Quando Tudo Aconteceu escrita por Mi Freire


Capítulo 54
Capítulo LII


Notas iniciais do capítulo

Eu realmente estou adiantando as coisas na história, já estou até elaborando o final. Já tenho algumas ideias, estou bastante inspirada. Espero que não esteja ficando muito ruim, confuso, rápido demais. Espero que vocês estejam gostando, pois tudo que eu faço aqui é pensando em vocês.



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Estava na igreja aquela manhã chuvosa de domingo quando após o termino da missa a Brenda se aproximou para me dar um recado da Lorena, pedindo que eu passasse mais tarde em sua casa porque ela tinha algo muito importante a dizer.

Não faz muito tempo em que a Brenda e a Lorena voltaram a serem amigas, as mesmas de antes: inseparáveis. Como se nada de ruim tivesse acontecido entre elas e o tempo tivesse apenas voltado de onde pararam.

Quando a missa terminou foi exatamente o que eu fiz, indo até a casa da Lorena com meu guarda-chuva. Chegando lá, tomei um copo de suco fresco que ela me ofereceu e um pedaço de bolo de laranja. O Augusto também estava presente, ele foi muito simpático comigo.

― Queríamos que você fosse o primeiro a saber, Bê. Por isso te chamei aqui. – Lorena finalmente sentou-se entre nós no sofá, desamarrando o longo cabelo loiro-claro de um coque mal feito. ― Eu e o Augusto vamos morar juntos, na cidade dele. E eu pensei, bem, não seria justo afastar a Liz de você. Afinal, ela também é sua filha. Foi duro tomar essa decisão. Quero deixar bem claro que o Augusto não teve nada a ver com isso, eu mesma fiz a minha escolha e, bom, a Liz tem o melhor pai que alguém poderia ter, ela te ama, você a ama e sei que seria capaz de tudo por ela. Então, eu decidi que ela deve ficar com você, aqui.

― O quê? Tem certeza?

Acho que nunca recebi uma notícia tão boa.

― Se você quiser, claro.

― Mas é claro que eu quero! Nossa, eu não sei nem o que dizer.

Ela estava sorrido. E eu, sem dúvidas, também.

Sentia que finalmente as coisas estavam tomando um rumo certeiro.

― Vai ser ótimo, não vai? Melhor que isso! Vai ser maravilhoso tê-la todos os dias comigo, acompanhar de perto seu crescido, fazer parte da vida dela inteiramente. Meus pais vão adorar tê-la em casa! – eu estava tão empolgado com a ideia, já imaginando o giro que minha vida teria que dar agora com a responsabilidade maior em ter a Liz em casa que nem parei pra pensar quão difícil iria ser para a Lorena, mãe da minha filha, ficar longe dela. ― Mas e você Lorena? Você vai ficar bem?

― Vou. Vou sim. Não se preocupe comigo. – eu via tristeza em seu olhar, mas era como se ela não quisesse ficar pensando todo o tempo naquilo. ― E também, vamos morar a uma hora daqui. Eu vou vir aos finais de semana vê-la, ver os meus pais também, os amigos, você. E estarei ocupada pela semana com a dança o suficiente para não deixar a saudade me abater. Eu a amo também, mas será o melhor pra ela...

― Eu sei. Você tem razão. Ela estará no lugar certo. Eu vou cuidar dela e protege-la agora mais do que nunca. Você pode vir sempre que quiser, as portas da minha casa sempre estarão abertas pra você. – eu a abraço forte, emocionado. ― Obrigado Lô, muito obrigado.

Em casa após contar a novidade, foi só alegria. Meus pais ficaram tão empolgados – não mais que eu, claro – que até organizaram um churrasco, convidamos os amigos e compartilhamos aquele momento.

No final daquela noite, enquanto ajudava meu pai a recolher o lixo no quintal de toda a bagunça que ficou após todos irem embora eu pensava na Clarissa e o quanto eu gostaria que ela estivesse ali, feliz por mim, feliz comigo. Porque agora eu finalmente tinha o que sempre quis, mais que qualquer outra coisa que já desejei: a guarda da Liz.

― Sua mãe e eu terminamos de lavar a louça. – ouço a Letícia se aproximar. Por um momento eu tinha esquecido que ela estava ali.

― Hum. Obrigado. – tento sorrir, fechando o ultimo saco preto de lixo. ― Vou colocar isso aqui na lixeira. Já volto.

Entramos em casa juntos e fomos direto para o meu quarto deixando meus pais mais à vontade na sala com a televisão.

Letícia deitou com a cabeça sobre o meu peito encolhendo o corpo por causa do friozinho que entrava pela janela esquecida aberta. Uma garoa fina começou a cair lá fora.

