Quando Tudo Aconteceu escrita por Mi Freire


Capítulo 26
Capítulo XXV


Notas iniciais do capítulo

Mudei a capa outra vez. Vocês perceberam? Bom, eu não estava muito satisfeita com a anterior, pois a foto era muito grande e isso realmente me incomodava. Achei que essa ficou bem bonitinha, exatamente como eu queria que fosse. Não quero mais trocar até o final da história. Mas enfim, resolvi postar essa capítulo mais depressa. Vai acontecer algo inusitado agora. O próximo promete a mesma coisa. E provavelmente os capítulos seguintes vão melhorar essa "crise".



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/464648/chapter/26

― Ela tá é com ciúmes de você. Isso sim. – Marina tem convicção do que diz. Ela sempre acha que sabe de tudo e eu quase sempre consigo acreditar nela.

― Eu também eu acho. Ou ela não estaria tão irritadinha assim com você de uma hora pra outra. Logo agora que você está meio que “seguindo” em frente e vivendo a sua vida. – Miguel observa.

O que eles dizem pode até fazer um pouco de sentido, mas eu não consigo ver as coisas dessa maneira. Não completamente.

É finalzinho de mais uma tarde de sábado e estamos em uma das quadras de esportes do Clube. Gustavo está jogando basquete com o Edu que não leva o maior o jeito para atividades físicas, mesmo assim, entre amigos ele até arrisca. Já eu, Marina e Miguel estamos sentados em uma das arquibancadas. A pequena quadra é só nossa.

Nós três paramos de falar e olhamos para os garotos.

― Você ainda tá chateada com o Gustavo por causa da festa?

― Um pouco. Você sabe como é lidar com o seu amigo.

― Ei, o que vocês estão olhando? – O Gustavo berra com um sorriso torto e a grande bola de basquete em mãos. ― Ei bonzão, vem jogar. Você e o Edu. Eu e o Miguel. Que tal?

― Não é justo. – me levanto e vou até ele, após me certificar de que a Mari ficaria bem mesmo sozinha. ― Dois bons, contra dois ruins.

Nós rimos, pois eu estava certo. Não sou muito bom o quanto gostaria com esportes. Mas dou meu jeito. E aceito a partida. Nos divertimos até estarmos exaustos e deitarmos no meio da quadra com a barriga pra cima e os olhos vidrados no céu. Os três suados, com respiração ofegantes e as roupas sujas do chão.

Volto a pensar na minha vida. Mais especificamente na minha vida sentimental que não tem andando lá essas coisas, mas mesmo assim tenho tentado me distrair de um jeito ou de outro.

Desde a festa do Miguel, quando conheci aquelas garotas e cometemos algumas loucuras bêbedos, voltei a me encontrar com algumas delas pelo colégio. Pois apesar de eu não conseguir me lembrar delas, elas lembravam muito bem de mim e cada coisa que fizemos juntos. Assim, não tive muito para onde correr.

Eu não poderia simplesmente ignorar a existência delas.

Mas todas as vezes em que estou com alguma garota, por mais que ela tenta ser esforçar para ser especial, acabo não conseguindo encontrar nada que realmente me chame atenção, algo diferencial, algo que eu verdadeiramente admire. Pra mim, são todas igual. Sempre tão superfícies. Não têm personalidade própria, dizem coisas sem sentido ou sem qualquer fundamento, ficam de charmezinho todo o tempo, mexendo no cabelo, passando batom, perguntado se estão bonitas, se eu gosto da roupa que usam, do jeito do cabelo.... É tudo tão forçado, e por mais que eu tente agir como quem não se importa tanto, no final das contas que me sinto tão.... Insatisfeito.

Nenhuma delas são como a Clarissa. Não têm o sorriso da Clarissa, o corpo da Clarissa, os olhos da Clarissa, o cabelo da Clarissa, nem o jeitinho da Clarissa. A Clarissa é tão diferente de tudo que já conheci. Ela é tão exótica, tão exclusiva, tão única, que nenhuma garota jamais chegará aos seus pés, mesmo que ela não tenha um corpão, os olhos azuis mais perfeitos, ou o cabelo lisinho escorrido.

Clarissa é simplesmente ela mesma. E isso é o que mais gosto nela. Mesmo que ela não tenha um pingo de noção do efeito que ela causa sobre mim.

