos de perdão. E lhe dedico meu amor.


 


Alana. Eu amo você. E jamais nada vai mudar isso.


 


Julie Wants.


 


E assim finalizei o bilhete. Eu nunca havia o mostrado á ela. Até hoje, não vi motivos para isso. Mais ele agora seria dela.


 - O que é isso? – perguntou ela, olhando para o bilhete que a alcançava.


 - É uma...carta. A ultima vez que entrei em nossa casa, havia um bilhete em cima da bancada... Nós já estávamos mortas. E decidi leva-lo para mim. Eu sentia dor ao lê-lo, mais... é a única coisa que tenho deles... e agora é seu. – continuei segurando em sua direção. Seus soluços e choros, se intensificaram.


 - Não... eu não posso... não posso aceitar... – ela chorava mais, e olhava á sua frente. – Eu... não mereço isso.


 - Lana... por favor. Aceite. – eu continuava calma – Eu prometo, ficar á seu lado... nem que seja á sua escolha. – Eu diminuía meu tom de voz.


 - Julie, eu nunca te odiei. Eu sempre fiz de tudo, para conseguir, parecer te odiar... – seus soluços estavam finalizando – Eu adoraria, ter você por perto... mais, não posso aceitar isso... – ela empurrou minha mão.


 - Ah... Lana. Não seja boba...  Fique. Eu não quero de volta. Isso me faz sofrer... e eu quero que tenha algo que lembre deles. – Sorri, e guardei no bolso de sua jaqueta.


 - Tudo bem... – ela sorriu, e afagou meu rosto, sem tirar os olhos dele.


 - Lana... – chamei.


 - Hmm? – perguntou ela, atenciosa.


 - Você não percebia? – perguntei curiosa, ela saberia do que eu falava.


 - Sobre...? – ela incentivou que eu desse alguma pista.


 - Tudo o que você fazia... me fazia sofrer mais, e se não é isso que você quer... poderia me deixar escolher, não é? – Eu estava querendo entender, seu ponto de vista.


 - Eu sempre achei, que sabia o que é melhor para você... mais todos esse tempo... – ela parou por alguns segundos, preparando uma resposta – tomei minha próprias decisões... que sempre lhe causaram dor.


 Ela se sentia culpada. Eu assenti. E mergulhei em meus devaneios.


 - Julie... – ela me chamou – posso lhe perguntar uma coisa? – seus olhos de topázio, encaravam o asfalto.


 - Claro, Lana... qualquer coisa. – respondi prontamente.


 - Você... sofre todos esses anos por que? – ela direcionou seu olhar á mim.


 - Você não percebe, Lana? – eu fiquei pasma – Eu... eu...


EU quase cheguei a estragar a vida de uma família, eu arruinei a sua, e a de papai e mamãe! – eu gritava ao final.


 - Você acha que a culpa é sua? – ela ria.


 - E não é? – perguntei ironicamente.


 - Você é uma comédia, Ju... – ela ria, com despreocupação – eu, fui um mero acaso, e fui recompensada com Cristopher, e... você sabe que foi Elisabeth... – eu a interrompi.


 - Esqueça... eu sei de tudo. Eu sei, que ela não previa meus futuros pensamentos. Eu sei que ela veria Eliot, em algum de vocês... – Eu fitei-a com seriedade – mas... ela só buscou sua felicidade. E eu não posso cobrá-la por isto.


 Sorri tranquilamente, voltando minha visão para a estrada.


 - Ju... você não existe. – disse ela sorrindo.


 - Lana, então tudo bem, se formos irmãs normais novamente? – perguntei temerosa.


 - Enquanto você não me odeie... estaremos juntas. Jamais vou lhe tratar assim de novo.


 Aquelas palavras, eram como uma forte anestesia para a dor, ou melhor, eram a cura.


 - Pense bem, Lana... – eu olhava para o teto da BMW, prata.


 - Em que? – perguntou distraída.


 - Se não houvéssemos tido essa conversa... – eu sorria. Era um bom modo de trazer felicidade em minha vida. Saber que minha irmã de sangue, não me odiava.


 - É...é muito bom... – concordou com uma expressão séria.


 - O que foi? – sua expressão havia mudado muito.


 - O garoto...que você iria atacar... – ela murmurou.


 - O que tem ele? – ela me deixava perdida.


 - Ele tem um cheiro melhor do que os outros humanos, não é? – ela me fitava, com o canto do olho.


  - Ele desperta meu pior lado... – eu murmurei, encarando meus pés.


 - Agora, estamos quase chegando... Casse mais do que precisa, ok? – ela se preocupava comigo. Isso me deixava mais feliz.


 - Tudo bem... vai comigo? – eu estava muito animada.


