Quando Tudo Aconteceu escrita por Mi Freire


Capítulo 27
Capítulo XXVI


Notas iniciais do capítulo

Caramba! Como essa semana passou depressa. Ou é apenas uma impressão minha? Deve ser porque eu não tive nada de muito interessante pra fazer, além de escrever, ler, assistir minhas séries , fazer um trabalho da faculdade e ficar hibernando dentro do meu quarto. Bom, ai vai mais um capítulo. Acho que agora, finalmente, tudo vai se encaminhar pelo caminho certo. Ou não. As vezes é preciso quebrar a cara mais de uma vez pra aprender uma boa lição.



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Estou com o corpo todo encolhido de baixo das cobertas sentindo a temperatura do meu corpo subir cada vez mais. E lá fora nem fazia tanto frio assim, não o tanto que eu sentia ali dentro do meu quarto fechado. O dia estava nublado e sem graça.

― Eu vim assim que pude. – Vicente entrou no meu quarto com a maior cara de preocupação, sentando-se sobre a minha cama e pousando sua mão sobre a minha testa. ― Você está febril.

Ele me olhava com compaixão e ternura nos olhos, um lado paternal que há muito tempo, ou nem tanto assim, eu não sentia.

― Vou fazer um chazinho pra você e comprar um remédio. Eu volto já. – ele beijou minha testa, e eu fechei os olhos sentindo seu carinho. ― Não se preocupe. Vai ficar tudo bem.

Vicente se foi. Ouvi quando a porta lá em baixo fechou com um estrondo e o motor do carro foi ligado ao dar partida.

― Isabel. – gritei. ― Vem cá, por favor!

Ela veio correndo.

― O que foi? Está se sentindo pior? – ela se aproximou, atenciosa. Sentindo a temperatura do meu corpo novamente ― Você só pode estar doente de amor. Não tem outra explicação.

― Não seja boba. Não existi isso. – consegui rir, passando um pé no outro de baixo da coberta. ― Pega um livro pra mim na estante? Eu preciso me distrair com alguma coisa até o Vicente chegar.

Ela pegou seu preferido: A Moreninha. E me entregou para que eu pudesse não só ler para mim, mas também para nós duas. Isabel entrou de baixo da coberta comigo, se aconchegando ao meu lado e esperou, me olhando, para que eu começasse a ler.

Em meia hora o Vicente chegou com um sacolinha de remédios para a minha febre. Tive que deixar o livro de lado. Isabel desceu e foi fazer o chá. Vicente sentou-se comigo, colocando minha cabeça sobre o seu colo após eu tomar um comprimido com o auxílio de um copo com água e ficou acarinhando meus cabelos soltos.

― Eu estive pensando... Esse parece um bom momento para conversar sobre aquilo que deixamos de resolver. Eu conversei muito com uma amiga e ela me deu vários conselhos. Cheguei à conclusão de que eu não posso simplesmente te amarrar em casa e te impedir de conhecer o mundo. Ou pode acabar sendo pior. Você pode se revoltar contra mim e não é isso que eu quero. – ele acarinhou minha bochecha, como se desenhasse círculos. ― Se você gosta mesmo desse garoto, deve ficar com ele. Mas indo bem devagar. Não quero você na rua até tarde por causa dele e nem que ele fique socado aqui dentro da nossa casa quando eu não estiver por perto. Estamos entendidos?

― Sim, pai. Entendi. – levantei um pouco o corpo com um grande esforço e beijei seu rosto, sorrindo. ― Obrigada pai. Eu amo você.

Fui sincera, de coração.

― Eu também amo você, Clarissa. E não quero te perder.

Nesse momento Isabel entrou dentro do quarto com uma xicara de chá quente. Tentei me sentar para tomar o chá. Os dois não tiraram os olhos de mim. Quando terminei o chá, Vicente me deu mais um remédio que me deixou muito sonolenta e eu adormeci pelo resto do dia.

Acordei sentindo o corpo todo suado. Já não sentia mais frio e sim calor. Fui tirando a coberta de cima de mim e me abanando com a mão.

Dizem que esse é o efeito da febre indo embora.

Olhei pela janela e vi que o céu já estava escuro. Acendi meu abajur ao lado da cama e me sentei. Perguntando-me por quanto tempo eu havia dormido. Peguei o celular para conferir as horas quando vi que havia três chamadas perdidas do Bernardo.

Eu nem cheguei a ouvir o celular vibrar sobre o móvel, dormi feito uma pedra. Nem sonhei e nem cheguei a acordar em nenhum momento.

