Quando Tudo Aconteceu escrita por Mi Freire


Capítulo 8
Capítulo VII


Notas iniciais do capítulo

Aqui vai mais um capítulo. Espero que gostem. Qualquer errinho que encontrarem, me avisem.



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O tapa que eu levei da Clarissa ainda estava latejando e muito bem marcado no meu rosto. Bem feito pra mim! Que ideia foi aquela de beija-la impulsivamente? Eu só não consegui resistir. Ela estava soltando os cachorros em cima de mim, mas eu não conseguia ouvir nada que saísse da boca dela, estava hipnotizado por aquele lábios, e assim que achei a oportunidade certa, fiz exatamente o que tinha em mente: beijei-a com toda vontade e raiva por ela ser tão complicada e implicante.

Eu já beijei tantas vezes na vida, tantas outras garotas, mas confesso, que nada se comparava a aquele momento. Foi uma sensação única e muito estranha. Uma vontade enorme de colocá-la em meus braços, leva-la para longe dali, longe do mundo, dizer que o que eu mais queria era estar com ela e beija-la, dia e noite seguidos, sem parar. Uma vontade de traze-la cada vez mais pra perto de mim, de sentia-la de uma forma nunca sentida antes.

E agora ali, deitado na minha cama dentro do meu quarto, com a noite encobrindo o céu lá fora, não consigo pensar em outra coisa além daquele beijo. No início, pensei que ela daria um jeito rápido de se livrar de mim. Ela parecia tão... perdida e fora do lugar. Mas não desisti, continue beijando-a – o que pareceu muito grotesco da minha parte, quase como se eu tive forçando-a - desejando que ela mudasse de ideia e preferisse ficar. E ela ficou. Pouco a pouco fui sentindo o corpo dela relaxar, as mãos dela ganharem liberdade, os lábios dela finalmente se igualando aos meus e seu corpo se encaixando junto ao meu.

Pensei que depois daquele beijo as coisas finalmente poderia mudar de uma forma positiva. Quem sabe ela pudesse me enxergar com outros olhos, decifrar meus sentimentos por ela, sentir o que eu sentia e por um momento, querer estar comigo tanto quanto eu queria estar com ela. Mas eu me enganei, e só tive noção daquilo, quando ela me bateu após o beijo que poderia ter durado mais alguns minutos, e depois saiu correndo de volta pra festinha do padre Sebastian. Eu pensei sim em ir atrás dela, no mínimo me desculpar e jurar que aquilo não voltaria acontecer, mas caso tivéssemos uma outra oportunidade como aquela, eu não poderia responder por meus atos. Não quando estou tão perto dela!

Peguei meu celular no bolso do jeans, mesmo com o rosto ardendo de dor por culpa dela, e digitei uma mensagem de texto para os meus pais, que ainda estavam lá dentro da festinha na igreja. Disse que voltaria pra casa mais cedo, pois estava me sentindo mal, talvez por alguma coisa que eu comi. O que foi uma mentira e tanto. Mas eu não estava mentindo por mal, eu só não poderia ficar no mesmo ambiente que a Clarissa sem querer agarra-la outra vez

Essas coisas não têm nada a ver com garotos... Mas quando se trata dos meus sentimentos, não consigo simplesmente guardar tudo só pra mim. Vai acumulando, acumulando, e uma hora ou outra, me sinto esgotado e jogo pra fora tudo de uma vez. Não pensei duas vezes antes de ligar para o Miguel, que nem foi a festa do padre assim como meus outros amigos e eu nem sei porque, e contei tudo pra ele, inclusive sobre o beijo e o tapa. Ele riu da minha cara, que já era de se esperar. Não precisou dizer nada muito sábio, dar nenhum conselho, no final das contas, eu já me sentia muito melhor por ter conversando com alguém.

Não um alguém qualquer... Meu melhor amigo.

Nos dias seguintes, no colégio, parei de agir feito um babaca fascinado por aquela garota, e tentei ao máximo voltar a minha rotina normal, prestando atenção nas aulas, estudando, fazendo as atividades propostas, saindo com meus amigos para passar o tempo. Ainda mais depois daquele beijo, eu me sentia um animal, por praticamente ter a obrigado a fazer aquilo. Eu, sem dúvidas, gostei muito do beijo, só consigo pensar nele antes de dormir. Me senti muito bem enquanto sentia ela tão perto de mim. Mas com certeza ela não sentiu nada e deve estar me odiando ainda mais, pelo jeito com que as vezes me olha quando nossos olhares acidentalmente se cruzam. Eu tento não olhar de volta, finjo nem perceber, por mais vontade que eu tenha de procurá-la e me desculpar, mas nenhuma palavra ou explicação, parecem suficientes para me redimir. O que me torna ainda mais canalha e covarde.