 - Claro... quero compensar sete anos... – ela riu.


 - Mais eu vou ficar com os ursos brancos... – fui avisando.


 - Com quem acha que estava falando tampinha? – perguntou ela, gargalhando.


 - Com uma garota, que é três centímetros mais alta que você... – zombei.


 - Vai sonhando... pode ficar com os ursos brancos, mais os negros, são meus. – Ela sorriu, diabolicamente.


 - Ok. – disse sem emoção.


 


  As horas passavam, e a caçada estava no fim. Limpei minha boca, com o braço e pensei, em ir. Foi o que fiz;


 Alana, se juntou á mim em minha corrida de volta ao carro, aparecendo do nada.


 - De onde você veio? – perguntei estupefata.


 - Eu estava caçando e acabei, vim apostar uma corrida topa? – ela disse diabolicamente.


 - Ok. – em mais delongas, soltei minhas pernas, para que fossem livres. E me deixei levar por meus instintos.


 


 Foi uma corrida acirrada, mais Alana chegou primeiro.


 - Você é rápida. – disse emburrada.


 - Não seja uma má perdedora... – disse ela, caminhando em direção á porta do motorista.


 - Ok. Você é rápida, e eu vou praticar mais. – disse abrindo á porta.


 - Assim é que se fala... – disse ela, animada, se posicionando para dirigir.


 - Oh meus deus. – disse ficando tonta.


 - O que há com você Ju? – Alana, estava ficando preocupada.


 - Vampiros podem ficar enjoados? – perguntei fechando os olhos com força.


 - Acho possível... você está verde! – disse minha irmã, surpresa.


 - Ah, obrigada. Muito animador. – disse sarcasticamente.


 - Ju... o que você comeu... ou melhor, bebeu? – ela fitava-me sem se preocupar com o asfalto.


 - Eu bebi muito mais que o necessário... – abri os olhos, e vi seu rosto retorcido em preocupação.


 - Porque fez isso? – ela me olhava com descrença.


 - Pelo meu auto-controle... – berrei - Ah, é. – ela voltou sua visão para a frente e comentou – seus olhos estão quase amarelos...


 Abri o espelho, que havia debaixo de um para-sol. Meus olhos nunca haviam ficado tão claros.


 - Pare o carro... – implorei, em uma voz quase inaudível.


 - O que vai fazer? – pediu, enquanto estacionava na beira da estrada.


 - Eu vou correndo... eu chego lá, mais rápido que de carro... e não vou passar mal. – ela me olhou... e assentiu.


 Saí do carro, e me lancei mata adentro.


 


Eu tive de subir em uma árvore e olhar para a copa. Meus olhos, e meu corpo, estavam tontos. Eu não podia correr, nem de carro, nem como vampira.


Eu não fazia a idéia que horas eram, mais eu decidi ir caminhando. O sol, que fazia sombra sobre mim...


desapareceu, em minha singela velocidade humana.


Minha cisma de perseguição, começou. Pequenos barulhos vinham das árvores, e aquilo me dará pânico.


O cheiro, que sentia pelo jovem, me castigava aqui também... eu estava muito ligada á aquela situação. Podia sentir seus cheiro... mais era apenas minha imaginação.


Meu estômago, que em sete anos, nunca recusaram nem uma gota de sangue, me faziam querer ter enjôo.


Minha volta para casa, não foi nada agradável. Minha tontura, não ajudou em nada.


 Estava decidida á correr, mais o meu mal estar, não me permitia, a sensação de estar sendo perseguida começou á me assombrar. O sol que, fazia o topo do céu, agora estava se escondendo. Minha velocidade humana, não era boa nessas horas.


 Decidi, fechar os olhos, e correr. Deixar meu lado vampira crescer.


Me larguei á correr, floresta á dentro, cada vez mais. Em busca de minha casa.


Em poucos minutos, sentia o cheiro e ouvia as vozes de meus familiares. Abri os olhos, e lutei a não cair ao chão. Eu estava localizada, atrás de minha casa, em frente a janela de meu quarto. Dei um solto, típico, como já era de meu costume, mais não houve o esperado.


 Caí em frente á janela, e ouvi minha família vindo me socorrer.


 - Julie! – gritava Isabell, exasperada.


 - Mãe? – murmurei com  a voz fraca.


 - Robert, venha com o medicamento! – gritou ela.


 - Já está aqui. – disse ele, correndo em minha direção – vou aplicar agora....


 Senti uma picada, em meu braço e a dormência me tomava. Logo, algo que eu não sentia á muito tempo, veio e adormeci.


 Aos poucos fui acordando, em minha cama, com a sensação de enjôo, já não estando presente. O que havia acontecido? Eu havia ficado inconsciente? Isso era realmente impossível.


 


 


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