Meu celular tocou novamente. Era ele.

― O que você quer? – perguntei, meio rouca. Apesar da febre ter dado um trégua, eu ainda me sentia muito mole.

― Só queria saber como você está. Fiquei sabendo que ficou doente. Você já deve imaginar como. Isabel contou ao Edu que me contou logo depois. Eu fiquei bem preocupado. Eu quis ir até ai te ver, mas então me lembrei do seu pai. Logo imaginei que ele não iria gostar nenhum pouco. Mas enfim, como você está?

― Um pouco melhor. Obrigada por se preocupar.

Ficamos os dois mudos.

― Acha que vai conseguir ir ao colégio amanhã?

― Eu ainda não sei dizer.

De repente ouvi um barulho através da porta do meu quarto. Eram passos vindo na minha direção. Deveria ser o Vicente ao perceber a luz ligada do meu abajur para ver se eu havia melhorado.

― Preciso desligar. – e desliguei, sem despedidas.

― Já acordada? Pensei que ainda estava dormindo. – Vicente entrou com um prato quente em mãos sobre um pano de prato. ― Trouxe sopa para você jantar. Está uma delícia! Isabel quem me ajudou a preparar.

Por um momento pensei que ele iria querer me dar sopa na boca.

Isabel apareceu logo depois com mais um copo com água e comprimidos. Terminei a sofá e tomei novamente os remédios intermináveis. Vicente me perguntou se eu me sentia melhor. Eu disse que me sentia um pouco melhor agora. Mas que ainda sentia muito sono e o corpo mole, sem forças, sem ânimo. Ele me deixou para dormir mais.

Acordei no outro dia sentindo-me não muito diferente da noite anterior. Quase sem forças, com frio e febre alta outra vez. Isabel foi a escola mesmo assim, mesmo contra sua vontade. Vicente ligou para o trabalho dizendo que não poderia ir para ficar em casa e cuidar de mim. E foi exatamente o que ele fez pelo resto do dia. Senti-me uma criancinha novamente, recoberta de cuidados.

Se eu não dormia, ficava lendo, fuçando o celular ou olhando pela janela vendo o tempo passar. Tomei meu café da manhã com muito sacrifico, já que não sentia a mínima fome. E almocei lá em baixo, até consegui descer por um instante e movimentar as pernas. Depois do almoço dormi mais um pouco e só acordei com uma batida na porta.

― Clarissa, você está bem? Tem visita pra você.

Vicente pareceu não gostar muito da ideia.

― Eu desço? Ou você pede pra subi?

― Você não está em condições de descer.

Ele se foi. E a partir daquele momento meu coração pareceu ter dado um salto em 360º (se isso é mesmo possível, eu não sei) só de pensar na possibilidade de ser o Bernardo preocupado com o meu estar. Passei a mão nos cabelos preocupada com a minha aparência e no rosto. Não havia muito o que eu pudesse fazer por mim, mas também não importava.

Mas não o Bernardo, era o Diego.

Quase não consegui esconder o meu desapontamento.

― Oi amorzinho. Como você está? – ele me deu um rápido beijo, passou a mão no meu rosto e sentou-se ao meu lado.

Diego não ficou muito, pareceu estranhamento desconfortável em minha casa pela primeira vez. Só ficou ali comigo, fazendo-me carinho. Não perguntou muita coisa e ficava sempre olhando para a porta do meu quarto como se meu pai pudesse aparecer a qualquer momento e estrangula-lo por estar machucando sua preciosa filhinha.

Será que o Vicente havia lhe dito alguma coisa antes dele subir?

Não duvido de nada.

Assim que o Diego se foi, não demorou muito para aparecer outra ilustre visita. Ainda não era o Bernardo. Eu nem saberia dizer se ele viria me ver. Mas pelo menos a Marina tinha algo a ver com ele.

― Ih, nem parece que ficou feliz em me ver. – ela parou na porta do meu quarto, fazendo-se de ofendida.

― Não é isso. – eu ri. ― Entre. Fique à vontade.

Ela sentou-se comigo, dando-me um beijo na bochecha.

― Você parece bem melhor agora. Diferentemente do que a Isabel nos contou no intervalo. Você tinha que ver a carinha que o Bê fez. Foi tão bonitinha que eu quase senti pena dele. – ela sorrio, divertida. ― Ele quis muito vir aqui te ver. Mas ficou com receio do seu pai, do seu namorado e principalmente da sua reação. Já que vocês não estão se relacionando muito bem ultimamente. E por isso eu vim. Para poder acalmar aquele garoto. Ele não fala e nem pensa em outra coisa!

