Quando Tudo Aconteceu escrita por Mi Freire


Capítulo 55
Capítulo LIII


Notas iniciais do capítulo

Desculpem-me se houver algum erro nesse capítulo, fui interrompida umas cinco vezes enquanto tentava ler e revisar o texto. Qualquer coisa me avisem, perguntem, tirem dúvidas.



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Durante toda a festa o Bernardo não parou de olhar pra mim um só quer instante. Eu tentava não retribuir o olhar, apesar de todas as minhas tentativas serem falhas. Pois cada vez que eu olhava para algum lado lá estava ele, discretamente olhando pra mim. E quando ele percebia que eu ficava sem jeito, ele abaixava a cabeça e sorria.

Tem como ser mais bonito?

As estrelas banham o céu escuro, não há sinal da lua.

Bernardo está usando um jeans de lavagem clara, uma camiseta gola V branca sem estampa e uma blazer azul-marinho. Seu cabelo preto nunca muda, é liso e cobre sua testa. Os olhos azuis penetrantes. Para os pés ele está usando aquelas botinha masculinas marrom-escuro de cano curto. Uma graça. E sempre que passa por mim e me cumprimenta com um simples sorriso eu posso sentir o cheiro inconfundível de seu perfume.

Desde que a festa começou eu me vejo rodeados de pessoas que querem conversar comigo, que fazem perguntas sobre o meu novo colégio e tem curiosidade sobre a vida onde estou vivendo atualmente. A maioria delas nunca saiu daquela pequena cidade e tem uma visão muito diferente do mundo lá fora.

O mais engraçado é que antes, quando eu vivia ali, eu não conhecia tanta gente assim. E tão pouco sabia que elas me conheciam. E agora eu era praticamente uma celebridade, o centro das atenções.

Por sorte eu tinha a Marina e vez em outra – isso enquanto o Miguel tirava fotos com a mãe – ela me salvava, tirando-me dali, para gente beber algo, comer ou conversar e poder respirar ar fresco.

Nunca antes, em um único dia eu havia recebido tantos elogios e atenções. Eu estava realmente me sentindo um máximo.

A noiva também não parava quieta um só quer minuto, andando de um lado para o outro entre os convidados em suas mesas, esbanjando simpatias, tirando fotos, sendo sutil... Coisa de noiva. Ainda era muito difícil pra mim imagina-la como minha mais nova mãe. Aline é a mulher mais incrível que já conheci e, sim, eu a quero como uma mãe. Mas essas coisas levam tempo para se acostumar, eu só espero que não demore muito. Eu gosto dela e quero que a gente tenha sempre essa boa relação.

Meu pai está sempre atrás de sua esposa, tirando fotos, cumprimentando as pessoas, conversando, sorrindo, bebendo e comendo, aproveitando cada momento. Ele está radiante, parece o homem mais feliz do mundo. E eu realmente espero que ele seja por muito tempo.

Já a Isabel simplesmente sumiu da festa com o Eduardo. Provavelmente estão por aí, em um canto escuro, aos beijos. Matando toda a saudade que sentiram um do outro.

O Miguel nesse momento está sentado em um canto, meio pra baixo. Ele não me parece tão feliz quanto deveria. Talvez seja muito coisa para ele absorver de uma só vez. Penso em me aproximar, dar-lhe apoio, ser amiga. Mas há alguém muito melhor pra isso que eu: a Marina. E também, eu acho que ele precise de espaço. Pelo menos por enquanto.

― Cachinhos dourados? Quanto tempo! – o Gustavo me abraça forte, quase quebrando as minhas costelas. Me espremendo como se eu fosse um laranja. É a primeira vez que nos vemos aquela noite. ― Você continua baixinha. – ele ri, afetado. Já deve ter bebido mais do que deveria, típico dele. ― Me concede essa dança?

Eu não pude recusar, não estava fazendo muita coisa.

