Quando Tudo Aconteceu escrita por Mi Freire


Capítulo 39
Capítulo XXXVIII


Notas iniciais do capítulo

Meninas, obrigada por estarem sempre comentando! Vocês são uns amores ♥



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A viagem no feriado foi mais um sonho do que a realidade propriamente dita. Eu me sentia no paraíso, cercada das pessoas que eu amo e todo o tempo eu achava que não precisava de mais nada, porque eu já tinha tudo ali. Foi divertido, cada momento. Tiramos muitas fotos inclusive, para podermos lembrar daquele momento por muito tempo, mesmo que algum dia nossa memória venha a falhar, as fotos estarão bem guardadas para nos fazer recordar da nossa juventude, dos nossos momentos, das brincadeiras, dos risos, do amor um pelo outro.

O pai do Marina veio nos buscar um pouco depois das seis da noite de domingo. Foi difícil ter que me despedir daquele lugar. A verdade é que eu amo praias, a paisagem natural, o mar misturando-se com o céu, a areia macia, a brisa noturna... É tudo tão apaixonante, um ótimo cenário para viver uma quase “lua-de-mel”. Mas eu sabia, que algum dia poderíamos voltar novamente a aquele lugar e passar mais dias assim, por isso durante o caminho de volta a nossa cidade eu tentei relaxar, encostei a cabeça no ombro do Bernardo e dormi com o sorriso no rosto ao pensar nos últimos quatro dias.

Chegando em casa, o Vicente sentou-se conosco no sofá e fez questão de saber sobre tudo que rolou na viagem. É claro que tanto eu quanto Isabel deixamos de fora alguns muitos detalhes. Ele não precisava saber que passei uma noite inteirinha agarrada ao Bernardo na rede de balanço do lado de fora ou que cheguei a beber duas cervejas na festinha da galera que a gente conheceu na praia. Ou que Isabel vivia grudada do Edu, como se eles fossem um só.

Acordar na manhã de segunda-feira pra ir ao colégio foi bem mais difícil do que eu imaginei. Mas foi ainda mais difícil ter que suportar cinco aulas mesmo estando com um baita sono e aquela preguiça típica, pra minha sorte eu tinha o Bernardo ao meu lado para me cutucar sempre que meus olhos insistiam em ceder ao sono.

A semana seguiu normalmente, tirando a parte em que a Marina insistia em dizer que estava pensando seriamente em terminar o namoro com o Gustavo por vários motivos que ela nem sabia por onde começar a citar, mas que o medo de viver longe dele era maior que qualquer outra coisa. No final das contas ela não tinha coragem.

Na semana seguinte começaram as últimas provas trimestrais do ano, ao pedido dos nossos pais e um acordo entre nós, eu e o Bernardo resolvermos ficar menos juntos, se é que era possível. Para podermos estudarmos melhor para as provas. Mas eu ainda preferia estudar com ele, juntos, como uma dupla. Pois no final de tudo eu sempre era recompensada por um beijo dele, abraços, carinhos e muito chocolate.

Como íamos para o colégio só pra fazer a prova e depois éramos dispensados, aproveitávamos o resto do tempo, apesar do friozinho, para descontrair um pouco e não ficar aquele clima pesado, chato, baixo-astral, com receio do resultados das provas. Tentávamos não pensar muito nisso, pois todos nós estávamos nos esforçando muito para passarmos de ano e irmos rumo ao terceiro e último ano no colégio.

― Você não acha que o Miguel está muito estranho ultimamente. – eu observei, comentando com o Bernardo.

Fomos um dos primeiro a terminar a prova daquele dia, prova de humanas: eu, ele e o Miguel. Naquele momento estávamos no pátio do colégio, esperando pelos outros, pois tínhamos combinando antes mesmo do início da prova, em irmos ao centro comer alguma coisa.

― Que nada, impressão sua. – o Bernardo soltou um risinho, olhando para o melhor amigo um pouco mais afastado de nós, falando ao telefone com alguém. ― Você não sabe da nova.

― O quê? – abri um sorriso. ― Me conta! O que aconteceu?

