Quando Tudo Aconteceu escrita por Mi Freire


Capítulo 7
Capítulo VI


Notas iniciais do capítulo

Como eu mesma havia dito no capítulo anterior, aqui vai, finalmente um pouco de emoção.



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Aquela noite de sexta-feira, quase uma semana depois, ainda me faz pensar o quanto fui atrevida em contrariar as regras do meu pai e o quanto eu me diverti, após Bernardo ter me ajudado nas minhas mentiras para me salvar do pior, com seus amigos e todas aquelas pessoas desconhecidas que vejo todos os dias na escola. Eu nunca até então tinha ido a uma festa, nunca tinha mentido com algo tão sério como sair de casa escondido, nunca tinha passado a noite fora e dormido na casa de outra pessoa, que inclusive, eu adorei conhecer. A Marina é muito mais fofa do que aparenta ser e o Bernardo e seus amigos são tão mais legais e divertidos do que eu esperava.

Na casa da Marina, de sexta-feira pra sábado, ela foi muito legal comigo, compreensível, simpática, toda bonitinha, me fez sorrir, me fez sentir bem, me fez sentir em casa. O melhor de tudo, é que ela nem me forçou a responder tantas perguntas que eu tenho passado todos esses anos tentando fugir de responder. Ficou apenas falando da vida dela sem esperar nada em troca. Fui embora, no dia seguinte, muito cedinho, ela ainda estava dormindo, só deu tempo de me despedir e agradecer pela hospitalidade. Não queria chegar em casa tarde e ter ainda mais problemas com o Vicente.

Já em casa, na manhã de sábado, Vicente me esperava acordado, tivemos uma pequena conversinha, ele me proibiu de voltar a sair sem sua permissão, detesta que nós, eu ou Isabel, não obedeça suas ordens e depois de todo aquele sermão, dizendo o quanto fui errada em sair pra estudar na casa de outra pessoa sem avisar, ele me fez muitas perguntas, sobre quem era essa tal amiga de estudos, onde ela morava, quem eram seus pais – caso ele conhecesse e acreditasse serem boas pessoas – e a maneira como eles me trataram.

Apesar de contar algumas mentirinhas, não me sentir mal em nenhum momento. Não gostei do dia em que ele pegou minha folha e leu sem permissão mesmo sabendo que me pertencia. Achei que mentir era uma punição justa pra ele, apesar dele não saber que estava sendo punido por ser tão intrometido em relação as minhas coisas.

A partir de agora é assim que as coisas vão funcionar entre nós. Se eu não gostei de alguma atitude dele, vou fazer pior mesmo que ele não saiba. Cansei de bancar a filhinha boazinha que abaixa a cabeça sempre que ele acha que alguma coisa está errada. Eu não sou propriedade dele. E não vou deixar que ele pense que eu sou só porque me adotou e me deu uma vida muito melhor que os orfanatos por onde passei não puderam me dar.

Passei o final de semana inteiro em casa, trancada no quarto, pensando sobre isso. Pensando como eu me sentia pequena e diminuída com suas ordens. Nenhum pai deve ser assim tão severo com os filhos, nem mesmo com um adotivo, só de consideração. Essa não é a melhor forma de mostrar sua autoridade a um filho, privando-o do mundo lá fora e trancando-o dentro de casa achando ser o lugar mais seguro.

Na segunda-feira de manhã eu realmente acordei muito mal, sentindo fortes pontadas na barriga, que me faziam gemer de dor. E aí me lembrei que eu estava perto daquelas dias em que toda mulher detesta. Expliquei minha situação ao Vicente, ele acreditou e deixou eu ficar em casa, deitadinha, do jeitinho que eu queria. Eu nunca tinha faltado a aula por esse motivo, mas aquele dia pareceu uma ótima oportunidade para uma primeira vez. Eu estava falando sério em relação a cólica, eu chorava de dor e me retorcia inteira.

Quando Isabel chegou da escola, saltitante, entrando em meu quarto com os olhos grandes olhos verdes brilhando, eu sabia que ela tinha algo pra me contar. Ela garantiu que era sério quando sentou-se comigo na cama e perguntou se eu estava melhor. Pedi que ela não enrolasse tanto e desembuchasse. Então, ela me contou em detalhes, o quanto o Bernardo pareceu preocupado comigo na escola perguntando o porquê eu tinha faltado. Eu nunca a vi tão empolgada, tirando todas as vezes em que ela fala escondido com o tal de Lucas ao telefone.

