Quando Tudo Aconteceu escrita por Mi Freire


Capítulo 25
Capítulo XXIV


Notas iniciais do capítulo

Pensei seriamente em deixar essa fic de lado por um tempo. Eu não sei bem porque, mas acredito que deva ser porque ontem tive uma nova ideia, para uma outra história, que não vai ser postada nem tão cedo, mesmo assim eu não queria deixar essa ideia passar despercebida. Mas a verdade é que eu não tenho coragem de "abandonar" essa aqui. Não acho que vocês mereçam isso. E também não seria justo comigo. Então vou continuar postando sempre que eu puder.



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― Ah, por favor Bernardo, vai embora. Me deixa sozinha. – abaixei a cabeça para esconder o rosto, pousando a testa sobre o meu braço em cima da mesa da pequena sorveteria.

Porque justamente ele tinha que aparecer agora?

― Ei, calma. – ele pegou a cadeira e a colocou ao meu lado. Pousando sua mão sobre a minha cabeça e passando os dedos nos meus cabelos soltos. Senti instantaneamente aquele conforto através do seu toque. ― Porque você não confia em mim? Pode me contar o que está acontecendo. Nós somos amigos, não somos?

― Eu confio em você. – me senti impulsionada a levantar a cabeça e olhar dentro dos olhos dele. Que sempre me transmitem calmaria. ― Só não sei se quero falar sobre isso com você.

― Eu já percebi que você não gosta muito de falar sobre você. – seu rosto chegou mais perto do meu como se ele estivesse enxergado no meu rosto algo de errado. Bernardo tirou um cacho da frente do meu rosto que havia grudada em meio as lágrimas e com a ponta do dedo enxugou alguma delas com muito cuidado.

Seu toque transmitia uma espécie de magnetismo.

― Mas isso só faz com que eu queira saber mais e mais sobre você. – ele admitiu, esboçando um meio sorriso que me automaticamente me fez sorrir também, mesmo toda chorosa.

― O problema é o meu pai. – resolvi aproveitar a oportunidade para desabafar. Bernardo não era um alguém qualquer. Com ele eu me sentia impulsionada a fazer muitas coisas que eu jamais admitiria a mim mesma. ― Ele não aceita meu namoro com o Diego. Ele não aceitaria meu namoro com ninguém. Ele ainda acha que eu sou uma menininha de oito anos. Ele me trata como se eu fosse uma bonequinha que tem que fazer exatamente o que ele quer, na hora que ele quiser. Nós brigamos essa noite, cansada eu corri até aqui com a minha bicicleta na intensão de pensar menos no que eu já deveria ter aceitado há muito tempo, mas de alguma forma não consigo. Não gosto de me sentir tão inferior a um homem que nem é meu pai de verdade, entende?

Bernardo assentiu, com as costas encostadas no encosto da cadeira de metal, tomando seu sorvete tranquilamente. Para qualquer outra pessoa, aquela pode parecer uma cena normal e comum, de uma pessoa ouvindo a outra enquanto toma seu sorvete em uma sorveteria no centro da cidade. Mas para mim, o Bernardo só fica ainda mais bonito, mesmo fazendo algo tão simples que é tomar sorvete.

― Pra ser bem sincero, eu não entendo. – ele sorriu, e outra vez eu sorri também. Me sentindo cada vez menos frustrada pelo simples fato de ele estar por perto. Sentia que ele era a pessoa certa para estar ali e eu não conseguia imaginar nenhuma outra. Apesar de não poder admitir isso. ― Mas posso me colocar no seu lugar e imaginar.

Bernardo voltou pra perto de mim, colocando o potinho do seu sorvete sobre a mesa, e sua mão sobre a minha. Ele me olhou fixamente, com seus olhos de um azul mais escuro como a noite.

― Você já conversou com seu namorado? – outra vez aquele tom de voz um tanto indiferente. ― Ele poderia conversar com seu pai e....

― Não! De jeito nenhum. – interrompi. Bernardo estava enlouquecendo. Que ideia! Porque o Diego se sacrificaria tanto? ― Meu pai acabaria com a raça dele em um estalar de dedos.

― Bom, se eu fosse o seu namorado, certamente enfrentaria qualquer coisa para estar com você. Eu iria até a sua casa, mesmo com medo do seu pai e diria a ele qualquer coisa para convence-lo de que você é especial pra mim e eu quero estar com você e nada mais importaria. – disso eu não duvido, com certeza. Basta olhar dentro dos olhos dele para sentir a determinação em suas palavras. ― Mas como eu não sou o seu namorado, apenas um amigo....