― Sabe com quem ele está falando ao telefone nesse momento? – O Bernardo adora fazer um suspense. Eu balancei a cabeça, negativamente. Pois não fazia a mínima ideia. ― Com a Brenda! Eles ficaram ontem, finalmente. Ele conseguiu, e está todo contente.

Nós rimos.

Pobrezinho do Miguel, é afim de uma garota que nem sempre dá bola pra ele. E agora, quando ele finalmente conseguiu ficar com ela de verdade após tanta insistência e tentativas frustradas, ele mal consegue esconder a própria felicidade, típica de quem está apaixonado.

― Quer dizer então que não deu certo com aquela ruivinha?

― A do litoral? – Bernardo perguntou, e eu assenti. ― Que nada, a garota só queria se divertir. E ele também, bom, não queria nada muito sério. Só não queria ficar sozinho, quando ele é o único no grupo solteiro.

― Por falar nisso, e a Mari e o Gustavo em? Eles não têm se dado muito bem ultimamente. A Mari até pensa em desistir, terminar tudo.

― Ela não pode estar falando sério. – Bernardo fez uma careta. ― Sempre foi assim, sabe? Eles quase nunca se dão bem, mas ao mesmo tempo são como se tivessem sido feitos um para o outro.

― Ih, não sei não. Ela está muito pra baixo, tadinha. Anda muito desanimada, sem motivação. Não é aquela velha Marina de sempre. Talvez ela só esteja cansada de viver assim, sempre brigando com ele.

Decidimos não falar mais sobre aquilo, quando pouco a pouco o restante de nós apareceu. Fomos ao centro caminhando, conversando pelo caminho e paramos pra comer em uma lanchonete.

Na sexta-feira, o ultimo dia de prova, eu e o Bernardo resolvemos sair só nós dois, aproveitando o sol mesmo que fraco daquela tardinha, o ar ainda estava congelante. Fomos até o parque, queríamos andar de pedalinho no lago. Foi um momento bastante agradável para esquecermos por um momento as dificuldades que alguns dos nossos amigos vinham enfrentando nas últimas semanas que acabavam também afetando a gente.

É aquela velha história: se seu amigo não está bem, você automaticamente fica mal também por ele.

E era assim que nos sentíamos na maior parte do tempo, desanimados por causa dos problemas dos nossos amigos.

Marina estava cada vez mais distante do Gustavo, como se eles quisesse evitar um ao outro, apesar de não admitirem pra ninguém. Isso estava afetando muito o grupo. Pois de um lado ela não nos procurava, porque sabia que o Gustavo ia estar por perto e outras vezes ele se mantinha afastado para não deixa-la ainda mais aborrecida.

O namoro dos dois estava com sérios problemas.

O Miguel, por sua vez, estava no mundo da lua. Vivia mais pra lá do que pra cá. Atrás da Brenda que ainda o tratava como um cachorrinho e ele, pobrezinho, fazia tudo que ela mandasse. Estava na cara que ela estava brincando com os sentimentos dele, mas se eu ou do Bernardo resolvêssemos falar alguma coisa, alerta-lo, ele não queria nem saber e dizia que queríamos estragar a felicidade dele por pura inveja.

Vê se pode.

O Edu e a Isa viviam no mundinho particular deles, não davam espaço pra ninguém entrar. Por fim, eu e o Bernardo acabamos sobrando no grupo. O nosso grupo não estava passando por uma fase muito boa. E nós dois sentíamos isso na própria pele, como se fossemos a base de tudo, o que sustentava a nossa amizade.

― Vamos mudar de assunto. – Bernardo sugeriu, me ajudando a descer do pedalinho. Tínhamos dado a volta no lado por meia hora, que era o tempo máximo. ― Como estão as coisas com o seu pai?

Ele pegou a minha mão, colocando dentro do bolso do seu casaco junto com a dele. Afastamo-nos do lago e caminhamos pelo gramado.

― Tá tudo ótimo. Ele está sendo um bom pai desde que a gente começou a namorar. Acho até que a Aline, que tem estado cada vez mais próxima, foi a principal razão pra ele ter mudado de ideia tão repentinamente. Eles conversam bastante, ela parece ser a única pessoa que ele sabe escutar. E como ela adora você e gosta da gente, tem ajudado muito de todos os jeitos. Eu gosto muito dela!

