Quando Tudo Aconteceu escrita por Mi Freire


Capítulo 24
Capítulo XXIII


Notas iniciais do capítulo

Vou ter essa semana inteirinha sem aula. Olha só que maravilha! A semana mal começou e eu já adiantei uns três capítulos. Estou escrevendo depressa, pois assim como vocês quero que as coisas fiquem bem de uma vez por todas. Esse capítulo é um pouco mais animado. Uma festa. Me desculpem se encontrarem qualquer errinho, eu até revisei. Mas sempre algo passa despercebido.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/464648/chapter/24

Me dá até dor de cabeça só de imaginar que ele pode estar a fazendo mais feliz que eu. Às vezes eu tenho que me repreender por me flagrar imaginando como deve ser a relação entre os dois. Os carinhos, o beijo, os amassos, onde a mão dele toca o corpo dela e como ela se sente estando perto dele. Não parecem o casal mais feliz do mundo, nem de longe, e nem devem ser, mas estão juntos e isso é tudo que importa, pois eu sinto que essa ideia me mata aos poucos todos os dias.

Sinto muita raiva dele, pois diferentemente de mim ele pode tê-la em seus braços a hora que quiser. Já eu tenho que me contentar com a sua amizade, que já é muito, mas eu anseio sempre mais, na esperança que meus pedidos sejam realizados, o que parece muito distante a cada que se passa. Mas algo no fundo não me deixa desistir, porque eu sinto e acredito que ela é tudo que eu preciso para ser inteiramente feliz.

Acordo no sábado bem cedinho, contente por ver os raios solares adentrando pelo quarto através das cortinas. A chuva da sexta-feira à noite parecia não querer dar uma trégua. Tomo um banho morno, escovo os dentes e visto algo melhorzinho que meu pijama de flanela. Desço e tomo café da manhã com meus pais, que já não estão mais aborrecidos comigo por eu ter brigado na escola com o Diego. Em seguida, saio pelas ruas andando devagar até a casa da Lorena. Esse não é o meu final de semana de ficar com a Liz, no caso só seria no próximo, mas a Lorena me ligou na noite passada e pediu que eu ficasse com ela pois iria sair pra viajar com o novo namorado. E eu a entendo, apesar de ainda não ir com a cara do tal Rafael. Lorena tem a maior parte da responsabilidade pela nossa filha e as vezes ela precisa de uma folga a mais para poder viver sua vida como era antes da Liz nascer.

― Bê, que bom que você chegou! – assim que entrei no quarto a Lorena veio me abraçar calorosamente, com seu cheiro bom do seu perfume de flores. ― Ou eu ia acabar me atrasando.

Ela me entregou a bolsa cor-de-rosa da Liz e me fez alguns alertas das últimas novidades da Liz. Peguei a minha filha no colo e me despedi da Lorena, desejando-lhe uma boa viajem.

― Antes de você ir embora, queria te fazer uma pergunta Bê.

Parei na porta, voltando a me virar pra ela.

― Pode perguntar.

― Você e a Brenda estão... Juntos?

― Não! Claro que não. – eu ri, ajeitando a Liz nos braços. Ele está ficando cada vez mais pesada. ― Vocês não estão conversando mais?

― Pra ser bem sincera com você.... Não mais. Desde que eu comecei meu namoro com o Rafa ela decidiu se afastar, o que me fez concluir que ela gostava mesmo dele. E bom, depois de flagrar ela beijando você em frente ao colégio, eu quem resolvi me afastar. Pois, eu não sei se você sabe, mas nós tínhamos um acordo. Um não. Vários. E entre eles estava bem claro que não era permitido ficar com namorados e nem ex-namorados uma da outra.

Prendi o riso.

― Ah é? E ela acabou quebrando esse acordo? – me fiz de desentendido. ― E você achou melhor se afastar para reavaliar a amizade de anos entre vocês?

