The Moon Over Me escrita por _TheDarkMoon


Capítulo 6
A Fúria


Notas iniciais do capítulo

Demorei sim, desculpe. E confesso que esse capítulo só saiu porque estou de férias. Os próximos podem demorar mas hão de vir porque eu amo essa história demais.



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Vanessa possuía uma voz incrível. Seus cabelos escuros e olhos grandes o haviam cativado assim que seus olhos avistaram o brilho que seu colar emitia. Tinha a fisionomia bem parecida com o que se lembrava da moça que o salvara, mas o que o fizera ter completa certeza fora sua voz. Tudo estava indo de vento em popa, e se seus planos dessem certo, dominaria a ilha e, para marcar a data, casar-se-ia com Vanessa.

Quando foi de encontro à moça, a noite apenas começara. Descera do navio e remara até a praia, onde esta se mostrou solícita e aceitou seu convite para conhecer o navio. Agia de forma quase apaixonada e Hook ficou ainda mais satisfeito e motivado. Ordenou que metade dos piratas buscasse o trunfo imediatamente, enquanto a outra metade começava a arrumar o navio para o matrimônio.

Juntos, Hook e Vanessa pareciam se divertir diante da perspectiva de casamento. Parecia-lhe algo óbvio, predestinado. Ele tentava dialogar com aela, porém em fracasso diante de sua beleza e da hipnose que seu colar lhe causava. Mas tal efeito em breve passou quando Smee chegou com o que pedira enrolado em veludo vermelho.

O Capitão ergueu-se com os olhos faiscando de emoção, aproximou o ouvido de seu “presente” e ouviu o tilintar. Seu sorriso se abriu e ele disse para ela:

– Depois que eu usá-lo devidamente, será seu.

Vanessa deu um enorme sorriso e o homem beijou a mão delicada da mulher. Ordenou que Smee a acompanhasse e fizesse sentir confortável, enquanto terminava de resolver seus planos. Foi para seus aposentos e trancou-se, jogando a fonte de seu futuro sucesso em cima da mesa. Retirou o tecido e analisou a fada dentro do frasco.

Para sua surpresa, ouviu um arquejar. Som de surpresa digno de uma moça.

– Dill, você está aí. – olhou para a ruiva e percebeu o quanto não fazia mais sentido mantê-la ali, já que ela era o plano B e o plano anterior tinha todas as chances de dar certo. Ainda assim, não queria largá-la de qualquer forma e não entendia o porquê disso. – Espero que não se importe, mas esta noite você ficará nos aposentos de Smee. Mas não se preocupe porque este ficará junto com os outros piratas, o quarto será todo seu.

Ariel assentiu com um belo sorriso, ainda lembrando-se dos maravilhosos momentos que tivera durante o dia. Ainda assim, não compreendia por que o navio parecia tão agitado esta noite, por que deveria mudar de aposento e por que ele trouxera uma fada consigo.

– Uma beleza, não é mesmo? – Hook eu um peteleco no vidro, fazendo a fada que esperneava cair. – Espero que você a faça se comportar, Dill. Divirta-se.

E sem lançar-lhe ao menos um olhar de compaixão ou um sorriso, abandonou-lhe com a fada. Ela não compreendia por que de alguma forma as coisas pareciam diferentes. Mas gostava de pensar que ele planejava algo bom para ela. Gostava de pensar que aquela fadinha era uma demonstração de afeto.

Mas quando olhou bem para a criaturinha sentiu-se extremamente culpada por ter ficado contente em pensar que poderia ser um agrado. Era um ser vivo e não era presente nenhum mantê-la em cárcere. Aproximou-se, e seus olhos tristes encararam a pequena. Ela brilhava em dourado e suas asas rutilavam tão rápido que quase não conseguia vê-las. Seus cabelos eram quase tão dourados quanto seu brilho e estava enrolada em uma folhinha. Era tão adorável e bela que Ariel teve vontade de chorar.

