Quando Tudo Aconteceu escrita por Mi Freire


Capítulo 15
Capítulo XIV


Notas iniciais do capítulo

Estou muito satisfeita com você leitoras, e é por isso, que dedico esse capítulo a vocês, que são sempre uns amores, comentando e me motivando. Espero que gostem. Eu particularmente adorei escrever esse capítulo, porque ele é todo bonitinho, romântico e bastante satisfatório.



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Essa noite só está mesmo acontecendo porque forças superiores, lá de cima, finalmente estão ao meu favor. Quando o Bernardo me convidou para essa tal festa, apesar de querer muito estar com ele, eu já sabia o que tinha que responder. Não. O Vicente não permitiria, ainda mais se eu dissesse que sairia com um garoto, mesmo que não fosse precisamente um encontro. Mas eis que a Karen surge com a solução para todos os meus problemas, sem eu nem precisar pedir nada.

A Karen convidou, praticamente implorou, ajoelhada aos pés do Vicente, para ele ir com ela visitar os pais dela na cidade vizinha. Eu não acreditei quando “sem querer” ouvi tudo da cozinha ao beber um copo gelado com água. No princípio ele relutou, disse que não poderia, inventou algumas desculpas e até mesmo disse que não iria por nós, eu e Isabel, pois não nos deixaria sozinhas em casa por uma noite. Mas a Karen não se deu por vencida, o que foi ótimo, e os dois entraram em um acordo, desde que voltassem cedinho na manhã de domingo e eu e Isabel prometêssemos que não iriamos pisaríamos o pé fora de casa enquanto isso. Ele até deixou dinheiro para a pizza e o refrigerante.

Eu nem pensei em mentir. Eu ficaria em casa sem problemas e até pediria uma pizza e poderíamos assistir a um filme na tevê. Mentir poderia ser arriscado e tem lá suas consequências. Mas assim que Vicente e Karen saíram de casa, com toda a confiança em nós, já que sempre fomos excelentes filhas, Isabel enlouqueceu, andou de um lado pro outro elaborando planos e saídas para ir a essa tal festa, comigo ou não. Ela estava disposta a ir. E eu claro, mesmo com todo o meu medo em ser pega em flagrante e já com o convite do Bernardo, aproveitei para acompanhá-la. Por nada no mundo deixaria ela sozinha. Isabel adora aprontar, e ela mal conhece as pessoas da tal festa, assim como eu, não saberia dizer o que ela tinha em mente. Mas eu só pensava em uma coisa, ou melhor, em uma pessoa: encontraria o Bernardo.

― Pelo visto você não gostou muito do tal Rafael, o novo namorado da sua ex-namorada. – comentei, como quem não quer nada.

Dei meu último gole no refrigerante. Senti que o meu comentário fez com que o Bernardo se mexesse sobre o banco, parecendo desconfortável.

― Na verdade, eu nunca fui muito com a cara dele. Você viu como ele me olhou? Não é só porque ele está namorando a Lorena. Até ai tudo bem, isso aconteceria uma hora ou outra. Não estamos mais juntos há um bom tempo. Mas, com ele? Logo com ele?

Ele me olhava, meio indignado.

― Isso me parece mais ciúmes de ex-namorados.

― Não é só ciúmes, sabe? É mais que isso. Eu me preocupo com ela. A Lorena não é como as outras, que acabariam se perdendo no tempo após o nosso rompimento. De uma forma ou outra ela sempre estará conectada a mim, pela Liz. Nossa filha. E isso nunca poderá ser mudado.

Essa confissão, por mais aceitável que seja, foi como uma tapa na minha cara. Eu senti sim um pouco de ciúmes. O que eles tem um pelo outro é tão bonito. É significativo. Importante. É uma filha. Isso muda tudo entre qualquer relacionamento, mesmo quando chega ao fim.

― Mas não vamos falar sobre isso, ta? Se ela está feliz com ele, que seja, eu estarei feliz por ela. – ele colocou sua mão sobre a minha, sobre o meu colo, sobre o vestido. ― Me fala você... Sobre o seu pai. Há muitos boatos sobre ele pela cidade e nós nunca conversamos sobre isso diretamente. É mesmo verdade? Que ele é meio severo com vocês?

Uma hora ou outra isso iria acontecer. Essas perguntas surgiram. Eu não poderia evitar, por mais que quisesse. Sinto que o que tem entre mim e o Bernardo – mesmo que não seja algo definido – vem crescendo a cada dia. Eu quero ter a sinceridade dele, a confiança. E quero fazer o mesmo por ele. Não tem mais porque esconder.

