Quando Tudo Aconteceu escrita por Mi Freire


Capítulo 42
Capítulo XLI


Notas iniciais do capítulo

Sinto muito lhes informar, esse capítulo é um horror. Vocês vão querer me matar, mas entendam, tudo tem um propósito e as coisas tiveram que ser assim nesse primeiro momento. O lado bom é que é o penúltimo capítulo da Parte I e logo em breve teremos coisas novas para conhecer.



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Acordei na manhã de sábado e dei de cara com o rostinho delicada da Clarissa bem na minha frente. Sua respiração sonolenta contra a minha, os olhos ainda fechados, a boca entreaberta, as mãos segurando as minhas e seu peito subindo e descendo suavemente.

Ainda olhando pra ela, não conseguia acreditar que seu mundo tinha desabado assim, de um dia para o outro, ao conhecer seus pais de verdade e descobrir que são dois mentirosos impiedosos.

Noite passada ela chegou na minha casa de surpresa, e sua situação não era das melhores. Foi a primeira vez que eu a vi completamente frágil, com um choro incontrolável com direito a soluços e o corpo tremendo, ela não queria desgrudar de mim nem por um momento, mal conseguia falar e dormiu rapidamente.

Foi a melhor noite da minha vida, apesar de não termos feito nada de mais, além de dormimos nos braços um do outro. Um prazer doce de tê-la comigo pela primeira vez. Eu fiz carinho na Clarissa até ela pegar no sono e só dormir após me certificar que ela estava melhor.

Acordei algumas vezes pela madrugada, preocupado. Abria meus olhos e mesmo através do escuro do meu quarto eu queria ter certeza de que ela ainda dormia como um bebê e não mais chorava. Caso contrário meu peito continuaria doendo por ela. Detesto vê-la sofrer. As vezes sinto que o mundo não está preparado para receber um alguém tão maravilhoso quanto a Clarissa, e quero protege-la todo o tempo, de todas as maneiras que eu puder.

― Não fica me olhando assim, Bernardo. – ela sussurrou, com os olhos ainda fechados. Um breve sorriso surgiu em seus lábios. ― Isso me deixa constrangida.

Eu sorri. Ela acabara de acordar.

― Porque você é tão bonita de manhã? – pergunto, ao vê-la abrir os olhos devagar, afastando o cabelo loiro do rosto.

Clarissa sorriu timidamente, as bochechas ficaram rosadas.

― Vamos subir, para tomar café da manhã? Meus pais já devem estar lá em cima. – beijei seu rosto, dando-lhe bom dia. Feliz por ela estar ali.

― Ah não. – ela fez biquinho, toda manhosa. ― Vamos ficar mais aqui, juntinhos. Pelo resto do dia. Que tal? Eu adoraria!

Completamente compreensível. Clarissa estava com medo de encarar o mundo lá fora que só estava aguardando por ela.

― Faz assim – eu me sentei. ― eu vou lá em cima e pego o café da manhã pra gente tomar aqui na cama mesmo. Ta? Eu já volto.

Passamos a manhã inteirinha ali, trancafiados no meu quarto. Tentei distrai-la de várias maneiras. Mas, não poderíamos ficar assim pelo resto do dia por um milhão de razões.

Clarissa voltou pra casa no meio da tarde, após eu ter lhe dado a maior força para ela superar a tudo aquilo. E quando ela precisasse, era só ligar pra mim, e eu iria correndo salva-la.

O resto do dia foi bem tranquilo. Eu fiquei em casa, apenas curtindo a minha preguiça. No comecinho da noite a Marina me ligou para conversar, ela queria dar uma volta, sentia-se muito entediada. Eu, até que tentei ligar para o Miguel ir com a gente também, eu estava com saudade dele, que agora só tinha tempo para a Brenda. Mas como sempre, ele estava ocupada servindo a ela.