Dicotomicamente, a fada estava furiosa e se debatia dentro do pote tentando se libertar a todo custo. Sentia raiva de Peter Pan por renegá-la por uma humana tão boba quanto Wendy e raiva de Hook por prendê-la. Mas aos poucos, começava a se cansar e a frustração começava a tomar o lugar da raiva. Por fim, a tristeza também se sobressaiu à frustração. Fadas são tão pequenas que só têm espaço para apenas um sentimento por vez, e é isso que as faz tão poderosas e perigosas.

Sininho finalmente viu os grandes olhos de Ariel. Pareciam tão tristes quanto ela mesma se sentia.

– Me deixe sair. – choramingou a fada, mas Ariel só ouviu um tilintar que não pôde discernir. – Me deixe sair. – ela insistiu e o resultado foi o mesmo.

Ariel não compreendia o idioma da fada, mas compreendia seus sentimentos. “Não posso” balbuciou sem nem ao menos um som. Então, Sininho compreendeu que ela não podia falar, mas que, de alguma forma, a entendia. “Acho que também estou presa” seus lábios se moveram.

A fada começou a chorar. As duas compartilhavam tristezas mais antigas do que imaginavam. Tudo vinha à tona, até mesmo o que já tinham esquecido. Àqueles que omitem suas mágoas talvez possam entender, mas não desejo que entendam.

– Eu quero ir pra casa. – tilintou.

E Ariel não pôde mais se conter, pegou a chave e abriu a portinhola do pote. A fada levantou a cabeça devagarzinho para ver o que havia sido o barulho, e ao perceber, sem pensar duas vezes, voou tentando achar uma porta ou uma janela aberta, sem resultado. Então, percebeu que, de fato, a jovem que a libertara também estava presa. Então, sentiu algo que poucas vezes sentira pelas pessoas: carinho. Voara até o rosto da moça e lhe afagou, depositando-lhe por fim um beijo. Uma lágrima rolou pelo rosto de Ariel, que sorriu. Poucos no mundo podem dizer que já receberam o beijo de uma fada.

“Espere e vá”, balbuciou por fim, ouvindo os passos do pirata que voltava a destrancar seu próprio quarto em busca da fada. Quando se deu conta que um brilho serelepe passara-lhe do lado do rosto rumo ao exterior do navio, a fúria se apossou do Capitão.

– Você! – sua voz grave e amedrontadora parecer perpassar por toda a ilha. – Sempre soube que não poderia confiar em você! – sacudiu-lhe lançou-lhe contra a parede. Seus olhos tinham as íris rubras e as veias de seu pescoço saltavam. – Maldito o dia em que lhe pus neste navio! – pressionou o ouro gelado de seu gancho na garganta da moça. – Só não lhe mato agora mesmo porque ainda é uma moça, embora tenha a honra de uma serpente.

Pegou-lhe pelo braço e arrastou-lhe para fora do quarto, humilhando-a por todo o convés. O rosto de Ariel estava vermelho e encharcado de lágrimas. Ela não sabia se sentia mais inconsolável pela forma como estava sendo tratada ou pela moça de vestido de noiva. A rapidez dos acontecimentos lhe deixava nervosa e seu coração parecia quase engasgá-la.

– Leve esta cobra para longe! – jogou-a no barco que estava suspenso no navio. Um pirata alto e forte entrara na pequena embarcação e os outros, rindo e caçoando, desciam as cordas, levando-os para o mar. – Não quero vê-la nunca mais. – e virou-lhe as costas.

A mulher de branco olhava para ela com sorriso desdenhoso. Não conseguia vê-la claramente, mas tinha os cabelos escuros e olhos malvados, seu vestido era magnífico, mas não era nada aproximado ao seu belo colar de concha. Ariel não queria vê-la.

Olhou para o mar e viu seu próprio reflexo triste, bateu na superfície para desfazer sua imagem decadente. Teve vontade de pular na água e ir para a dimensão mais distante possível, mas sabia que se afogaria sem sua cauda e sistema respiratório usual. Nunca se sentira pior em toda a sua vida.

– Não chore. – o pirata disse enquanto remava para a praia. – Não desperdice sua energia chorando. Apenas se esgoele até morrer.