Ela não precisa ficar perguntando se está bonita todo o tempo, porque ela é bonita até quando acaba de acordar, mesmo com os cabelos cacheados bagunçados. Ela não precisa forçar nenhum assunto, porque tudo entre nós flui tão naturalmente. Clarissa não precisa perguntar sobre a sua roupa, porque ela já é segura de si mesma e não precisa, nem quer, chamar a atenção de ninguém. Pois automaticamente, sendo ela mesma, ela chama a atenção de qualquer um por onde passar. Por mostrar autoconfiança, determinação, o pé firme no chão e isso é tudo que um garoto admira em uma garota. Claro que depois de dar uma bela conferida no conjunto da obra.

― Ei garanhão, você está mesmo pegando a Laís, a gata do terceiro ano? – Gustavo tem sempre uma pergunta afiada na ponta da língua. Sempre uma provocação com tom de sarcasmo.

― Ei, eu estou ouvindo isso. – Marina tirou os olhos do celular e olhou desafiadoramente para nós. ― Acho melhor vocês falarem sobre mulher uma outra hora. De preferência quando eu não estiver por perto.

― Ela ainda está meio chateada. – sussurro, mais especificamente para o Gustavo do que para os outros. ― Se eu fosse você fazia um agrado para mudar esse mau-humor dela.

Antes de ir pra casa tive que passar em um outro lugar: na casa da Laís. Que disse que queria ter uma “conversinha “comigo. Mas eu sabia bem que não era exatamente uma conversinha que ela queria. Meninas assim são muito ousadas, apesar de se sentirem ofendidas demais para admitir. O que costuma ser bom em alguns momentos, já em outros é exaustivo, quase nunca tem algo de novo pra fazer. É sempre a mesma coisa, pois você já sabe o que esperar delas.

― Oi Bêzinho, ainda bem que você chegou. Já estava com saudades. – ela fez biquinho, vindo em minha direção.

Não cheguei a entrar, ficamos na frente da casa dela mesmo. Pois ali teríamos mais privacidade de certa forma.

Laís enlaçou minha cintura com seus braços, beijando-me calorosamente, agarrando minha camiseta com os dedos, e alguns vezes roçando sua perna na minha (detalhe: com um shortinho jeans minúsculo) enquanto enterrava as unhas da minha pele. Ela estava cada vez mais ofegante, e olha que estávamos na frente na casa dela, e no meio da rua. Mas não era como se ela se importasse. Como quem já tem bastante experiências naquilo. Eu bem que tentava enxergar qualquer coisa boa naquilo ou até mesmo nela, qualquer coisinha que fosse no mínimo interessante, mas quanto mais eu olhava, mais eu sentia o desgosto. Sentia-me dando uns amassos em uma boneca superficial. Não era como se eu tivesse outra opção.

O melhor mesmo era aceitar o pouco que eu tinha.

Não estamos exatamente namorando, apenas se “pegando”, então, não há muito com o que se preocupar. É só mais uma fase de carência. Sei que isso logo vai passar.

― Bê, você não quer entrar? – ela parou de me beijar por um momento, olhando de maneira penetrante. ― Vamos subir para o meu quarto? Com certeza será mais confortável lá.

― Hum... Melhor não, Laís. Eu preciso mesmo ir. – dei um selinho nela, educadamente retirando suas mãos de cima de mim. ― Minha filha está me esperando em casa.

O que não deixa de ser mentira.

Eu não teria saído com meus amigos e nem para me encontrar com uma garota se minha mãe não tivesse insistindo tanto para ficar com a Liz enquanto ela faria uma pequena reuniãozinha em casa com as amigas de trabalho, muitas, também minhas professoras. Inclusive a que eu mais detesto, a baixinha de olhos puxados, a professora de química.

Cheguei em casa e elas ainda estavam por lar, rindo e conversando alto. Tomando café e comendo bolinhos. Dei um rápido cumprimento a todas, peguei a minha filha e subi às pressas para o andar de cima.

Do quarto do casal, o quarto dos meus pais, ouvia a televisão com o volume alto no canal de esportes. Meu pai tentando fugir das mulheres.

― Ufa. Finalmente somos eu e você. – deitei a Liz na minha cama, ela já estava com uma carinha de sono. Eu deitei com ela, passando a mão no seu rosto delicado. ― Como foi o seu dia, filha?

