The Moon Over Me escrita por _TheDarkMoon


Capítulo 7
Caverna do Bom Marujo


Notas iniciais do capítulo

Capítulo mais curtinho para matar as saudades. :')



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O que acontece no Jolly Roger e a luta entre Peter Pan e Hook é uma luta memorável que creio que todos devem conhecer. De qualquer forma, é sabido que Peter acaba por vencê-lo e toma seu navio, deixando os piratas sobreviventes em barcos, que passam a se esconder na Caverna da Caveira.

Já Ariel acordou em outra caverna. Havia goteiras cuja água parecia pequenos cristais de tão belos e algumas pedras brilhantes na parede, além de uma leve luz azulada que ela não sabia de onde vinha. Apesar da beleza do lugar, estava assustada e não conseguia se lembrar de nada depois que Úrsula puxou-a para o mar. Era uma sereia novamente. E, além disso, sentia-se estranhamente culpada. Olhou seu reflexo na água.

Arquejou de sobressalto. Seu rosto estava todo sujo de sangue, especialmente na região da boca. Começou a se lavar enquanto sentia sua mente pulsar.

– Sabia que você ia acordar quando eu não estivesse aqui. – uma sereia de cabelos tão negros que eram quase azuis apareceu. Ela usava um arco de cabelo feito de corais e tinha um rosto simpático. – Por que está tão assustada?

Ariel recuou e pensou nos gestos que faria para fazê-la compreender o que pensava quando se lembrou de que sua voz retornara. E aquilo nem ao menos tornava as coisas melhores.

– O que aconteceu? Por que havia isso no meu rosto?!

– Sabia que você não era daqui. – ela sorriu.

– Você sabe demais e não me explica nada! – Ariel se esforçava para tentar se acalmar, o que era uma tarefa muito difícil diante dos últimos acontecimentos.

– Vamos tentar ir com calma, começando pelas informações básicas, tudo bem? Meu nome é Anastasya. E seu nome? Qual é?

– Ariel.

– Certo. Venho te observando faz um tempo. Fica claro que não é de Neverland embora, no momento, tenha as características de uma sereia daqui. Com certeza não é das Ilhas Misteriosas muito menos das Nevoentas, como o Triângulo e...

– Você também sabe das outras? – Ariel perguntou, satisfeita por encontrar alguém que, assim como ela, desbravou os portais.

– Uma curiosa também! Sabia que seria lucrativo te observar um pouco.

– Esteve me observando?!

– Não é como se você não tivesse observado ninguém antes, e... Você é de Atlântida! É claro! Agora tudo faz sentido! É a princesa!

– Não mais. Pertenço a esse lugar agora... Ainda estamos em Neverland?

– Sim. Caverna do Bom Marujo. Tão esquecida quanto os de bom coração que a corrente de Neverland leva. Digo, literalmente. Quando alguém cai nas águas de Neverland e tem bom coração, as águas o trazem em segurança até aqui. Há exceções, mas...

– O que está falando? Eu só quero saber o que aconteceu! – Ariel gostava da moça e da forma como ela quase a fazia esquecer-se de sua condição, mas queria saber o quão terrível a noite anterior havia sido.

– Certo... Não vai ser muito fácil ouvir isso, mas você precisa saber lidar com isso. Bem, você é uma sereia de Neverland agora, o que quer dizer que nas noites de lua cheia, a sua racionalidade se esvai e você volta à primitividade de um animal. Isso quer dizer que você se torna tão terrível quando uma sereia das Ilhas Misteriosas com fome.

– Quer dizer que eu...

– Sim, você provavelmente matou um homem na noite passada. – ela fez uma pausa e lançou um olhar preparando-a para pior. – E o comeu também.

Ariel sentiu o estômago revirar e inclinou o corpo para a água, querendo intensamente expelir aquilo.

– Não faça isso! – Anastasya interrompeu-a. – Se fizer, esta noite seu corpo vai pedir por mais carne. Espere um pouco, vou buscar um digestivo.

A moça mergulhou, enquanto Ariel perdeu seu olhar em seu próprio reflexo. Ela não se lembrava de nada, mas sabia que era verdade, seus olhos diziam. Em um momento tudo parecia encaminhado para o beijo do verdadeiro amor, e no outro se transformara em monstro.

Sem deixar que refletisse mais sobre o assunto, Anastasya voltara com um líquido branco. Sorria como uma menina mostrando um brinquedo novo. Anastasya estava feliz por, aparentemente, ter uma amiga. Ariel até estaria, se não estivesse tão devastada. Ao reparar nos olhinhos cheios de lágrimas da outra, Anastasya desfez seu sorriso e saltou para a superfície, sentando-se ao lado da sereia de Atlântida.

– Não chore. Não foi você que fez aquela atrocidade. Não foi você. E se isso lhe fizer melhor, pense que o corpo também não foi o mesmo. Você estava apenas adormecida. Tudo bem?

Ariel assentiu e encostou a cabeça no ombro da outra. Anastasya lhe deu a poção e a pequena sereia tomou-a, sem hesitar. Não tinha muito a perder. A princípio, o líquido parecia aderir às suas mucosas, mas logo que escorreu, teve efeito imediato. Agradeceu à sereia de olhos escuros e perguntou:

– Onde o conseguiu?

– Eu o fiz. Trabalhei para a Bruxa do Mar por tempo suficiente para aprender tudo o que pude e depois provocar um “acidente” bom o suficiente para ela me expulsar. Depois viajei pelos portais interoceânicos e descobri outras coisas também.

– Parece que a Bruxa do Mar é você.