― Ele é sim muito severo. Às vezes exagera. Mas é o jeito dele, e eu entendo. Ele é um pai a moda antiga. Gosta das filhas em casa, certinhas, estudando, cuidando da casa, para serem boas mulheres e boas mães no futuro. Não tenho muito do que me queixar, apesar de ter dias que eu não o suporto. Eu não sei porque exatamente ele age assim, não chegamos a conversar sobre isso. Tenho medo das respostas, eu acho. – dizia, despejava tudo. Mas não olhava diretamente para o Bernardo. ― Mas devo muito a ele por tudo! Por ter me tirado dos orfanatos, ter me dando uma nova vida, uma chance, um futuro, uma casa, uma família. Se não fosse por ele...

― Eu sei... Você não seria nada. – ele completou. ― Nem estaria aqui essa noite. Comigo. Então, de alguma forma, mesmo não o conhecendo, ainda, eu devo muito a ele também. Por você. Aqui. Comigo essa noite. Não consigo nem imaginar algo diferente disso.

Com tais palavras, de deixar qualquer garota boba, o Bernardo finaliza o momento com um beijinho na minha testa.

― Tá afim de dançar? De fazer alguma coisa? Cometer uma loucura? – seus olhos tão, mais tão azuis, pareciam iluminar toda a minha volta. ― Vamos aproveitar! Vem comigo.

Ele me puxou de volta pra dentro da casa, pra dentro da festa, deixando nossos copos vazios para trás.

Coitadinha de quem tiver que limpar isso aqui no dia seguinte.

A música que está tocando é bem conhecida. Uma música nova do momento que toca em qualquer lugar. Eu até sei cantar e isso facilita muito. O Bernardo não dança, tipo, muito bem. Ele está pulando, balançando, tentando manter os pés fora do chão e o corpo em momento. Como eu também não sou boa nessas coisas, tento fazer o mesmo, apesar de me sentir ridícula. Só quero entrar no clima, ele me faz querer me sentir maior. Grandiosa.

Vejo a Isabel em um canto – suspiro aliviada – ela está com o Eduardo, ainda. Estão rindo de alguma coisa e bebendo seja lá o que for. Gustavo e Marina ainda estão dançando desde que cheguei. Ela é tranquila, mas ele é bem animado. O Miguel sumiu. A Lorena, ex do Bernardo, também está dançando. Mas ela sim sabe dançar como ninguém, além de ser a mais bonita da festa com seu vestido preto curto brilhando a pouca luz. Está ela e outra loirinha que deduzo ser sal melhor amiga já que estão sempre juntas. Essa está usando um vestido justo vermelho, ela tem seios fartos e aproveita o decote. As duas de salto alto mandando muito bem na coreografia ensaiada. Mas nenhum sinal do Rafael, o atual da Lorena, não o vejo por nenhuma parte.

― Ei cara, te achei. – o Miguel surge de repente segurando um corpo grande de plástico. ― Olha só o que eu achei. Experimenta!

É uma bebida na cor azul que parece borbulhar. Eu nem sabia que isso existia. É bonito, surpreendente, mas não deve ser boa coisa. Sem nem fazer cara feia, o Bernardo dar alguns muitos goles da tal bebida colorida e volta a entrega-la ao Miguel, agora bem mais animado.

― Você deveria experimentar. – o Bernardo me sugere com um sorriso de orelha a orelha. Olho pra ele, olho pra o Miguel, meio receosa, mas se é pra curtir, não vejo nada de mais em dar um gole.

O Miguel me oferece e eu bebo.

Tem gosto de Vodka – que eu nunca tinha experimentado antes, e é bem forte, pelo menos pra mim, meio horrível, arde a garganta e desce queimando – com gosto de bala. É bom e ruim. Mas de um jeito bem estranho e repentino me faz sentir mais animada. Deve ser psicológico.

― Tá gostando? – o Miguel já não está mais entre nós. O Bernardo pergunta no meu ouvido, sempre me dando aquela sensação gostosa por sua a proximidade. Seu hálito tem cheio de menta.

Sim, eu estou gostando. De verdade. Me sinto liberta com um pássaro. Capaz de qualquer coisa. Desde que não seja sair dos limites que eu imponho a mim mesma. Ainda estou tomando refrigerante, mas que realmente está me deixando mais animada. Estamos dançando, mais pulando, que qualquer outra coisa. E é bastante engraçado.

― Eu vou ao banheiro, volto já. – ele diz, se retirando.

Não demora muito para a Marina se aproximar, me puxando para um canto mais vazio. Onde podemos conversar sem gritar.