Na terça-feira eu tomei uma atitude, por mais cruel que pudesse parecer. Eu gostei muito sim de passar a noite de sexta-feira com o Bernardo e também com seus amigos. Me recordo de cada detalhe e nunca vi tão maluca. Mas ao saber que, por um momento, o Bernardo se preocupou comigo como se fosse meu amigo de verdade, eu percebi que as coisas estavam se agravando pouco a pouco. E isso eu não iria permitir, então precisei agir rápido, assim que ele veio falar comigo antes da aula, eu fui séria, grossa e ignorante, como eu era antes daquela noite tão divertida no Clube.

Acho que deixei-o assustado, mas seria melhor assim, para nós dois. Eu estava começando a ficar com medo de que a proximidade dele tirassem quem eu sou. E eu não quero perder o que sou, afinal, eu tenho meus próprios motivos para ser assim, digamos... tão fechada. Eu não poderia simplesmente me abrir, ser divertida, engraçada, amigável, simpática, sendo essa pessoa que não sou eu. Eu nem sei o que passou na minha cabeça aquela noite por ter deixado todos acreditaram que aquela menina toda divertida, engraçadinha, bonitinha, risonha, poderia ser o meu melhor lado e que partir daquele momento eu pudesse mudar com tudo e todos. Mas a verdade, a grande verdade, é que não estou preparada para ter amigos, para ser sociável, fazer amizades, esbanjar simpatia, companheirismo ou qualquer coisa do gênero.

Clarissa Sampaio é chata, arrogante, esquisita, grosseira, rude, fria, seca, sem sentimentos, antissocial, mal-educada, patética, arrogante, esnobe, entre tantas outras coisas terríveis que falam sobre mim pelas minhas costas.

― Você é maluca! – Isabel dispara na minha cara enquanto estamos lavando a louça do almoço. ― Qual é o seu problema?

Começando por qual? Afinal, eu tenho muitos.

― Ele é lindo! Deixa qualquer garota suspirando. Tem um dos sorrisos mais bonito de todo o colégio, é divertido, engraçado, todo simpático, gentil, bem-educado. E ainda é cheiroso.... Quando ele beijou meu rosto na segunda-feira, foi a primeira coisa que eu senti. – ela suspirou, até parecia que estava apaixonada. ― E ele não exigiu nada de você! Ele só quer ser seu amigo. Sabe quantas pessoas gostaria de estar no seu lugar só pra ser amiga do Bernardo Martins?

― Isabel, isso não me interessa. Desde quando você me compara a outras pessoas? Eu não estou nem aí para o Bernardo. Ele nem precisa de mim! – revirei os olhos. ― Ele tem os amigos dele. E porque se importaria justamente comigo? Logo comigo!

― Já parou pra pensar – ela parou o que fazia só para poder me olhar no fundo dos olhos. E que olhos! Isabel tem duas esmeralda verdes no lugar dos olhos. Além de bonitos, são enormes. E ficam mais claros a luz do dia. ― que ele pode estar gostando de você?

Não quero nem pensar nessa possiblidade. Não consigo nem imaginar alguém gostando de mim como se eu tivesse alguma qualidade admirável para se gostar ou fazer qualquer garoto se apaixonar por mim, eu não sou como as outras, eles nem chegam perto de mim por medo que eu cuspa no rosto deles.

― Você ficou doida! – digo, nervosa. Jogando o pano de prato sobre a mesa e saindo da cozinha antes que eu a estrangule. ― Nunca mais me diga uma coisa dessas! Nunca mais.

― Talvez ele não seja o único a gostar de você. – ela estava me perseguindo, insistindo naquele assunto. Eu estava começando a ficar muito mais nervosa agora. ― Pra quem diz não se importar com ele, você até que ficou bem nervosinha só de tocar no assunto.

Eu mereço! Minha própria irmã e única amiga resolveu tirar o dia para zoar com a minha cara e me tirar do sério. Seria uma pena se eu enfiasse minha mão no rosto dela. Mas não darei esse gostinho a ela, Isabel só quer me provocar, é tudo que ela quer nesse momento pra arrancar alguma informação preciosa sobre os meus sentimentos. Por isso, nunca conversamos sobre isso. Ela é uma abusada!