Eu quase sorri ao saber disso.

Marina ficou comigo por bem mais tempo que o Diego. Me falou sobre a escola e até disse que me emprestaria toda a matéria que eu perdi nos dois últimos dias. Conversamos também sobre o seu namoro com o Gustavo. Ela fala muito e sabe me fazer rir. E também não fez muita questão de me fazer perguntas, das quais eu não me sentiria nenhum pouco à vontade em ter que responder.

Vicente veio me ver logo depois que Marina se foi.

― Pra quem dizia não ter amigos você até que está se saindo muito bem. – ele me entregou um último comprimido.

Beijou o alto da minha cabeça e se mandou.

― O que você andou falando de mim no colégio em? – intimidei Isabel quando ela enfim veio me ver.

― Não falei nada de mais, ué. – ela fez careta, mostrando-me a língua. Eu mostrei a minha também.

E nós caímos na risada por tão pouco.

Nada é mais reconfortante em saber que eu tenho ela comigo.

Só na sexta-feira eu voltei ao colégio, sentindo-me bem melhor.

Bernardo aquela manhã chegou atrasado, coisa que raramente acontece com ele. Quando me viu, parou no meio do caminho, abriu um largo sorriso e me abraçou forte, sem eu nem ter tempo de me levantar para corresponder. Não que eu fosse fazer exatamente isso, mas no fundo essa era a minha vontade.

― É bom te ver. Você não imagina o quanto!

A professora de português, Débora, entrou na sala e a primeira coisa que fez foi pedir ao próprio filho para se sentar em seu lugar, com o tom severo de uma professora em um péssimo dia.

No sábado sai de manhãzinha para uma corrida rápida com a minha bicicleta pela vizinhança. Voltei-me para casa sentindo o corpo energético e vivo outra vez. A noite, saímos para jantar no centro com a Karen e o Vicente. Como uma família grande e feliz. Só que nem tanto, pois bastou Aline, mãe do Miguel, aparecer de surpresa para fazer um pedido e levar pra casa, que a Karen deu uma crise de ciúmes.

Com toda razão, já que todas as vezes em que Vicente encontra com a Aline é sempre a mesma coisa. Como se o mundo em volta deles não tivesse mais importância. Os olhos pretos dele brilham e o raro sorriso de orelha a orelha parece inabalável.

De volta pra casa, dentro do carro, eles brigam como se eu e Isabel não estivéssemos ali atrás, no banco. Vicente deixa a Karen em casa, os dois ainda brigados. Nem desce do carro para se despedir dela e ela também sai sem nem olhar para trás. Garanto que essa crise não vai durar nem vinte e quatro horas.

Em casa, mal-humorado Vicente nos manda dormir. Sendo que ainda nem são nem dez da noite. Mesmo assim temos que obedecer. Sem sono, fico no computador com a porta trancada até mais tarde. E do outro lado, garanto que Isabel está ao telefone com o Eduardo.

No domingo vamos a igreja de manhã. O resto do dia fico sem nada de interessante pra fazer. Nenhuma ligação do Diego e nenhuma visita dele. Fico lá fora, no quintal dos fundos, contente por ainda ter livros e a minha velha e preciosa caderneta. E também, não posso esquecer da ilustre companhia de Pepel.

― Que bom que se pai finalmente permitiu que namorássemos em paz sem ter que ficar interferindo todo o tempo. – voltávamos pra casa na quarta-feira, depois da aula.

Peguei minha garrafinha de água no bolso lateral da mochila e bebi para aliviar o calor que voltou a fazer durante a semana.

― Porque não vamos ao Clube?

― Hoje? Agora? – perguntei.

― É. Porque? Tem algum problema? Ele nem precisa ficar sabendo. Vai ser rapidinho. Voltaremos antes dele chegar em casa.

Pensei sobre isso. Há um bom tempo eu não ia ao Clube. E também havia algo de tentador nos olhos amêndoas de Diego que me fazia querer arriscar. Por mais que soubesse que se o Vicente descobrisse, nunca mais voltaria a confiar em mim. Logo agora que o meu namoro de verdade com o Diego está se saindo muito bem.

― O.K. Você me espera aqui? – já estávamos em frente à minha casa. ― Vou pegar minha bolsa e uma roupa apropriada.