― Eu não queria me intrometer nisso. – disse ele, olhando pra baixo enquanto ainda andávamos sem rumo. ― Mas o que você acha de tudo isso? Digo, quem sabe em um futuro próximo eles fiquem juntos pra valer. O que você acharia? Bom ou ruim?

― Eu? Ah, eu particularmente iria gostar. Ela é uma mulher incrível, sem dúvidas, a melhor que já entrou na vida do Vicente. Eu só não sei se estaria preparada para.... Mudanças, entende? Morar juntos dividir a mesma casa, novas regras, essas coisas. O Miguel também iria odiar a ideia, iria odiar ainda mais o meu pai. – eu ri, com humor.

― Não é que ele odeie seu pai. O Miguel é complicado, ele é ciumento. Acha que a Aline é propriedade dele. Mas também devemos nos colocar no lugar dele. Ela é jovem, muito bonita e atraente, cheias de qualidades, não há se quer um homem que não a admire e ele cresceu tentando conviver com isso, pois desde a morte do pai dele ela sempre foi solteira, sozinha. Ele foi se acostumando com a ideia de ter a mãe dele só pra ele e agora que o Vicente entrou na história ele não sabe ligar com isso. Talvez ele só precise de uma ajudinha.

O Bernardo parou, virando-se de frente pra mim e arrumando a toca azul-claro na minha cabeça. Como se fosse o meu pai, porque ele é assim mesmo, todo o tempo, muito cuidadoso.

― Uma ajudinha da futura meia-irmã. – ele acrescentou, me fazendo rir no mesmo instante.

― Não seja bobo. – eu tentei conter o riso, dando cutucões na costela dele. ― Ele não me quer como sua meia-irmã, ainda mais agora que está todo encantado pela Brenda. Ainda mais que antes.

Bernardo me levou até em casa, como ele sempre fazia e eu aproveitei para convida-lo para entrar. Era sexta-feira, dia frio e tínhamos o tempo todo livre. Chegando lá adivinhem só com quem nos deparamos tomando posse da cozinha da minha casa? Exatamente. A Aline estava por lá, fazendo um bolo e café.

Quando nos viu, ela nos cumprimentou toda sem graça.

― Não sabia que vocês chegaram tão cedo do passeio. O Vicente disse que... Ah, deixa pra lá – ela riu, tirando o bolo do forno. ― Chegaram bem na hora do lanche da tarde.

Quando nos sentamos a mesa, o Vicente apareceu.

― Ah, vocês. – ele arqueou a sobrancelha, aparentemente surpreso. Deu-me um beijo na cabeça e cumprimentou o Bernardo com um aperto de mão. ― Hum, o cheirinho está ótimo.

Aline nos serviu, como se realmente fizesse parte daquela casa, como se fosse dona da cozinha, como se soubesse exatamente onde estava cada prato, talheres e copos, como se fizesse parte daquele cenário, como dona-de-casa e mãe de família.

Não que eu tivesse achado ruim, mas é que sempre foi só eu, Isabel e o Vicente. Não estava acostumada a ideia de ter uma família grande ou uma mãe prestativa e presente. Mas eu poderia me acostumar facilmente, assim como me acostumei como todas as outras novidades na minha vida nos últimos meses.

Achei bem estranho o fato do Bernardo não ter me mandando nenhuma mensagem de texto no sábado de manhã e também pelo resto da tarde. Absolutamente nenhuma, nem se quer ligou ou apareceu para dar alguma explicação. Comecei a ficar realmente preocupada com o chegar da noite. Teria acontecido alguma coisa de grave?

Eu só saberia se fosse atrás.

Peguei minha bicicleta mesmo garoando lá fora e pedalei muito depressa pelas ruas desertas até a casa do Bernardo. Chegando lá vi que estava tudo acesso e não havia nenhuma movimentação diferente das outras vezes em que estive ali. Encostei a minha bicicleta na lateral da casa e fui até a porta, toquei a campainha e esperei.

Ninguém veio me atender.

Havia algo muito errado ali, eu logo percebi.