Pego a almofada do sofá e atiro nela.

― Eu quase consigo te odiar. Quase.

― Eu também te amo, irmãzinha. – ela manda um beijo, e some.

Pra pior ainda mais a minha situação passo o resto do dia pensando naquilo. Tentando a todo custo me distrair com a televisão, meu computador, algum joguinho online idiota, meu Facebook sem nenhuma novidade, um livro ou fazendo lição de casa. Mas eu só consigo pensar em uma coisa: Será que o Bernardo seria mesmo capaz de gostar de mim mesmo eu não fazendo o tipinho dele?

No domingo de manhã, após a missa, no salão de festividade da igreja, teria uma pequena reunião para comemorar o aniversário de sessenta e cincos no padre Sebastian, que é um querido por todos na cidade por suas obras de caridade, até mesmo para aqueles que nem são tão ligados em religião, assim como eu, Vicente ou Isabel. Só vamos a igreja mesmo para agradecer, fazer nossas preces, pedir perdão e por tradição de uma típica cidade do interior a moda antiga.

Dou meus sinceros cumprimentos ao padre pelo seu aniversário, ele que me conhece desde que cheguei a cidade e parece nunca ter esquecido meu nome desde então. Após trocar algumas palavrinhas com o padre, fico de lado com Isabel, ainda perto de Vicente que está tagarelando alguma coisa com o padre, e os dois não param de sorrir.

― Olha só quem está ali. – Isabel cochicha perto do meu ouvido. Olho na direção que ela pediu e vejo o Bernardo, dessa vez sem seus amigos por perto, próximo a mesa de guloseimas. ― Porque você não vai até lá e fala com ele?

― Isabel, o que deu em você? – olho para ela com um olhar reprovador. ― Ficou maluca? Eu não posso nem pensar em sair daqui do pé do papai. – é difícil, mas sim, eu o chamo de pai sempre que posso. ― Além do mais, o que eu iria dizer? Não tenho nada para conversar com aquele garoto estupido!

Ela solta um risinho revirando os olhos, um risinho que logo é contido quando a ruiva falsa se aproxima, com um vestido muito justo por sinal. A Karen, namorada do Vicente. Ela dá beijinhos em nossas bochechas falando alguma coisa sem importância com aquela voz irritante que dá até enjoou e depois abraça o Vicente por trás dando beijinhos no pescoço dele mesmo com o padre ainda ali. Não que isso seja proibido, mas é desagradável. Eca.

― Meninas, porque não vão dar uma volta? – ela sugere. Os dois se voltam para nós duas. O padre já não está mais ali. ― E me deixam roubar por alguns minutinhos o pai de vocês.

Olhamos ao mesmo tempo para o Vicente esperando sua aprovação.

― Vão lá, tudo bem. – ele diz por fim. Convencido. ― Só não vão muito longe e nem saiam do pátio de festividade. E nem sumam do meu campo de visão. Eu estarei todo o tempo aqui de olhos em vocês. Nos encontraremos daqui meia hora no estacionamento.

Isabel pareceu ter adorado a ideia como se já tivesse em mente algum plano para aproveitar aquele momento livre.

― Vou me encontrar com o Lucas, dentro da igreja. Tudo bem pra você ficar sozinha por alguns instante? Preciso falar com ele.

― Precisa falar com ele? – rebati irônica. ― Não, tudo bem, vai lá se encontrar com ele. Mas, por favor, não façam nada dentro da igreja. É falta de respeito!

Ela pisca, toda afetada, e sai, andando elegantemente sobre os saltos altos parecendo tão leve como uma pluma. O vestido preto lhe caiu bem, por ela ter uma cinturinha fina.

Estou sozinha, sem ninguém e nem pra onde recorrer. Só não quero ficar ali segurando vela para aqueles dois. Resolvo dar uma volta, comer alguma coisinha, pegar um refrigerante. O dia está lindo, o céu azulzinho, com as nuvens cobrindo o sol. É uma tarde agradável.

― Você ainda acha que o melhor é ficar sem falar comigo? Fingir que nada aconteceu? Simplesmente fingir que não existo? – sua voz é melodiosa, vem de trás de mim, perto do meu pescoço. Viro-me de frente pra ele e dou de cara com aquele par de olhos azuis como o mar.