― Soube que você está namorando, espero que o cara seja legal. Se não vou dar uma surra nele. – ele disse, girando-me. Fazendo a saia do meu vestido levantar um pouco. ― Mas com certeza ele não é tão bacana quanto o meu amigo Bernardo. Você está perdendo um bom partido. Se eu fosse você não deixaria isso passar despercebido...

Ele me gira novamente, estou começando a ficar tonta, mas então ele me segurava novamente, antes que eu caia no chão.

― Eu fico me perguntando como é você superou tão rápido o seu namoro com a Mari.... Bernardo? – arregalei os olhos, percebendo que não era mais o Gustavo ali e sim o Bernardo.

Como eu não percebi antes?

― Oi. Finalmente a sós. – ele sorri, um canto da boca se erguendo mais que o outro. Aquele sorriso apaixonante que não mudaria nunca. ― Ou melhor – ele olhou para os lados, para as pessoas que também dançavam a nossa volta e outras sentadas nas mesas de olho em nós. ― não completamente sozinhos. Quer ir pra outro lugar?

Ele se afastou, estendendo-me a mão.

Eu não deveria aceitar aquele convite por milhares de motivos, mas eu simplesmente não resisti. Porque perto dele eu fraquejo. E por isso mesmo eu não deveria ter aceito, mas aceitei. Segurando sua mão.

Bernardo me conduziu até próximo as piscinas do Clube onde passamos muito momentos bons juntos, sozinhos ou entre amigos. Lembro-me da primeira vez em que, antes da gente começar a namorar, ele brincou comigo, me fez subir em suas costas nuas e nadamos como dois peixinhos. Aquele dia foi a primeira vez em que o senti tão perto.

Ali, perto das piscinas interditadas para o pessoal bêbado não se jogar na água e não acabarem afogados, não havia ninguém além de nós dois. Ali não estava muito bem iluminado, as únicas luzes que nos ajudava a enxergar era as que vinham do salão de festa. Dali podíamos ouvir a música animada lá dentro e o grito estridente do pessoal mais animado.

Ouvi o piado de uma coruja não muito longe, confundindo-se com o cantarolar dos grilos e cigarras entre a pouca vegetação do Clube.

Aquele lugar era simplesmente maravilhoso a noite. O Clube não fica aberto após as sete da noite, então poucas pessoas tem a chance de estar ali ao cair da noite. E tudo fica ainda mais bonito quando a luz que bate na água parada reflete no rosto do Bernardo deixando seus olhos ainda mais azuis e luminosos. Que inveja.

― Porque você me trouxe aqui? – virei-me de frente para ele finalmente, arrependida por ter feito aquela pergunta estupida.

― Não é obvio? – ele abriu um sorriso encantador, dando um passo na minha direção. Diminuindo a distância entre nós. ― E a propósito, você está ainda mais bonita essa noite.

Pra piorar, ele precisa ser sempre tão galanteador.

Agradeci o elogio, envergonhada. Desviei o olhar.

― Acho que esse é um bom momento para conversamos sobre algumas coisas que terminaram inacabáveis desde a nossa última conversa. Você não acha?

― O que eu acho que é o há entre nós já está acabado. – disse firmemente. ― Eu disse a você. E eu estou namorando, já não moro mais aqui, não pertenço mais a esse lugar e nem a você. Acabou, definitivamente acabou Bernardo.

Ele soltou um risadinha sem humor, balançando a cabeça em discordância.

Não demorou muito pra ele se aproximar de mim de uma vez por todas e agarrar meus punhos grosseiramente, como ele costumava fazer nos corredores da escola quando havia algo de errado entre nós.

― Você está me machucando. – olhei brava pra ele.