Ariel sentiu uma fúria desconhecida, e teve uma intensa ânsia de saltar no pescoço do homem e desfazê-lo sob seus dentes. Entretanto, quando viu as enormes garras que suas unhas haviam se tornado, assustou-se. Estava se tornando uma sereia de Neverland antes mesmo de o pôr do sol chegar. O lado que mais queria evitar tornava-se evidente diante da raiva. Controlou-se o máximo que pôde, e logo suas unhas voltaram ao seu devido tamanho, mas seu coração parecia maior do que o normal, sufocando-a.

Por fim, o homem jogou-a na praia e, divertindo-se, encaminhou seu barco de volta ao imponente navio, o Jolly Roger.

Ariel suspirou profundamente e secou suas lágrimas. Já havia terminado, não havia mais porque se lamentar. Caminhou floresta adentro tentando aproveitar os pés que ainda tinha. Porém, logo uma pequena figura esbarrou-lhe. Wendy.

– Ariel, você está viva! – abraçou-lhe. – Ah, que bom que está aqui! Desde que me salvou, eu não lhe vejo. Desculpe por Peter, ele estava preocupado e se antecipou. Eu sinto muito mesmo! Oh! Você tem pernas! Como as conseguiu?! Foi a Bruxa do Mar? – a moça assentiu e Wendy finalmente viu os vestígios de lágrimas em seu rosto e os olhos avermelhados. – O que aconteceu? Por que estava chorando?

Ela abriu os lábios e som algum saiu, então pôs as mãos na garganta indicando sua condição.

– Trocou sua voz por pernas? Por quanto tempo? – Ariel fez três com os dedos e a menina entendeu. – E está chorando por isso?

Ariel pegou um graveto e sentou-se no chão, desenhando no solo uma sereia ao lado de uma moça, que indicava sua transformação. Depois desenhou um homem ao seu lado e um coração entre eles.

– Ela te transformou em humana e você deve amar alguém... – a menina deduziu. Ariel fez um x sobre o coração e desenhou outra sereia, dessa vez mais monstruosa. – Se não você vira isso? – havia uma surpresa triste na voz de Wendy. Ariel assentiu. – Você o encontrou? – diante de resposta afirmativa, continuou. – Então por que está triste?

A moça pegou novamente o graveto e desenhou três pessoas, sendo um homem e uma mulher juntos e outra moça sozinha.

– Eu não sei nem o que dizer... – Wendy colocou suas mãos sobre a boca, comovida. Abraçou-a fortemente e, segurando suas mãos, disse: - Por que não vamos para o esconderijo dos meninos? Lá eu posso te fazer um chá e podemos conversar da melhor maneira possível.

Mas Ariel também notou que a menina também não estava completamente bem e tocou seu ombro, lançando-lhe um olhar de dúvida.

– Não é nada. – ela continuou a guiar-lhe. – É só que Peter e eu tivemos uma briga. Ele quer tudo do jeito dele, nunca está satisfeito. Ele age como uma... Ora, como uma criança. E é o que ele é. – Wendy refletia alto. – Eu disse a ele que ia para casa. E disse que levaria os meninos também. Você devia vir conosco. Mas essa briga não é importante... Tudo vai ficar bem agora.

Quando chegaram a um ambiente circular rodeado de árvores e estranhamente camuflado, Wendy disse:

– Eu tenho minha própria árvore, mas tenho certeza de que você pode entrar pela árvore do Magrelo, digamos que é uma árvore mais larga. – ela deu uma risadinha e escorregando pelos troncos, elas entraram.

Havia inúmeros meninos vestidos em peles encardidas correndo de um lado para o outro, atacando-se com coisas e gritando.

– Ora, mas eu saio por um segundo e este lugar vira uma bagunça. Sosseguem já! – Wendy colocara as mãos na cintura e fez uma expressão séria, o que fez com que todos eles parassem e se colocassem um ao lado do outro. Seria uma boa mãe, Ariel não tinha dúvidas. – Quero que conheçam sua irmã Ariel. Ela está com problemas na garganta e não quero que a encham de perguntas, entenderam?

Os meninos assentiram e logo vieram correndo, pegar-lhe pela mão e colocarem-na sentada em bancos de couro improvisados. No total eram seis, embora parecessem ser cem. Apresentaram-se prontamente: Magrelo, Bico, Caracol, Gêmeos e Firula. E logo começaram a fazer perguntas.