É sexta-feira depois do colégio, antes de almoçar, saio para uma rápida caminhada pelo bairro. Às vezes, ainda me pego pensando na possibilidade de cruzar com a Clarissa por ai, na sua bicicleta. Se antes não tínhamos motivos algum para conversar, agora temos: o beijo. E mesmo que na hora “H” me falte palavras, sei que qualquer esforço valerá a pena só por estar diante dela. Tenho sentido tanta saudade. E olha que mal nos conhecemos. Tudo que eu quero é poder conhece-la um pouquinho melhor, se ela me permitir, claro.

― Oi, Bê. Eu estava mesmo indo até sua casa para poder falar com você. – encontro com a Marina pelo caminho de volta pra casa. Eu costumo caminhar ou correr por uma hora mais ou menos.

― Falar comigo? – levantei a sobrancelha olhando sério pra ela. ― Falar o que comigo? – continuamos andando até a minha casa. Chegando lá, abro a porta para ela entrar. Subimos até o meu quarto, parece que não há ninguém além de nós. Está tudo muito silencioso.

― Eca. Primeiro vai tomar um banho. – ela faz uma careta, olhando pra mim, como se estivesse me analisando. Sei que devo estar fedendo, com a aparecia horrível, estou todo suado, a camiseta encharcada, além de muito cansado. ― Eu espero.

Eu queria mesmo tomar uma ducha antes de mais nada. Tomo um banho gelado rapidinho, coloco uma bermuda e uma regata, saio do banheiro secando o cabelo com a toalha, a Marina ainda está sentada sobre a minha cama, fuçando as minhas coisas sobre o criado mudo.

― E então – chamo a atenção dela, que se volta pra mim com um sorrisinho. ― O que você queria mesmo falar comigo?

― É sobre a festa do Gustavo. Amanhã lá na casa dele. – ela comenta normalmente. Me sento com ela sobre a minha cama. ― Ele queria fazer uma festona, você sabe como ele é. – ela revira os olhos. Nós dois rimos. É, eu sei como ele é. ― Mas os pais dele, e eu inclusive, preferíamos só uma reuniãozinha entre os mais íntimos. Sei que esse final de semana é só seu e da Liz, mas, eu vim até aqui pra te pedir pra fazer uma forcinha, por favor, pelo seu amigo. – os olhinhos dela brilham suplicando. ― É o aniversário dele! Todos nós contamos com a sua presença, Bê. É importante que você vá. E você pode até levar a Liz, nós vamos adorar a presença dela.

Por um momento eu quase tinha esquecido do aniversário do meu próprio amigo. Se a Mari não tivesse aparecido hoje, eu nem lembraria amanhã. Uma festinha que cairia justamente no final de semana que eu iria ficar com a Liz em casa. Mas pensando bem, vale a pena se sacrificar por um amigo. Não vai ser uma festona – assim espero – então dá pra levar a minha filha sem problemas. Todos gostam muito dela! Apesar de eu ter muito ciúmes de quando ficam querendo pega-lo no colo, paparicar, dar beijinhos, fazer brincadeiras para fazê-la rir, tirar fotos... Acho que as pessoas a sufocam muito, mas eu como pai, preciso me acostumar. Afinal, ela é linda. Uma princesinha. Estranho seria se ninguém se importasse. E não custa nada, por algumas horinhas, leva-la para passear, conhecer o mundo, as pessoas que eu gosto.

― Hum – coloquei a mão no queixo, com ar de pensativo. ― Você venceu! Eu vou amanhã. Eu e a minha filha.

A Mari dá pulinhos, toda animada, sorrindo daquele jeitinho fofo só dela. Ela aparenta ser bem mais nova do que realmente é. Ela ficou tão empolgada com a minha confirmação que até me deu um abraço.

― Mari, posso te fazer uma pergunta?

― Ué – ela me lança um olhar intrigante. ― Pergunte.

― É sobre a Clarissa – desvio o olha constrangido. Eu não queria ter que tocar no assunto. Mas aquele me pareceu um bom momento para conversar com alguém... A Marina, minha única e melhor amiga. Que é uma garota, como a Clarissa. ― ela tem falado com você desde aquele dia no Clube?