― Então diz na minha cara que não me ama mais. – ele ignorou o meu comentário e parecia impaciente, segurando-me firme, mas sendo cauteloso o suficiente para não me machucar. Eu não o queria tão perto, com seu hálito fresco batendo no meu rosto. ― Diz que você não pensa mais em mim, diz que a nossa história não passou de um grande nada pra você, diz pra mim que eu sou um merda e que você já superou a nossa história, diz pra mim que você ama outra agora. Diz!

― Me solta agora, ou eu vou gritar.

― Vai Clarissa, diz pra mim. Ou você está com medo?

Ele estava me provocando? Isso mesmo? Me desafiando?

― Bernardo, você não é meu dono para ficar mandando em mim dessa forma. Eu já disse tudo o que você queria ouvir. Mas do que adianta, se você não acredita em mim? Se você não me ouve? E sempre voltamos a esse mesmo ponto?

Mais gritos animados dentro do salão de festas chamou minha atenção, onde as coisa ainda fluíam naturalmente, como tinha que ser. Ouvi alguém gritar que era a vez dos noivos dançarem uma música juntinhos. E naquele momento eu imaginei meu pai morrendo de vergonha, ele é muito tímido pra essa coisas e desajeitado.

Colocaram para tocar Forgive Me, Evanescence.

E eu simplesmente amo a voz da Amy Lee, ela é perfeita.

O que eu não esperava é que o Bernardo aproveitasse a minha distração do momento, enquanto pensava o quanto a letra daquela música se encaixava perfeitamente naquele momento, para dar-me um beijo.

A sua boca com um gosto doce tocando a minha, a sua língua explorando a minha boca, os seus dentes mordiscando os meus lábios inferiores, seus olhos abertos dentro dos meus observando a minha reação, suas mãos deslizando pelas minhas costas, o seu perfume invadindo o meu nariz, o seu gosto ficando cada vez mais irresistível e toda a minha vontade de corresponder e que ficássemos assim, pelo resto da noite, só nós dois, matando a saudade de meses, mas não podíamos, não era certo.

Instintivamente eu bati com força a minha mão no rosto dele.

Bernardo ficou me olhando assustado, com a mão no rosto que deveria estar doendo muito por minha causa. Eu queria muito pedir desculpas, mas aí novamente eu fraquejaria e me deixaria levar e beijaria aquela boca maravilhosa e não me controlaria e.... Foco Clarissa.

Você precisa pensar em alguma coisa pra sair daqui urgentemente.

― Não faça mais isso. Nunca mais! Eu tenho namorado, Bernardo.

Saí correndo dali, contento-me. O coração batendo rapidamente. E voltei para a festa, onde ninguém havia sentindo a minha falta.

Mas essa nem foi a pior parte das minhas férias, o pior foi acordar de manhã após a noite da festa que acabou bem tarde e descobrir que iria ficar ainda mais três dias ali, naquela cidade, enquanto meu pai e Aline iriam sair em viajem de lua-de-mel, presente dos padrinhos de casamento.

Que gostou muito em saber daquilo foi a Isabel para ficar mais com o Eduardo. Já eu só tinha motivos para ir embora logo dali, mas pelo visto teria que esperar um pouquinho mais.

Mas nem ia ser tão ruim assim. Hospedada na casa da Aline, minha nova mãe, madrasta, amiga ou seja o que for, eu poderia simplesmente ficar ali o dia todo, sem colocar os pés pra fora até o dia de voltar pra casa, sem receber visitas de ninguém que seja inconveniente, exceto a Marina a minha amiga, até porque o namorado dela é dono da casa.

Sendo ele o dono da casa e agora meu mais novo meio-irmão ele poderia simplesmente convidar o Bernardo para entrar e eu estaria perdida pelos próximos três dias. Mas o Miguel não ria me sacanear assim, não é mesmo? Não, ele é bonzinho demais para isso.

― Quer ajuda aqui? – entrei na cozinha da Aline, ela e meu pai já tinha saído de viagem. E os jogos já tinha dado início, então eu precisava ser forte. Isabel estava tentando preparar alguma coisa para comer no almoço, mas pelo visto estava com dificuldades.