– Você é muito bonita! Por que seu cabelo é tão vermelho? – o primeiro Gêmeo perguntou.

– De onde você veio? Peter te trouxe? –Bico disse.

– Por que seus olhos são tão grandes e azuis? – foi a vez do segundo Gêmeo

– Por que não pode falar? Ficou brincando com o sereno? Wendy não gosta que brinquemos com o sereno... – Magrelo questionou.

– Por que é maior que a nossa mamãe se é nossa irmã? – Caracol insistiu.

– Você é muito bonita pra ser gente e é grande demais para ser uma fada e boazinha demais para ser uma sereia... Você é bicho? – Firula terminou.

– Basta, meninos. O que foi que acabei de falar? – Wendy interrompeu.

– Ora, Wendy, não seja bobona. – um menino pequeno muito parecido com Wendy, mas com cabelos muito lisos, cruzou os braços.

– Eles estão apenas curiosos. – um maior ajeitou os óculos.

– Miguel e João, não me contradigam. Ariel precisa de um pouco de chá, por que não buscam um pouco de água fresca da fonte para podermos fazer para ela? – e sem pesar duas vezes, todos eles correra para suas árvores e escalaram para fora.

Ariel percorreu o local com os olhos e viu que era a bagunça mais aconchegante que já visitara. Por fim, vira um espaço que parecia uma pequena caverna dentro do local, coberto por uma grande folha. Provavelmente o quarto de Peter. Não se enganara, pois logo em seguida Wendy murmurou:

– Está emburrado, não quer nem me ver. – apoiou o rostinho nas mãos e suas bochechas ressaltaram, assemelhando-se a um anjinho. Ariel abraçou-a e como consolo fez-lhe uma bela trança no cabelo, decorando-a com algumas pétalas de flores e folhas que achava pela casa. A menina animou-se ao ver o quão bonita ficara. Agradeceu o gesto e teve uma percepção. – Os meninos estão demorando demais para apenas buscar água. A fonte não é tão longe assim... Talvez devamos ir ver.

Entretanto, antes de ir, Wendy preparou uma pequena bebida com água que pingava por um tronco, deixando-a cair em um lírio. Era um remédio para Peter. Ele reconheceria e tomaria se não fosse afinal tão teimoso.

E escalaram o tronco de volta, o que foi mais fácil do que Ariel pensou que seria. Parecia que a árvore as ajudava. Entretanto, assim que chegaram ao topo foram surpreendidas por mãos rudes que as silenciaram. Os piratas as haviam seguido. Colocaram-lhe mordaças e o próprio Hook sorria para ela.

– Eu sempre soube que não podia confiar em você. Mas sempre soube que devia usar você. – apertou o rosto de Ariel e sorriu maliciosamente. – Agora a parte final do plano.

Ele pegou um pequeno frasco com um líquido vermelho. De um vermelho de igual tonalidade às suas íris quando se enraivecia. Entrou então pela árvore de Magrelo e viu algo que parecia até mesmo que Wendy imaginara o quanto precisaria daquilo: uma água dentro de um lírio. Era um presente para ninguém mais e ninguém menos do que Peter Pan. E como ele tinha tanto apreço pela menina, obviamente beberia. Depositou o veneno mortal no líquido, e, silenciosamente, se retirou.

Seguiu à frente de todos e voltaram para o navio, levando todos em diferentes barcos para o grandioso Jolly Roger. Os piratas que ainda estavam lá faziam música e assim que viram os outros se aproximaram, comemoraram intensamente. Prenderam Wendy e os meninos em um mastro e Ariel em outro. Hook puxou sua espada e anunciou:

– Hoje é um grande dia! – urras vieram de toda a parte. – Graças à Bucaneira Dill pegamos todos esses pequenos demônios da horda. – e tirou a mordaça da moça. – Por que não nos dá uma palavra, Dill? – disse fazendo todos se derramarem em gargalhadas. – É uma dama de poucas palavras. E pouco cérebro também. Sinto-lhe em informar mas não faço ideia de quem seja Eric. Meu nome é Capitão James Hook. Espero que não esqueça. As mulheres nunca esquecem. – e virou-lhe as costas. - E quanto às queridas crianças? Quais são suas últimas palavras?