Dei uma breve pausa, como se ela realmente fosse me responder. E só depois comecei a relatar como fora meu dia, tirando a parte dos amassos com a Laís no portão da casa dela. Não era algo que minha filha precisasse saber. Nem eu mesmo me orgulhava disso.

Liz custou a dormir, apesar de parecer bem sonolenta. Só dormiu mesmo quando eu cantei pra ela, bem baixinho, passando o dedo cuidadosamente nos fios finos em sua cabeça. Cantei, meio que sem querer, não sei, a primeira música que veio na minha cabeça: Entre nós dois, Nx Zero.

A música que eu pedi para a Clarissa ouvir e prestar atenção na letra. Pois se adequava perfeitamente para nós dois.

Acabei dormindo junto com a Liz e perdendo a hora para ir à igreja.

Terça-feira à noite fui com o Miguel até a casa dele depois do colégio para fazermos os deveres de casa juntos. Como sua mãe passa a maior parte do tempo no trabalho, nós mesmos preparamos um lanche antes de começarmos a abrir livros e cadernos.

― Sabe o que é mais estranho? – Miguel comentou, assim, de uma hora pra outra enquanto eu terminava meu exercício sozinho.

― O quê? – finalizo a minha equação, e volto-me pra ele.

― Você não acha que pra um cara comprometido o pai da Clarissa está muito assanhadinho pra o lado da minha mãe?

― Mas o que é que tá acontecendo na real?

― Ah cara, você nem imagina. – ele fecha o caderno com força e suspira forte. ― Às vezes ele liga pra cá só pra falar asneiras, eles ficam conversando por horas e horas. E minha mãe fica toda contente, você tem que ver o sorrisinho dela. E quando eles se encontram por caso.... Ficam cheios de conversinha, trocam olharem muito suspeitos e me sobe aquela ânsia sabe? É horrível, Bernardo!

Eu ri. Que drama.

― Você só tá dizendo isso porque está morrendo de ciúmes da sua mãe. Mas você não acha que por ela ser bonita, jovem, uma mulher incrível não deveria ter amigos da idade dela, ou sair mais, ou até mesmo arrumar um namorado? Há quanto tempo ela não fica com ninguém? Desde que seu pai morreu? Ah, por favor Miguel. Você já tem dezessete anos. Já tá na hora de deixar sua mãe em paz...

― Tá. – ele revirou os olhos. Impaciente. ― Tudo bem. Você tem toda razão. Ela tem todo o direito do mundo em querer viver a vida dela. Mas tem que ser com ele? O cara tem namorada, Bernardo! E além do mais, não sabemos nada sobre ele. Ele é bizarro!

― Ele não me assusta tanto assim.... E mesmo assim, você não tem porque ficar pensando dessa maneira. Pode até ser que eles sejam só amigos. Não tem como você saber!

― Então! Isso é o que mais incomoda. Não saber o que está rolando entre eles. Pois se eu soubesse... Não ficaria tão intrigado.

Ficamos debatendo sobre isso por muito tempo, que eu nem vi o tempo passar. Quando voltei pra casa já era fim de tarde. Passei um tempinho com a minha mãe, pois gosto muito de conversar com ela. Jantei e depois subi pra ler alguma coisa que pudesse me distrair.

No dia seguinte, durante o intervalo, abaixei a cabeça assim que vi a Laís se aproximando com aquele sorriso que me lembra muito a Brenda e seu charmezinho para conquistar alguma coisa. Eu não tinha para onde correr, nem meus amigos a minha volta poderiam me salvar.

Ela beijou meu rosto demoradamente e sentou no meu colo, passando seu braço em volta do meu pescoço. Estava literalmente sentada em cima de mim, com seus olhos vidrados no meu rosto, com aquele cheiro de perfume doce tão forte que me dá dor de cabeça.

― Bê, você está me enrolando há um tempinho já. – ela mordeu o lábio inferior. Se achando muito sexy. Mas ela é bem bonita e atraente, mas não tanto quanto acredita que seja. ― Qual é o problema, de verdade? Porque você não quer ir lá em casa?

― Não é nada Laís. É que eu....

― Ih, sem desculpas... Por favor. – ela fez beicinho. Aquela típica carinha de cãozinho abandonado. ― Que tal hoje?

Qual é o meu problema de verdade? Porque eu estou fugindo de uma garota? Estou sendo tão patético. Isso nunca me ocorreu antes.

― Tá bom. Te espero na saída. Pode ser?