O Clube estava sempre muito bem movimentado. Assim que chegamos nos separamos para cada um poder vestir sua roupa de banho. Fui até o vestiário feminino, tirei as roupas secas, coloquei meu biquíni, um short jeans e uma regata branca mais soltinha deixando a mostra meu biquíni azul-marinho.

Esperei pelo Diego do lado de fora do vestiário masculino. Senti-me bastante intimidada todas as vezes em que os garotos passavam por mim e me olhavam de cima a baixo como se eu estivesse nua. E olha que nem estava só de biquíni. Imagine se estivesse.

Diego apareceu só de sunga preta, o que não era exatamente o que eu esperava dele. Tentei não ficar olhando, ou ficaria ainda mais constrangida. Ele pegou a minha mão e fomos até as piscinas.

Fiquei aliviada ao olhar para os lados e não ver nenhum sinal do Bernardo e seus amigos. Não sei se já estaria preparada para ele presenciar um momento como esse entre mim e o Diego. Encontramos um lugar onde deixei nossas coisas em segurança e nos aproximamos da piscina de adultos razoavelmente cheia.

― Você vai entrar assim? – antes de pular, o Diego me olhou.

― Assim como? – olhei pra mim mesma, curiosa.

― Você não está de biquíni?

― Estou. Porque?

― Então porque não tira a regata e o short?

― Não gosto de ficar só de biquíni. Tenho vergonha!

Soltei um risinho, abaixando a cabeça. Sentindo-me corar.

Senti a aproximação do Diego só de sunga. Ele me abraçou, também muito risonho, ao se afastar, olhou bem pra mim.

― Você não precisa ter vergonha. Você é linda!

― Eu sei. Obrigada. Mas ainda assim, não quero.

― Tudo bem. Não vou insistir. Você que sabe.

Ele pulou na piscina, sem nem esperar por mim.

É claro que ele ficou aborrecido, ficou bem explicito. Mas o que eu poderia fazer? Tirar a roupa e ficar só de biquíni, assim, normalmente, sem nenhum constrangimento como algumas garotas? Eu não poderia. Pode até parecer bobagem, mas simplesmente não consigo. Não me sinto confortável. Eu só quero me sentir à vontade.

Levemente chateada sentei-me na beira da piscina, enfiando meus pés dentro da água e sentindo a temperatura.

Diego voltou para perto de mim um bom tempo depois, enfiando a cabeça entre minhas pernas e me dando um baita susto.

― Vai ficar ai sentada apenas olhando? Entra!

Pela sua expressão ele já parecia bem melhor. O mergulho deve ter lhe feito muito bem por sinal.

Pulei na água e ele me agarrou pela cintura.

Ficamos ali, por um momento, apenas nos entreolhando, envolvidos um no outro. Podia sentir seu corpo praticamente colado no meu. E admito que não era uma das sensações mais agradáveis já que ele estava só de sunga. Deixei que ele me beijasse. Estávamos entre as pessoas (nenhum pouco interessadas em nós por sinal), no meio de piscina publica, Diego com certeza não faria nada demais.

Não havia o que temer.

As poucos, sem nem perceber, ele foi me empurrando pra trás até eu meu corpo bater na borda da piscina. Diego me prendeu com seu corpo e continuou me beijando, passando as mãos pelo meu cabelo e depois pelo meu braço.

Eu não sei se era água que já estava começando a ficar fria para mim ou se era a aproximação do Diego que me dava calafrios.

― Posso? – ele parou de me beijar, com o rosto muito perto do meu. Demorei um tempo para entender ao que ele se referia. Então entendi: ele pedia permissão para arrancar a minha regata.

― Não! Claro que não.

― Tudo bem. Fica calma. Foi só uma pergunta. Eu não vou mais insistir. – ele sorrio brevemente, e voltou a me beijar com carinho.

Passando o polegar no comecinho da minha barriga que ficou a mostra por ele ter segurado a barra da minha regata para perguntar se poderia tira-la. Bom, até ai eu não me importei. Era só um carinho entre namorados. Até que começou a ficar bem mais estranho, bem mais provocativo. Diego passava a ponta do dedo no decote da minha regata, mesmo por baixo da água eu poderia sentir a precisão do seu toque.

Como se ele estivesse tentando alcançar um de meus seios.

Antes que eu pudesse impedi-lo, ele começou a me beijar com bem mais vontade. Como se tivesse avançado de nível. E eu quase me senti sufocada, sem conseguir respirar. Sua respiração foi ficando curta, ofegante. Seus dedos machucando a minha pele, apertando-a onde ele pudesse tocar. Pude senti o gostinho de sangue quando ele puxou meu lábio inferior com a pontinha do dente.

