Quando Tudo Aconteceu escrita por Mi Freire


Capítulo 14
Capítulo XIII


Notas iniciais do capítulo

Demorei, mas consegui, finalmente terminar de escrever esse capítulo. Fui fazer minha primeira entrevista de emprego (não deu certo, mas foi só a primeira) e estou também muito viciada em Gossip Girl, super recomendo pra quem ainda não assistiu. E já estou com o próximo capítulo pronto, com a continuação desse. Vou posta-lo a qualquer momento.



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Quando eu finalmente consegui parar de beija-la, toca-la, senti-la, deseja-la – por mais difícil que fosse, contra todas as minhas vontades – continuamos ali, dentro daquela sala mesmo sem mais nada de tão importante pra fazer, nenhuma obrigação ou dever; esquecendo-se do resto do mundo, perto um do outro, conversando sobre coisas paralelas, como se de alguma forma, aquele beijo tivesse nos impulsionado.

Quando ficávamos por alguns instantes calados, sem assunto, olhávamos um para o outro de maneira travessa, caíamos na risada por algum motivo desconhecido e beijávamos outra vez. Isso durou quase uma hora, mas que poderia ter durado muito mais, eu não me cansaria.

Levei-a até em casa, antes que o pai dela pudessem brigar com ela, me certifiquei de que ficaria bem. Não conversamos sobre o que aconteceu no colégio, naquela sala, não decidimos nada, não prometermos nada que não cumpriríamos, e pela primeira vez, não tive medo de que um momento não passasse de um... Momento. Pois no fundo, algo dentro de mim, dizia que aquilo era apenas um novo começo.

Como alguém que lê a minha mente ou está me observando por uma câmera colocada secretamente dentro do meu quarto, Marina me liga para saber das últimas novidades. Ela não me deixa em paz até que eu te conte tudo, desde o início, até o fim. As vezes ela me faz sentir uma menininha em uma noite do pijama com as amigas. Mesmo assim, eu gosto dela e confio nela, acho legal, da ideia de ter alguém, pelo menos uma pessoa, para conversar sobre essas coisas entre eu e a Clarissa.

Último dia da semana na escola. Acordei me sentindo renovado, sem conseguir, nem por um momento, parar de pensar no dia anterior, quando eu e Clarissa nos beijamos, cheios de carinho, como se nada no mundo tivesse tamanha importância. Antes de dormir, na noite seguinte, escrevi algo pra ela. Admito ser muito melhor com as palavras do que dizer o que sinto cara a cara. Entrei na sala de aula, e ela já estava lá em seu lugar, de cabeça baixa, escrevendo alguma coisa em uma folha do seu fichário. Fui em sua direção, sentindo algo dentro de mim pular com a proximidade. Discretamente tirei o bilhetinho do bolso do jeans e deixei sobre a mesa dela, sem olhar para trás, indo até o meu lugar no fundo.

Já sentado em meu lugar, com os meus amigos a minha volta, conversando entre si, fiquei atento a reação dela. Clarissa pegou o pequeno pedaço de papel nas mãos e olhou surpresa pra ele antes de abrir. Ficou concentrada enquanto lia o que escrevi. Aguardei ansiosamente.

O bilhete dizia:

Clarissa,

Sei que vai parecer exagero da minha parte, mas passei o resto da noite pensando em você, pensando no nosso beijo. A situação só piorou quando fui me deitar. Não que eu a culpe por isso, por não ter conseguido dormir ou parar de pensar em você. Há algum tempo, quando se trata de você, tenho me sentindo um bobo. Sei que você vai pensar que isso é papo furado ou que eu digo isso para todas com quem já fiquei até hoje. Mas não se engane. Parece precipitado, mas eu estou mesmo gostando de você cada vez mais. Você tem esse jeito todo estranho, diferente das outras, que é o que mais gosto em você apesar de você, as vezes, me tratar como se eu não fosse insignificante. Pra você, talvez eu até seja. Mas, você pra mim, não é qualquer uma. E por isso resolvi te escrever, pois quando estou perto de você não consigo dizer exatamente tudo que eu tenho em mente.