― Você não deveria estar falando comigo aqui. – olho para os lados apavorada. E se o Vicente ver essa nossa aproximação? Tenho certeza de que ele logo pensaria absurdos e exigiria algumas explicações, e eu nem saberia por onde começar.

― Então vem comigo. – ele me puxa pelo cotovelo. É um pouco deselegante, ousado e desagradável. Não tinha jeito pior de chamar a atenção das pessoas a nossa volta. Rezo mentalmente para que a Karen esteja distraindo o Vicente o suficiente pra ele não ter percebido.

Bernardo me leva até o estacionamento, lá fora, onde não há quase ninguém. A Isabel, aquela maluca, sumiu do campo de visão do Vicente. Agora eu, por culpa daquele garoto. Ele nos mataria se soubesse. Ele deixou claro suas exigências.

Mas como estou cansada de obedecer...

― Não faça isso outra vez. – fuzilo-o com meus olhos. Não por muito tempo, já que sou incapaz de ficar olhando dentro daqueles olhos incrivelmente azuis. ― O que você quer comigo? Pois se quer saber, eu sou muito grata a você por ter me ajudado aquela noite, mas já passou, faz mais de uma semana. Esqueça o que aconteceu!

― Não posso! – sua voz sai quase falha. Ele não tira os olhos de mim, sinto um certo arrepio. ― Não consigo. Eu não sei qual é o problema comigo... Ou com você. Não quero que você continue a me tratar dessa maneira. – ele segura meu braço. ― Clarissa, por favor, olhe pra mim. Porque as coisas têm que ser assim? Porque você dificulta tanto? Poderíamos ser amigos e....

― Não, Bernardo! Não poderíamos. – faço com que ele solte meu braço. Ele acaba soltando, assustado, pensando que eu seria capaz de mata-lo. Mas talvez eu seria. Sinto minha pele queimando onde ele tocou a poucos segundos. ― Me deixa em paz. Eu quero ficar sozinha.

Só quero sair dali imediatamente. De preferência o mais longe possível daquele garoto que desde que implicou comigo, só sabe ser abusado. Mas quem disse que dessa vez seria diferente? Ele estava mesmo atrás de confusão e eu em busca de uma saída.

Ele me puxou forte pelo braço outra vez me fazendo ficar de frente pra ele.

― Não tem que ser assim, Clarissa. – ele me olha de maneira hipnotizante com aqueles olhos azuis que eu tenho vontade de arrancar fora de tão bonitos que são. Que injusto! ― Me diga o que você quer.

― Eu quero ficar longe de você. Já disse! – tento soar o mais convincente possível. Mas de alguma forma o tom da minha voz é um tanto... Duvidável. O que está acontecendo comigo?

Olho em volto e agora somos só nós dois. As nuvens ainda cobrem o sol, mas o céu continua iluminado. É dia ótimo para passar uma tarde no parque ao invés de ficar aqui... brigando com esse garoto que não tira os olhos de mim como se eu tivesse algum problema mental.

― E você. Bernardo... O que você quer? – dei ênfase no você. Queria deixar claro que queria muito saber o porquê ele parecia estar me perseguindo de alguma forma. Nem quero imaginar o estrago que seria se o Vicente visse essa cena agora.

― O que eu quero? – senti que ele estava próximo demais de mim. Quando tentei dar um passo pra trás para manter a distância entre nós, quase me desequilibrei em um degrau logo abaixo do meu pé que descia para outra parte do estacionamento que eu nem imaginei que estaria ali de tão descuidada que sou.

Mas por fim, Bernardo acabou me segurando pela cintura antes que acontecesse o pior. E ficou ainda mais perto de mim. Nossos corpos praticamente colados. Desde que começamos a nos falar com mais frequência – mesmo que pouco – essa é a primeira vez que me sinto tão próxima dele literalmente.

― Eu quero isso. – não deu tempo nem de pedir pra que ele me soltasse e depois agradecer por ele ter me salvo, pela segunda vez, por quase ter caído. A última coisa que eu queria naquele momento era passar vexame. Mas também não esperava que o que ele quisesse não fizesse parte dos meus planos.

Bernardo me beijou. Um beijo de verdade. Daqueles com direito a boca colada e língua dentro da boca.