― O Gustavo quer me matar. Ele não cansa nunca! – ela se queixa, olhando para os pés como se eles doessem. ― E ai, tá gostando? Como vão as coisas entre você o Bernardo? Os dois parecem bem entrosados.

― Está tudo bem. Tudo muito legal. Ele faz parecer tudo mais fácil, sabe? Eu me sinto eu mesma, mas ao mesmo tempo, eu me sinto maior, melhor, mais animada, mais alegre. Eu quero ficar perto dele!

― Ah, que linda você é! – não sei porque, mas ela me abraça, e bem forte, me espremendo mesmo. ― Vocês são lindos!

― Meninas – o Bernardo ressurgi. Nem demorou tanto. Mas agora, ele parece um pouco agitado, inquieto. ― estava procurando vocês.

― Vou deixar vocês sozinhos. Eu preciso tirar o Gustavo da pista de dança para uma pausa. Ele está me deixando maluca! – ela pisca, antes de sair. ― Se cuidem, vocês dois.

― Quer sair daqui? Quer volta lá pra fora?

Qualquer coisa que ele quiser.

― O que foi? Aconteceu alguma coisa? Você está diferente...

― Não. Não foi nada. Não se preocupe. Bobagem.

Por mais que ele diga que não, eu sei que aconteceu, dá pra perceber isso no tom dos olhos dele, agora de um azul mais escuro.

Damos a volta pela lateral da casa e saímos pela frente, no jardim principal, ainda lotado de pessoas. O Bernardo segura minha mão, enlaçando meus dedos com suavidade, guiando-me seja lá para onde for. Ele caminha apressadamente, e eu vou logo atrás. Percebo que ele está nos distanciado da festa, até parece que estamos indo embora. Então, de repente ele para de frente a uma casa escura, onde provavelmente os donos podem estar dormindo, já que quase não dá pra ouvir a festa dali, ou não estão em casa ou a casa está vazia, abandonada. Mas é muito bonita, luxuosa, como todas as outras em volta.

― Aconteceu uma coisa lá dentro na festa que só me deixou ainda com mais vontade de te beijar. – ele me puxa pela cintura, quase me fazendo tropeçar, colando nossos corpos.

Eu pensei que isso não iria acontecer tão rapidamente, mas eu gosto da atitude, gosto da circunstancia e do momento. Gosto mais ainda com o fato dele ter se preocupado em me beijar longe de tudo e todos, no caso de alguém nos ver e começar o falatório por ai.

É um beijo diferente dos outros anteriores. Um beijo mais desesperado, mais urgente, o toque dos lábios mais intensos, a precisão dos dedos dele sobre a minha pele, mesmo assim, cheio de paixão. Não é como se eu não gostasse. Gosto. E gosto muito. Ainda mais quando ele pega a minha mão e coloca em volta do seu pescoço, deixando seu corpo mais à vontade, encostando-se atrás no portão da casa.

Ficamos assim, aos beijos, sem correr nenhum perigo, longe de todos, por alguns minutos. Até a minha perna começar a tremer ainda mais por estar cansada de ficar na mesma posição por muito tempo.

― Muito antes de te beijar, de te sentir, de conversamos, das brigas, dos desentendimentos, dos nossos encontros; muito antes de tudo isso, de alguma forma, eu já era louco por você.

― É mesmo? – estou satisfeita pela revelação. ― E porquê?

― Eu já disse que você é diferente de tudo que já conheci e senti antes. Mas é muito mais que isso. Quando eu olhava pra você sentia que estava perdido, não imaginava a possibilidade de você me aceitar por perto. E mesmo assim eu queria arriscar, queria tentar, queria ir até você, queria te fazer mudar de opinião. E acho que consegui, estou certo?

Um sorriso travesso brincava em seus lábios, o que me lembrou um garotinho, provavelmente como ele havia sido quando criança.

― É, você tem uma parcela grande de responsabilidade nessa minha mudança repentina de algumas semanas pra cá. Mas a grande verdade é que eu tinha medo, admito que ainda tenho, de ter as pessoas próximas a mim. – olhei para o céu estrelado, o céu que sempre me deixa nostálgica. Senti as lágrimas beirando em meus olhos. ― Medo que elas me abandonem, me decepcionem, me deixem para trás, da mesma forma que meus pais fizeram comigo quando eu era um bebê.

Me afastei dele muito envergonhada, levando as mãos até o rosto para esconde-lo. Eu estava chorando, ali, mesmo na frente do Bernardo, porque de repente me senti no limite. E se eu estava chorando, mesmo coberta de vergonha, diante dele, é porque o que sinto por ele – mesmo sem ter certeza – é muito significativo. Não choro na frente de ninguém, não demonstro minhas fraquezas e não gosto de me sentir assim.