Marina e eu fomos comer batata frita no centro e ficamos conversando por um longo tempo sobre diversos assuntos – ela sempre tem o que conversar. O silencio definitivamente é algo que ela odeia. Mas não conversamos sobre o seu namoro com o Gustavo.

Cheguei em casa, levei um baita susto. Pois, sentado no sofá da minha sala, estava a última pessoa que eu esperava ver aquele dia.

― Vicente? O que faz aqui? – perguntei, fechando a porta.

― Bernardo, precisamos ter uma conversa séria.

Será que eu tinha feito alguma coisa de errado? Provavelmente ele deve ter imaginado que eu e a Clarissa fizemos alguma coisa na noite passada que ele acredita ser cedo demais pra isso baseado do meu histórico de relacionamentos.

― É sobre a Clarissa. – ele prosseguiu. E eu me sentei próximo a ele. ― O que eu vim falar pra você hoje é muito sério. E eu não te pediria algo assim se não fosse importante.

― Você está começando a me deixar nervoso. – levei a mão até a boca, louco para roer as unhas. ― O que é?

― Quero que você – ele desviou o olhar, provavelmente muito desconfortável. ― se afaste da Clarissa.

― O quê? – arregalei os olhos sobressaltado, soltando a respiração que eu nem havia percebido que segurava. ― Não! Não pode estar falando sério! Você está enganado... Nós não fizemos nada na noite anterior. Ela chegou aqui muito chorosa, estava com muito medo e....

― Não é nada disso, Bernardo. – ele me interrompeu, muito pacientemente. ― Eu sei que não fizeram nada. Ela nem estava com condições pra isso. É outra coisa. Só peço que me escute.

Assenti, nervosamente. Roendo todas as unhas.

― Você provavelmente já deve estar sabendo de tudo. Ela deve ter te contado tudo ontem mesmo. E você deve saber que os pais dela são dois pilantras e estão atrás de dinheiro, pois estão falidos e sem nenhum costão para sobreviver. Eu tentei de muitas formas evitar que eles se aproximassem dela e interferisse em sua vida, mas não adiantou e aconteceu o que aconteceu. Mas, eu não quero que seja assim, não quero que a Clarissa viva infeliz com a presença deles. Por isso teremos que sair da cidade e ir pra bem longe daqui. Preciso despista-la deles! Mas ela jamais iria embora sem você. Ela te ama mais que qualquer outra coisa e seria muito difícil pra ela sair da cidade e deixar você pra trás. Por isso vim aqui essa noite te pedir um favor: quero que você invente uma desculpa, qualquer coisa, que faça ela acreditar que vale a pena deixar tudo pra trás porque não ela não tem nada para se prender aqui, na cidade. Eu preciso muito que você faça isso por mim, Bernardo. Sei que provavelmente é um pedido muito egoísta da minha parte, pois vocês se amam muito, mas pense no bem dela. É o melhor para ela viver longe desses dois delinquentes! Você o único que pode me ajudar.

Vicente nunca me pediu algo, nunca se quer falou comigo dessa forma, como se estivesse desesperado para salvar a vida da filha a qualquer custo. E eu entendia o lado dele, porque também sou pai e faria qualquer coisa pela Liz. Mas ficar sem a Clarissa seria um peso muito grande pra mim. Não sei se seria capaz de algo assim.

― O que eu poderia fazer pra ajudar? Não consigo pensar em nada que possa fazê-la desistir. Nós estamos muito bem, nosso relacionamento sempre foi estável, raramente brigamos e sempre que brigamos nós resolvemos logo a seguir.

― Eu não sei, Bernardo. Faça qualquer coisa, por favor. Você é minha última saída. Eu preciso tira-la daqui antes que eles suguem tudo dela. Não posso permitir que eles façam tão mal a ela!

Suspirei forte, sentindo um peso grande sobre mim. Meus olhos já estavam se enchendo de lágrimas, embaçando minha visão.

― Se é para o bem dela, eu te ajudo sim. – tentei sorrir, mas certamente não funcionou. ― Eu só quero o melhor para a Clarissa. Vou pensar em alguma coisa, eu prometo.