Já mais familiariza, entrei na casa assim mesmo. Percebendo que apesar das luzes acessas, não havia ninguém na sala de estar e nem na cozinha. Chamei três vezes pelo Bernardo e pelos pais dele e nada, nenhum resultado. Fui primeiro dar uma boa olhada no quarto dele, no pavimento superior. Estava vazio. Voltei a descer para o térreo e resolvi conferir no quarto-porão, quando de repente vejo o inesperado.

Bernardo e Lorena.

Não iria fazer nenhum escândalo ou ceninha de ciúmes e indignação, até porque eles não estava fazendo nada de mais, mesmo eu estando de longe, mesmo eles não sabendo da minha presença ali.

Tentei não fazer barulho e continue observando do alto da escada.

― ... ele está atrás de mim o dia inteiro desde que a gente brigou, mas eu não quero olhar pra cara dele nem tão cedo. – ela dizia, chorosa. Lorena estava passando a mão.... Na filha dela. Sim, a Liz também estava ali, deitadinha na cama, bem coberta e dormindo.

O Bernardo estava sentado de frente pra Lorena, não muito longe, não muito perto, atento a tudo que ela dizia.

Pelo pouco que entendi da conversa, ela tinha brigado feio com o namoradinho, o Rafael. E recorreu ao Bernardo. Mas afinal, o que é que ele tinha a ver com tudo isso? Porque ela não procurou uma amiga ou os pais dela? Precisava mesmo procurar abrigo logo ali na casa do meu namorado? No quarto-porão dele que todos sabem que é uma particularidade só para os mais íntimos e....

― ... ele não é como você, Bê. Nenhum garoto é como você! – ela enxugou as lágrimas. ― Eu gosto muito dele, mas sinto sua falta. As vezes quando paro pra pensar em quando a gente namorava, eu sinto falta de tudo, eu sinto falta de você.

Espera aí, ela faria mesmo o que eu acho que ela faria?

Lorena sentou um pouco mais perto do meu Bernardo, pegando as mãos dele para segurar. Ela olhou pra ele de maneira tão intensa, que mesmo de longe eu puder ver o Bernardo fraquejar. Ele engoliu em seco, atordoado. E ela, nada esperta, foi se aproximando mais e mais dele, quando dei por mim, ela já estava prestes a beija-lo.

― Não, não pode ser. – disse eu, mais alto, em tom sarcástico. Chamando a atenção dos dois rapidamente, que finalmente notaram a minha presença. ― Então foi por isso que você sumiu o dia todo.

― Clarissa? – Bernardo se levantou, espantado. Olhando pra mim, ainda no topo da escada, de braços cruzados e cara feia.

Eu saí correndo dali com toda fúria, porque sou uma tonta mesmo, eu admito. Peguei minha bicicleta e subi nela muito rápido, com muita agilidade. Vi quando o Bernardo vinha correndo atrás de mim, querendo se explicar, querendo conversar, querendo mentir. Mas eu, muito mais rápida com a minha bicicleta, voltei pra casa sem olhar pra trás.

Me tranquei no meu quarto, desliguei meu celular, nem se quer liguei meu computador, queria ficar fora do ar pelas próximas horas, se possível. E a cada vez que o telefone tocava lá em baixo, eu gritava pra Isabel – o Vicente não estava em casa – e pedia pra ela dizer que eu não estava, independentemente de quem quisesse falar comigo. Mais precisamente, se fosse o Bernardo querendo falar comigo. E sim foi ele o único a ligar pelas próximas horas seguintes, incansavelmente. Até o momento em que desci ir até lá em baixo, pedi pra ele me esquecer aos gritos e tirei o telefone do gancho. Pronto.

Qualquer tentativa do Bernardo em conversar comigo nos dias seguintes foram em vão. Porque eu ignorei todas elas, e continuaria ignorando enquanto ainda estivesse me sentindo tão mal por tudo que vi e escutei no sábado à noite.

― Oi, Clarissa. – ergui os olhos, vendo o Diego se aproximar de mim durante o intervalo. Quando na verdade tudo o que eu mais queria era ficar sozinha. ― Posso me sentar aqui?