Puxei o coberto para nos cobrir.

― Você está diferente comigo. – ela comentou, de repente. ― Mais distante, mas também mais carinhoso. Eu gosto disso. – senti que ela sorria. ― Essa noite, esse momento, me parece ótimo para gente tentar... Hum... Você sabe. Eu tô preparada. Acho que é isso que eu quero.

Demorei um tempo para assimilar o que ela estava tentando dizer com aquilo. Até que ela levantou a cabeça, olhava pra mim com um meio sorriso, a franja cobrindo os olhos e veio pra cima de mim, querendo me beijar. Achei estranho, mas correspondi. Até ela novamente tentar arrancar a minha camisa, fogosa e ofegante.

― Não! Isso não. – sentei-me, sentindo-me um pouco culpado. Acabei de ser muito grosseiro e ela, bem, é bastante sentimental. ― Letícia, tem algo muito importante que eu preciso te dizer. – toquei seu rosto, agora ela olhava pra mim assustada. ― Não está dando certo e nem vai dar. Quero dizer... O nosso namoro. Não está funcionando.

― O quê? – ela me interrompeu. ― Não! Mas porquê?

― Eu gosto de você, gosto mesmo. Mas não como deveria. Estou sendo injusto com você e isso não é certo. Você poderia estar livre para conhecer outras pessoas, se apaixonar de verdade, ser correspondida, ter novas experiências e eu, estou aqui te prendendo, te impossibilitando de muitas coisas por puro egoísmo. E agora tem também a vinda da Liz pra cá, eu serei pai em tempo integral. E não vamos ter tempo suficiente para nos entendermos. A Liz precisa de mim. Ela vai ter que se adaptar e....

― Chega. Pra mim chega! – ela berrou, levantando-se da cama rispidamente. Leticia ajeitou a roupa no corpo, pegou seu casaco sobre a cadeira e vestiu com pressa. ― Você é um idiota, Bernardo. Esperou tanto tempo para me dizer isso? Francamente, eu esperava mais de você. – ela balançava a cabeça negativamente. Para o meu alivio não estava triste, apenas com raiva de mim. ― Você tem razão. Você não é o cara certo pra mim. Você não me merece. Eu pensei que gostava mesmo de você, mas estava enganada. Eu só queria a que você gostasse muito de mim para eu poder me sentir melhor. Mas você é um problemático, cheio de responsabilidades e frescuras. Ninguém te suporta!

E ela se foi, batendo a porta do meu quarto com tanta força que pensei que as paredes iriam ceder e tudo cairia sobre a minha cabeça.

De fato, eu mereci. Eu fui mesmo um idiota com ela desde o início, injusto, mentiroso, cruel e traidor. Poderia ter sido pior, ela poderia ter cuspido em mim, chorado ou sei lá, me batido. Mas não. Ela foi embora de vez e eu estava livre agora, finalmente.

Um peso a menos.

― E ai, você acertou muitas questões no simulado pré-vestibular? – voltávamos do cursinho aquela noite de terça-feira. Só eu e o Miguel. A Marina não tinha ido a aula aquela tarde pois ficou de fazer alguns favores para os mais que andavam muito ocupados com o trabalho.

― Não tantas quanto eu gostaria de ter acertado. Mas fui bem sim. Acertei mais que a metade. Exatamente o que eu preciso para passar no vestibular de Letras. Acho que finalmente consegui voltar a ser o Bernardo estudioso de antes, eu me sinto bem melhor com tudo. – sorri, passando a minha prova pra ele dar uma olhada ― E você, foi bem?

― Mais ou menos. – disse ele levemente aborrecido, passando a sua prova para eu também dar uma olhada. ― Eu preciso me esforçar mais, ou não vou conseguir passar no vestibular para Publicidade e Propaganda. E minha mãe vai fazer questão de me deportar para outro país.

Fomos caminhando até o centro juntos, o Miguel precisava passar no alfaiate, o único da cidade, para pegar sua encomenda: um blazer vinho-escuro e uma calça social preta para o dia do casamento.

Eu estava tão empolgado para esse casamento que mais parecia que era eu quem iria casar. Mas não estava empolgado atoa, não era só porque o evento seria um grande acontecimento em toda a cidade e só se falava nisso por toda parte.

Eu estava empolgado porque depois de tanto tempo eu voltaria a ver a Clarissa e isso me matava de ansiedade todos os dias.

Mas ao contrário de mim, o Miguel estava aos nervos. Afinal, não deve ser nada fácil ser o centro das atenções por ser o filho da noiva. E tinha também toda a preocupação dele, com medo de ir morar em BH, na casa do Vicente e perder tudo que ele tem aqui em São Paulo.

