Quando Tudo Aconteceu escrita por Mi Freire


Capítulo 38
Capítulo XXXVII


Notas iniciais do capítulo

Estou de fato conseguindo escrever mais rápido, com mais tempo. Pelo menos por enquanto, que na faculdade as coisas deram uma certa aliviada. Já tem mais três capítulos prontinhos para vocês, só aguardando serem postados. E confesso que, tem uma grande surpresa vindo por aí, mas que pode não agradar a todos. Mas fiquem calmos, vai dar tudo certo rs



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Eu realmente não esperava pela festinha surpresa.

Apesar de ter achado que todo mundo estava agindo muito estranho comigo nos últimos três dias. Até mesmo a Lorena, que poucas vezes eu encontro. Se bem que desde que a Liz entrou na creche e eu tenho a obrigação de busca-la no finalzinho da tarde, na maioria das vezes, pois a Lorena está na academia de dança. Mas quando ela não está dançando, eu vou deixar a Liz em casa e lá está ela, esperando pela filha. E sempre afia diferente comigo, mas eu pensei que tivesse alguma coisa a ver com o namorado estupido dela.

Só que não. A verdade é que estavam todos me enganando!

Recebi abraços de todos.

Minha mãe trouxe o bolo da cozinha e repartiu para todos, o meu preferido, sabor prestigio. Aline saiu distribuindo salgadinhos e a minha Clarissa servia a galera com refrigerante. Meu pai não estava presente, ficou preso no colégio onde trabalha. De adultos era só a minha mãe mesmo – claro que ela faria questão de estar ali e a tia Aline, minha segunda mãe. O resto do pessoal eram todos mais ou menos da minha idade, tagarelas, agitados e famintos, como qualquer adolescente normal na flor da idade. Vi uma pilha de presentes no canto da sala, presentes que eu abririam mais tarde. Falei com todo mundo, e por um momento dei uma pausa de tantas simpatias para me unir aos meus amigos no canto da escada para comer meu pedaço de bolo.

Era só uma festinha básica, que eu acabei descobrindo ter sido ideia da Clarissa, que não parava de sorrir e olhar pra mim enquanto circulava entre a galera com a ajuda da irmã, servindo a todos.

― Ei, pessoal. Fiquem em silencio por um instante, por favor. – Marina surgiu do nada, erguendo os braços e falando alto.

Todos olharam pra ela, apesar de ser toda pequenina, a garota sabia como chamar a atenção de grandes multidões.

― A namorada do Bernardo tem uma surpresinha. Fiquem quietinhos, por favor.

Mais surpresa? Olhei pra elas, intrigado.

Clarissa ligou a televisão sobre o rack e esperou por um momento algo aparecer. Todos, especialmente eu, olhávamos para ela com atenção, imaginando o que exatamente ela tinha para mostrar ali.

― Esse é o meu presente pra você. – ela disse, olhando fixamente pra mim. ― Espero que goste. Foi feito de coração.

Ela se afastou um pouquinho, dando um espaço a mais para todos poderem ver ao mesmo tempo. Eis que surge os nossos nomes no meio da tela e música de fundo. Música que inclusive é bem conhecida para nós, pois faz parte da trilha sonora do nosso namoro.

Em seguida aparecem várias fotos. Algumas só minhas, sozinho, fazendo posses e caretas. Muitas que tirei ao longo dos anos. Todos riram quando me viram bebê, que aliás parece muito a Liz só que em versão masculina. E depois, fotos minhas com meus amigos, colegas e familiares. Muitas que eu nem lembrava mais que existiam. Perguntei-me onde ela conseguiu todas aquelas fotos, coisa que eu nem se quer cheguei a mostrar a ela. Com certeza minha mãe deve uma participação especial em tudo isso, é bem a cara dela.

Minha mãe estava em um canto, emocionada, ao lado de Aline.

Voltei minha atenção ao vídeo em minha homenagem feito pela Clarissa de maneira toda especial.

O melhor presente de todos.

Houve um momento de pausa. Chega de fotos, pensei. E aí troca de música, ainda uma das nossas músicas. E começa um vídeo, aquele que foi gravado no dia da surpresa que eu fiz pra ela de namoro, com seus melhores momentos. Todos fazem ar de apaixonados, zuando comigo. Especialmente meus amigos, mais precisamente o Gustavo. E depois outro vídeo, ou melhor, uma composição de vários vídeos curtos que foram gravados pela Clarissa em muitos momentos em que estávamos juntos e não tinha nada de interessante pra fazer, aí ela resolvia me filmar.