― Obrigado, Bernardo. Eu sabia que você faria isso por mim! Você é um menino de ouro, seus pais têm razão. Todos têm razão! Você é especial, ama e se importa com a Clarissa muito mais do que eu gostaria de ter que admitir. Sei que você é o melhor pra ela, mas não te pediria algo assim, tão difícil pra todos, se não fosse pela felicidade dela. – ele levantou-se, e eu também. ― Eu sinto muito. Eu sinto muito ter que destruir o namoro de vocês. – pego de surpresa, Vicente me abraçou.

Quando ele foi embora, eu desabei sobre o sofá ainda chocado com o que acabara de acontecer. E ainda mais por ter concordado fazer parte disso. Mas eu não posso deixar que o tamanho do meu amor pela Clarissa seja egoísta ao ponto de fazê-la sofrer ainda mais ficando aqui, na nossa cidade, com os pais de verdade dela, dois traidores, querendo sugar até mesmo a sua alma. Ela, mais que qualquer outra pessoa, merece o melhor. Merece ser feliz, mesmo que pra isso eu tivesse que abrir mão da minha própria felicidade. Porque amar é exatamente isso, é pensar mais na felicidade do outro no que a de si mesmo.

― Filho, você está bem? – minha mãe veio da cozinha, deparando-se com a minha expressão desolada.

― Não mãe, não está nada bem. E vai ficar ainda pior pelos próximos mil anos! – digo, levantando-me. Vou até o meu quarto e me tranco por lá pelas próximas horas pensando no melhor plano para fazer com que a Clarissa duvide do meu amor por ela. Pois assim será mais fácil ela partir sem se importar em me deixar pra trás.

Eu só espero que um dia ela seja capaz de me perdoar por isso e que possamos viver juntos novamente sem interferências, porque isso, por enquanto, parece ser impossível para nós.

Eu nem se quer tive coragem de acordar cedo no domingo de manhã para ir à igreja. Pois não conseguiria encarar a Clarissa, sem lembrar que eu ainda teria que fazer alguma coisa para nos separar, acabar e destruir o nosso namoro de uma vez por todas, sem ela em poder saber que tudo aquilo era por ela, para o bem dela.

― Bernardo? Oi. – ela me ligou, um pouco depois do meio-dia. ― Você nem foi a missa hoje. Estou morrendo de saudade.

Meus olhos se encheram de água naquele momento. Era assim desde então, desde que o Vicente me pediu esse maldito favor: meus olhos se sensibilizavam por qualquer coisinha.

― Eu também meu amor, eu também. – tentei não chorar ao telefone. ― Como estão as coisas? Você está bem?

― Um pouco melhor agora. Mas eu preciso de você pra me sentir inteiramente melhor. – senti que ela sorriu do outro lado, e uma lagrima escorreu dos meus olhos de dor.

Você merece ser feliz, pensei. Merece sorrir todo o tempo.

― Posso passar aí daqui a pouco? Quero te ver!

― Melhor não. Eu tenho.... Umas coisas pra fazer. – sou péssimo mentiroso. ― A gente se ver amanhã no colégio, tudo bem?

― Ah, então tá. – ficou evidente pelo som da sua voz sua chateação comigo. ― Até amanhã. Eu amo você.

― Eu amo você, e só quero te ver bem.

Peguei meu celular, carteira, chave de casa e saí, em mente eu tinha um plano para a afastar a Clarissa. A única coisa que pude pensar no momento. E torcia para que desse certo, ou... Nem tanto.

Porque eu torceria para a Clarissa me odiar se eu a amava tanto?

― Bernardo? Que surpresa! – Lorena me recebeu com um largo sorriso. Deu-me um beijinho no rosto e um rápido abraço. ― Entra. – ela olhou pra mim e seu sorriso morreu no mesmo instante. ― Já sei... Está com problemas? Pode entrar. – ela me puxou. ― O Rafael não está.