― Exatamente. – Lorena sorrio, deixando a mostra seus dentes muito brancos. Não há um só quer dia que ela não esteja impecável com suas roupas que se ajustam inteiramente ao seu corpo volumoso. ― É por isso que eu gosto de você, Bê. Você sempre entende tudo.

Ela me deixou imóvel ao selar nossos lábios com um selinho rápido. Fiquei me perguntando porque e pra que ela fez aquilo. Será que queria ter certeza que mesmo depois de tudo eu ainda tenho um carinho especial por ela e ela por mim? Bom, eu não sei. Se tem uma coisa que nunca vou entender são as mulheres. Principalmente quando elas se unem umas contra as outras.

Um pouco antes do almoço me tranquei com a Liz no meu quarto no andar de cima, que é o mais claro, bem arejado e confortável para ela. Deitei-me sobre a cama com a Liz sobre o meu peito. Ela olhava pra mim atentamente, e eu sabia que ela era o remédio que eu precisava para esquecer as confusões do mundo a minha volta.

― Hoje o papai vai ler pra você a historinha do Peter Pan. Do menino que mora em uma terra distante, com sua fadinha Sininho e os Meninos perdidos, uma terra muito encantada. Peter era um garoto muito corajoso que não queria crescer.

Peguei o livro ao meu lado e comecei a ler calmamente para a Liz, que parecia adorar aquela situação. Ela acabou pegando no sono, um minuto depois minha mãe bateu na porta do quarto e entrou só para avisar que o almoço já estava pronto.

Marina veio me visitar já no comecinho da noite. Ela e o Gustavo tinha se desentendido. Ele queria sair a todo custo, mas ela só queria ficar quietinha em casa descansando. Ele acabou indo de todo jeito, ele sempre faz o que quer. E ela recorreu a mim. Ficamos conversando, jantamos, demos risadas e divertimos a Liz até ela cansar.

Marina é uma boa companhia feminina.

No domingo de manhã fomos a igreja. Eu vi a Clarissa com a irmã, e resolvi me aproximar com a Liz, pois seu pai estava ocupado demais conversando com a mãe do Miguel muito animadoramente. Depois da missa saímos em família, a minha e a dos meus amigos, para almoçar fora no centro. Eu sempre gostei muito de momentos como esse, onde as famílias se unem e interagem como se fôssemos todos amigos de infância ou que fizéssemos parte da mesma família.

Com a semana que se seguiu a minha vida parecia muito igual a rotina que eu costumava ter antes de me envolver inteiramente com a Clarissa, antes de ter a certeza que eu estava realmente gostando dela. Mas agora com a certeza de que não só gosto dela, eu a amo e não consigo nem mais me imaginar afastado dela por muito tempo, todas as vezes em que tivemos uma oportunidade no colégio eu me aproximava e tínhamos uma conversa normal, entre duas pessoas civilizadas, eu até conseguia fazê-la sorrir e descontrai-la por tempo suficiente para admirar seu sorriso que é algo impressionante. Ela sorri de uma forma que nenhuma outra conseguiria sorrir. E isso é admirável.

É aniversario do Miguel na sexta-feira. Mesmo com a insistência da sua mãe em fazer alguma festinha de comemoração pra ele com direito a bolo e docinhos, o Miguel preferiu ter uma noite só entre amigos. Ele é meio careta. Então, decidimos fazer uma pequena reuniãozinha. Não sei exatamente o que deu nele, mas o Miguel queria algo mais animado, algo que nunca teve antes. Ele queria novas experiências.

O Gustavo que é bem mais experiente com essas coisas ficou encarregado de cuidar disso. Depois do colégio, eu, o Miguel e o Edu fomos até o mercado para comprar algumas coisas, até mesmo alguns caixinhas de cerveja, mas chegando lá a atendente não quis vender pra gente, já que éramos de menor e acabamos não podendo levar a cerveja, que o Miguel fazia questão, pois essa noite prometia, assim dizia ele todo animado, feito uma criança no natal.

Na saída do mercado, com algumas sacolas plásticas em mãos, demos de cara com a Brenda. E foi aí que eu tive uma ideia, enquanto ela nos cumprimentava, toda empolgada e sorridente.