― Na verdade – ela virou-se pra mim sorrindo, estava de bom-humor e há um bom tempo ela não sorria pra mim de forma tão amigável e então me dei conta do quanto eu senti falta daquilo. ― quero sim.

Fizemos juntas uma macarronada com carne para o almoço.

― Obrigada. Deve ter ficado muito bom. Acho que vou ligar para o Edu e chamar ele pra vir almoçar com a gente, tudo bem? – animada ela saiu em dispara até a sala, onde deveria estar seu celular. Mas ela voltou segundos depois com o aparelho em mãos. ― Antes eu queria te dizer que, bem, eu exagerei muito em te culpar pelo papai ter nos levado daqui. Ontem o Edu me fez ver as coisas de outro jeito e com certeza eu fui muito dura com você. Me desculpe. Você pode me desculpar? Eu quero que a gente volte a ser amigas inseparáveis, como antes, lembra? E também, eu preciso da sua ajuda nos deveres de português, e outra coisa, eu realmente tenho ciúmes de você com a Marina. – ela riu, e eu não pude deixar de rir também feliz por ela estar admitindo tudo aquilo. ― Eu senti sua falta, Clary.

― Ah minha bichinha – eu sorri, emocionada. Senti que poderia chorar a qualquer momento. Finalmente alguma coisa começou a dar certo pra mim. Me reconciliar com a minha irmã era tudo que precisava naquele momento. ― Eu também senti sua falta. Vem cá!

Nos abraçamos.

Isabel chamou o Eduardo para almoçar com a gente, o Miguel chegou da rua com a Marina, lavaram as mãos e também se juntaram a nós na mesa da cozinha enquanto o sol entrava pela janela.

Fiquei sozinha em casa pelo resto do dia jogada no sofá como se a casa fosse minha também. Miguel levou a Marina no cinema para a estreia de um filme qualquer e Isabel pediu permissão para passar um tempo com o Eduardo na casa dele. Eu não pude dizer não. Não quando justamente tínhamos nos reconciliado pra valer.

Cansada de assistir televisão, fui tomar o meu banho no quarto de hospedes no qual estava dividindo com a minha irmã.

Quando sai do banho mais relaxava, notei que o céu havia escurecido rapidamente deixando a casa escura.

Um dia já se fora.

Como o banheiro fica no corredor dos quartos eu tive que sair só de toalha porque não levei roupa para me trocar lá dentro. Soltei um grito alto quando vi uma sombra subindo as escadas, mas eu jurava que tinha deixado a porta trancada.

― Ei calma, sou só eu. – anunciou o Bernardo ligando a luz do corredor. Da casa que ele conhecia bem, melhor que eu. ― Encontrei a chave extra de baixo do carpete em frente a porta. – ele se explicou.

Ele a mostrou para provar, sorrindo.

― O que você está fazendo aqui? Mantenha distância. Não vê que estou só de toalha?

E sozinha em casa, quis completar.

― Eu não faço o tipo tarado, você sabe. – ele riu, se aproximando com cautela. ― Eu pensei que o Miguel estivesse aqui. Eu bati muitas vezes, mas ninguém atendeu. Pensei que ele a Marina pudessem estar no quarto... Hum... Bem.... Você sabe.

― Sei... – passei uma mecha do meu cabelo molhado atrás da orelha. ― Agora vaza daqui. Eu preciso me trocar. Ou no mínimo espera lá em baixo. Eu quero privacidade. Você sabe o que é isso?

― Pelo visto você não esqueceu de como é ser grossa com as pessoas. – disse ele em tom de humor. Por isso nem fiquei ofendida. Eu quase tinha me esquecido que um dia fora uma pessoa cruel.