― Claro que pode, amorzinho. – ela me beijou, sorrindo.

O sinal para o termino do intervalo soou. Me desviei dos meus amigos e passei antes no banheiro. Fiz minha higiene pessoal e retornei para a sala de aula às pressas. Antes que o próximo professor chegasse e me dessa uma baita bronca por chegar atraso.

― Ei. Clarissa! – dei uma rápida corridinha, ao ver cachos dourados esvoaçando mais à frente.

Tenho certeza de que ela me ouviu, éramos praticamente os últimos retornando para a sala após o sinal. E nem estávamos muito longe um do outro. Provavelmente ela me ignorou completamente.

Mas é claro que eu não ia deixar por menos.

― O que foi dessa vez em? – parei em sua frente, fazendo ela parar. ― O que foi que eu fiz?

― Nada, Bernardo. Nada. – disse ela naquele tom de impaciência que deixa mais que explicito que ela tem alguma coisa, mas ela não quer confessar. ― Ou melhor, pergunta pra sua amiguinha.

Não consegui segurar o riso.

― Então é isso. – eu sorria, bastante satisfeito. ― Você está com ciúmes de mim... Não seria tão mais fácil você simplesmente admitir?

Nesse momento ela me encarou feio, quase desafiadoramente como se eu fosse seu rival em um ringue. De olhos praticamente saiam faíscas e eu quase temi que ela metesse o murro em mim.

― Você só pode estar de brincadeira comigo...

Mas eu não estava, porque sim, queria ouvir ela dizer que sentia ciúmes de mim. Só assim eu teria a certeza de que ela ainda se importa comigo e que ainda sente algo por mim. Qualquer coisinha, por mínimo que seja.

― Diz pra mim, Clarissa. Diz que você sente ciúmes.

Não sei o que deu em mim, mas naquele momento algo me subia pela cabeça. Fui pressionando ela contra a parede sem nem perceber tamanha grosseria. Mas a Clarissa não estava assustada com a minha reação e nem surpresa. Apenas continuava a me olhar como se me odiasse pra valer, o que só aumentou ainda mais o meu desejo de encurralar ela até que me dissesse tudo que eu queria escutar diretamente dela.

― Clarissa...

O meu tom de voz diminuiu. Então, percebi que o subia dentro de mim era minha vontade de estar com ela. De poder toca-la por alguns segundos. Automaticamente meu coração pedia por uma coisa, já meu cérebro por outra. Eu não saberia escolher entre as duas opções. Estava muito confuso e perdido. Minhas mãos tocaram seu braço, no mesmo instante ela tentou se livrar de mim. Sem tirar os olhos dos meus. Foi ai que percebi que não era aquilo que ela queria, ela só queria que eu acreditasse que ela não sentia mais nada por mim. Mas seus olhos diziam o contrário.

― Bernardo, sai. Me deixa em paz, por favor.

― Não é isso que você quer....

― Claro que é! – ela explodiu desviando o olhar, tentando se livrar de mim. E eu apertando cada vez mais seus pulsos. ― Me solta! Tá me machucando.

― Não. Eu não vou soltar. – disse eu, firme. ― Olha pra mim. Olha! Olha dentro dos meus olhos e diz que...

Não consegui dizer o resto, de repente as palavras me faltaram.

Por não conseguir terminar a minha frase, Clarissa voltou a olhar pra mim, surpresa. Como quem espera mais. Mas por algum motivo qualquer eu não consegui. E falhei pelo caminho.

Ela me olhava na expectativa, e eu a olhava de volta desapontado comigo mesmo. Com medo de qualquer que fosse a sua reação caso ela não gostasse do que eu tinha pra dizer.

― O que está acontecendo aqui? – ouvi a voz firme da professora. A baixinha japonesa. Professora irritante de química. ― Porque vocês ainda não entraram na sala de aula?

Soltei a Clarissa, e entramos os dois, seguidos da professora, na sala de aula, onde todos já estavam em seus lugares, aguardando.

Encontrei a Laís na saída do colégio, perto de uma das arvores que fica em frente aos portões. Ela estava com um grupinho de amigas, quando me aproximei todas elas sorrirem pra mim de formas muito parecidas. Laís fez certa questão de pular sobre mim e me dar um beijão daqueles, sem nem se importar com a plateia que nos olhava.