E assim que tiraram suas mordaças choros e gritos começaram a ecoar. “Eu quero minha mãe”, “Juro que viro um pirata se não me ferirem”, “Eu quero ir para casa” são alguns exemplos de suas frases desesperadas. A única em pleno silêncio, com seu nariz levantado e postura perfeita era Wendy.

– Vejo que a menina não vai suplicar.

“Deixe ela”, “Não machuque nossa mãe” os meninos gritaram.

– Parece que é o menino mais forte por aqui. – os outros se calaram, por fim.

– Não sou menino.

– Olha, ao menos essa daqui fala. – encarou Ariel, com um sorriso cheio de escárnio. Voltou-se para Wendy novamente. – Ouvi dizer que conta histórias. Quer nos agraciar com uma antes de morrer? Se a história for boa, você pode viver conosco para contar-nos mais.

– Se comportaram muito mal, portanto não irei contar. – virou seu rosto teimoso para o outro lado.

– Por que está tão confiante? Até onde vejo é a minha espada que está no seu pescoço.

– Peter Pan virá nos salvar. – e assim que disse isso, todos começaram a rir, mas o riso mais evidente era o retumbante e opressivo de Hook. – Do que estão rindo?

– A esta hora ele já tomou seu remédio. Seria uma pena se um pirata que se comportou muito mal tivesse despejado algo lá. – e voltaram a rir.

Os olhos de Wendy se encheram de lágrimas, mas sua postura não se abalou:

– Ele virá.

Enquanto os outros piratas se divertiam com os choros e fungados contraditoriamente silenciosos dos meninos, o Capitão pegou sua noiva pelo braço.

– Mas, além de tudo isso, meu dia será ainda mais completo porque hoje me casarei com Vanessa: a única mulher que teve a ousadia de me salvar a vida.

E então, Ariel compreendeu tudo. Ela reconhecera o colar de Úrsula. A Bruxa do Mar se transformara naquela mulher para roubar-lhe a chance de conseguir o beijo e a chance de não ser uma sereia de Neverland. Ariel sentiu seu corpo tremer de fúria, mas, ainda assim, esforçou-se para apaziguar seus ânimos e não adiantar o fenômeno que chegaria depois do próximo pôr do sol.

Logo, o casamento começou, e era insuportável ver o jeito que Vanessa encarava a todos no local com o sorriso debochado, especialmente Ariel. E então, o céu pareceu ficar escuro, e todos os meninos, Ariel e Wendy sentiam-se ainda mais tristes. Estava claro para todos: naquele momento, alguém muito importante para a ilha morrera.

O casamento fora interrompido, pois, como forma de escárnio, Hook pedira um minuto de silêncio. Assim que este acabou, os piratas começaram a comemorar, e gritar, e jogar rum para o alto. E os outros choravam e choravam. E então, Ariel sentiu algo se revirar dentro de seu corpo, entre a altura do coração e da garganta. Sentiu uma agitação desconhecida e teve uma enorme vontade de sorrir. Seu corpo queimava precisava fazer aquilo. Abriu seus lábios e algo muito inesperado aconteceu:

Eu acredito em fadas! Acredito! Acredito!

Um enorme silêncio se apoderou do local. Nem mesmo Ariel conseguia acreditar, mas se sentia tão feliz por ter dito aquilo. Era como se tivesse dado sua contribuição para a maior causa possível. Ela não entendia porque podia falar se sua voz havia sido tomada. Úrsula tomara-lhe apenas a voz do corpo, mas não a voz da alma. Sua magia não era tão forte para fazê-lo.

E então, algo mágico aconteceu: todos os meninos sorriram e começaram a gritar a mesma coisa. E logo parecia que todas as crianças do mundo gritavam a mesma coisa. E então, todos os piratas, todos os adultos. Todas as vozes do Universo gritavam. Eu acredito em fadas. Acredito. Acredito.

E nunca se sentiram tão felizes.