― Brê, você faria um favor pra gente? – perguntei.

― Qualquer um. Mas o que eu ganho em troca?

Ela sorrio de maneira ousada olhando para nós três, o que foi de certa forma bem assustador.

― Você tá convidada pra minha festinha hoje à noite lá em casa.

― Eba! – ela pulou para abraçar o Miguel. ― E o que eu faço?

Como ela já é de maior pedimos pra que ela comprasse a cerveja.

Já na casa do Miguel ajeitávamos todas as latinhas dentro do freezer. Sua mãe, Aline, tirou o dia de folga como mãe e assim que saísse do trabalho – ela trabalha de enfermeira no hospital da cidade – ela iria passar a noite na casa de uma irmã, tia do Miguel, que mora também na nossa cidade, só que na parte mais rural.

A noite foi chegando, poucos foram convidados. Porém, o Gustavo mesmo contrariando a Mari, convidou algumas meninas, muitas que eu nunca vi na vida. Todas elas bem ousadas por sinal.

Eu já estava recebendo alguns convidados, enquanto o Miguel ainda estava se arrumando lá em cima, as pessoas circulando pela casa, bebendo, o som razoavelmente alto no canto da sala. De repente, ele tocou meu ombro e me puxou para um canto mais reservado para que eu pudesse ouvi-lo sem que ele precisar gritar.

― Eu convidei a Clarissa pra vir hoje à noite aqui em casa.

― Tá. E daí? – me virei pra ele. ― O pai dela deixou?

― Deixou. Minha mãe acabou convencendo ele. – ele revirou os olhos, como se isso realmente o incomodasse. ― Mas não é só isso. O problema é que ela, a Clarissa, insistiu para que eu deixasse o Diego vir junto, para que ela não ficasse sozinha. Você sabe. Ela não tem amigos e vocês nem estão mais juntos.

― E você permitiu? Digo, que aquele idiota viesse? – sim, a ideia me deixou extremamente incomodado. ― Mas, e a Isabel, irmã dela?

― Foi o que eu disse, mas a Clarissa disse que a irmã a deixaria sozinha todo o tempo, já que ela e o Edu estão tendo.... Alguma coisa que ninguém saberia definir. Ela insistiu tanto! Você precisava ver a carinha dela ao me pedir essa favor. Ela me chamou pra conversar hoje no intervalo e tudo mais. Você sabe, eu não poderia dizer não pra ela.

― E a nossa amizade? Como fica? Não deveria vir em primeiro lugar? Você sabe que eu não suporto mais olhar pra esse garoto!

― Calma, Bernardo. Nossa amizade continua a mesma. – ele colocou a mão no meu ombro, olhando fixo pra mim. ― Eu a fiz prometer que manteria o Diego o mais longe possível de você. Pois eu não queria problemas na minha festa. E ela prometeu, de pés juntos, que não descuidaria nenhum momento. Mas você também, tem que me prometer que não vai criar nenhuma confusão.

― Tá. Tudo bem – bufei. ― Eu não tenho muitas escolhas também. Você sabe que eu não sou de arrumar briga. O que aconteceu da última vez foi um descuido meu. Não vai voltar a acontecer.

Miguel deu alguns tapinhas no meu ombro e saiu para cumprimentar as pessoas alegremente. Apesar de não gostar da ideia de dividir o mesmo ambiente com o Diego contra a minha vontade, eu não poderia estragar a festa do meu amigo por puro ciúmes.

Eu não sou muito de beber, mas aquela noite, assim com meus amigos e boa parte das pessoas a minha volta, eu iria me permitir ao máximo fazer coisas que há muito tempo eu não fazia.

Eu gosto de ser pai. Gosto de ser mais responsável que os garotos da minha idade. Gosto de me sentir adulto mesmo que precocemente. Mas as vezes realmente cansa e tudo que eu quero é me sentir uma adolescente inconsequente outra vez.