Fomos caminhando até a casa dela de mãos dadas. Todo o tempo a garota se queixava de eu não ter um carro. Eu tentei a explicar a ela que apesar de saber dirigir, não poderia ficar saindo assim com o carro dos meus pais sem nem ter completado maior idade ainda.

Chegando lá, percebi que éramos os únicos em casa. Sua casa grande, bem espaçosa, cheia de janelas, com um estilo mais rustico e bem organizada. Eu pouco sabia sobre sua família. Ela nunca falava sobre os pais, ou se tinha irmãos, um cachorro, ou um gato, não sei. Laís não era muito de conversas, ela gostava mesmo era de agir.

― Pode levar minha mochila até o meu quarto? – ela já foi me passando a mochila se nem esperar pela minha resposta. ― É no final do corredor. Última porta a direita. Acho até que a porta deve estar entreaberta. Eu vou pegar um copo de suco pra você.

Laís desapareceu.

Fui caminhando pelo corredor meio apreensivo. Algo dentro de mim dizia que aquela área, uma casa imensa com um garota cheia de poses, era um área perigosa. Mesmo assim segui em frente, afinal, nunca fui do tipo de garoto que foge do perigo ou tem medo de garotas, por mais espertinhas que elas acreditem ser. Eu posso ser bem mais esperto que elas. Não caio facilmente em qualquer historinha mal contada, apenas me finjo de bobo para poder facilitar pra elas.

O quarto da Laís é inteiramente pintado e decorada de rosa-shocking com os móveis brancos. Há muitos objetos afeminados por todos os lados, um mural de fotos dela, quadros nas paredes, ursinhos de pelúcia, carpete aveludado, espelhos grandes, poucos livros, enfeites de corações e borboletas e o cômodo cheira a chiclete.

Coloquei sua mochila sobre a cadeira em frente a escrivaninha e passei a olhar cada detalhe de seu quarto mais de perto. É tudo tão rosa que até dar um certo enjoou. Como se a Barbie tivesse vomitado por todos os lados. Chega a ser exagerado.

Mas como diz aquele velho ditado: Gosto não se discuti.

Sentei-me na beira de sua cama, olhando na direção da porta procurando por qualquer movimentação que viesse da Laís. Porque ela estava demorando tanto? Deve ter ido fazer o suco ou qualquer coisa pra gente comer. Não sei. Isso é se ela sabe cozinhar. Laís parece mais do tipo que tem tudo de mãos beijadas na palma da mão.

― Voltei. Demorei muito? – ela enfim reapareceu. Mas não estava mais como antes, com a camiseta do colégio e o jeans apertado.

Laís demorou, pois aproveitou para trocar de roupa. Agora usando um shortinho jeans branco curto e uma regata preta bem apertada deixando a mostra parte de sua barriga. O piercing no umbigo é visível, o que me dá repugnância. Nunca gostei disso. Ela está descalça, com um copo de suco em mãos, um sorriso de orelha a orelha, gloss nos lábios e os cabelos curtos molhados. Deve até ter tomado banho, o que explica a demora.

― Toma aqui o seu suco.

― Obrigado.

Mesmo tenso, tomei o suco praticamente todo em um só gole.

― Deixa que eu pego isso pra você.

Ela tomou o copo de minhas mãos e colocou sobre o criado-mudo.

― O que foi? Não está confortável? – ela veio em minha direção e novamente sentou-se sobre o meu colo, passando seus braços pelo meu pescoço, acariciando a parte de trás da minha cabeça e colando nossas testas uma na outra.

― Como foi que você trocou de roupa se seu quarto fica aqui? E onde estão seus pais?

Ela riu, balançando a cabeça negativamente.

― Tolinho. O banheiro fica no corredor e já tinha roupas lá esperando por mim. Só tomei um banho rápido, porque detesto ficar grudando por causa do calor. Bom, já meus pais estão no trabalho. Mas não se preocupe, temos a tarde inteirinha só para nós dois. – ela me deu três beijinhos. ― Eles chegam ao anoitecer.

Laís se remexeu sobre o meu colo e outra vez me beijou, dessa vez mais intensamente, me agarrando com os dedos firmes. Uma das mãos nos meus cabelos próximo a nuca e a outra mão na minha cintura, apertando forte. Conforme ela ia me beijando cada vez com mais desejo, ia me empurrando para trás, fazendo com que meu corpo de deitasse sobre sua cama.