Ficou tudo tão bonito, que eu quase me permiti chorar diante de todos. Só que não acabava ali, pois o que veio a seguir realmente me fez chorar. Era a Clarissa em uma gravação que eu desconhecia. Ela aparecia sozinha, no fundo reconheci ser o seu quarto, e então ela começa a falar de mim, o que eu represento em sua vida, a importância e a significância, todas as minhas qualidades, até mesmo os defeitos que ela admira em mim, fala dos nossos momentos e por fim manda um beijo pra mim, dizendo me amar.

Eu já estava chorando naquele momento, todo contente.

E pra finalizar, todos os meus amigos, até mesmo a Lorena e a Brenda, que também fazem parte da minha vida. Em uma gravação um tanto engraçada, todos eles com mensagens para mim, no pátio do colégio, a Clarissa gravando. E o vídeo acaba com a Liz e eu em uma foto um tanto particular e intima, mas que não me vergonhei em expor.

Fui até a Clarissa e abracei, enquanto todos batiam palmas.

Eu dei um rápido beijinho nela, e agradeci por tudo.

Duras horas depois a minha casa já estava vazia, meus amigos ajudavam na limpeza. Houve um momento que eles foram embora, para me deixar mais à vontade com a Clarissa pelo resto da noite. Descemos para o meu quarto-porão e nos trancamos por lá.

― Eu adorei o que você fez por mim. Vou guardar pra sempre. – eu toquei o rosto dela, dando um beijinho no topo da sua cabeça.

― Gostou mesmo? Eu tive medo que você ficasse chateado comigo por eu ter exagerado um pouquinho e ter ido contra seus princípios. Mas não era essa a intensão real....

― Sim, eu sei. Eu não esperava por nada daquilo. – olhava pra ela, passando os dedos em seus cachos. ― E eu realmente gostei de tudo, você sabe exatamente como me surpreender.

Eu a beijei pelos próximos minutos, incansavelmente. E poderia ser assim pelas próximas horas, dias, meses e anos.

Quando a Clarissa se foi, eu aproveitei um momento antes de ir me deitar para abrir os presentes. Ganhei uma diversidade de coisas: CD’S, DVD’S, camisetas, porta-retratos, cartinhas, fotos, um boné, livros, uma agenda, um perfume, cremes, enfim, várias coisas.

Mas o mais especial, sem dúvidas, foi o DVD com a gravação da Clarissa, que eu aguardei com muito cuidado para jamais perder algo tão precioso assim.

Clarissa e eu ficaríamos o sábado inteiro sem nos ver, pois o pai dela resolveu fazer um programa em família. Apesar da saudade que eu sentiria, achei uma ideia boa da parte do Vicente. Uma chance de estar mais próximo das filhas. Ele as levaria a um parque de diversão.

Sendo assim, eu também teria um sábado em família. Fui buscar a Liz um pouco antes do meio dia, queria passar o dia inteirinho só com ela. Com nove meses de vida, a Liz já era uma criança muito esperta. E admito que ficou ainda mais depois que entrou na creche, um pouco mais de um mês. Ela está entendendo melhor o que eu digo, por exemplo, quando eu digo a ela que não pode fazer alguma coisa, como colocar algum objeto na boca. E também, agora ela engatinha pela casa, senta sozinha e até mesmo sobe nos moveis quando possível.

Cada etapa de sua vida é uma motivação pra mim.

Sinto-me sortudo, privilegiado e especial.

Quando eu olho pra ela crescendo a cada dia a mais, fico ansioso para o futuro. Tenho tentado ser o melhor pai, uma bom exemplo e uma boa companhia masculina para ela. Não há nada que eu não faria pela minha filha, não há nada que ela pedisse que eu não tentaria alcançar. Sei que ainda é cedo, por causa da minha idade, mas tenho planos para o futuro. Eu quero estudar, trabalhar, crescer e evoluir. Quero dar a melhor vida possível a minha filhinha e quero que ela se orgulhe de mim.

Estava digitando uma mensagem de texto para a Clarissa, perguntando com estavam as coisas com o pai dela no parque. Estava distraindo, enquanto a Liz brincava com seus tantos brinquedinhos sobre o carpete do meu quarto. Não fiquei disperso nem por um minuto, ela é muito rápida e ágil e quando dei por mim a Liz estava andando.