Estarei te esperando mais tarde depois das aulas. E espero mesmo, de coração, que as coisas estejam boas entre a gente. Não que eu espere que a cena de ontem volte a se repetir. Não estou te cobrando nada, não fiquei brava comigo. Mas admito, eu ficaria muito feliz se pudéssemos repetir. Só não se assuste. Não quero te pressionar, se o que você quiser não é nada disso, me contentarei apenas com a sua amizade. Vindo de você, por vontade própria, o minimo bastará.

Mas acima de qualquer coisa, a única coisa que te peço, é que não se afaste de mim. Não tente me afastar. Pois nada do que você faça contra mim mudará meu sentimento por você.

Até logo,

B.

Eu pensei muito se deveria ou não dar esse bilhete a ela. Apesar de eu deseja-la muito, eu não tinha certeza se depois de ontem ficaríamos bem. A Clarissa pode me surpreender muito quando quer. E isso as vezes me assusta. E depois que eu falei com a Mari por telefone e disse a ela sobre a ideia do bilhete, ela me apoiou totalmente, achou fofo e muito cavalheiro da minha parte. Chegou até a me ameaçar, dizendo que se eu escrevesse e não entregasse, ela mesma faria. Ela alegou que a Clarissa adoraria, mesmo não sentindo o mesmo por mim – pois isso poderia ser uma possibilidade – ela iria se sentir especial por eu me explicar, por dar alguma satisfação ou algum esclarecimento.

Quando ela terminou de ler, virou a cabeça pra trás, na minha direção, e me lançou um breve sorriso. Um sorriso de verdade, daqueles que me faz sorrir também. E foi só ai que eu voltei a respirar normalmente, até então eu não sentia que estava prendendo a respiração.

Durante todas as aulas seguintes, mesmo me esforçando para me concentrar, fazer as anotações e participar quando eu sabia a resposta, eu pensava nela, como se pudesse dividir a mente: de um lado a escola e de outro a imagem da Clarissa. Estava mesmo ansioso, ainda mais depois que ela sorriu pra mim, para encontrá-la no termino da aula no local combinado. Aquela tarde daríamos uma olhada nos últimos texto antes do ensaio na semana seguinte.

― Eu terminei. – disse o Diego, meu mais novo amigo. O garoto é muito legal, nem sei como, antes, nunca chegamos a nos conhecer. ― Vou para casa. Fiquei de ajudar a minha mãe com o meu irmãozinho mais novo. Vejo vocês amanhã, na festa.

Ele se despediu de nós e foi embora. Clarissa e eu ainda não tínhamos parado exatamente para conversar sobre coisas que não fosse a respeito dos textos bons e aqueles que não chamaram a nossa atenção. Cinco minutos depois do Diego ter saído, eu também terminei de revisar a minha pilha de folhas e quando olhei pra ela, vi que faltava apenas um para ela ler. Resolvi esperar.

― Esse foi meu último. – ela anunciou, olhando pra mim.

Peguei todas as folhas, inclusive as dela, e joguei todas em uma única pasta, da qual eu estava responsável para levar pra casa e trazer na segunda-feira de manhã.

― Pelo visto – me sentei ao lado dela, com um sorriso meio torto, completamente sem jeito. Eu não estava agindo normalmente, estava meio nervosos de certa forma. ― tá tudo bem entre a gente.

― É claro que está. – ela virou-se de frente pra mim. Deixando-me meio paralisado ao tocar meu rosto com a mão pequeninha. ― E porque não estaria? Eu gostei muito de ontem, pelo jeito você também. Certo? – ela me olhava, de verdade, no fundo dos olhos com aquele sorriso extremamente charmoso. Os dentes brancos e certos. ― Eu também pensei muito em nós noite passada...

Ela deixou a frase morrer no ar. Ficamos nos entreolhando por alguns segundos, a minha respiração falhando, ela sorrindo, meu coração batendo forte dentro do peito, até que, ela decidiu me beijar, como se aquela fosse a melhor forma de dizer o que não conseguia.

Não pensei duas vezes antes de retribuir, tocando-a.

O resto da tarde pareceu ter passado muito rapidamente, quando dei por mim, já se passava das três e meia. E eu senti muito quando ela rompeu nossos beijos, a troca de carinhos, a conversa animada, dizendo que precisava ir embora, antes que seu pai chegasse em casa.