O Miguel não queria que eu tocasse muito no assunto, então eu não tinha muito com quem conversar sobre isso. Agora que a Marina é melhor amiga da Clarissa, coro o risco de comentar com ela e ela ir correndo contar para a Clarissa. Então, prefiro guardar tudo pra mim.

Não fui para o colégio na última semana de aula antes das férias, pois aquela semana seria muito importante para nossas vidas, lá em casa, pois a Liz estava de mudança.

Basicamente meu quarto principal precisou passar por mudanças.

Aquele seria o quarto dela a partir de então e eu ficaria só com o quarto-porão. Mesmo assim ela ainda é muito pequena e minha cama permaneceu no quarto principal. Porém, algumas das paredes brancas foram pintadas de rosa-claro e a maior parte dos meus objetos pessoais, alguns pertences, enfeites, a decoração masculina foi substituída por cor-de-rosa, borboletas, lacinhos, ursinho, bonecas. Tudo que fosse mais infantil, deliciado, mas a ver com ela.

O resultado final ficou maravilhoso, deu o maior trabalhão para mim e para o meu pai. Mas por fim, valeu a pena cada segundo.

A Lorena apareceu lá em casa muito cedo no sábado, para se despedir da filha que já estava alojada em minha casa e para se despedir de mim e dos meus pais. Era como se ela estivesse indo pra muito longe. Até a minha mãe chorou, enquanto a abraçava e eu, que não sou de ferro, também fiquei bem triste com a cena.

Ela prometeu que não demoraria muito para nos fazer a primeira visita após a sua mudança.

No dia 5 de Julho eu acordei cedinho, mal podia conter a felicidade. O sol da manhã entrava pelas frestas da minha janela, banhando a minha cama e boa parte do berço da Liz, onde ela dormia tranquilamente.

O dia do reencontro finalmente chegou. Tomei um rápido banho, vesti uma bermuda jeans e uma camiseta branca. Nem tomei café da manhã, mas pedi para que meu pai cuidasse da Liz por mim. Minha mãe seria madrinha de casamento e teria muito o que fazer. Passei a mão nos cabelos secos e saí de casa, pois ajudaria na organização do casamento. Eu havia prometo a Aline que faria o que estivesse ao meu alcance para que ela não entrasse em pânico antes da cerimônia.

Cheguei na igreja que já estava sendo decorada pelos organizadores do casamento e fiquei bastante surpreso em ver todos os meus amigos ajudando também no que podiam.

A Marina ajudava uma garota mais velha com os arranjos de flores, o Miguel parecia nervoso em um canto meio estático sem saber direito o que fazer, o Gustavo ajudava alguns homens a carregar as coisas mais pesadas e o Edu ajudava na limpeza dos bancos.

Finalmente, estávamos todos unidos outra vez.

Nada poderia estar melhor.

Só faltava mesmo a Clarissa.

Eu só precisaria acalmar o coração, até porque ela não demoraria muito para chegar na cidade com o seu pai, o noivo.

Aline por sua vez passaria o dia no salão de beleza.

A igreja ficou incrível com todos aqueles arranjos de rosas brancas, o tapete vermelho e as luzes incandescente em suportes altos que tinham essência de flores do campo expelindo pelo ar.

O Clube da cidade foi alugado para a festa de casamento. Quando terminamos tudo ali na igreja, fomos direto para lá, não podíamos perder tempo. Pelo caminho, fomos os cinco, como nos velhos tempos, antes mesmo da Clarissa aparecer em nossas vidas, andando, conversando, rindo muito, como se nunca tivéssemos nos separado.

Antes mesmo do horário previsto nós junto aos organizadores terminamos todo o trabalho. Cada qual foi para sua casa, se arrumar, se preparar para o grande momento.

No banho morno tirei todo o suor do corpo e aproveitei para lavar meu cabelo. Antes de me vestir, eu dei um banho quentinha Liz, peguei o vestidinho azul-bebê que eu comprei pra ela usar, realçando seus grande olhos azuis, penteei seu cabelo fino castanho-claro e coloquei a tiara branca em sua cabeça ajustando as orelhinhas.

Deixei ela assistindo desenho para terminar de me arrumar.

Meu pai também não se demorou muito. Homens geralmente não são muito de enrolar. Pegamos o carro e fomos buscar a mamãe no salão de beleza, a hora do casamento estava cada vez mais próxima e ela deveria ser uma das primeiras a chegar e estar no altar.

As quatro da tarde a igreja já estava razoavelmente cheia com todos os convidados sentados em seus lugares conversando. Deixei a Liz com a Marina, sentada na primeira fileira e fui cumprimentar o Vicente, já na frente do altar, esperando o grande momento.