― Não muito. Mas eu também não esperava que fosse diferente. Ela tem esse jeitão de durona! O que pra mim já é muito normal. – ela inclina a cabeça, me fazendo olhar pra ela. ― Às vezes ela me cumprimenta, pergunta como eu estou ou como vão as coisas. Só isso, e mais nada. O básico, só pra ser gentil por eu ter a ajudado.

― É... Eu também a ajudei e nem por isso ela tenta ser gentil comigo. Pelo contrário. Parece me odiar ainda mais desde o....

A frase morre no ar. Quando dou por mim falei mais do que devia.

― Desde o quê, Bernardo? – ela coloca a mão na cintura e me lança aquele olhar de reprovação. ― Tem alguma coisa que você não me contou? – outra vez desvio o olhar me sentindo ainda mais idiota. Mas a Mari continua ali, me encarando, como quem não vai desistir tão fácil se eu não falar de uma vez. ― Você está me escondendo algo.

Resolvi contar a verdade. Sobre o beijo que eu dei na Clarissa.

― Mas por favor, não conte isso ao Gustavo. Eu sei que vocês compartilham muitas coisas. Eu só não quero que ele ria da minha cara, já basta o Miguel rindo de mim sempre que me vê.

― Tudo bem, tolinho. – ela pousa sua mão sobre a minha. É quente e acolhedora. Como uma mãe, ou uma irmã. ― Isso não tem nada a ver com o Gu. – ela levanta-se, me dá um beijinho no rosto. ― Agora, eu tenho que ir. Ajudar os pais do Gu com os preparativos para manhã. Fico feliz em saber que você e a Liz vão. – ela sorri. ― Quer saber? Vou dar um jeitinho de te ajudar nessa.

Antes que eu pergunte de que forma, ela sai às pressas, com o celular já em mãos. Não tenho tempo nem para fazer perguntas, quando olho pela janela ela já está muito longe. E enquanto ela se afasta cada vez mais, fico me perguntando, o que será que essa maluca vai fazer e o que ela quis dizer quando disse que iria me ajudar nessa.

Mais tarde, acabo de jantar e já estou cansado de jogar tantas partidas no meu videogame sem um parceiro, quando a minha mãe grita lá de cima – estou no quarto do porão, onde é proibida a entrada de adultos e onde estão todos os meus jogos e diversão – dizendo que tem alguém no telefone querendo falar comigo. Imagino que só pode ser o Miguel para me zoar, ou a Marina com alguma novidade.

― Oi, Bê. Sou eu, Lorena. – ela nem precisava dizer, só de ouvir sua voz eu já tinha reconhecido há muito tempo. ― Você está muito ocupado? Teria como você vir agora buscar a Liz, por favor?

― Claro que posso. – respondo, meio apreensivo. ― Aconteceu alguma coisa? Eu ia pega-la amanhã, como o combinado.

― Não se preocupe. Conversaremos melhor quando você chegar.

Preocupado, imaginando mil e uma besteiras, vou às pressas até a casa da Lorena, com o carro do meu pai que ele mesmo emprestou. Eu sei dirigir, apesar de não ter maior idade e nem carta de motorista. Meu pai me ensinou a dirigir aos quinze anos e nunca tivemos problemas com isso, apesar dele não permitir que eu saia frequentemente com o seu carro.

― Bê, senta. Precisamos conversar. – já estou no quarto dela. A Liz parece tranquila deitadinha do seu berço. ― O que eu queria dizer é que – Lorena parece muito nervosa, remexendo-se o tempo todo, parece desconfortável. Ela mal olha pra mim. ― eu e o Rafa, primo da Brê, estamos ficando. Juntos. E eu sei que não te devo explicação nem anda, mas eu só queria deixar muito claro, antes que as pessoas saiam comentando, que eu e ele só estamos nos conhecendo por enquanto, apesar de teoricamente nos conhecermos desde pequenos. Mas agora é diferente, somos praticamente dois adultos... E eu já sou até mãe. E eu só pedir pra você vir aqui essa noite para buscar a Liz, porque ele acabou me convidado de última hora, pra passar o final de semana no litoral com ele e alguns amigos. Eu não iria... Em outras circunstâncias. Mas como esse final de semana é seu e da Liz... Eu não vi problemas em aceitar. Já faz tanto tempo que eu não sei o que é o mar....

― Olha, Lorena – seguro a mão dela olhando nos seus olhos, sentindo sempre aquela sensação nostálgica. ― Tudo bem, pra mim. – dou de ombros, sorrindo. ― Eu sempre conto os segundos para estar com a Liz... E você merece uma folga. Mesmo que eu não concorde muito com a ideia de ter ver como esse tal Rafael. Eu mal o conheço, mas é que eu não vou muito com a cara dele. Mas não essa a questão, a questão é que, por mim, tudo bem, vai lá, aproveita com seus amigos. Eu vou cuidar da nossa filha hoje e sempre. Pode contar comigo, Lô.