E por fim, todos se desfizeram em risadas.

– Basta! – o Capitão gritou e todos se silenciaram, mas as crianças continuaram sorrindo. Viam algo que os adultos não podiam ver. Era magia demais. – Eu não sei que porcaria foi essa. E eu não quero saber!

– Continuem esse casamento! –Vanessa disse em voz esganiçada, e Smee prosseguiu com a cerimônia.

Mas, uma vez iniciada a magia, ela permanece até que se complete de uma forma ou de outra. O céu deixou de ser nublado e voltou a ser belo e radiante com o seu primeiro sol já se preparando para se pôr. E então...

– Você aceita Vanessa como sua legítima esposa? – Smee perguntou.

“ Tic Toc.Tic Toc.”

Hook ajeitou a gola de sua camisa nervosamente. Não, não poderia ser. O crocodilo não poderia estragar-lhe um dia tão precioso.

“Tic Toc. Tic Toc.”

Ele insistia! O maldito crocodilo insistia! Hook desembainhou sua espada:

– Já é demais! Hoje eu mesmo darei fim a esse outro diabo!

Entretanto, o crocodilo não estava no mar ou na praia, ele estava voando! Sua silhueta mostrava-se evidente em uma das velas. Nenhum pirata podia acreditar. Mas então, Sininho saiu de trás da vela rindo muito com um brinquedo em formato de crocodilo.

– Tentou me matar e quase matou minha fada. – Peter Pan pousou bem atrás do Capitão, com suas mãos na cintura e um olhar que misturava a brincadeira habitual com mau humor. – Pois saiba que enquanto houver uma alma de criança em qualquer universo que for, haverá fadas.

– Parece que não lhe suportaram nem no Inferno e lhe mandaram de volta. – o pirata virou-se rapidamente fazendo um semicírculo no ar com a espada, o que acertaria Peter em cheio se ele não soubesse voar.

– Sentiu minha falta, Capitão?

– Esta briga não passa de hoje! E eu vencerei!

– Tem razão. Mas antes tenho coisas a fazer. – o menino voou até o mastro dos meninos perdidos e cortou com sua espada a corda que prendia os meninos. – Atacar!

Os meninos começaram a fazer barulhos indígenas e a urrar gritos de guerra, enquanto pegavam espadas, bolas de canhão e batiam até mesmo no ar.

Enquanto isso, Ariel tinha acabado de finalizar seu trabalho. Havia se concentrado e com a raiva que lhe restava fez suas unhas crescerem e com elas rasgou toda a corda que lhe prendia.

Piratas corriam para todos os lados agitando suas espadas sem saber ao certo quem acertar, já que seus inimigos eram bem mais baixos e não estavam acostumados a lutar olhando para o chão. Nunca se viu tamanha debandada.

Ariel correu para Wendy que estava sendo perseguida por Hook, que percebera que se capturasse novamente a menina, Peter estaria em suas mãos. Porém, Ariel correra e teve o rápido impulso de pegar o cantil de rum que guardava dentro de seu vestido e lançar na cabeça do Capitão. Ele se virou rubro de fúria, esquecendo seus objetivos, e pronto para atacar a moça. Porém Peter Pan se antecipou e se colocou à sua frente, provocando-o.

Então, Vanessa, que até então se mostrava apenas furiosa com a interrupção de seu casamento, aproximou-se de Ariel:

– Você destruiu tudo e agora vai pagar! – esticou suas mãos com unhas roxas e dedos feios para atacar a moça, mas, novamente, alguém se interpôs.

Sininho puxou-lhe para trás pelo colar, o que quase esganou a mulher que gritava como louca. Até que o colar arrebentou.

A bela concha caiu e espatifou-se em mil pedaços, com um barulho que se assemelhava a mil estrelas tintilando. Tal acontecimento fez com que todos parassem o que estavam fazendo para apreciar o momento. Os minúsculos pedaços tornaram-se uma substância maravilhosa que ora parecia prateada ora dourada e parecia cantar com uma voz igualmente incrível. A substância fez um belo caminho até a garganta de Ariel e sua voz foi devolvida.

Hook atravessou o navio até alcançá-la, incrédulo.