― Claro. – dei um espacinho, chegando pra lá. Tentando ser o mais simpática possível. ― Senta aí.

― Tá tudo bem? – ele perguntou, mas antes que tivesse tempo de abrir a boca ele continuou: ― Claro que não tá. Você e o Bernardo estão brigados, é obvio. – ele revirou os olhos, de maneira engraçada. ― Tá todo mundo sabendo já, apesar de todos desconhecermos os motivos. É que vocês não estão mais juntos todo o tempo, as pessoas percebem. Vocês são, ou eram pelo menos, o casal sensação. O que houve?

― Problemas, apenas problemas. – olhei pra ele por alguns segundos, depois desviei o olhar. Percebendo que em um ponto não muito longe dali o Bernardo nos observava, muito curiosamente. Tentei não sorrir ao ver essa cena patética. As vezes ele consegue ser bem idiota. ― Problemas típicos entre um casal.

― Não quero ser intrometido. Eu sei que você nunca foi do tipo que fala das suas intimidades. Mas, eu posso te dar um conselho?

― Claro. – sorri. ― Diga lá.

― Eu ainda me recordo de quando a gente namorou, mesmo que no começo tenha sido uma mentirinha, uma farsa, eu guardo cada momento dentro do meu coração e tento aprender com todos eles, apesar de não termos dado certo por vários motivos. E um deles, é que é extremamente nítido que você e o Bernardo foram feitos um para o outro e isso não é papo-furado. Até mesmo quando estávamos juntos, eu via a maneira como vocês se olhavam, como conversavam, como agia e tudo era tão completo, tão diferente, tão único. Algo que poucas pessoas tem a oportunidade de sentir. E isso chama-se amor verdadeiro. Sim, isso é exatamente o que vocês sentem um pelo o outro: é verdadeiro, é real. Mesmo distantes, mesmo separados, mesmo brigados. Algo que nem se vocês quisessem, deixariam de sentir um pelo outro.

― É muito bacana que você esteja dizendo tudo isso, Diego. – interrompo-o. ― Mas o que exatamente você quer dizer com isso?

― Eu só queria dizer que, vocês não deveria deixar algo tão bonito assim ser abalar por qualquer coisinha. Vocês são únicos, são um casal de sorte, têm um ao outro e será sempre assim, nem que se passem mil anos, sentimentos assim nunca mudam. Tentem conversar, tentem se resolver, tentem se unir, pois tem muita gente por aí querendo tirar o que é de vocês, por não terem a oportunidade de sentir igual ou parecido. Não se deixem vencer por qualquer bobagem. – Diego levantou-se como quem vai embora, beijou a minha testa e deu um de seus melhores sorrisos. ― Juntos vocês são imbatíveis.

Fiquei meio desolada, atordoada, perdida com tudo que acabei de ouvir vindo do próprio Diego. Logo do Diego! Quem imaginaria algo assim tão sábio vindo do meu ex-namorado que um vez até tentou abusar de mim ao me confundir com sua ex-namorada que hoje em dia é sua atual namorada? Na verdade, nem sei mais. Confuso, não é?

Mas acima de tudo, foram belas palavras, admito. Pensei muito no que ele disse nas aulas seguintes, ou melhor, só consegui pensar nisso, e cheguei a uma conclusão. Diego tinha total razão.

― O que ele queria com você em? – Bernardo, estupidamente me pegou pelo braço, ao saímos da sala no final da última aula. Eu meio que já esperava por isso, nem fiquei surpresa ou ainda mais nervosa.

― Nada em especial. Apenas ser um bom amigo, com bons conselhos a oferecer. – tentei sorrir, fazendo ele me soltar.

― Podemos conversar? Agora ou quando você quiser. – ele balançou os ombros, fingindo não dar muita importância. Os olhos azuis como um dia nublado, lindos como sempre.

― Sim, podemos conversar. Mais tarde, passa lá em casa se puder. Ou se tiver muito ocupado, me avisa antes por favor.

Acho que ele entendeu a ironia da última frase.

A noite já estava começando e o frio entrava com tudo pela janela do quarto que esqueci aberta. Pra minha sorte, estava bem acomodada de baixo do meu grosso cobertor, com as costas apoiadas na almofadas, tomando meu chá quentinho e escrevendo uma bobagem qualquer na minha caderneta. Quando ouço uma batida na porta.