Nos abraçamos sem dizer mais nada, ela pega as coisas da Liz já arrumadas dentro da bolsa rosa, eu a retiro do bercinho dela, sorrindo enquanto ela olha pra mim e vamos até o carro, estacionamento de frente à casa dela. A Lorena me ajuda com a cadeirinha da Liz no banco de trás.

― Eu volto no domingo, o quanto antes. Não se preocupe.

― Vai lá e divirta-se. – dou um último abraço nela e um beijo no rosto. ― Tome cuidado. Nossa filha estará em boas mãos.

Já ao volante, antes de dar partida, dou uma última olhada na Lorena, que acena dando “tchauzinho” e pisca para mim.

Em casa, após a minha mãe já ter roubado a minha filha de mim para paparicar – nunca vi vó tão babona – paro finalmente para pensar no quanto a ideia da Lorena estar com o tal Rafael me incomoda profundamente. Não que seja só ciúmes, mas também porque, eu me preocupo com ela. Desde o nosso termino e o nascimento da nossa filha, nenhum de nós dois tínhamos olhos para mais nada e nem tempo. Mas agora que nossa filhinha está crescendo pouco a pouco, as coisas estão mudando, e por isso eu já esperava, apesar de ainda não me sentir preparado para determinadas mudanças.

Por fim, eu só quero que a Lorena seja feliz onde for, desde que isso, não mude em nada meu relacionamento com a minha filha.

Acordo com um chorinho pela madrugada, a Liz está incomodada com alguma coisa. Levanto-me sonolento, quase tropeçando no escuro até encontrar o abajur, vou até o berço e vejo de perto o que ela tem.

― O que foi meu amor? – pergunto pra ela como se ela pudesse me responder. Se não de um jeito, que seja de outro. Algum movimento, um gemidinho, grunhidos. ― Não consegue dormir?

Aceito aquele silêncio como resposta. Pego a cuidadosamente nos braços, tentando não machuca-la. Ela balança os pezinhos com meinhas de bichinhos e as mãozinha, o que dá a entender, que aquilo era o que ela realmente queria. Levo-a até a cama comigo, colocando-a pertinho de mim para dormirmos assim, juntinhos.

Só fecho meus olhos, apesar do sono, após me certificar que ela finalmente dormiu, o que não demorou muito, enquanto eu recitava alguns poemas bem baixinho, perto do seu ouvido. Ela dorme finalmente, e eu também posso dormir, agora mais tranquilo, sentindo o cheirinho dela e seu corpinho bem próximo ao seu.

Enquanto tomo banho, a minha mãe arruma a Liz para irmos até a casa do Gustavo comemorar seu aniversário. Visto um jeans preto, uma camiseta simples azul-marinho gola V e meu All Star. Nem penteio os cabelo, apenas passo a mão e dou uma bagunçada. Mamãe veste um vestidinho rosa na Liz com bolinhas pretas, na cabeça uma tiara com um lacinho e para os pés sapatinhos.

― Tome cuidado, Bernardo. – meu pai nos leva de carro até a casa do Gustavo que nem é tão longe, a carona é mais pela Liz. ― Fique de olho na sua filha. E me ligue quando quiserem voltar para casa.

Meu pai dar um beijinho na cabeça na Liz e um aceno para mim.

A casa do meu amigo é enorme. Tem um muro alto, portão branco elétrico com acesso a garagem, é um sobrado amarelo claro, com piscina nos fundos, um espaço razoavelmente grande com grama para festas ou churrasco. Há em média umas vinte pessoas nos fundos, de onde vem a música e as vozes das pessoas conversando enquanto bebem. É final de tarde, o clima está agradável. Faz muito calor. Me aproximo devagar com a minha filha no colo que olha atentamente para todos os lados. Os dois labradores se aproximam de nós com os rabos abanando e as línguas de fora, a fêmea caramelo e o macho marrom, Nina e Billy.

― Pensei que você tinha desistido. – A Mari aparece toda sorridente, com os braços já estendidos para pegar a Liz. Nem me preocupo, ela realmente leva o maior jeito com crianças. Sei que quando a Liz crescer um pouquinho mais vai se dar muito bem com a Marina. ― Vou leva-la para conhecer as pessoas. E você, senhor Bernardo, fique à vontade. Você já é de casa. Os meninos estão lá no fundo.