― Ah cala essa boca, Bernardo. E saí daqui logo. – eu queria atirar alguma coisa nele, qualquer objeto. Mas não havia nada que eu pudesse fazer. Cansada, segui até o meu quarto quando escorreguei no piso molhado que eu deixei pelo caminho quando saí do banheiro.

Cai com tudo de bunda no chão, com a toalha ainda no corpo.

― Você se machucou? – o Bernardo correu até mim, preocupado. Olha que fofinho.

― Ai, acho que com a queda torci meu tornozelo. – me queixei, sentindo uma dor aguda. ― Está doendo muito!

― Não faça esforços. – ele pediu, pegando-me no colo como se eu fosse um bebê. ― Eu te ajudo.

Ele me levou até a cama e ali me depositou com cuidado, como se fosse um médico ou coisa parecida começou a analisar meu tornozelo, mas já nem doía tanto. Foi só um mal jeito.

― Acho que não foi nada de mais. – disse ele, como se lesse meus pensamentos. Tão bonitinho, até parecia um especialista. ― Nem inchou.

― Foi o que pensei. – tentei sorrir, muito envergonhada. O maior mico da minha vida. Que horror! ― Já estou melhor. Obrigada.

Timidamente ele sorriu, sentando-se ao meu lado.

― Fiquei preocupado com você. – ele tocou o meu rosto com a ponta dos dedos, com suavidade. ― Não queria que nada de ruim acontecesse a você. – ele me olhava daquela maneira, como se pudesse atravessar meus olhos com os seus e tocar a minha alma.

― Sobre a noite passada – eu não ia tocar no assunto, nunca. Mas aí senti uma necessidade enorme de dizer alguma coisa. Ou o silêncio seria constrangedor. ― eu queria me desculpar. O tapa deve ter doido muito.

― E doeu. – ele sorriu bem-humorado. Raramente o Bernardo ficava com raiva facilmente. ― Mas tudo bem. Você é uma garota comprometida agora e eu não tinha o direito.

O que ninguém sabia é que antes de vir para São Paulo para o casamento, eu procurei o Artur para termos uma conversa séria. Precisávamos resolver algumas coisas. Ele se desculpou por ter sido um animal comigo aquele dia, expulsando-me de sua casa por causa do drama e das calunias de sua mãe. Mas no fundo, eu via que ele ainda não acreditava completamente em mim. Não mais. Como se eu tivesse mesmo tido a intenção, a coragem e audácia de seduzir seu irmão para ficar com os dois ao mesmo tempo e rouba-los de sua preciosa mamãezinha.

Eu, ao contrário do Artur, resolvi ser bastante sincera com ele, e que acima de tudo era meu amigo, contei tudo que havia acontecido entre mim e o Bernardo no último mês: as ligações, a carta, as confissões e todas aquelas revelações, a confusão de sentimentos, meu estado de negação e aceitação e tudo mais que ele deveria saber.

Ele me ouviu calado todo o momento, parecia indiferente a tudo, como um bom amigo deve ser como ouvinte até ser sua vez de falar. E quando ele finalmente falou, o que eu não esperava ouvir, mas vindo dele, eu já deveria ter imaginado que seria assim, eu me senti em paz.

― Você vai para São Paulo agora – ele segurava meu rosto com as duas mãos, olhando-me fixamente com seus olhos verdes-escuros. ― resolva por lá tudo que tiver que resolver. Solucione suas coisas como você achar melhor. Se o seu coração tiver que ficar por lá, que fique. Tudo bem pra mim. Lembra-se que eu te disse um milhão de vezes que seria pra você o que você quisesse que eu fosse? Eu vou ficar bem, eu prometo. Mas se você tiver que voltar que seja livre, com o coração em paz e sem nenhum resquício do seu passado, nada que te prenda e atrapalhe nosso namoro. Nós tentaremos isso aqui, juntos e lutaremos todos os dias para que dê certo, porque se você quiser vai dar, porque eu quero muito. Mas quero que saiba que não importa que escolha você faça, eu te apoiarei, de longe ou de tempo. Tudo só depende de você, Clary. Só de você.