Bebo uma cerveja, bebo duas, bebo três e aos poucos vou sentindo o efeito do álcool sobre mim. Passo de grupinho em grupinho e vou conversando com as pessoas, me soltando, rindo de tudo e sinto que estou realmente me divertindo e me permitindo esquecer muitas coisas.

O Gustavo chega com litros de pinga. Pinga mesmo. E segue pra cozinha, onde ele vai fazer algumas mistura com doces. O que é bem a cara dele, esse tipo de coisa. A Mari segue atrás, com um cara não muito boa de quem não está gostando nada daquilo. Apesar de namorados, eles são o oposto um do outro.

O Miguel aumenta o som, já muito mais animado agora. Todas as vezes em que olho pra ele, ele está com uma bebida em mãos.

Vejo no exato momento em que a Clarissa chega e entra com o Diego de um lado, segurando sua mão e a Isabel de outro, já abrindo um largo sorriso ao ver o Eduardo. Ela é a primeira a sair de perto da irmã para se juntar ao Edu. Miguel vai falar com a Clarissa e o namorado.

Me incomoda. Claro que me incomoda ver aquela cena. Eu ainda não engulo a ideia de vê-lo juntos, como namorados, muito mais que amigos. Não só pelo ciúmes, mas sinto que eles não tem nada a ver. Não vejo firmeza nesse namoro e nem aquela interação. Sinto que os dois estão juntos, mas parecem muito distantes de certa forma. Ou talvez seja só coisa da minha cabeça, por eu ainda gostar tanto dela e achar que ela não combine com mais ninguém além de mim.

Vou tentar me importar menos, pelo menos por uma noite.

― Toma essa aqui. Experimenta. – O Gustavo me entrega um copo de vidro dos grandes.

Dou uma primeira golada grande, sentindo o gosto da Vodka batida com alguma fruta. Depois dou mais uma golada maior ainda.

Gustavo toma o copo de mim antes que eu tome tudo e sai balançando o corpo e o copo para o alto na improvisada pista de dança no meio da sala de estar. Ele foi o primeiro corajoso, seguindo o exemplo dele muitos outros foram dançar também.

Inclusive eu que não sei dançar absolutamente nada. Mas acredito que todos estejam loucos o suficiente para não ficar reparando nessas coisas. Acabo dando uma improvisada, seguindo o ritmo dos outros.

― Cuida do seu amiguinho aí. – a Mari se aproxima, cochichando no meu ouvido. ― Pra mim chega. A festa acabou. Eu vou embora!

Viro-me na direção do Gustavo e vejo que ele é o primeiro bêbado da festa em tempo recorde. Ele tenta dançar e segurar em pé ao mesmo tempo, dando uma risada alta. Há umas quatro garotas a sua volta com vestidos colados no corpo, saias muito curtas e decotes exagerados. Ele levanta a camiseta, provocante, e elas soltam gritinhos.

― Relaxa, Mari. – seguro-a pelo braço. Impedindo que ela vá embora tão cedo. A festa só começou a uma hora. ― Confia no seu namorado, poxa. Se diverte também!

Balancei o corpo dela com as mãos em seus dois ombros, o que fez ela soltar uma risada agradável, deixando a carrancuda de lado.

Tentei anima-la pelos próximos minutos e até que deu certo, ela já estava bem mais humorada, sorridente e solta. E até bebeu alguma coisinha, sendo a Mari de sempre. Mas notei que ela tentava a todo custo ignorar o Gustavo, que agora estava levando o Miguel no seu embalo. Apesar de eu não estar lá essas coisas, eu ficaria de olho naqueles dois. Já que o Edu sumiu com a Isabel.

― Vou ao banheiro. Já volto! – ela se afastou, fazendo um gesto com a mão para que eu esperasse por ela onde estava.

Olhei em volta e dei mais uma golada na minha bebida, que eu já nem sentia o gosto e não sabia identificar exatamente o que era, mas continuava bebendo. Me sentia mais leve de certa forma, mas tudo parecia rodar em câmera lenta.