– Feiticeira do Mar soa melhor para mim. – ela sorriu de leve.

– Você não é daqui também, é? Não parece com as outras.

– Infelizmente sou. Minha mãe é que não era. E justamente por isso, ela me mostrou os outros universos fora daqui e me ensinou a me controlar nas noites de lua cheia.

– Você pode fazê-lo?

– Sim. E você também.

– Posso? – Ariel se encheu com um pouco de esperança;

– Eu posso lhe ensinar.

– Seria maravilhoso! – a moça quase se empolgou demais, até lembrar-se de um pequeno detalhe. Ficou séria novamente: - Qual é o preço?

– A magia tem um preço. A boa ação não.

– E você quer que eu acredite que alguém ainda vai me dedicar alguma boa ação sem preço?

– Sou sua melhor opção no momento.

Ariel olhou para a Caverna do Bom Marujo ao seu redor e concluiu que se Anastasya também estava ali, poderia confiar nela. De fato, não tinha outra opção.

– Eu agradeço. – Ariel disse, fazendo a outra sorrir.

– Ótimo. Temos sete primeiras luas para praticar. Vamos começar imediatamente.

– Como?

– Antes de tudo concentração. Você precisa saber se concentrar para que você se lembre de quem é, para que sua racionalidade continue caracterizando sua parte humana e para que você continue exercendo domínio sobre sua própria vida. Seus impulsos não podem lhe dominar.

– E como eu faço isso?

– Encontre-se. Ache seu eu da Terra. Ache seu eu do Mar. Feche seus olhos, sinta os ambientes, diferencie-os e assemelhe-os, procure-se neles. Depois mergulhe em si.

Parecia lindo de se ouvir. Mas não fazia muito sentido a princípio. Ariel não perdeu tempo, porém, e logo começou. Ela não tinha muita noção de tempo dentro da caverna, mas depois do que pareciam horas, já não aguentava mais toda aquela concentração que lhe deixava tensa. Resolveu então relaxar, e foi aí que a concentração almejada lhe alcançou.

Anastasya apareceu depois de muito tempo com uma nova poção verde clara e brilhante.

– Parece que fez muito bem, mas está só começando, não basta para controlar-se ainda. Beba, isso vai lhe acalmar o corpo. A primeira lua está chegando.

Sem perder tempo, bebeu o líquido que lhe pareceu tão refrescante que quase queimava. E então esperou.

****

– Ariel? – a voz de Anastasya ressoou na cabeça da pequena sereia. Com o tempo ficou mais clara.

Estava na Caverna do Bom Marujo novamente. Olhou para seu reflexo na água e viu algumas cenas da noite anterior. Viu um portal, e terras que não pertenciam a Neverland. Viu barcos naufragados e uma silhueta masculina. Não se lembrava muito bem, mas sabia que era belo e...

– Não se lembre de tudo, pare. – Anastasya tocou-lhe o ombro, chamando-lhe a atenção. – Continue praticando e logo poderá se lembrar de tudo. Mas o ideal é que pare de atacá-los antes de ver todas as imagens claramente em sua cabeça. É horrível demais...

– O que faremos hoje?

– Além de continuar a concentração, vamos focar na parte de autocontrole...

E assim pelos seis dias restantes, Anastasya forneceu-lhe poções, ensinamentos, ajuda e tudo o que podia. Ariel avançava muito rapidamente, mas ainda lhe parecia muito difícil. Porém, no final do último dia de lua cheia do período, o maior avanço de Ariel foi conseguir passar parte da noite encarando sua figura sinistra no espelho.

Entretanto, durante todo o período entre as luas cheias, as duas continuaram a se empenhar. E todo aquele esforço, fizera com que Ariel ficasse ocupada o suficiente para não pensar em Hook. Ocupada o suficiente para fazer por si. Ocupada o suficiente para finalmente não se sentir sozinha por ter uma amiga.

Quando a nova primeira lua cheia chegou, Ariel estava pronta. Sentia que não mais precisava de poções. Arriscou-se.

Ariel e Anastasya saíram da Caverna do Bom Marujo e nadaram até as proximidades da Lagoa das Sereias. A primeira lua cheia apareceu. Seu brilho tocou-lhe a pele e tingiu-a de um azul acinzentado. Pegou o espelho com os dedos já longos e as garras em crescimento. Olhou-se, concentrada. Os olhos eram puro negro, mas havia um brilho racional no fundo. Um brilho próprio de um ser de bom coração apesar de tudo. Não era tão horrenda assim afinal.

Abaixou o espelho e olhou para Anastasya. Seu cabelo escuro grudava-se ao pescoço com o peso da água. Sua pele era quase da mesma cor que a da outra sereia, e ela sorria com os dentes afiados, mas com tamanho controlado. Os olhos tinham o brilho próprio dela. Estavam dentro de si.

– Tudo bem? – Anastasya perguntou.

– Tudo bem. – Ariel sorriu levemente.

Viram as outras sereias rosnarem umas para as outras e entrarem em portais, sem estarem conscientes disso. Aquilo era um tanto humilhante para elas, já que não sabiam nem da existência dos portais quando estavam conscientes de si.

Ariel e Anastasya também viajaram por diversos universos, até que enfim voltaram para Neverland e viram a primeira lua sumir no horizonte, devolvendo-lhe as faces habituais.

– Temos que comemorar isso! – Anastasya disse.

– Sei bem como faremos.

– Como?

– Iremos à Caverna da Caveira.


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Notas finais do capítulo

O próximo capítulo deve vir lá por julho quando as férias chegarem e tudo mais. Desculpem-me pela longa espera.



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