Conclusão: o Artur é bom demais para mim.

Definitivamente eu não o mereço.

― Tenho algo muito importante a te confessar Clarissa – o Bernardo disse, agora tocando a minha mão. Me fazendo voltar a realidade. ― Acho que você precisa saber disso.

― O que é? – perguntei, curiosa. Sentando-me sobre a cama. ― Fala logo Bernardo! Você está me deixando curiosa.

― Foi no ano passado, assim que você conheceu seus pais verdadeiros. Algo entre mim e o seu pai, o Vicente. Um pouco antes de você ter que ir embora.

― Não estou entendendo.

― Você vai entender. Eu vou explicar. – ele pegou as minhas duas mãos para segurar. ― Quando você conheceu seus pais e o Vicente descobriu que eles não eram boas pessoas, ele me pediu uma coisa, porque seria o melhor pra você. Mas não faz muito tempo que te pedi para parar de decidir por mim, por nós, o que você acha ser melhor. E eu, também cometi o mesmo erro que você e estraguei tudo.

― Bernardo, para de enrolar. Fala!

― Tá. Calma. – ele sorriu, tranquilizando-me. ― Isso pode mudar tudo, mas vamos lá. Você estava muito mal, mas ainda tinha a mim. E era por isso que você não iria embora daqui sem se sentir culpada por me deixar pra trás. Seu pai me propôs algo, para o seu bem. Então não fique com raiva dele, foi para o seu bem. – ele repetiu. ― Ele pediu que eu fizesse alguma coisa, para te deixar livre e você pudesse ir embora sem sentir mal. Então eu procurei a Lorena e pedi a ajuda dela.

― Não. Espera. Então quer dizer que...

Minha cabeça estava rodando, as peças de encaixando.

― Sim. Exatamente isso que você está pensando. – ele completou, suspirando fundo. ― Aquilo que você viu aquele dia na saída do colégio entre mim e a Lorena, aquilo não foi real, foi tudo um mal entendido, uma farsa, fingimento. Eu pedi a ajuda dela, e bom, ela me ajudou. Eu não gosto mais dela, Clarissa. Você sabe muito bem disso.

― Então o que aconteceu aquele dia foi um plano seu a pedido do meu pai com a ajuda da Lorena? Para que eu pudesse viajar bem, se me importar com o que eu deixaria para trás porque não havia mais importância nenhuma, eu me sentiria traída, um lixo, enganada e nada mais teria valor? Vocês queria que eu acreditasse nisso, pois...

Senti que meus olhos se encheram de lágrimas rapidamente, meu corpo tremendo de frio. Não só por ainda estar molhada só de toalha, mas por sentir que uma parte da minha vida foi arrancada de mim sem que eu pudesse decidir quanto a isso, como se eu tivesse sido deixado de fora.

Todos queriam me proteger, mas eu não queria proteção. Tudo deu errado, porque tudo não passou de uma grande farsa. E se não tivesse acontecido tudo isso eu teria dado um jeito de superar a história dos meus pais, eu e o Bernardo nunca teríamos nos separados, eu nunca teria conhecido o Artur e me envolvido com ele, não teria sido dão dura comigo mesma quanto aos meus sentimentos, e hoje, poderíamos estar todos bem, felizes, juntos. Mas não, não foi assim.

Por um lado eu me sentia ainda mais traída, traída por todos terem me enganado, porque essa parte sim foi verdade. O Bernardo uniu-se com o meu pai e me engaram, isso sim foi real. E por ouro lado, sem aquela história da traição eu nunca teria conhecido o tamanho da minha força para superar as coisas que eu considerava serem importantes, eu nunca teria noção do quanto o amor que sinto pelo Bernardo é inabalável e grandioso, mais que qualquer outra coisa que já senti antes, independentemente do que acontecesse, nada mudaria o que eu sinto, nada. Nem mesmo se ele destruísse o meu coração; se eu conhece outras pessoas e me apaixonasse, mas eu nunca as amaria dessa forma; nem mesmo se eu morasse do outro lado do mundo.