Um detalhe muito importante é que eu nunca beijei antes, então, me senti muito perdida. Eu não sabia o que fazer com a língua ou onde colocar minhas mãos. Eu tinha pensando tanto daquele momento do meu primeiro beijo – não exatamente com aquele garoto – mas pensei que seria tão diferente... Que seria em um momento especial e com alguém que eu gostasse. E eu temi tanto que aquilo que estava acontecendo agora acontecesse, assim, de uma hora pra outra. E eu só conseguia pensar que estava completamente perdida, tanto no ato por não saber, tanto por ser ele ali, o Bernardo e não outro.

No primeiro momento, depois de cair em mim, eu pensei em reagir, afinal, que direito ele tinha de simplesmente me agarrar? E se alguém visse? Uma outra preocupação também era essa. E se o Vicente visse? Com essa ideia na cabeça eu relutei. Bati no peito dele com meus punhos e tentei cravar minhas unhas – não muito grandes – no braço dele. Mas ele nem pareceu se importar, pelo contrário, cada vez mais apertava meu corpo de encontro ao dele.

Acho que nunca vivi um momento tão embaraçoso. Eu ainda estava de olhos abertos vendo ele com o olhos fechados parecendo tão envolvido no que estava fazendo comigo. E mesmo que aquilo não estivesse acontecendo do jeito que um dia imaginei.... Eu resolvi tentar fazer o mesmo, apenas pra experimentar, não que aquela fosse a minha vontade... Longe disso! Então, fechei meus dois olho e comecei a sentir umas coisas meio diferentes dentro de mim só por ter fechado os olhos.

De repente, consegui sentir alguma coisinha... Um tremor nas pernas, um calafrio na barriga, meu coração dando cambalhotas – não que fosse de alegria – tudo isso por puro desespero. Eu não saberia bem definir o que estava sentindo. Não posso afinar que era algo bom, afinal, não posso me esquecer que é o Bernardo ali, me agarrando. Comecei a me sentir muito leve, quase flutuante, como se pudesse fazer parte de outra dimensão. Minhas mãos pareceram ganhar vida própria, e mesmo contra as minhas vontades, ela tocaram no Bernardo, e ficaram ali, paradas, no braço dele querendo senti-lo cada vez mais.

Comecei a ficar realmente incomodada, me perguntando, mesmo sentindo aquelas coisas um tanto... incríveis... Por quanto tempo esse beijo ainda iria durar? E como se lesse meus pensamentos, Bernardo começou a me beijar um pouquinho mais devagar, deixando os dedos mais soltos na minha cintura, depois, tocando meu rosto. Eu não sei se pedia pra ele nunca mais me soltar ou se pedia pra ele me soltar imediatamente antes que fossemos flagrados. Outra vez, me permiti viver aquele momento. Já que ele estava mesmo acontecendo. Que mal teria, mesmo por alguns segundos a mais, me permitir quebrar algumas pedras do meu coração? Que aos poucos se derretia cada vez mais e eu não sabia se isso era algo positivo ou negativo.

Basicamente, estou muito confusa com esse beijo, esse carinho.

Quando o Bernardo resolveu acabar com o beijo, selou aquele momento com um beijinho mais inocente. Mas continuou ali parado, com rosto de frente pro meu, muito próximo. Sua respiração parecia fora de controle, assim como as batidas do meu coração. Ele olhava dentro dos meus olhos e eu quase comecei a sorrir, mas achei aquela ideia muito estupida, pois assim ele pensaria que eu tinha gostado do beijo e....

― Quem você pensa que eu sou? – me afastei logo depois de lembrar que ele havia me agarrado, assim, de uma hora pra outra.

Não deixaria que ele se explicasse, achei que seria pior ouvir o que ele tinha para dizer para se justificar por aquilo. Agi por impulso, e no momento não me importei o quanto doesse, apenas abri a mão e bati com força na lateral do rosto dele. Que um segundo depois do meu tapa levou a própria mão até o rosto e me olhou assustado.

― Fique longe de mim seu tarado! – virei-me de costas e saí batendo a sapatilha no chão de pedra de volta ao pátio de festividade da igreja. Rezando para que o tempo realmente tivesse parado, assim como eu me senti quando estávamos nos beijando, e que o Vicente não tivesse notado o meu sumiço.


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Notas finais do capítulo

Finalmente aconteceu! Parece cedo, foi um pouco inesperado, meio sem querer... Mas o que vocês acharam? Gostaram ou não da atitude do Bernardo? E a reação da Clarissa?



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