Isso mesmo, andando. Ou melhor, arriscando.

Ela deu três passos curtos, com as pernas gordinhas meio bambas ainda, os braços no ar e o sorriso travesso quando caiu de volta sobre o carpete de bunda, soltando uma risadinha prazerosa, como se tivesse conquistado algo muito grande. E foi exatamente assim que me senti, eu fiquei tão contente com o que vi, que pelos próximos minutos eu não consegui parar de sorrir e estimular para que ela tentasse de novo.

Ao contrário do que eu queria, Liz parecia não querer seguir as minhas ordens. Ela não estava nem aí pra mim, mas preocupada com suas bonecas. Ela não voltou a tentar andar daquele dia, mas fiz questão de sair contanto pra todo mundo o que vi, apesar de ter durado uma fração de segundos.

Se eu soubesse, teria filmado.

― Você não está falando sério! Tem certeza? – Clarissa estava duvidosa, devorando o Cupcake que a minha mãe havia trazido pra nós do mercado. ― Você é um pai muito babão!

Ela riu.

― Acostume-se. – eu sorri, divertido. ― Mas tô falando sério. Ela ia andar. Ou pelos menos tentou. Eu fiquei tão feliz na hora! Eu também nem acreditei muito.

Agora, naquele momento, a Liz estava dormindo sobre a minha cama. Como ainda fazia frio lá fora, ela estava toda agasalhada, de toquinha, luvas e meias. Tudo absolutamente rosa.

Ainda era noite de sábado e a Clarissa havia acabado de chegar do seu passeio. Não íamos nos ver aquele dia. Mas tanto eu quanto ela queríamos aquele momento, no finalzinho do dia para colocar o assunto em dia e aproveitar alguns minutinhos juntos.

Quando a gente ama muito alguém, é muito difícil ficar longe dessa pessoa mesmo que vocês se vejam todos os dias. É difícil ficar longe por segundos, por minutos, por horas e piorou, por dias. Você meio que começa a depender da presença daquela pessoa, como se sem ela fosse tudo muito sem graça, incompleto e sem sentido.

Devolvi a Liz logo após a missa de domingo. A Lorena havia acabado de chegar em casa, estava com o namorado, os dois tinham ido ao centro comer alguma coisa, pelo o que ela disse. Ela me recebeu muito bem, era sempre assim. Já o Rafael era a mesma mosca morta de sempre, me olhando daquele jeito como se me assustasse.

― Eu vou trocar a fralda dela. – Lorena anunciou, ao pegar a filha no colo. Eu coloquei a bolsa dela em seu ombro e ela subiu com a filha, sumindo.

Eu já estava de saída, não havia mais nada a fazer ali.

― Ei cara, espera aí. – o Rafael me chamou, e eu muito pacientemente virei-me pra ele, dando-lhe atenção.

― O que você quer? – perguntei, meio debochado.

― Só queria dizer que estou cansando, sabe? – ele levantou-se, todo durão. Bancando o bad boy. ― De você entrando e saindo dessa casa a hora que quiser como se ela ainda te pertencesse.

― Você quer o que? Essa casa não é minha, mas a minha filha mora aqui. Nunca ninguém me disse quando eu tenho que vir ou não visita-la, busca-la ou seja o que for. A filha é minha e você não tem nada a ver com isso. Não sei porque se incomoda tanto.

Ele estava mais perto de mim agora, carrancudo. Desafiador.

― Quer saber porque me incomodo? – o bafo dele foi certeiro no meu rosto. ― Porque eu amo a Lorena, e ela pertence a mim exclusivamente. Se para estar com ela eu precise aceitar a Liz de brinde, eu aceito, aceito qualquer coisa, desde que a Lorena possa ser minha. E a sua presença aqui, em nossas vidas, é realmente um incomodo. Então cara, se liga. Vai viver sua vidinha com a sua namorada de cachinhos louros. Deixa a gente em paz.

Não me restou saídas, eu tive que rir.

Garoto sem noção.