Senti uma pontinha de provocação nessa última frase.

― Acho que você deve conversar com ele mesmo assim.

― Com o meu pai?

― Não! Com o.... Diego.

O meu namoro que até então era de mentirinha com o Diego tem entrando em um estágio de concretização. Estamos evoluindo a cada dia que se passa e sinto-o cada vez mais próximo. Até mais intenso em nossos beijos e na troca de carinhos. Aquela história só foi inventada para afastar o Bernardo e acabou que o Diego tem me beijado, me abraçado, me tocado, até mesmo quando o Bernardo não está por perto. Como se não precisasse mais provar nada pra ninguém além dele mesmo.

Digamos que ele não seja um namorado totalmente de verdade ainda. Mas sinto que as coisas estão acontecendo de uma forma que isso esteja bem perto de acontecer. E eu admito que isso até me deixa empolgada, talvez ele seja o garoto certo para me fazer esquecer muita coisa. Se isso for possível. Mesmo que ele não me faça sentir lá essas coisas que o Bernardo me faz sentir apenas ao se aproximar. A minha esperança é que as coisas fluam naturalmente entre mim e o Diego. Um dia de cada vez.

O que aconteceu em casa a algumas horas atrás antes de eu vir parar aqui no centro, nessa sorveteria, com o Bernardo, foi que meu pai recebeu um telefonema muito misterioso e suspeito. E assim que ele desligou o telefone e colocou no lugar, virou-se pra mim com aquela cara de desaprovação - eu que estava sentada no sofá com a Isabel vendo tevê – não entendi o porquê daquela expressão. E jurava não ter feito nada de errado nos últimos dias.

― Um amigo meu do trabalho acaba de ligar, Clarissa. E sabe porquê? Pra me perguntar se a minha filha estava namorando um garoto, pois ele viu a própria ontem, em um sábado à noite, voltando pra casa de um festinha de mãos dadas com um garoto e a irmã do lado, que por final é sua cúmplice.

Pronto. Um telefone bastou para criar uma confusão. Vicente se transformou em outro homem. Com um tom de voz muito severo, que no início me assustou muito. Mas que depois só me fez ter mais vontade de desafia-lo para defender aquilo que eu gosto.

Eu não teria dito nada, teria ficado caladinha enquanto ele passava seu sermão do quanto estava decepcionado e furioso com o meu comportamento e que não admitiria que eu me envolvesse com um garoto qualquer quando na verdade deveria estar preocupada com o meu futuro profissional. Mas então, ele decidiu não só punir a mim, como também Isabel por saber de tudo e não ter contado nada a ele antes. Claro que ela não contaria, pois é minha única e melhor amiga. E temos confiança uma na outra.

Quando ele disse que por um longo tempo, até ele conseguir absorver aquela história, deveríamos ir apenas pra escola, voltar direto pra casa, que ele estaria aqui esperando por nós, monitorando o horário no caso de atrasos e que ficaríamos de castigo a maior parte do tempo trancada em nossos quartos, liberadas apenas para as refeições; foi quando eu me levantei e o confrontei pela primeira vez.

Levantei do sofá e comecei a dizer tudo o que eu queria, tudo o que eu tinha em mente, tudo que estava preso dentro de mim. Todas aquelas coisas sobre poder ter liberdade, uma vida normal como de qualquer outra garota e poder fazer nossas próprias escolhas. Vicente me olhava com aqueles olhos que pareciam prestes a me devorar. Por um momento pensei que ele iria me bater. Mas ele nunca me bateu, mas eu realmente acreditei que aquela seria a primeira vez. Já que também era a primeira vez que eu levantava a voz para confronta-lo.

Antes que isso acontecesse, eu sai de casa correndo. Deixei Isabel assustada para trás com a minha reação que até então nem eu acreditava que eu, logo eu, tivesse tido e um Vicente gritando para que eu voltasse imediatamente pra casa ou ele tomaria medidas bem mais drásticas. Não ouvi mais nada, pedalando rapidamente sem um rumo certo pelas ruas razoavelmente movimentadas. Sentindo as lágrimas escorrem por meu rosto por medo e também com certo orgulho de mim.

Não sei bem porque escolhi a sorveria. Mas deve ter sido pelo simples fato de que estava mesmo muito calor, mesmo assim, parecia o único lugar no centro que não tinha muitas pessoas sentadas nas mesinhas. E o único lugar onde eu poderia me sentar em um lugar onde poderia ficar de olho na minha bicicleta do lado de fora.