Vi Clarissa em um canto, sentada perto da escada que dá acesso ao segundo andar, e que por sinal está interditada com uma faixa amarela pra ninguém subir para os quartos. Ela não está sozinha, o que já era de se esperar. Desde que ela chegou, por mais que eu tenha tentado ignorar, eu quis muito me aproximar para conversar ou para simplesmente cumprimenta-la. O que não foi possível até então, já que o Diego não sai de perto dela. Mas os dois nem conversam, nem nada. Estão meio abraçados, cada um distraindo em algum ponto da sala.

Nem parecem se divertir.

O que seria totalmente diferente se eu fosse o namorado dela.

Sou pego de surpresa quando alguém parece pular sobre o meu ombro, viro-me rapidamente, dando de cara com a Brenda em um vestidinho preto colado com partes rendadas no ombro e próximo ao seios. Ela está de salto alto e usa muita maquiagem, mesmo assim continua bonita, mesmo que não seja de forma natural.

― Pensei que não viesse. – tentei dizer qualquer coisa que fizesse sentido. E isso foi tudo que consegui.

― Acabei de chegar. – ela sorria, com a boca pintada de batom. ― Vou pegar algo pra gente beber, já volto.

O Miguel é o próximo a se aproximar.

― Bernardo! Meu grande e melhor amigo! – ele me abraça, o que não é muito dele. Logo sei que ele já está bêbado. ― Eu estive pensando – ele abre os braços, não olha pra mim. Sua fala é enrolada e seus olhos brilham mais que o normal. ― se a Brenda não dá a mínima pra mim, nada mais justo do que vocês ficarem juntos, já que ela se amarra na sua. – ele riu, não sei do que. ― Claro que não tem problema amigão. Ela é coisa do passado. – uma morena passa por nós, e ele a agarra, passando o braço pelo ombro dela. Ela solta uma risadinha, mas não o impede. ― Vamos ser todos felizes! E beijar muito na boca.

Dito isso, Miguel dá o maior beijão na morena ao seu lado, na minha frente, quase engolindo-a. Assim, de repente. Deslizando suas mãos pelas costas dela até próximo ao bumbum. Que ao meu ver é absurdamente exagerado. Eu não reconheço o meu amigo, e o pior é que ele nem vai lembrar da metade do que fez essa noite amanhã. E eu também nem sei se vou lembrar para poder rir da cara dele pra sempre.

A Brenda volta com dois copos, entregando-me um deles. Ela me enlaça pelo pescoço e começa a dançar comigo. Muito agarrada a mim, fora do ritmo da música. Como essa noite está se saindo completamente fora do normal, não vejo problemas, e não protesto tamanha intimidade.

De certa forma é bem agradável sentir seu corpo no meu.

Dançamos uma infinidade de músicas, pegando mais bebidas todas as vezes em que a nossa acaba. Eu já nem faço ideia de que horas seja e isso também pouco importa já que é sexta-feira.

Quando vou ao banheiro, tenho em mente algumas cenas vagas de tudo que aconteceu nas últimas horas: Gustavo tirando completamente a camiseta, o Miguel no sofá agarrado a três garotas, o sumiço da Mari e do Edu com Isabel, Clarissa beijando o Diego intensamente, eu dançando agarrado com a Brenda e mais uma garotas que eu conheci agora a pouco, uma delas me arrastando até um canto e passando a língua no meu pescoço, Gustavo derramando sem querer bebida na minha camiseta ao tropeçar e cair no chão, o vulto da Mari passando por nós, Brenda mordiscando a minha orelha e dando risada, as luzes apagadas, a música mais alta, alguns casais se pegando pelos cantos, copos de bebida pelo chão, gente bêbada se esbarrando em mim, mais gente entrando pela porta sem nem serem convidados.

Praticamente, está tudo uma loucura. E se alguém perguntar o meu nome, com certeza, eu não vou saber responder por completo.