― Você realmente consegue ser bem engraçado, Rafael. – toco o ombro dele, contendo o riso. ― Eu não tô aqui pela Lorena, pela mãe da Lorena, pela casa da Lorena. Eu tô aqui pela minha filha, somente por ela. Ela é minha filha, você consegue entender isso? – olho fixamente pra ele, praticamente fuzilando-o. ― Pelo visto não. Mas faz assim amigão: tenha um filho com a Lorena. E pronto! Problemas resolvidos. E deixa eu e a Liz em paz!

― Você tá achando mesmo que tudo isso é brincadeira, não é Bernardo? Mas fique você sabendo que minha paciência está esgotando e quando eu digo uma coisa, eu realmente me disponho a cumpri-la. Ou você se esqueceu de que sou capaz de qualquer coisa pra me livrar de você de uma vez por todas? Inclusive, tirar a sua filha de você.

De novo aquele assunto. Uma vez tudo bem, eu até suportei com muita firmeza. Mas pela segunda vez não. Eu não ia aceitar que ele bancasse o durão pra cima de mim pela segunda vez, fazendo ameaças, dando opiniões desnecessárias e sem cabimentos. Eu tive que agir, porque também estava de saco cheio daquela situação ridícula.

Rafael não seria páreo pra mim. Não mesmo.

Dei um soco nele, um soco certeiro. Pegou em cheio o canto da boca dele, que logo sangrou e ficou levemente arroxeada.

Eu me preparei rapidamente, sabia que ele não ia deixar barato. E foi isso que aconteceu. Rafael partiu pra cima de mim muito nervosamente e caímos os dois no chão da sala de estar da casa da Lorena. Dávamos socos, tapas e chutes um no outro. Tudo que podíamos fazer para agredir um ao outro. Com toda aquela agitação, barulhos dos objetos ciando no chão, a Lorena desceu correndo, apavorada, aos gritos, pedindo pra gente parar.

Mas não era como se déssemos ouvidos.

Eu queria destruir ele, cada pedacinho. E bem, ele estava disposto a acabar comigo também.

Sentia dores por todo o corpo, ardência e até mesmo gosto de sangue na boca. Ele batia bem, quase um profissional. Mas eu também não deixei pra menos, aprendi muito com a vida, apesar de sempre ter evitado ao máximo confusões. Mas para defender as coisas que eu amo, acho que todo mundo é capaz de cometer uma grande besteira.

Só nos separamos mesmo quando uns caras da rua vieram pra cima da gente, um me agarrou pra longe, me tirando de cima do Rafael e o outro o segurou pelos braços, afastando-o de mim. A Lorena havia chamado por eles, gritando feito uma louca no meio da rua, pedindo ajuda.

― Vocês ficaram loucos? – ela gritou, olhando apavorada para nós como se não acreditasse no que via. ― O que deu em vocês?

Tentei me livrar do cara alto que me segurava pelas axilas.

― Eu vou embora. Já deu pra mim. Me desculpa por qualquer coisa, Lorena. Se tiver qualquer prejuízo me comunique.

Saí andando de volta pra casa, todo amarrotado. Passando a mão pelo rosto e vendo o sangue marcar os meus dedos. As pessoas na rua olhavam pra mim com certa preocupação. Mal podia imaginar qual era o meu estado naquele momento.

― Bernardo, eu não acredito que você optou em sair na porrada com alguém novamente. – Clarissa cuidava dos meus ferimentos.

― Eu não tive muitas escolhas, você sabe. E entende, não entende? – a àquela altura eu já tinha contado pra ela o que acontecera mais cedo. ― Por favor, não conte nada aos meus pais. Eles vão me dar outro sermão, me colocar de castigo ou coisa pior.

― Não, eu não vou contar. Não se preocupe. Mas olha só pra você, não vai dá pra esconder.

Ela tinha razão, até porque partes do meu rosto estavam avermelhadas, inchadas, roxas, cicatrizadas, feridas. Os meus braços também, outra parte do corpo que eu não poderia esconder. Meus pais logo perceberiam, e iria querer me matar. Sorte a minha ter chegado em casa depois da briga e não ter cruzado com nenhum dos dois.

Fiquei quietinho, logo após ter tomado um analgésico, deitado com a Clarissa no meu quarto enquanto ela alisava meus cabelos com os dedos finos e pequenos. A Lorena ligou um tempo depois, só para saber como eu estava. Sobre o Rafael ela não falou absolutamente nada.

Menos mal, porque eu queria que ele tivesse morto ou no mínimo ter ido morar em outro planeta.