― Obrigado. – digo, ao entrar. Sento-me no canto do sofá, e ela senta-se ao meu lado. Olhando-me com preocupação. ― Vocês ainda estão juntos? Mesmo depois de...

― Ah não. Nós não estamos mais namorando. É que eu ainda não superei muito bem isso. E muito menos ele, que ainda vive atrás de mim. O que não ajuda nenhum pouco a esquece-lo. – ela suspirou, meio inconformada. ― Enfim, mas e você, o que o traz aqui essa tarde? Hum... Já sei! Tá com saudades da Liz?

― Não... Na verdade, preciso muito da sua ajuda para uma coisa. – eu fui direto ao assunto, sem rodeios. Olhando fixo pra ela. ― Eu quero que a Clarissa me odeie. E só você pode me ajudar nisso.

Expliquei tudo a ela, cada detalhe.

― Ainda não entendo... Se você a ama tanto assim porque quer que ela seja feliz longe de você? – ela fez uma careta. ― E daí que os pais dela não vão a deixar em paz? Vocês certamente poderiam superar isso juntos. Não vai ser fácil pra ela fazer isso sozinha sem a sua presença, afinal, ela também parece amar muito você.

― Não é ideia minha. É ideia do pai dela. Ele quer que ela faça essa viagem sem volta sem que ela sinta que deixou algo muito importante pra trás e possa recomeçar longe daqui, entendeu?

― E tudo bem pra você? Digo, ela viver feliz longe daqui?

― Não, não tá tudo bem, Lorena. – lágrimas escorrem pelas minhas bochechas sem que eu perceba. ― Eu queria passar o resto dos meus dias ao lado dela. Mas no momento isso não é tudo, não é o mais importante. Então, por favor, me ajude nessa.

― Claro, Bernardo. Eu te ajudarei no que precisar. Você sempre me ajudou em tudo! – ela segurou a minha mão, apertando de leve e olhando-me com seus lindos olhos azuis-acinzentados ― Pode contar comigo! Se é assim que tem que ser, que seja.

Ouvimos o choro da Liz vindo lá de cima.

― Agora muda já essa carinha. – ela secou minhas lágrimas com um sorriso, da mesma forma que costumava fazer quando namorávamos. ― Sua filha precisa de você. Ouça! Ela sabe que você está aqui. – ela levantou-se, puxando-me também. ― Vamos comer alguma coisa. Esqueça isso por um momento. Você é um garoto lindo para ficar chorando todo o tempo.

Eu não queria acordar na segunda-feira de manhã, pois já sabia que o que teria que enfrentar quando colocasse meus pés fora de casa e não estava preparado para isso, apesar de não ter muitas opções.

Por mim, eu dormiria pelos próximos meses sem acordar nem pra comer ou para ir ao banheiro. Queria apenas dormir. Mas minha mãe jamais permitirá algo assim, e me puxou pelos pés para fora da cama antes que eu me atrasasse para a aula.

Era como uma despedida, como se fosse os últimos momentos de nossas vidas. Era assim que eu me sentia. Porque certamente depois do que eu faria com ela, Clarissa me odiaria pelo resto da vida, iria pra bem longe daqui e jamais voltaríamos a nos ver. Apesar de estar muito triste, louco pra voltar no tempo e modificar certas coisas, ou simplesmente me trancar em uma sala e chorar pelo resto do tempo, eu tentei superar tudo isso e trata-la da melhor maneira possível, sem levantar suspeitas, como se estivesse tudo bem.

Eu me sentei com ela lá na frente, desde a primeira aula. Segurei sua mão enquanto prestávamos atenção na explicação dos professores. Olhei pra ela admirado enquanto ela fazia suas anotações. Na troca de professores eu a puxava para um beijo mesmo sabendo que aquilo a envergonhava, pois estávamos no meio da sala de aula, rodeado por nossos colegas de classe. No intervalo lanchamos juntos, conversamos e eu não desgrudei dela nem por um momento. Nas últimas duas aulas após o intervalo tivemos aula vaga – por ser a última semana de aula do ano, sem nada em especial pra fazer - e eu a convidei para passearmos no jardim do colégio, dei uma flor a ela e um bilhetinho que escrevi pra ela enquanto se manteve ocupada.