Se ele já estava ali, a Clarissa não deveria estar tão longe.

Cumprimentei o resto do pessoal que eu conheci, um por um. Vi quando a Letícia beijou o garoto ao lado, seu acompanhante, olhando fixamente pra mim, só pra ver se eu me incomodava. Eu apenas sorri. Pelo visto a fila já tinha andado pra ela. Alguém na porta da igreja anunciou que a noiva tinha acabado de chegar em seu carro de luxo alugado, sem atrasos, bem na hora.

As pessoas rapidamente levantaram de seus lugares, voltaram-se para a porta da igreja, ficaram mudas e os músicos deram início a música de entrada. Eu corri até lá na frente, na primeira fileira, ao lado dos meus amigos que já estavam todos por lá. Antes de pegar a Liz nos braços que pedia colo, dei uma última olhada no Vicente, nervoso e apreensivo. Mas também muito emocionado, quase como se não pudesse se segurar.

Olhei para todos os lados, vendo a igreja agora bem mais cheia, mas não vi a Clarissa por nenhuma parte. Nem ela, nem Isabel.

Será que ela resolveu não vir por minha causa?

― A noiva. – Marina sussurrou, cutucando-me. ― Olhe.

Girei o corpo com a Liz nos braços e olhei em direção a noiva acompanhada de seu filho, mas antes deles havia uma pessoa, duas na verdade, mas uma única pessoa me chamava a atenção mais que qualquer outra coisa.

Clarissa. Uma das damas de honra. Ao lado de Isabel.

Com um vestido bege claro, tão claro, que era quase branco marcando sua cintura fina, saltos pretos não muito altos, um buquê de rosas vermelhas nas mãos, um sorriso estonteante, os olhos pretos contornados com maquiagem, brincos brilhantes e os cabelos loiros cacheados presos em uma longa trança lateral com alguns fios soltos.

Só voltei ao mundo real quando a Liz começou a tocar meu rosto com seus pequenos dedinhos e uma série de “Papá”.

A cerimonia seguiu normalmente. Tanto a noiva quanto suas madrinhas choraram todo o tempo, ainda mais quando o padre finalmente disse: “E eu os declaro marido e mulher. Pode beijar a noiva.” Foi então que a igreja toda, as mulheres no geral, desabaram em lágrimas.

Mas tenho que admitir que não consegui tirar os meus olhos da Clarissa, nenhum por um segundo. Apenas quando a Liz queria a minha intenção, entediada com aquela coisa de adultos. Não demorou muito para as pessoas a tirarem de mim, levando-a para longe.

A Clarissa era garota mais linda de toda a igreja. O tempo só a favorece e apesar de, realmente, ela não ter mudado em quase nada desde a última vez, ela só parecia ainda mais bonita cada vez que eu olhava pra ela.

Mas eu não tive tempo de me aproximar para falar com ela, estavam todos a sua volta, querendo falar com ela, saber dela. Curiosos. Inclusive a Marina não a largava nem por um segundo. E eu aguardaria ansiosamente pelo momento certo para me aproximar. Tinha que ser perfeito.

― Você não vai falar com ela? – perguntou o Miguel, quando finalmente me encontrou.

― Não ainda. – digo sorrindo. ― E a propósito, você está uma gracinha com essa gravata. – caçoei. Ele riu, sem humor.

O Clube não era tão longe assim da igreja, tudo naquela cidade era perto demais, dava pra ir andando. Mas boa parte das pessoas, ainda assim, iam com seus carros para não estragarem o traje de gala.

O sol estava começando a se pôr, o céu em tons de laranja e azul-escuro, o sol era um ponto luminoso no céu que mais parecia uma tocha de fogo.

Fui andando até o Clube com meus amigos, todos os quatro. Pensando na melhor maneira de me aproximar da Clarissa durante a festa sem assusta-la. Enquanto isso eles riam bastante, de alguns detalhes que só eles viram durante a cerimônia de casamento.

Meu Deus eu a amo, pensei. Não posso perde-la dessa vez. Provavelmente teremos apenas um dia, essa noite, e eu não vou voltar a vê-la tão cedo. Preciso aproveitar essa oportunidade que a vida nos ofereceu. Preciso abrir meu coração, contar toda a verdade. Preciso que ela acredite em mim e corresponda ao meu amor. E só assim serei completamente feliz, se ela estiver comigo.


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Notas finais do capítulo

O próximo capítulo promete muitas emoções nesse reencontro. Então, comentem bastante para que eu poste mais depressa. Já tenho dois capítulos prontinhos, adiantados. Só depende de vocês. Aproveitem essa reta final para comentarem e eu ficarei bastante grata. Beijão!