Meu pai, é claro, quando me viu no jantar, ficou evidentemente aborrecido, mal me olhou, como se tivesse vergonha de mim. Minha mãe se limitou a conversar comigo, dar sermões ou coisa do tipo. Ela só balançou a cabeça de um lado para o outro, e saiu da mesa, fazendo-me sentir ainda mais culpado.

― Você vai ficar bem. Eu estou aqui com você. – Clarissa sussurrou ao meu lado, apertando firme a minha mão.

Jantamos em silêncio.

Na semana seguinte, tanto a cidade quanto o colégio todo já sabiam exatamente o que tinha acontecido comigo. Por alguns dias me senti muito mal, só queria a companhia da Clarissa, mas também não queria conversar com ela. Só queria ficar numa boa, quieto no meu canto, ainda tentando absorver tudo aquilo.

Em novembro teríamos um feriado prolongado, que cairia na quinta-feira e já iria emendar com a sexta-feira e o final de semana.

O Gustavo teve a brilhante ideia da gente ir passar uns dias na casa de praia dos pais dele no litoral. Era exatamente o que eu estava precisando, um tempo fora da cidade.

― Como castigo pelo seu mal comportamento você não deveria nem cogitar a possiblidade de ir nessa viagem com os seus amigos. – foi o que minha mãe disse, quando toquei no assunto. ― Mas, eu concordo com você. Vai ser bom pra você esfriar a cabeça.

Partimos na quinta-feira bem cedinho, o pai da Marina nos levou em sua van. O lugar ficava a três horas da nossa cidade, e durante todo o trajeto eu dormi com a cabeça encostada no ombro da Clarissa. Quando eu acordei ao chegarmos, não só a Clarissa também estava dormindo, como também os outros cinco.

― Tomem cuidado, crianças. Qualquer coisa liguem pra gente. – a gente, ele se referia aos nossos pais e responsáveis.

Tiramos a mochilas de dentro do porta-malas do carro e colocamos dentro da casa, antes de Frederico partir.

A casa é bem simples, apesar da família do Gustavo tem um bom dinheiro.

É uma casa toda revestida de madeira, de um pavimento só. Fica na ruazinha de frente para o mar, onde praticamente todas as casas vizinhas são bem parecidas arquitetonicamente. Na frente tem um gramado onde cabe dois carros no máximo e um caminho de pedra até a varada da casa. Na varanda tem umas cadeiras bem confortáveis e uma rede de balanço de algodão branco. A porta dupla de entrada é de vidro que dá pra sala, grande e espaçosa. A sala é dividida com a cozinha com uma bancada americana, tem um banheiro e três quartos no final do pequeno corredor. O quarto principal é lacrado, onde geralmente os pais do Gustavo ficam quando vem passar uma temporada aqui. É trancada a sete chaves, pois lá dentro tem seus pertences pessoais. Um dos dois quartos que sobraram é do Gustavo, bem mais decorado e masculino e o outro é de hospedes em tons pasteis. Nos fundos tem uma piscina arredondada, não muito grande, cercado por um muro alto e umas arvores bem grandes que fazem sombra pela tarde.

É bom estar ali, o ar é muito diferente. O clima está mais quentinho, diferentemente do frio que suportamos em nossa cidade nos últimos meses. Sinto-me em casa, a vontade. A praia não está sempre muito cheia, o mar está calmo com ondas pequenas e o sol prestes a nascer. Serão quatro dias muito bons ao lado dos meus amigos. e da minha namorada.

― E como vai ficar a organização dos quartos? – Isabel perguntou, sendo a primeira a tocar no assunto. ― Nós somos em sete.

― É claro que não vai ter um quarto pra cada casal, porque senão vai rolar sexo vinte quatro horas. E também, o Miguel é o único solteiro entre nós e não tem uma parceira nesse momento.

― Por pouco tempo, é claro. – ele acrescentou, sorrindo.

― É cara, relaxa. – O Gustavo, evidentemente o mais animado de todos bateu em seu ombro com um largo sorriso. ― Lembra da vizinha gostosa que te apresentei da última vez? Ela ainda deve morar aqui....

― Então, voltando ao assunto. – Marina interrompeu, sempre tomando as rédeas. ― Vai ser assim: no quarto do Gustavo os meninos vão ficar todos juntos. E no de hospedes, nós meninas. Tem colchões na dispensa, lá fora. Não se preocupem. Tem espaço para todos.