O Gustavo tem sorte em ter a Marina, eu digo isso repetidas vezes a ele, mas parece que as vezes ele não valoriza muito o que tem. Ela é linda, bastante comunicativa apesar de tímida na maior parte do tempo, é fofa, educada, é um garoto de família, inteligente, amorosa, romântica, muito à moda antiga, leva jeito com as crianças e futuramente, imagino, além de ser boa mãe, será uma boa esposa.

Realmente, encontro os meninos – Eduardo, Miguel e Gustavo – nos fundos. Cumprimento todos eles, e aproveito para entregar o presente que eu comprei ao meu amigo aquela manhã: um relógio. Está no meu bolso. O Gustavo parece ter ficado muito satisfeito. Enquanto ele mostra a todos seu novo presente, vou cumprimentar o resto das pessoas, das quais muitas eu conheço há um bom tempo. Vizinhos, conhecidos, amigos da família e os pais do Gu e da Mari.

Pego uma bebida e volto para perto dos meus amigos que estão sempre falando sobre as mesmas coisas: escola, futebol e jogos. Logo entro na conversa, sempre muito atento, observando a minha filha passando de mão em mão como eu já temia. Pelo menos ela não chora, nem faz bico ou cara feia. Liz não estranha ninguém e parece se divertir tamanha a atenção que ela rouba nesse tipo de lugares.

― A Liz está cada vez mais linda! – a Mari se aproxima, reabastecendo nossos copos com mais refrigerante. ― Ela está crescendo muito rápido. Já está quase uma mocinha.

Não quero nem pensar nisso. Se já tenho ciúmes dela assim, ainda um bebe, imagino quando ela for maior, muito maior e eu já bem mais velho. Serei o pai mais chato que já existiu, provavelmente minha filha vai me odiar por isso. Mas no futuro ela entenderá.

― Isso aqui está uma droga. – desde que cheguei o Gustavo só reclama. Claro que quando a Mari ou seus pais não estão por perto. ― O DJ, coloca algo mais animadinho ai pra tocar. – ele grita, o DJ acena positivamente de volta já trocando a música por algo mais animado. ― Eu queria uma festa enorme, com bebida, muitas garotas, amigos, animação, até de madrugada... Mas isso aqui foi tudo que consegui.

Só o Gustavo mesmo para reclamar tanto. A festa está ótima. As pessoas estão sentadas conversando entre si. Como uma reunião. Sem bebidas alcoólicas, sem pegação, sem garotas com pouca roupa, sem bêbados ou qualquer outra coisa desagradável. É algo mais íntimo, mais familiar. O tipo de lugar onde eu posso trazer a minha filha sem me preocupar muito que as pessoas a farão mal.

― Ei – a Mari volta a se aproximar, agora com um sorriso de orelha a orelha. Ela cochicha pra mim. ― Olha só quem acabou de chegar. Porque você não vai lá recebê-la?

Do que aquela maluca está falando?

Olho em direção a entrada, por onde até pouco tempo atrás eu estava entrando com a minha filha, em direção aos fundos da casa do Gustavo. Quem acaba de chegar é nada mais nada menos que a Clarissa com um vestidinho soltinhos em um tom verde azulado com algumas flores rosas e um cinto fino em volta da cintura. Ela usa sapatilhas e os cachos dourados estão soltos e volumoso em volta do rosto levemente maquiado. O sol do fim de tarde reflete no seu rosto, deixando-a ainda mais bonita, mesmo quando parece que ela não faz parte daquele contexto, como se de alguma forma não se encaixasse ali.

Ela está sozinha, nem mesmo trouxe a Isabel, sua irmã.

Outra vez a Marina me cutucou, me empurrado pra frente, para que eu vá lá, ao invés dela, ir receber a nova convidada. Então, de repente, na minha cabeça tudo começa a fazer sentido. Ninguém ali presente se lembraria de convidar a Clarissa, nem mesmo se importaria se ela viesse ou não. Além de mim, claro, um bobo apaixonado e a Mari, que antes de sair da minha casa na sexta-feira disse que iria me ajudar nessa. Até então eu não sabia exatamente em que. Mas agora posso dizer que sim.

― Você vai ou eu vou? – a voz da Mari, muito insistente, me traz de volta a realidade. ― Não é legal ela ficar esperando.


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Notas finais do capítulo

Não esqueçam de me dizerem o que acham que vai acontecer nessa festinha. Esse encontro vai proporcionar... problemas ou novidades? Comentem.



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