― Eu preciso ir. Está ficando tarde. – eu disse, já me levantando. Bernardo acabara de terminar seu sorvete. ― Agradeço por ter me ouvido e por ter insistido em estar ao meu lado mesmo eu sendo patética.

Limpei os últimos resquícios do meu choro.

― Não seja bobinha, Clarissa. – ele apertou o ponta do meu nariz, o que me fez rir. ― Você não é patética. Só estava precisando de um... amigo pra conversar. Acho que eu apareci no momento certo, não é mesmo?

Assenti em concordância.

Ele também se levantou, jogando seu potinho vazio de sorvete no lixo mais próximo.

― Vamos. Eu te acompanho até em casa. Está muito tarde para você voltar sozinha.

Ele fez questão de levar a minha bicicleta ao lado do corpo, enquanto, meio que por cima, falava sobre alguns acontecimentos da festa do Miguel. Senti que ele me escondia muita coisa, por motivos bem particulares. Mas pelo pouco que vi enquanto estive presente, imagino que não deva ser coisas tão boas. Mas não tenho porque me importar tanto, apesar de sentir uma leve pontinha de ciúmes, afinal, o Bernardo é um garoto extremamente lindo e completamente desimpedido. Faz da vida o que bem entender. Eu não sou mais nada dele.

― Aqui está bom? – ele parou há algumas casas a frente da minha, passando-me a bicicleta. Sua mão tocando na minha.

― Obrigada mais uma vez. – sorri timidamente. Sentindo o constrangimento do momento da despedida, quando a gente não sabe bem como reagir. Optei por um rápido beijinho na sua bochecha.

Caminhei devagar em direção a minha casa, já sabendo o que me esperava por lá. Mas sabendo que o Bernardo ainda estava lá atrás, olhando pra mim.

― Ei, Clarissa! – ouvi-o gritar. Virei-me pra ele. Bernardo correndo na minha direção. Parando diante de mim com o cabelo um pouco bagunçando por causa da rápida corrida, dando-lhe um charme a mais.

― O que foi? – olhei assustada pra ele.

― Eu não sei, mas imagino que você esteja com medo de entrar e se deparar com a fúria do seu pai. Eu só queria que você soubesse que eu estou muito orgulhoso de você. E se você precisar de mim, sabe exatamente onde me encontrar.

Ele falava rápido, meio ofegante. Me surpreendeu ainda mais ao me dar um abraço forte que eu nem tive tempo de corresponder. Afundando seu rosto na curva do meu pescoço me fazendo sentir sua respiração contra a minha pele.

― Obrigada, de novo.

Como alguém que eu pouco conheço, pôde mudar tanto a minha vida?

Entrei em casa, mas não vi exatamente o que eu esperava encontrar. A porta estava aberta, porém a sala silencioso. Assim como o resto dos cômodos. Nem ousei a chamar por ninguém, tinha a leve impressão de que Isabel já estava em seu quarto, assim como o Vicente.

Antes de dormir vi que tinha um bilhetinho sobre o criado-mudo.

Clarissa,

Não pense que eu esqueci que temos uma conversinha pendente para solucionar. Estou muito desapontado com você minha filha. É lamentável que você esteja crescendo e se tornando algo que eu nunca imaginei de você. Preciso de um tempo para encontrar a melhor maneira de lidar com esse problema. Não vamos insistir nisso agora. Não fiquei pra te esperar chegar em casa, porque assim como eu preciso de um espaço para pensar em certas coisas, acredito que você também tenha precisado. Tranque a casa e apague todas as luzes antes de ir dormir. Se estiver com fome, tem algo pra você dentro do micro-ondas.

Seu pai

Mais uma semana seguiu normalmente.

Vicente nem tocou no assunto da briga daquela noite de domingo nos dias seguintes. O que me fez acreditar que ele ainda precisava de tempo para pensar na melhor maneira de nos resolvermos. Mas ele pareceu bem mais distante agora e menos amoroso comigo.

Isabel ainda está muito chateada, pois estávamos mesmo de castigo e por minha causa. Tentei me desculpar, mas ela alegou que o problema não era comigo, que ainda assim ela não teria dito a ele que eu estava com o Diego ou qualquer outro garoto. Mesmo assim, ela ainda dá seu jeito de escapar sempre que pode, para estar com o Eduardo que tem sido cada vez mais especial para ela. Percebo isso nos olhos dela e na maneira como ela fala dele. Um sentimento bem mais maduro do que quando ela achava que gostava daquele tal Lucas, amigo dela.