― Ah droga – virei as costas, em meio as lágrimas. ― Eu nem se porque estou te contanto isso. Você deve estar me achando uma idiota.

― Não é verdade, Clarissa. – sinto-o me abraçar por trás, me envolvendo com seus braços. Sinto seu perfume, sinto o conforto do seu corpo colado no meu, sinto sua cabeço apoiada em mim. Sinto que ali é exatamente onde quero estar quando estou chorando. ― Pra ser sincero com você, eu sempre achei que você tinha motivos bem particulares para agir assim, como você é. E agora eu sei. E você não tem porque se envergonhar disso. Eu gosto de você! Eu estou contente por ter confiado algo assim em mim. Ninguém mais precisa saber.

Lentamente ele gira o meu corpo, me fazendo virar de frente pra ele. Com cuidado o Bernardo segura meus pulsos e retira a mão do meu rosto molhado, abaixando meus braços. Ele sorri, meio tímido, com um lado mais curvado que o outro, exatamente como eu gosto. E seca minhas lágrimas com a ponta do dedo. Em seguida, me abraça forte.

― Deixa eu cuidar de você, deixa? – ele disse, bem próximo ao meu ouvido. Com o tom de voz sereno, como uma canção que te faz dormir e sonhar. ― Prometo fazer direitinho. Prometo não te machucar, não te abandonar, nem te decepcionar ou te deixar pra trás. Ele beijo meus cabelos soltos. ― Estarei ao seu lado.

Como resposta, correspondo ao seu abraço, apertando-o firme, pela primeira vez. Sentindo cada centímetro do seu corpo junto ao meu. Eu nunca antes desejei tanto um garoto como eu o desejava agora.

― O que você quer fazer agora? – soltamo-nos. Um de frente pro outro. Com um poste de luz bem acima de nós. ― Quer volta pra festa ou quer continuar aqui? Eu topo qualquer coisa.

― Apesar da ideia irresistível de continuar aqui com você... Não podemos. Eu tenho que voltar e ficar de olho na minha irmã.

Voltamos. E pouca coisa tinha mudado. Acho até que chegou mais gente, com mais bebida e o volume do DJ só aumentou.

Os amigos do Bernardo estavam todos em um canto da sala, juntos, inclusive a Isabel estava entre eles fazendo graça.

― Isa, já quer ir embora? – já eram quase duas da manhã.

― De jeito nenhum! Não agora. Está tão legal!

Eu sabia. Tinha até feito uma aposta com o Bernardo pelo caminho. Para ver o quão perto eu chegaria da resposta dela. Não errei muito. Acertei em cheio. Isabel é uma doida! Ela é louca por festas, apesar de raramente participar de uma.

― Vamos ao banheiro comigo, Clary? – A Mari me chamou.

Os banheiro ficam no andar de cima. Por sorte a Lorena ou os pais dela tiveram a sorte de trancar todas as outras portas, inclusive dos quartos. Ou sabe-se lá o que aconteceria ali com casa cheia de adolescentes cheios de hormônios e bêbados.

Esperei do lado de fora ela usar o banheiro.

Um garoto, ali perto de mim, encurvado, começou a vomitar no chão. E a garota, que deveria ser sua acompanhante, estava o ajudando.

― Onde vocês se meteram? Procurei por todos os lados e vocês sumiram! – ela se referia a mim e ao Bernardo, ao sair do banheiro.

― Fomos dar uma volta. Conversar. Nada de mais. – claro que não entraria em detalhes. Não sou boa nisso.

― Menos mal. Fique de olho nele. Tem uma garota por ai, que com a ajuda de algumas bebidas, resolveu tirar a noite para ficar atrás dele. Não dê bobeira. – ela fala como se eu fosse a namorada dele.

Enquanto descíamos, de volta ao térreo, algumas coisas dentro da minha cabeça começaram a fazer sentido. O Bernardo, antes de sairmos lá pra fora, estava bem estranho. Seria por causa dessa tal garota no pé dele? Depois do que a Mari me disse, pode até ser. E será que eles ficaram? Não quero nem pensar nisso. Vou ficar com o pé atrás.

― Você me deve uma dançar. Vem comigo! – antes de eu relutar, o Gustavo me puxou pelo braço para o meio da sala.