Fiquei curioso, com vontade de perguntar qual era a desse seu pai misterioso, que ela parecia temer tanto de enfrentar.

Saímos do colégio, mas nada de mãos dadas, fiquei apenas na vontade de segura-la, sentir sua mão dentro da minha, resisti ao impulso, achei que ela não iria gostar tanto quanto eu. Não ainda. Resolvi não arriscar para não colocar tudo a perder. Estávamos indo tão bem sem nenhum tipo de cobrança. Deixando as coisas acontecerem.

― Notei que você tem deixado a bicicleta em casa desde que entrou para a organização do Sarau. – comentei.

― Você tem razão. – caminhávamos, distanciando-se do colégio, pelas ruas pouco movimentadas da nossa cidadezinha. ― Já estou começando a sentir falta da Penélope.

― Penélope? – olhei curioso para ela.

― Sim, Penélope, minha bicicleta. Esse foi o nome que dei a ela.

― Ah. – soltei um riso. ― Você gosta de dar nome as coisas?

― As minhas coisas, geralmente sim.

Gosto do jeito dela. Cada vez mais. Estou me apaixonando.

Continuamos a andar. Sem nem perceber, eu estava a acompanhando até sua casa. Que nem é tão longe da minha.

― Queria te fazer um convite. – disse, quando paramos a algumas casas antes da dela. ― Quer ir a festa amanhã comigo?

― Como no Clube, da primeira vez? – assenti. Recordando-me do jeito como ela era mais fria comigo há dias atrás. ― Isso é um encontro?

― Não. Não exatamente. – sorrio, corando. ― Ainda não.

― Olha – ela abaixou o olhar. Chutando pedrinhas na calçada com a ponta do All Star azul. ― desculpa, mas eu não vou poder.

― Nem se eu pedisse ao seu pai? – sugeri.

― Ficou maluco? – ela me olhou, surpresa. Clarissa tinha as bochechas rosadas por causa do sol. ― Ele iria te matar!

― Ah, então... Acho que ele venceu. Digo, seu pai. – pego sua mão, ela não recua. ― Por favor, tenta ir, ta bom? E me avise se puder, e eu virei te buscar para irmos juntos.

Antes de ir para casa, beijo-a na bochecha.

É sexta-feira à noite, pela tarde fiz tudo que eu deveria fazer, e mais tarde, encontrei com meus amigos, na sorveteria no centro. Para saciar o calor e jogar conversa fora. Edu, estava muito animado, com um jogo novo em seu PSP, que o Miguel, a todo custo, tentava tirar das mãos dele para jogar um pouco. Marina e Gustavo estão sempre trocando carinhos, algumas vezes ela olha pra mim, e sorri, como quem está querendo insinuar alguma coisa. E eu até já sei sobre quem.

No sábado de manhã é dia de buscar a Liz para passar o final de semana comigo. Mas esse final de semana, em especial, será diferente dos outros. Já que a tal festa será na casa da Lorena, em comemoração ao aniversário de dezoito anos dela. Praticamente a cidade inteira foi convidada, e o colégio também. Ficarei a tarde inteira com ela até a hora da festa, depois minha mãe tomará conta dela por mim, já que a Lorena faz questão que eu vá a sua festa. E eu irei.

Já são quase cinco da tarde e a Clarissa ainda não me mandou nenhum sinal de que irá a festa comigo. Começo a ficar realmente preocupado. Será que seu pai é mesmo muito severo? Tento não pensar nisso, voltando a minha atenção a Liz, que parece resmungar, quando paro, por um momento, de ler a historinha da Cachinhos dourados e os três ursos. Liz gosta mesmo de histórias, ou do som da minha voz. Tão pequena, e tão esperta, eu a amo cada vez mais.

― Ei, mané – assusto-me quando vejo o Gustavo entrando no meu quarto sem nem bater na porta. Se bem que já estava aberta. ― Você ainda nem se arrumou pra festa?

Gustavo, apesar de garantir que não leva jeito com crianças, inclina-se para dar um beijinho na Liz. E ela sorri alegre, toda afetada quando o vê. Ele a toma de mim, pegando-a nos braços e rodando-a.