– Então foi você. As Estrelas me castigam por tê-la colocado como Plano B. – ele encarou-a com um sorriso raro no rosto. – Cada vez melhor.

– Não! – Vanessa gritou avançando na direção dos dois.

– E você! Impostora, terá seu fim merecido! – o Capitão virou-se para a mulher sentindo-se nervoso, confuso e até um pouco cansado com a reviravolta de seu dia. – Levem-na para a prancha!

– Não será preciso. – sua voz foi se distorcendo conforme ia falando, assim como sua aparência. Seu corpo foi engordando e rasgando o vestido, sua pele se acinzentando e seus pés se transformando em tentáculos. A Bruxa do Mar tomara sua verdadeira aparência. – Eu mesmo irei. E levarei a mocinha comigo. – ela ria estrondosamente.

– Não levará a Dill. – ele se adiantou e segurou-a pela cintura, apontando a espada para a bruxa.

– Meu nome é Ariel. – a moça afastou-se com certo repúdio das inconstâncias do pirata.

– É um belo nome. Ariel. – ele testou o nome.

– Por que não conta para ele? Ah, esqueci, está sem prática. Eu conto. – ela desdenhou. – Essa moça daqui tentou salvar aquela menininha ali, mas o grande herói Peter Pan pensou que ela estava tentando afogá-la e fez o favor de enfiar uma adaga no coração da sereia. Ah, você não sabia que ela era uma sereia? – ela divertiu-se ao ver a expressão de Hook. – Que pena. Continuando. A garota fez com ele salvasse nossa “pequena sereia” e ele levou-a para mim. Salvei-a e ela deixou de ser de Atlântica, tornando-se uma sereia de Neverland. Acho que todos aqui as conhecem bem... Lua cheia, mostruosas, assassinas... O usual.

Úrsula olhou o rosto de todos, que pareciam intrigados e curiosos. Sorriu, satisfeita.

– Quando a sereia acordou e descobriu estava inconsolável, pobrezinha. Mas eu, que sou muito generosa, propus-lhe algo que poderia acender-lhe os ânimos. Eu lhe daria pernas por três dias, nos quais ela deveria conseguir o beijo do amor verdadeiro sem utilizar o dom da voz até o pôr do sol do último dia. Se ela conseguisse poderia ter pernas para sempre e não ter que cometer todas as barbaridades de uma sereia local. Se não conseguisse, além de ser um Monstro do Mar da Lua Cheia, ainda seria minha serva. O que não parece tão ruim. – riu. Úrsula olhou para o pulso sem relógio. – Olhe só... É o terceiro dia. E, aquilo é o pôr do sol?

Hook olhou desesperado para o céu laranja, com o primeiro sol já desaparecendo. Olhou para a moça e se aproximou, segurando-lhe o rosto, pronto para depositar-lhe um beijo nos lábios.

– Agora é tarde demais! – a Bruxa gritou.

E, de fato, era. Quando o Capitão ia beijá-la, ela se afastou novamente. Sua mente estava farta dele e seu corpo o repelia. Mas, se parecia ruim para Ariel, parecia terrível para Hook. Ele viu o negro da pupila da moça dominar todo o orbe dos olhos. Viu sua pele tornar-se azul acinzentada e suas unhas ficarem enormes e assustadoras. Seu cabelo tornou-se pesado de forma que parecia molhado e seus dentes tornaram-se presas. Por fim, sua cauda não a sustentou mais de pé e ela caiu. Estava cheia de rancores e, a cada instante, sentia-se menos sã.

– Agora ela pertence ao mar. Pertence a mim! – a Bruxa adiantou-se e segurou-a, carregando-a para o mar.

– Eu vou buscá-la, sua maldita! E você será destruída! – Hook gritou.

E a última imagem que Ariel viu foi uma imagem distorcida do Capitão. Mas foi a voz dele que lhe ecoou na cabeça até mesmo depois de não estar mais consciente.


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Notas finais do capítulo

Bem, agora a história está passando por todos os seus clímax e caminhando par ao final. Espero que estejam gostando. Incentivem-me porque não está fácil, migas. kkkk
Até!