Eu ainda precisava ter uma conversa séria com o meu pai quando ele voltasse de viagem. Não o julgaria pelo que fez, nem o condenaria. Estava adorando aquela nossa nova fase. Mesmo chateada por saber a verdade após tanto tempo, eu só queria agradecê-lo pela proteção, mas pediria que ele nunca mais voltasse a fazer isso comigo. A partir de agora eu mesma decidiria as coisas por mim.

Eu já não sou mais uma criancinha.

― Você está chateada por saber a verdade só agora? Eu nem sei porque eu demorei tanto pra te contar. Talvez seja porque você não queria manter contato comigo. – ele sorria, nunca perdia a pose de bonitão. ― Você ainda se sente mal, traída, estupida ou enganada?

― Pra ser sincera – finalmente consegui sorrir de verdade. ― não. Eu me sinto amada pelos dois homens da minha vida. Entendo que tudo isso foi por proteção. Os vilões dessa história são os meus pais verdadeiros e eu nunca mais quero voltar a vê-lo. Eles estragaram tudo, desde que apareceram na minha vida.

― E quanto a nós? – ele quis saber, os olhinhos brilhando. ― A verdade mudou alguma coisa entre nós?

― Hum – tentei me sentar melhor sobre a cama. ― acho que sim. Mudou. E sabe de uma coisa? Eu quero que seja assim. Que haja sempre a verdade entre nós dois. E mesmo quando eu não quiser te ouvir, estiver chateada, querendo me esconder, fugir, ou me enganar, não deixe que isso aconteça. Lute por mim. Lute por mim até o final. Não deixe que eu estrague tudo outra vez.

― Shhh. – ele calou meus lábios com seu indicador. ― Não diga mais isso. Você não tem culpa de nada. – Bernardo deu-me um selinho rápido. ― Eu lutarei por você, sempre lutarei por você. Por acaso alguma vez, em todos esses meses, eu deixei de lutar por você?

― Bom, eu não sei. – eu ri. Ele também.

― Não deixei! E nunca deixarei. Eu estava lutando pra ter você de volta pra mim todo esse tempo, mesmo que as vezes não fosse nada fácil admitir isso em voz alta. Me machucava, nunca senti nada parecido. Mas eu lutei por você, lutei por nós. Eu te amo muito, Clarissa. E não é nada fácil te perder. Não quero que isso volte a acontecer nunca mais.

E assim nos beijamos, definitivamente nos beijamos. De verdade. Um daqueles beijos bem prazerosos. Que no começo é suave, leve e te dar uma sensação de liberdade. E que depois vai aumentando de ritmo aos poucos, ficando mais saboroso, mais caloroso, mas feroz.

Suas mãos acariciando meus cabelos, descendo por minhas costas, acarinhando meus braços nus. Como se ele nunca mais fosse me deixar ir embora e me quisesse por perto sempre.

Minhas mãos tocando seus cabelos pretos e macios. Depois tocando seu rosto de traços delicados, sentindo a doçura de sua pele branca levemente rosada. Passei a ponta dos dedos na musculatura de suas costas contraídas e de seus braços rígidos segurando-me firme.

Ah, que saudade eu senti naquele cabelo preto-escuro, os olhos cor do céu e do mar, os braços em volta do meu corpo segurando-me forte, o perfume suave e marcante de sua pele, os lábios quentes sugando os meus, a ponta da língua tocando a minha e dando aquela sensação de que uma correte elétrica ligava nós dois.

Eu amo cada pedacinho do Bernardo.


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Notas finais do capítulo

Foi bom, não foi? Finalmente toda a verdade. Agora vai, agora só vai pra frente. Comentem!