― Não são nem seis horas, Gustavo. – sento-me, fechando o livro e deixando sobre a cama. Eu nem terminei de ler. O Gustavo, com a Liz no colo, para pra olhar para a capa do livro.

― Hum... Interessante. Cachinhos dourados te lembra alguém em especial? – ele me olha, sorrindo de lado maliciosamente.

Nem sei porque eu ainda insisto em tê-lo como amigo. O Gustavo não perde uma oportunidade para tirar uma com a minha cara.

No momento em que vou dar-lhe uma boa resposta, daquelas bem merecidas, o meu celular toca. Não tenho tempo para agir e o Gustavo corre, mesmo com a Liz nos braços que parece se divertir cada vez mais, e ele atende meu telefone por mim.

― Ah... Oi cachinhos dourados. Sim, sim. Ele está aqui. – ele me lança um olhar travesso. ― Vou passar pra ele.

― Oi. Alô? Quem é? – com o meu celular em mãos saio de perto do Gustavo antes que eu soque a cara dele e vou indo em direção a sacada do meu quarto. ― Clarissa, é você? Me desculpe...

― Oi, Bernardo. – sinto que ela sorri do outro lado. Ou eu só acho isso porque quero muito que ela esteja sorrindo. ― Por acaso aquele me chamando de Cachinhos dourados era o.... Gustavo?

― Sim. Era ele. Me desculpe. Eu não sabia que era você. – agora, estou ainda com mais raiva do meu próprio amigo. Ele sabe, quando quer irritar, ser bastante intrometido e incoveniente.

― Não tem problema. – ela solta um riso curto. ― Eu consegui seu número com a Marina. Só te liguei pra avisar que... Eu vou sim a festa com você. Ainda tá de pé?

― Claro.... Claro! – parece que meu coração está dando cambalhotas. Nunca senti nada parecido. Isso é normal?

― Quando você vem me buscar?

― As nove. Tudo bem pra você?

― Sim, nenhum problema. Por acaso eu poderia levar a Isabel?

― Claro que pode leva-la. Ela será bem-vinda.

Quando volto ao meu quarto com o celular desligado em mãos. Gustavo está sentado sobre a minha cama, balançando a Liz sobre as pernas e arrancando-lhe gargalhadas.

― E então.... A Cachinhos dourados ligou pra dizer que vai?

― Gustavo, por favor, não chame ela assim quando ela estiver por perto. Ela vai te matar! E eu vou ajuda-la. ― ele ri. ― É, ela vai.

― Bom, já que é só isso – ele levanta-se, entregando-me a minha filha de volta. ― eu posso voltar pra casa tranquilo.

― Não entendi. – olho pra Liz, depois olho pra ele. ― O que você veio fazer aqui afinal? Tão cedo.

― A Mari, você sabe como ela, foi ao centro comprar algo pra vestir hoje à noite. Mas antes disso ela recebeu uma ligação, da Clarissa, e elas se falaram por um tempão. Depois, ela não quis me contar nada, estava muito apressada e só mandou euu vir aqui, saber se as coisas entre vocês tinham dado certo e pediu pra que depois eu ligasse pra ela e contasse tudo.

A Marina só quer se manter informada. Ela se acha no direito de estar por dentro de tudo que esteja relacionado a mim e a Clarissa.

― Qual é? Você e a Cachinhos dourados estão...?

― Não é nada disso que você está pensando. – com a mão livre vou empurrando-o para fora do meu quarto. ― Agora, por favor, ligue pra sua namorada e diga que deu tudo certo. Depois eu converso melhor com ela. Agora eu preciso ir me arrumar e dar a mamadeira da Liz.

Não há tempo para mais perguntas, fecho a porta logo em seguida, quando ele já está do lado de fora. Não que ele se importe, ele só é um amigo curioso. Temos intimidade o suficiente, sei que ele não ficará ofendido. Eu só não quero ter que conversar sobre isso justamente com ele que não leva nada do que eu digo a sério.