Volto do banheiro e pego o celular no bolso só pra dar uma olhadinha na hora. São quase duas e meia da manhã. O Gustavo, ainda sem camiseta com meninas atrás babando por ele, me chama para um jogo. Fizemos um círculo improvisado no centro da sala onde até então era a pista de dança. De um lado copos, garrafas de bebidas e uma outra vazia no centro de nós. É a brincadeira da consequência. A garrafa gira todo o tempo. As pessoas vão se beijando, tirando peças de roupa e dançando, ou virando copos de bebidas.

Eu já estou bem perdido a essa altura do campeonato.

Acordo sentindo as costas doerem junto de todo o resto do meu corpo. Minha cabeça também dói bastante. É uma pontada atrás da outra. Abro os olhos devagar, passando o dorso da mão sobre eles. Quando meus olhos se acostumam a claridade e eu finalmente posso olhar em volta é que eu percebo onde eu me encontro.

No sofá da sala do Miguel, sem camiseta e com uma loura deitada com a cabeça sobre o meu peito nu. Miguel está dormindo no chão só de samba canção, com a perna de um lado e os braços de outro. Gustavo está ao lado dele, roncando, a boca aberta, baba escorrendo e um braço sobre o Miguel como se eles fossem um casal.

É uma cena deplorável.

Levanto um pouco a cabeça tomando cuidado para não acordar a loira que reconheço ser a Brenda pelo vestido preto e a renda roçando a pele da minha barriga exposta, olho em volta e vejo a situação do local: copos por todos os lados, garrafas vazias, muitas delas quebradas, lixo pelo chão, cortinas sujas, tapete com vomito e nossas camisetas jogadas pelos cantos sujas por serem pisoteadas.

Algumas cenas da festa voltam fortemente pela minha mente junto com a dor de cabeça.

Lembro que em um momento durante o jogo fui desafiado a fazer uma dancinha ridícula, fingindo fazer um strip-tease enquanto todos olhavam pra mim. Houve um momento em que lancei um olhar bastante significativo na direção da Clarissa, não só ela percebeu, como também o Diego pareceu bastante incomodado. Foi então que ele a tirou dali e os dois foram embora. Lembro-me também de quando a Mari voltou a aparecer, eu fiquei tão empolgado, imaginando que ela tinha mesmo ido embora chateada, que peguei ela no colo e a arrastei para dançar. Nesse momento o Gustavo entendeu tudo errado e veio pra cima de mim todo nervosinho e enciumado. Se não fosse pelo Edu (que também voltou a reaparecer, sem a Isabel, que provavelmente foi embora com a Clarissa) e pelo Miguel, nós teríamos saindo na porrada. E teve também alguns momentos ridiculamente estranhos, quando fui desafiado a ficar com algumas garotas. Lembro que foram duas. E por fim, a Brenda me enlaçou de vez, os dois bêbados, ela me agarrou e eu aproveitei para beija-la, passando a mão no seu corpo e ela retribuindo as carricinhas passando a pontinha da unha nas minhas costas só para me atiçar.

Basicamente só me lembro dessas coisas, sem muitos detalhes.

Sinto um cheirinho inconfundível de café vindo da cozinha.

― Hora de acordar cambada! – ouço a voz da Marina adentrando a sala, batendo palmas, fazendo minha dor de cabeça piorar. ― Vocês sabem que horas já são? A qualquer momento a mão do Miguel vai chegar e essa casa ainda está de cabeça pra baixo.

Foi só tocar no assunto que o Miguel despertou dando um salto, preocupado com sua mãe chegar e ver casa ainda daquele jeito.

Brenda custou um pouquinho a despertar, mexendo a cabeça devagar e passando a mão pelos cabelos louros.

Gustavo resmungou três vezes alguma coisa do tipo “Peguem mais cerveja pra mim”, virou de lado e voltou a dormir.

Marina pegou um copo com água e jogou nele.

Primeiro tomamos o café fresco que ela preparou. O que seria de nós sem a Marina? A única sóbria e responsável. Ela trancou a casa depois que caímos feito pedra no chão e adormecemos pelas cinco da manhã. Ela quem mandou todos irem embora depois que apagamos, esvaziando a casa por completo.