O Gustavo não gostou muito da ideia de ter que passar quatro noite separado da namorada. Isabel e Eduardo também pareceram não gostar muito. O Miguel por sua vez, até suspirou de alivio por não ter que ficar sozinho, sobrando. E eu e a Clarissa ficamos numa boa com essa divisão.

Nada se poderia fazer, porque quando a Mari decide algo, é do jeito dela, pronto e acabou. Sem discussões.

Levei minhas coisas e as da Clarissa para os respectivos quartos, que por sinal é um de frente pro outro, mas ambos tem chave. Enquanto isso, as meninas foram fuçar a cozinha, para preparar o café da manhã para todos nós. Digo, Marina e Clarissa, pois Isabel logo deu um jeito de escapar para explorar a praia com o Eduardo.

O Gustavo saiu para os fundos, foi pegar os colchoes e aproveitaria para ligar para o caseiro da casa e agradecer por ele ter feito compras antes de chegarmos e dar uma geral na casa, pois estava muito bem limpa. O Miguel caiu no sofá da sala, todo espaçoso, tomou o controle e ligou a televisão para ver desenho animado.

Depois que tomamos o café da manhã, cada um foi fazer o que tinha vontade. Eu chamei a Clarissa para dar uma volta na orla da praia, passar o tempo. Ficamos conversando e eu já me sentia bem melhor a cada segundo que se passava, como se estivéssemos no paraíso.

Lá para onzes horas – o dia estava passando devagar, pois acordamos muito mais cedo que o normal – fomos todos a praia dar um mergulho, tomar água de coco e nos divertir juntos. Almoçarmos em um restaurante bem simples perto da praia, a comida era boa e barata. O sol estava forte, eu já tinha me queimado o bastante, apesar da Clarissa passar protetor solar em mim. Fiquei muito cansado depois do almoço e como não poderia cair na água assim logo depois de comer, voltamos para a casa e deitamos no quarto de hospedes no colchão dela e acabamos dormindo abraçadinhos até o fim da tarde.

De noite tomamos um banho e nos arrumamos, iriamos sair novamente, dessa vez pra ouvir música em um barzinho qualquer de esquina. O Miguel aproveitou a maior movimentação de pessoas para conhecer novas garotas, ele estava mesmo decido a não ficar sozinho no feriado. Gustavo e Marina estavam se desentendendo mais que o normal, ela é muito mandona e ele não quer saber de ordens. Eduardo e Isabel só pensavam em ficar a sós e eu a Clarissa tentávamos ignorar ao máximo todos os problemas de nossas vidas e aproveitar o momento.

Foi fácil dormir aquela primeira noite, mesmo sabendo que a Clarissa estava no quarto da frente e não poderíamos dormir juntinhos pela primeira vez. Bom, o melhor mesmo é esperar o tempo certo para cada coisa. O Gustavo estava roncando em sua cama, taquei várias almofadas nele, mesmo assim ele não parou. O Miguel foi o primeiro a pegar no sono no colchão do meu lado. E do outro lado, o colchão do Edu estava vazio, sinal de que ele a Isabel novamente resolveram desaparecer para ficarem mais juntinhos.

Na sexta-feira praticamente passamos o dia inteiro na praia, eu gostava de sentir o corpo molhado na Clarissa colado no meio. Ela era, sem dúvidas, a garota mais linda de toda a praia. Conhecemos uma galera nova, e fomos jogar vôlei de praia com eles. Ficamos bem amigos mesmo, eles até nos chamaram para ir em uma festinha na casa onde eles estava hospedados não muito longe dali. Foi o programa daquela noite, essa tal festinha que acabou sendo uma festão.

Tinha uma galera usando muito droga, eu tentei manter a Clarissa o mais longe possível deles. Sabia que em qualquer tipo de lugar rolava muito isso. Mas não significava necessariamente que deveríamos nos envolver, apenas deixar aquela gente fazer o que quisesse, mas tentando ao máximo nos mantermos afastados para não criar confusões.

O Miguel passou a noite inteirinha com uma ruivinha muito bonitinha, pequena e magrinha. Que tinha um par de olhos azuis-acinzentados muito bonitos, diferentes dos meus, mais opacos.