― Eu sei que você é muito romântico, carinhoso, atenciosos... Mas hoje, em especial, está muito mais. Porque? – ela sorria. ― O que houve? Porque está agindo dessa maneira? Não estou entendendo.

Clarissa soltou um risinho.

― Não é nada. – forcei um sorriso, esperando que funcionasse, que ela acreditasse nele. ― É porque ontem não nos vimos, então, eu só queria matar a saudade. Não posso?

― Claro que pode, bobinho. – ela jogou os braços em volta do meu pescoço, erguendo a ponta dos pés. ― Eu amo tudo em você.

Ela me beijou, e eu segurei o choro.

O sinal tocou: hora de ir embora.

Ou melhor, hora de colocar o plano em pratica.

― Vou ir buscar nossas mochilas na sala de aula.

― Não! Espera um pouquinho. – eu a puxei pelo braço, ela riu. Mas eu não. ― Antes de mais nada, só quero que você saiba que, não importa o que acontecer, eu sempre te amarei.

― Eu também, sempre te amarei. – ela me deu um selinho. ― Mas porque está dizendo isso? Não estou entendendo Bernardo...

― Agora não, mas um dia irá entenderá. – eu a puxei para um último abraço. Sim, eu sabia que aquele seria o último. Só queria sentir o perfume dela pela última vez, e aquela sensação prazerosa de tê-la tão perto de mim. O mais perto que ela poderia estar. ― Agora vai lá – eu a soltei, com muita relutância. ― Eu te espero lá fora.

Antes de ir, ela me lançou um olhar que eu guardaria comigo pra sempre. Junto com aquele sorriso que me enfeitiçava.

― Bernardo! – Lorena me alcançou quando eu já estava me aproximando da saída. ― E ai? Vamos?

― Vamos! – eu a peguei pela mão e corremos lá pra fora tentando passar pela multidão de alunos agitados para irem embora. ― Ela já está vindo. Vamos depressa!

Já na calçada, virei-me de frente para a Lorena, e ela de frente pra mim, mais perto do que eu gostaria. Sentia um embrulho no estomago e meu corpo suando frio de nervosismo.

Tudo que precisávamos fazer... Era encenar por alguns minutos, fingir que estávamos tendo algo a mais que uma simples amizade.

― Tem certeza de que quer isso? – ela sussurrou, tocando meu rosto. A àquela altura muitos curiosos já estavam olhando pra gente. ― Você ainda tem tempo de desistir.

― Não posso! Entenda! – toquei sua cintura, fina e delineada por causa da dança. A maioria dos garotos do colégio consideram a Lorena uma deusa. ― Vamos continuar. Ela já vai chegar.

A Clarissa demorou mais que eu gostaria, já estava ficando difícil pra mim encenar uma recaída pela Lorena diante daquele bando de gente curiosa, já fazendo fofoca sobre nós.

Ouvi alguém cochichar algo sobre a Clarissa estar vindo.

A Lorena tocou o meu peito, de maneira acanhada, como se fosse me beijar, de verdade. Mas aquilo não fazia parte do combinado. E eu olhei assustado para ela. Ela estava mesmo disposta a me beijar, não sei se pra dar mais realidade ao nosso plano ou porque ela estava mesmo com vontade de me beijar. Mas eu não conseguiria beija-la de volta, porque não queria. Eu queria mesmo era a Clarissa.

― Não... Não faça isso. – sussurrei, quando ela já estava a três centímetros do meu rosto. ― Eu não consigo.

― Er, bom, tudo bem então. – ela se afastou um pouco. ― Era só pra... Pra... A Clarissa acreditar mais. – ela virou a cabeça em outra direção, desviando o olhar de mim. ― E acho que funcionou.