― E o Eduardo? Cadê ele? – O Miguel quis saber, ainda muito atordoado com tudo. Ele não lembra de absolutamente nada.

― Está dormindo no seu quarto. – Marina respondeu muito séria, parecia levemente chateada. Ela tirou a mesa do café da manhã e lavou a louça. Muito calado, o Gustavo secou sem ela nem precisar pedir.

― Muito bem, vamos lá. Vocês só estão aqui para me ajudar com essa bagunça. Afinal, é pra isso que os amigos servem, não é isso?

Assentimos. Sem muitas opções.

Marina dividiu as tarefas: Miguel e Gustavo dariam um jeito no banheiro, o pior local. Eu e o Eduardo na sala de estar, ele que acabara de acordar já ia trabalhar, pois estava em perfeitas condições, já que nem bebeu noite passa. E ela na cozinha, pois já tinha começado desde cedo. A coitadinha mal dormiu e já fez questão de cuidar de tudo.

― Você não tem que fazer isso, Brê. – digo a ela. Antes de começar a pôr a mão na massa, fui atrás da minha camiseta.

― Não. Eu faço questão. Eu só fiquei aqui para poder ajudar também, me vejo na obrigação. – ela me deu um rápido selinho. ― Vou lavar o rosto, e depois eu vou ajudar a Marina na cozinha.

Como acordamos praticamente quase meio dia, terminamos todo o trabalho por volta das duas da tarde. Miguel agradeceu a todos pela colaboração, mas disse que precisava descansar, pois dormira no chão muito mal. Gustavo e Marina foram os primeiros a irem embora depois das tarefas. Eduardo saiu pela estreita, nós nem percebermos.

Eu acompanhei a Brenda até a casa dela, e fiquei aliviado por ela não me dar um beijo na boca de despedida. O que significa que o que tivemos na festa foi coisa de momento. Apenas um momento que passou.

― Pelo visto a noite de ontem entrou para a história. – meu pai comentou, debochado. ― Olha só pra você. Tá parecendo um mendigo!

Ignorei tal comentário e segui até a cozinha onde a minha mãe já estava preparando o almoço. Dei um beijinho nela, tomei um remédio e desci para o meu quarto-porão onde me trancaria pelo resto do dia.

Eu só queria dormir e dormir.

E foi exatamente o que eu fiz pelas horas seguintes.

― Bernardo! Sai logo daí. – minha mãe gritou lá de cima, me fazendo despertar. ― Já são quase oito horas da noite.

Levantei me sentindo bem melhor, sem nenhum tipo de dor. Tomei um banho no meu outro quarto, tirei aquela roupa que estava em condições de irem diretamente para o lixo e desci às pressas, faminto, quase vinte quatro horas sem comer nada.

Depois de jantar, saí pra dar uma caminhada e refrescar a mente aproveitando o vento noturno. Me sentia renovado. Fui caminhando sem rumo pelas ruas razoavelmente movimentadas de um sábado à noite. Quando dei por mim, estava indo rumo ao centro. Parei para tomar um sorvete quando eu vi uma figura solitária conhecida em umas das mesas no canto da sorveteria.

De primeiro momento pensei ser uma miragem. Não poderia ser. Primeiro porque seu pai jamais permitiria algo assim. E segundo, porque ela estava tão sozinha se agora tinha um namorado para compartilhar momentos como esse? Eu não entendia. E não me restou nenhuma dúvida de que eu deveria me aproximar e averiguar isso de perto.

Peguei meu sorvete de creme, paguei por ele e fui até ela.

― Clarissa? – puxei a cadeira na frente da dela, sentando-me ali. Ela levantou o olhar em minha direção e vi que seus olhos estavam pequenos, vermelhos e cheios de lágrimas.

Senti meu coração murchar assim que vi aquela cena.

― O que aconteceu?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que será que aconteceu? Deem palpites. Comentem!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Quando Tudo Aconteceu" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.