― Posso entrar? – era o Bernardo, finalmente. Assenti pra ele, ele sentou-se comigo sobre a cama. ― Precisamos conversar, mas na verdade nem eu sei por onde começar.

― Que tal você começar a explicar o porquê da Lorena estar na sua casa em um sábado à noite, no seu quarto, na sua cama? E o porquê de você nem se quer ter telefonado pra avisar.

― É complicado. – ele fez uma careta. ― Ela apareceu bem cedinho com a Liz, chorando muito, nervosa, tremendo e soluçando. Eu não entendi, mas mesmo assim a convidei pra entrar. Passei o dia inteiro tentando saber o que tinha acontecido com ela, porque parecia tão destruída. Tentei reconforta-la de muitas maneiras, no bom sentido. Eu ainda nem sei exatamente porque ela estava naquele estado, desde então não nos falamos, eu nem se quer a vi. Tudo que eu sei é que ela brigou feio com o namorado e não queria vê-lo de maneira alguma. Não queria voltar pra casa porque sabia que ele estaria por lá, esperando por ela e bom, seus pais não entenderiam e ela não queria falar com nenhuma amiga, disse que eu era o único que poderia ajuda-la. O Rafael, por sua vez, pode até ter imagino que ela estaria na minha casa, mas ele não seria louco de aparecer por lá. Não depois da nossa briga. Ela bem que tentou explicar, mas estava chorando tanto que eu acabei não entendendo nada. Nem insisti mais no assunto. Estava mesmo preocupado com a minha filha, ela não poderia ficar em qualquer lugar, de qualquer maneira, só porque a Lorena estava com problemas. Então eu ofereci a minha casa pra ela ficar aquela noite e o meu quarto-porão pra ela dormir. Mas não se preocupe – ele pegou a minha mão. – porque eu dormi no outro quarto de cima e no domingo de manhã acordei bem cedinho e a Lorena já nem estava mais por lá. Apenas deixou um bilhetinho agradecendo por tudo que fiz por ela.

― Mas e aquela cena que eu presenciei? Porque ela estava tão perto de você? Ela quase te beijou! E se eu não tivesse chegado bem no exato momento, sabe-se lá o que mais teria acontecido....

― Ficou maluca, Clarissa? Ela estava frágil, sensível, perdida, não estava em condições de raciocinar direito. Por um momento, ela teve ter pensado que poderíamos ficar juntos novamente, mas isso, nunca mais. E sabe porquê? – ele se aproximou, tocando meu rosto. ― Porque eu amo você e jamais deixaria isso acontecer. Eu te amo, eu te quero, eu te respeito e eu jamais vou deixar ninguém machucar você. Nem eu tenho esse direito, quanto mais a Lorena, mesmo sendo a mãe da minha filha!

― Tem certeza, Bernardo? – perguntei, a voz levemente abalada, falha, embargada. Quase como um sussurro. ― Eu pensei que....

― Não diga mais nada. – ele calou meus lábios com os seus, selando aquele momento com um beijo carinhoso. ― Nada e ninguém é capaz de separar a gente, acredite. Eu serei sempre só de você.

Bernardo voltou a me beijar, me abraçando.

A melhor parte de uma briga, com certeza é a reconciliação.

Nada é melhor que a sensação de que a paz volta a reinar entre um casal que se ama de verdade. Porque é exatamente assim que as coisas devem ser: brigas e desentendimentos podem até não serem bem-vindos, mas cada coisa, cada momento, nos ensina alguma coisa, por mínimo que seja. E o que eu aprendi nesse dia, é que os melhores conselhos vem de quem a gente menos espera.


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Notas finais do capítulo

Ufa, acabou que deu tudo certo. Imagina só que chato se essa briga - mais uma - destruísse o amor entre eles? Acho que não dá né... Não deve ser possível. O que sentem um pelo o outro é realmente muito forte! O próximo capítulo já está pronto e já adianto que, vai ter uns probleminhas com o Bernardo, mas que por fim, ele vai dá um jeitinho. Aguardem!



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