― Ai! Não. Para!

― Não seja tão bobinha, Clarissa. – ele ria. ― Você já não é mais uma garotinha ingênua e indefesa. – algo em seus olhos me assustava. Algo nele havia mudado. ― Não precisa se fazer de difícil pra mim. Eu sei que você me quer. Tanto quanto eu te quero nesse momento. Porque não saímos daqui e vamos para qualquer outro lugar?

Uma coisa que eu sei e nunca mais deixei de pensar nisso, é que quando um homem (qualquer homem) quer uma coisa de uma mulher, ele vai até o fim, até conseguir. Mesmo que pra isso ele tenha que usar a própria forçar para obter o que deseja. E uma mulher, por mais forte que ela seja, nem sempre pode escapar das garras de um homem.

E pra isso há só uma solução.

― Você tem razão. Vamos lá. Vamos sair daqui agora mesmo. – eu tentei sorrir, tentei me mostrar convincente.

Ele caiu direitinho.

― Eu vou me trocar. - sugeri, nervosa.

― Não! Olha, nem precisa. Vamos o mais rápido possível!

Apesar de muito assustada e morrendo de medo do que estava por vir, eu precisava ser corajosa naquele momento. Aquele não era o Diego que eu gostava. Não foi assim que eu conheci ele. Algo nele havia se transformado dentro daquela piscina enquanto ele me beijava e tentava me apalpar. Seus olhos não tinham mais aquele brilho de um garoto do segundo ano no ensino médio. Haviam se transformado em algo bem mais forte, bem mais agressivo, capaz de qualquer coisa.

Eu só precisava que ele acreditasse em mim. Em cada palavra. Que eu estava mesmo caindo no seu papo furado. Que eu o queria. Que havia sido seduzida por ele. E o desejava.

― Só me deixa pegar nossas coisas. Volto já.

Corri até a minha bolsa, peguei-a e rapidamente retirei meu celular dali de dentro e mandei uma mensagem de texto para o último número que apareceu no registrador de chamadas.

“Preciso de ajuda. Venha me socorrer. Estarei esperando por você na pracinha do centro. Venha o mais rápido que puder.”

Enviei, seja lá pra quem for.

Segurei a mão do Diego que me olhava como se quisesse me devorar a qualquer instante. Tentei não deixar transparecer meu pavor e continuamos andando, nos distanciando do Clube.

― Na sua casa ou na minha? - perguntei, tentando sorrir.

― Na minha, claro. Tenho uma surpresa pra você.

Ele riu de forma maligna.

O que havia acontecido com o meu Diego? Onde ele foi parar? O que fizeram com ele? Quem era aquele garoto ao meu lado?

― Eu sei que você está com pressa, temos tão pouco tempo. Eu também te quero muito! Mas – beijei-o de maneira provocante da melhor forma que eu pude. Eu tinha que atrasa-lo um pouco. ― Vamos parar pra tomar um sorvete antes? Me sinto como se estivesse pegando fogo.

Ele mordeu o lábio inferior, provocante.

― É assim que eu gosto. Mas tudo bem. Vamos tomar um sorvete antes. Qualquer coisa que você quiser. – Uhum. Tá. Duvido. Ele só dizia aquilo para tentar me convencer que eu estava no comando. Quando na verdade era ele quem estava.

De longe vi um senhorzinho com seu carrinho de sorvete no meio da pracinha no centro. Corri com o Diego até ele.

― Eu quero um de palito. De coco, por favor.

― O meu de limão.

Estava começando a suar, não só por causa do calor, mas também de nervosismo. Ninguém até então havia aparecido para me salvar daquele garoto que eu já nem reconheço mais. Enquanto o senhorzinho procurava pelos sorvetes dentro do seu carrinho, eu olhei para todos os lados e nada. Será que eu teria que agir sozinha para escapar dele? Preferia nem pensar nessa hipótese. Diante dele sou fraca demais.

― Vamos? – Diego estendeu sua mão na minha direção, com a outra segurava seu sorvete de limão.

― Primeiro um beijo. Por favorzinho. – fiz biquinho, como uma criança mimada. Ele pareceu ter gostado e me deu um beijo.

― O que está acontecendo aqui? – afastei-me do Diego no mesmo instante, como se ele tivesse me queimado com seu toque. Eu já estava começando a sentir nojo daquele garoto desconhecido.