Fiquei imaginando com quantos caras além de mim ela fez a mesma coisa. A mesma ceninha, inventou a mesma desculpa, só para seduzi-los e traze-los até sua casa, até a sua cama.

Eu não estava gostando dos amassos, mas também não queria desaponta-la. Se era aquilo que ela realmente queria. E bom, há muito tempo eu não fazia aquelas coisas. A última vez foi com a Lorena, na nossa primeira vez, quando ela acabou engravidando.

Laís passou a mão para dentro da minha camiseta e começou a passar o dedo sobre a minha barriga, subindo e descendo, até o peito. E continuamos a nos beijar. Agora eu já deitado sobre a sua cama e ela sobre mim, tocando-me de todos os jeitos possíveis.

Houve um momento em que ela pegou as minhas mãos com força e levou até suas pernas expostas, indicando-me de que eu também deveria acaricia-la. Mas não era bem o que eu tinha em mente. Eu me sentia aflito, meio perdido, como se estivesse fazendo a coisa errada. Não sei se poderia continuar. Eu não queria continuar.

Por outro lado, Laís estava muito determinada e fogosa. Aproveitou para arrancar a minha camiseta e beijar o meu peito nu. Inclinando-se sobre mim de uma maneira que qualquer outro garoto teria gostando e ficado muito excitado. Mas eu não sentia nada. Nada além de uma vontade incontrolável de sair imediatamente dali.

Como eu não tomava nenhuma iniciativa, ela mesma tirou a própria regata e ficou apenas de sutiã. Um sutiã branco rendado. Voltou a me beijar, dessa vez mordendo o meu lábio. Beijou o meu pescoço e subiu até a orelha. Laís já estava ofegante e se mexia todo o tempo, tentando encontrar a melhor posição para ela.

Por sorte ela poucas vezes olhava pra mim, para ver a minha expressão, a minha reação. Caso contrário teria ficado muito desapontada ao perceber que eu não estava nenhum pouco animado.

Laís desceu a mão até o zíper da minha calça jeans. E foi nesse momento que eu percebi que o que ela estava prestes a fazer não teria mais volta. Então, se eu queria parar. O momento era esse.

― Não. Não. Não. – tentei me sentar. ― Não quero mais.

― O quê? – ela olhou para mim surpresa, os olhos arregalados e o queixo caído. ― Como assim não quer mais?

― Não quero, Laís. Você não entendeu? Não quero. Não quero transar com você. Nem hoje e nem nunca.

― Não pode ser. – ao invés de ficar chateada, ela riu. Jogando a cabeça pra trás. ― Já entendi tudo. – ela ficou séria outra vez. ― Bernardo, por acaso você é.... Gay?

― Gay? Não! Claro que não.

Joguei ela para o lado sobre sua cama e levantei-me para pegar minha camiseta jogada no chão ao pé da cama.

Gay não.

Só que o meu coração pertence a outra pessoa.

E os meus pensamentos estão em outro lugar.

― Bernardo, o que está fazendo? – ela já estava sentada sobre a cama, ainda sem sua regata, apenas de sutiã e o cabelo bagunçado. Parecia indignada. ― Você não pode ir embora assim. O que as minhas amigas vão pensar?

― Suas amigas? O que elas tem a ver com is...

Entendi tudo.

Logo eu que acreditava ser bem espertinho acabei sendo enganado por um grupo de meninas. As mesmas amigas da Laís que me olharam daquele jeito perverso na hora da saída. Tudo isso, o que está acontecendo algo, fazia parte de um plano entre elas.

Exatamente com os garotos fazem para transar com meninas inocentes. Geralmente apostam ou desafiam um ao outro para ver quem consegue primeiro. E no final não ganham absolutamente nada com isso. Fazem apenas para se sentirem mais homem, como se um homem de verdade precisa usar uma garota indefesa e ingenua para provar sua masculinidade.

― Eu vou embora. – coloquei a minha camiseta de volta. ― E não quero mais ficar com você. Nunca mais. Procure outro idiota que possa cair no seu joguinho. Porquê dessa vez, esse idiota aqui só não fez uma besteira maior porque ama muito uma garota, que não é você. Provavelmente você nem sabe o que é ser amada de verdade. Acertei?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E ai, curtiram a atitude do Bernardo? Eu gostei! Achei que ele agiu feito um verdadeiro homem. E ainda por cima deu uma bela lição nessa garota sem rebaixar o nível. Comentem!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Quando Tudo Aconteceu" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.