Olhei na mesma direção que ela. E lá estava a Clarissa paralisada, a minha mochila no chão, ela estava surpresa e muito chocada pelo que viu e olha que nem chegamos a nos beijar. Vi sua expressão de tristeza mudar para raiva. Ela me olhou torto, balançou a cabeça negativamente, provavelmente me xingando em pensamentos de traidor ou coisas piores. Engoli em seco naquele momento. Aborrecido por tê-la decepcionada, e, por outro lado contente, por meu plano ter funcionado exatamente como eu imaginei.

Era o fim. O fim dos melhores dias da minha vida ao lado da pessoa por quem eu sempre esperei.

A Clarissa, muito humilhada, saiu correndo pra bem longe dali. E o que eu pude fazer? Nada, absolutamente nada.

Seria o melhor para ela, e isso era a única coisa que me reconfortava.

― O que deu em você? – Marina gritou comigo, ao me encontrar. Naquele momento percebi que a Lorena já não estava mais ali. ― Ficou maluco? Qual é o seu problema? Eu pensei que você fosse diferente.

E ela saiu correndo atrás da Clarissa.

― Depois eu te explico. – eu disse, mas acho que ela não escutou, pois já estava longe demais para ter escutado.

Em casa, a única coisa que eu fiz foi chorar pela minha derrota.

Houve um momento em que meu celular vibrou no bolso, rapidamente eu o peguei para ver se a Clarissa havia me mandado alguma coisa que pudesse me alegrar, por ela ter descobrindo que aquela cena com a Lorena fora uma farsa.

Mas não era ela, era o Vicente:

“A Clarissa chegou em casa chorando. É muito difícil vê-la assim. Pelo visto você conseguiu pensar em alguma coisa. Eu serei sempre grato a você, Bernardo. Foi melhor assim. Peço que, por favor, não a procure mais. Será mais fácil pra ela.”

Se será mais fácil pra ela, eu não sei. Mas pra mim não será fácil seguir o resto dos meus dias sabendo que a pessoa que eu mais amo tem ódio de mim por algo que eu tive que fazer por obrigação e não por vontade própria e que daqui alguns dias estarem separados definitivamente, correndo o risco de nunca mais nos vermos.

Meu peito dói ainda mais com tais pensamentos e meu choro só aumenta, como se nunca eu fosse conseguir parar de chorar. Chega a dor o coração. Eu olho para o alto em busca de uma ajuda. Mas naquele momento não há ninguém que possa me ajudar, eu estou sozinho. E certamente será assim daqui em diante, agora sem a Clarissa e provavelmente sem meus amigos que devem estar me odiando nesse momento por eu ser um traidor, mentiroso, falso e mal caráter.

A vida realmente nos surpreende quando a gente menos espera: em um dia está tudo bem, você sente que não poderia estar melhor, pois estragaria. Já no outro as coisas a sua volta não fazem sentido, você se sente acabado, pra baixo, destruído, sem saídas, sem chão.

Se essa dor vai passar, parece pouco provável. Eu queria muito descobrir um jeito que pudesse ao menos ameniza-la.

Mas só de pensar na Clarissa indo embora, morando longe daqui, recomeçando de novo, com novos amigos e até mesmo um novo amor, sem dar notícias, sem falar comigo, me odiando, é de partir o coração em muitos pedaços, que ninguém seria capaz de juntar novamente.

E eu me pergunto: O que será de mim daqui em diante?


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Notas finais do capítulo

Chato, né? Chato que tenha que ter sido assim. Mas não é o fim, como podem ver. Comentem, deem suas opiniões... Só não me xinguem! Rs O ultimo capítulo não demora muito.
Detalhe: na foto inicial do capítulo o Logan Lerman, pois sempre que eu imagino o Bernardo eu penso no Logan, as características físicas. Mas cada um imagina de um jeito, claro.



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