― Sabe Cachinhos dourados, no começo eu te achava bem esquisita, bem marrentinha, até um tanto esnobe, nariz empinado. Mas de uns tempo pra cá você tem andando bem mudada, bem mais simpática, alegre, comunicativa. E se isso for por causa do meu amigão, o Bernardo, só te peço uma coisa, toma cuidado com ele. O Bernardo é cabeça dura. Ele é romântico, sonhador, o tipo de cara que pensa longe, e não fica só por ficar. Eu não sei bem o que está rolando entre vocês, ninguém quer me contar nada. Ele e a Marina estão cheios de segredinhos, mas cuida dele, ta? Eu adoro aquele garoto e percebo o jeito que ele olha pra você...

Apesar de fora de hora, fora de cogitação, no meio da pista de dança, rodeados de pessoas estranhas, até mais que eu, era compreensível o que o Gustavo estava tentando me dizer. Eles são todos amigos e se importam uns com os outros. E isso até me inveja. Eu nunca tive amigos assim. A ideia me parece ótima. Quem sabe um dia...

Gustavo me roda, deixando-me meio desorientada, penso até que vou cair, mas quando dou por mim, não é mais ele quem me segura, é o Bernardo, com as mãos em mim. A música agitada troca por algo mais lento. Agradável. Pela primeira vez na noite.

Golpe baixo. Será que os dois combinaram isso?

― O que aquele babaca disse pra você? – ele perguntou, sorrindo. As mãos ainda em mim. Balançávamos lentamente de um lado outro ao ritmo da música. Muitas pessoas deixaram a pista de dança resmungando pela troca de música, já outros aproveitaram para entrar no clima com seus parceiros. ― Ele te chamou de Cachinhos dourados?

― É, ele disse algo assim. Mas não foi a primeira vez. E eu até que gostei do apelidinho. É carinhoso. Só não diga isso a ele. Ele pode acabar se empolgando. – rimos, os dois juntos. ― Ele como os outros se importa com você. Só queria se certificar de que não vou te machucar.

― Mas você não vai, não é mesmo? – ele mantinha os olhos fixos em mim e um meio sorriso. Eu já nem sabia mais que musica estava tocando ou se as pessoas estaria comentando aquele climão entre nós dois.

― Não, eu não vou. Eu não quero te machucar. Não mesmo. Às vezes, acho que, você é um sonho. Apenas um sonho meu e quando eu acordar não será nada disso. Você é bom demais para ser verdade.

Ele inclina a cabeça, deixando nos rostos muito próximos.

― Eu queria muito te provar, agora, nesse momento, que não é só um sonho seu. Estou me contendo muito para não te beijar aqui diante de todo mundo! Sou real, é tudo real. Eu quero que você me pertença.

Eu que estava me contendo para não beija-lo. Senti a firmeza dos seus lábios colados aos meus era exatamente o que eu queria para concretizar aquele precioso momento.

O que teria sido de mim, da minha noite em casa, se a Karen, como um presente dos céus, não tivesse levado o Vicente para tão longe? Mesmo que isso não mude em nada o que eu sinto por ela, apesar de gratidão. Eu não teria vivido nada daquilo, nem escutado tantas csoisas bonita, nem me sentindo tão.... Única e viva.

Bernardo e seus amigos nos acompanharam até em casa por volta das três da madrugada. Nos divertimos muito aquela noite, dançamos, bebemos e demos risada. A única coisa que lamentei foi não poder passar mais tempo a sós com o Bernardo, assim poderíamos nos abraçar com mais intimidade, poderíamos nos beijar, beija-lo é sempre tão bom e sentir seu carinho sobre a minha pele. Diante das pessoas tentavam ao máximo agir naturalmente, como se não tivéssemos nada a compartilhar com ninguém. Até mesmo na hora da despedida, diante do portão da minha casa, ele apenas beijou o meu rosto e sorriu antes de virar as costas.

Já no meu quarto, só eu e o Pepel, tirei a roupa, coloquei meu pijama de ursinhos, prendi o cabelo, tirei a maquiagem e me deitei, aliviada, por Isabel não querer conversar logo agora. Mas eu sabia que assim que acordasse, assim que ela pudesse, me encheria de perguntas sobre a festa, ou sobre o Bernardo. Agora, eu só queria ficar quietinha no meu canto, repassando na minha mente cada momento vivido naquela festa. Eu ainda não podia acreditar que aquilo havia sido mesmo real, possível.

Antes de pegar no sono meu celular me despertou, avisando que chegara uma mensagem de texto do Bernardo naquele momento. Meu mais novo contato, graças a Marina.

“Você faz meu coração parar de funcionar por alguns segundos.”


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Notas finais do capítulo

Eu sou muito suspeita pra falar... Eu sempre gosto de todos os meus personagens principais, os garotos, mas eu estou inteiramente apaixonada pelo Bernardo. Ele não é um fofo? Surreal.



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