Eu e o Bernardo continuamos nos dando bem, como dois bons amigos. A gente conversa sempre que pode e ele ainda insisti em fazer trabalhos em dupla comigo só para não me deixar sozinha. Tenho o admirado por ele estar tão bem mais entrosado com os amigos agora, como nunca antes. Eles realmente parecem uma gangue, só que do bem. Bernardo também parecem bem mais feliz agora por algum motivo que eu desconheço, mais animadinho, não sei, algo está diferente, mas que ele não quis compartilhar comigo.

E como eu mesmo já previa, o Diego tem estado cada vez mais próximo. Nós passamos o intervalo inteiro juntos mesmo quando não tem muito o que conversar. São momentos como esses que ele me beija sem parar. E eu gosto do carinho. Não comentei com ele sobre a briga com o meu pai que não deixa de ser por culpa dele. O único defeito do Diego além de não me fazer sentir extraordinária, é que ele não é nenhum pouco romântico como o Bernardo costumava ser. Tento não ficar comparando, mas é inevitável. Eu sinto falta de um certo romantismo.

― Então quer dizer que você não pode almoçar comigo depois do colégio? – ele perguntou, fazendo beicinho. Eu ri.

― Não, eu não posso Diego. Eu sinto muito. Meu pai me deixou de castigo. Nós estamos brigados.

Imediatamente me arrependi do que disse. E se ele perguntasse o motivo? Eu não teria como mentir.

― Seu pai é um cara muito chato! Credo! Como eu posso aproveitar o tempo com a minha namorada se ele não permite?

Dito isso, Diego levantou e saiu, levemente irritado.

Não sei se foi um alivio ou me senti desapontada por ele não ter perguntado pelo motivos reais de eu não poder sair com ele sempre que temos vontade. As vezes parece que tudo o que importa pra ele é que estejamos juntos, mas não o porquê de não estarmos.

Isso realmente me incomoda.

Essa não foi nem a primeira e única vez que ele agiu assim, o que só me faz ter certeza de que o Diego jamais se sacrificaria por mim, como o Bernardo mesmo disse que faria, que nem é meu namorado.

Mas o Diego sabe me surpreender bastante quando quer.

― Então quer dizer que agora sim estamos namorando de verdade? – ele perguntou, meio animado, sorrindo.

Não foi um pedido romântico. Nem se quer foi um pedido, como aqueles em que o cara se ajoelha, pega sua mão e lhe dá um anel. Eu também nem esperava tudo isso, sei que é fantasia. Mas aconteceu de maneira tão... Simples. Em um dia qualquer. Na saída do colégio. De baixo do sol escaldante, rodeados daquela multidão agitada para ir pra casa, algo particular, que só ficou entre nós.

― É. Acho que estamos. – foi tudo que consegui dizer, forçando um sorriso animado.

― Finalmente! Minha namorada. – ele passou o braço pelo meu ombro e me apertou um pouquinho.

Às vezes eu fico me perguntando por quais motivos sua ex-namorada, a tal da Vanessa, não quis mais ficar com ele.

Não sei se foi ciúmes ou inveja, quando depois de mais uma exaustiva aula de Educação física jogando voleibol com as garotas, enquanto do outro lado os garotos jogavam futebol; eu saí correndo, aproveitando o intervalo para beber água e vi o Bernardo com uma garota mais ou menos da sua altura, pele dourada, cabelos medianos castanhos escuros repicados.

Ele tinha um mão na cintura dela e a outra em seu rosto, acarinhando sua bochecha, como muitas vezes ele fez comigo. Os dois muito colados, se olhando interminavelmente e sorrindo um para o outro romanticamente. Uma cena encantadora de se ver entre um casal. Eu não a conheço, eu nunca nem se quer cheguei a vê-la no colégio. Mas me senti ridiculamente mal, tanto por não ter momentos assim com o meu namorado, não com tamanha ligação entre dois corpos que se atraem, tanto por ser ela ali e não eu.

Sai dali antes que eles me vissem e aquela cena andou pela minha mente por dias seguidos.

― O que foi? Você está muito quieta aqui desde que chegamos da escola. – Isabel se aproximou de mim. Eu estava no quintal dos fundos, sentada na grama com minha caderneta em mãos e Pepel ao lado adormecido e ronronando.

― Não é nada. – balancei a cabeça, espantando tais pensamentos. Olhei para o céu azul sem nuvens e lembrei-me dos olhos do Bernardo. ― Eu só não consigo escrever.

Eu sabia exatamente o porquê não conseguia escrever.