O Gustavo bebeu muito, sinal de que ficou bêbado rapidamente, o que sempre incomodava a Marina. Eu e a Clarissa fizemos de tudo para ela ficar mais um tempinho na festa, só que ela estava muito chateada e envergonhada, preferiu voltar pra casa antes mesmo da meia-noite.

Eu tinha que ficar para cuidar dos meus amigos, um bêbado, o outro carente e bom, a Clarissa precisava ficar de olho na Isabel.

Basicamente éramos os dois mais responsáveis ali. Fora todos esses probleminhas que eram comuns aparecerem, eu e a Clarissa tentamos aproveitar ao máximo para conhecer gente nova, dar risada, beber alguma coisinha, dançar e namorar bastante.

Ela é uma boa companheira pra todos os momentos.

Eu e o Edu, que também não é muito de beber, carregamos o Gustavo de volta pra casa lá para as duas da manhã. O Miguel ficou na festa mesmo, ele queria conhecer melhor a ruivinha. Clarissa e Isabel conversavam mais atrás, seguindo a gente pelo caminho até em casa.

Marina já estava dormindo quando chegamos. O Gustavo foi direito tomar uma ducha fria, o Edu tomou conta do videogame na sala com a Isabel, a Clarissa estava cansada, já iria se recolher e ver se a Mari estava bem e queria conversar. E eu, fui comer alguma coisinha na cozinha, pois estava faminto e logo depois fui dormir também.

Fizemos um churrasco no sábado, nos fundos da casa, aproveitando o sol e a piscina.

Eduardo e Isabel não saíram da água, os dois eram um grude total, as vezes dava até um certo incomodo. Nem eu e a Clarissa éramos assim e estávamos extremamente apaixonados. O Miguel estava dormindo ainda, pois tinha chegado muito tarde da festa e fez o favor de me acordar às seis da manhã só para contar como foi a noite com a ruivinha. O Gustavo tomava conta da churrasqueira, com seu bermudão e sem camiseta. A Clarissa e a Mari deram alguns mergulhos e depois foram fazer o almoço. Eu fiz de tudo um pouco, curti a piscina, tomei conta da churrasqueira para o Gustavo aproveitar a piscina também, fui lá dentro tentar acordar o Miguel mas ele nem deu sinal de vida, e na cozinha ajudei as meninas a cortar tomates, batatas, cebolas e alface.

A noite estava bem agradável, o céu repleto de estrelas, mal havia espaço para todas elas e a lua brilhava no centro do grande manto cor de carvão. Já se passava das onze da noite, tínhamos acabado de assistir alguns filmes na sala de estar e agora ali estava eu, sentado na varanda, tentando ler um livro, pois não tinha conseguido dormir, diferentemente dos outros.

Mas eu não conseguia prestar atenção em nenhuma palavra e cheguei a ler um único paragrafo mais de cinco vezes, até desistir do livro, deixando-o de lado. Só conseguia pensar em uma coisa: no quanto eu gostaria de viver assim a minha vida, sempre. Com os meus amigos por perto, a minha namorada e com a minha filha.

Ouvi um barulho na porta.

― Oi. Você tá aqui? – era a Clarissa, com seu pijama infantil azul-clarinho e pantufas de gatinho, que por sinal se pareciam bastante com o Pepel. ― Não consegue dormir também?

Ela sorriu graciosamente, dando-me um beijinho rápido e sentando ao meu lado na rede de balanço. Aproveitei para deitar, com ela apoiando a cabeça no meu peito, deitando-se comigo.

― Estava pensando em umas coisas, bem boas. – eu sorri, sentindo o perfume agradável dos cabelos dela. ― E você, não conseguia dormir porquê?

― Bem, eu? Eu estava pensando em você. – ela voltou os olhos pretos para mim. Seus olhos pareciam sorrir.

― Em mim? – sorri sem jeito, olhando pra ela. ― Pensando em exatamente o que sobre mim?

― No quanto eu te amo, cada vez mais, de modos tão diferentes. – Clarissa tocou meu rosto, fechando seus olhos. ― Quero ficar assim sempre, bem pertinho de você até o amanhecer.


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram? Eu estou indo meio depressa agora. Daqui em diante as coisas vão acontecer de maneira mais acelerada. Chega de enrolação! Muitas perguntas que vocês me fazem pelos comentários serão respondidas em breve. Fiquem atentos! Comentem bastante para eu poder postar os próximos capítulos o quanto antes. E um beijão! Se cuidem.



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