Suspirei de alivio. Era o Bernardo. Meu salva-vidas. Para quem eu havia mandando um torpedo. O último número no meu registrador de chamadas. Pois ele fora a última pessoa a me ligar na semana passada. Sei que faz um tempinho desde então. Mas não é como se eu recebesse ligações todo o tempo.

― Clarissa, o que foi? – Bernardo olhou pra mim, depois de dar uma boa encarada no Diego. Que estava só de bermuda, ainda molhado e sem camiseta. ― Vem aqui. – ele me puxou. ― Porque me mandou aquela mensagem de texto?

Fui parar ao lado dele, sentindo as mãos e pernas tremerem.

Diego olhava para nós sem entender nada.

― Me leva embora. Agora. Por favor. – sussurrei.

Bernardo agarrou a minha mão, como se tivesse acabado de entender tudo sem eu nem precisar explicar.

― Ei, você. – o Diego gritou, quando viramos as costas para sair dali. ― Você não pode levar a minha namorada de mim assim.

― Eu posso sim. – disse o Bernardo, convicto. Dando um passo à frente, deixando-me para trás. ― Qual o problema? Ela me chamou.

― Não estou entendendo.... – Diego franziu o cenho, inclinando a cabeça para olhar pra mim, um pouco mais atrás do Bernardo, implorando com os olhos por uma resposta. ― Clarissa....

― Diego, eu não quero mais namorar com você. – me ouvi dizendo aquilo sem nem parar pra pensar. ― Você passou dos limites hoje.

Automaticamente o rosto dele ficou vermelho e os olhos claros se encheram de fúria. Vi-o cerrando os punhos ao desviar os olhos de mim e voltar a encarar o Bernardo, bem a sua frente.

― Eu vou acabar com você. Tudo isso é culpa sua!

― Culpa minha? Não. Não ainda. – o Bernardo riu de forma sarcástica. ― Mas agora vai ser.

Dito isso, o Bernardo só deu mais um passo na direção do Diego e socou o rosto dele acertando em cheio.

Diego tombou para trás.

― E nem ouse a se fazer de coitado mais uma vez e colocar a culpa toda em cima de mim. Seja homem e aja com tal. - Bernardo estava furioso. ― Se você abrir a boca sobre o que aconteceu agora pra qualquer um, eu te garanto que o que aconteceu entre você e a Clarissa vai parar nos ouvidos do pai dela.

Diego engoliu em seco, escondendo com a mão a marca do soco em seu rosto. Pela primeira vez vi e senti que ele tinha medo de alguma coisa ou mais especificamente de um único alguém: meu pai.

Bernardo voltou-se pra mim, pegou a minha mão com força e praticamente me arrastou pra longe dali.

― Você não deveria ter feito aquilo. ― comentei, pelo caminho. ― Não precisava machuca-lo tão forte dessa maneira.

― Como não, Clarissa? – ele bufou, parando pelo caminho e olhando pra mim com seus olhos azuis igual a uma tempestade ― Se eu não tivesse chegado antes para te ajudar, ele quem teria te machucado. O tipo de ferida que ficaria marcada pra sempre em você.

Continuamos a andar.

Ele tinha razão.

― Isso é pra você aprender a nunca mais confiar em qualquer garoto que aparecer pela frente.

Eu ri friamente. Ele só podia estar brincando.

Agora ele estava se achando, só por ter me ajudado.

― Eu confio em você, e ai? E eu mal te conheço. - dei de ombros.

― Porque você quem quis assim. Esqueceu-se? - ele rebateu.

― Não! Não esqueci. – falei mais alto, puxando minha mão. Sentindo os nervos à flor da pele. Ai que ódio eu estava do Bernardo! Porque ele tem que ser sempre tão estupido e estragar tudo? Tudo isso porque fiz um simples comentário.

Paramos outra vez.

― Mas é você quem deveria fazer o favor de me esquecer.

Continuei a andar, dessa vez sozinha e irritada, pisando forte no chão capaz de abrir um buraco no asfalto.

― Você diz como se fosse fácil.

Ouvi ele gritar pelas minhas costas.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Ficou bom ou não muito? Sejam sinceros. Se tiver alguma coisa incomodando, algo muito confuso, algo muito exagerado vocês podem falar pra mim. Mas pelo menos pegem leve, eu sou bem sensível. Do tipo que chora por qualquer coisa. Então, tomem cuidado rs



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