O problema não é só comigo. É com o Bernardo também. Pois eu inventei de namorar o Diego, mas nem por um momento imaginei que para o Bernardo seria difícil me ver com outro se ele realmente gosta de mim o tanto que dizia gostar. Eu estou fingindo seguir em frente, mesmo que eu não esteja. Não completamente. Mas agora que é o inverso, e ele está seguindo em frente, com outras, eu me sinto mal por isso. E eu nem se quer imaginei que algo assim me afetaria tanto.

― Oi. – ele se aproximou animado, sentando ao meu lado. ― Você está bem? Faz dois dias que a gente nem conversa! E olha que somos da mesma turma. – ele riu. Mas eu não.

Se ele não estivesse tão ocupado com suas amiguinhas, talvez tivesse se importado mais com o meu bem estar.

― Ah, é verdade. Eu nem percebi. – menti, forçando um sorriso que eu torci para que soasse convincente. Não queria que ele percebesse que eu estava de mau-humor por culpa dele. ― Eu estive muito distraída com o meu namorado. Por falar nele. – levantei-me, pegando o meu celular sobre o colo e vendo que restava ainda cinco minutos de intervalo. ― onde é que ele se meteu?

Sem me despedir, saí de perto do Bernardo. Fingindo estar preocupada com o sumiço repentino do Diego. Mas a verdade é que ele tinha faltado aquele dia. Mas não teria como o Bernardo saber. E eu também nem queria que ele percebesse que o meu ciúmes por ele estava me fazendo retornar a ser aquela Clarissa fria de meses atrás.

Eu tentava fugir ao máximo que podia do Bernardo, mas acho que ele sempre percebe quando quero distancia, e então, ele insistia em ficar perto acreditando ser o melhor pra mim. Mas eu não queria ser grosseira pra ele não perceber que eu estava mudada. Só que eu não podia evitar tamanha insistência, porque quando ele quer, ele é muito abusado.

― Bernardo, pelo amor de Deus, me deixa em paz cara. Chega por hoje! Já deu né? – olhei seriamente pra ele, assustado com a minha reação que eu não tinha há muito tempo.

― O que aconteceu? O que eu fiz dessa vez?

Tudo, foi o que eu tive vontade de responder. Ele parece fazer uma certa questão de esfregar na minha cara que já está em outra. Ou em várias. Com aquele sorrisinho bobo e aquela preocupação forçada em saber como o meu namoro com o Diego está.

― Não fez nada! Nada!

Peguei minha mochila, joguei no ombro e sai apressada.

Mas é claro que ele veio correndo atrás.

― Clarissa, para, por favor. Me fala o que há de errado!

Fingi que não era comigo e continue andando, louca pra sair logo daquele colégio e ir para minha casa descansar.

― Clarissa! – ele gritou. Então eu corri. Mas não poderia ser mais rápida que ele que me agarrou pelo braço e me virou na direção dele.

― Me solta! Eu tenho que ir pra casa. Você sabe.

― Não antes de você me dizer o que está acontecendo.

― Não é nada, eu já disse.

― É algum problema com o seu namorado? Porque se for, não tem porque você descontar em mim.

Ele ainda me segurava forte. O mais engraçado é que estava doendo um pouco, mesmo assim eu não sei se queria que ele me soltasse. Naquele momento eu o odiava, mas também o queria. O amava. É muito difícil distinguir entre esses sentimentos dentro da minha cabeça quando se trata do Bernardo.

― Porque o problema tem que ser sempre com o Diego? Você já parou pra pensar que o problema pode ser você?

Ele engoliu em seco. Parecia horrorizado.

― Eu não entendo....

Eu queria poder explicar. Queria poder dizer o que exatamente estava me incomodando e me deixou assim. Mas eu queria fazer de outra forma. Queria beija-lo. Ah, como eu queria! Queria sentir o sabor dos seus lábios outra vez e ter a certeza de que era o mesmo, mesmo depois de ele ter beijado várias outras garotas depois de mim.

Incerta do que dizer ou o que fazer, fiquei olhando pra ele, sentindo seus olhos nos meus, procurando por respostas que eu não poderia lhe dar. Ou estragaria tudo. E não era bem esse o plano.

― O que está acontecendo aqui? – uma voz rompeu aquele momento. Aquela voz eu já conheço muito bem.

― Ah, oi, Diego. Eu já estava mesmo indo me encontrar com você.

Bernardo me soltou, mas não olhava mais pra mim com seus olhos azuis claros. Seus olhos estavam fixos no Diego, que retribuíam o olhar, mais o azul dos olhos do Bernardo não era mais o mesmo. Estavam mais escuros agora, frios e indiferentes.

― Vamos, Clarissa.

E eu fui.

Mas o meu desejo era ficar.


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Notas finais do capítulo

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