Dou a mamadeira a Liz, termino de contar a historinha da Cachinhos dourados a ela. O novo apelido da Clarissa, segundo o Gustavo, que sei que vai atormentá-la até ela se estourar com ele, como sempre acontece com qualquer um. A Marina que é muito paciência e tolerante. Deve ama-lo muito, mesmo. Dou a minha filha ao meu pai, ele a adora, está vendo o jornal na tevê. Mamãe está ocupada fazendo o jantar. E eu vou me arrumar, antes que seja tarde demais.

Visto minha camiseta xadrez preta com branca aberta com uma camiseta branca lisa por baixo, uma bermuda jeans e All Star preto.

Passo a mão no cabelo ainda um pouco úmido, coloco o celular dentro do bolso, pego a carteira, chaves de casa e me despeço da minha família, na sala de estar, dando toda a atenção e conforto a minha filha. Eu sempre aguardo ansiosamente os finais de semana para estar com ela, mas esse é diferente, tem a insistência da Lorena e a companhia da Clarissa. No domingo, tentarei ao máximo passar o tempo com ela.

Chego a casa da Clarissa em menos de dez minutos caminhando e a vejo de longe, com um vestido branco soltinho com cinto dourado em volta da cintura fina, um casaquinho fino vermelho e sapatilhas. Isabel está ao lado, usando um vestido mais ousado, preto, justo ao corpo e saltos prata não muito alto. Ambas estão com os cabelos ondulados soltos e usam maquiagem e perfumes que sinto de longe.

Cumprimento-as formalmente.

― Prontas? Vamos caminhar um pouquinho.

A casa da Lorena é mais próxima a minha. No jardim da frente já tem muitas pessoas bebendo e conversando. A música alta vem lá de dentro, onde há pessoas por toda parte, bebendo, jogando, rindo e dançando. No jardim dos fundos está mais calminho, com alguns casais em clima de romance e já outros nem tanto se pegando literalmente aproveitando a pouca luz. A noite está agradável, a brisa suave e as estrelas solitárias no céu iluminando o caminho.

As meninas vão entrando juntas atrás de mim. Vou cumprimentando todos os conhecidos. São muitos, por todos os lados. Já posso até imaginar a bagunça e o trabalho que a Lorena vai ter no dia seguinte para arrumar tudo e colocar em ordem. Seus pais apesar de concordarem com a festa, não estão em casa. Ao me ver, a Lorena vem imediatamente até mim, com um largo sorriso e me abraça.

― Parabéns! – digo, ao seu ouvido. ― A festa está animada.

― Que bom que você veio, Bê. – ela se afasta, e ai vejo, um pouco mais atrás da Lorena, o Rafael de braços cruzados como se fosse o guarda-costas dela e uma expressão nada amigável.

Meu sorriso se desfaz por um momento.

― Eu trouxe algumas convidadas. – lembro-me, mostrando as meninas. Quando as vê, surpresa, Lorena para de sorrir. Mas é coisa rápida, e ela logo volta a ser ela mesma, simpaticamente cumprimentando as duas e dar boas-vindas. ― Não tem problema?

― Claro que não, bobinho. – ela aperta minha bochecha. Essa é a única coisa que não gosto que ela faz comigo. Me sinto tão infantil, mas nunca cheguei a me queixar. ― Bê, quero te apresentar o Rafa, meu namorado. Apesar de vocês já se conhecerem.

Engulo em seco.

Então é sério? Eles estão oficialmente namorando?

Lorena dá uma cutucada no Rafael, como quem lembra de algo que eles deveriam ter conversado antes, ele me dá um passo à frente e me estende a mão e por alguns segundos penso se deveria ou não apertar sua mão. Não quero parecer grosseiro na frente das meninas, mesmo relutando, eu aperto a mão dele forte e forço um sorriso, que ele não retribui, parecendo me analisar da cabeça aos pés.

Se eu já não gostava dele antes, agora é oficial.

― Fiquei a vontade, meninas. – diz Lorena olhando especificamente para a Clarissa. ― E você Bê, já é de casa.

Ela some entre a multidão de mãos dadas com o Rafael.

Viro-me para as meninas. Clarissa, que já não é surpresa pra mim, parece estar meio deslocada entre toda essa gente. Isabel está bem mais à vontade, seus olhos verdes expressam agitação, ela olha para todos os lados a procura de algo. Parece bem empolgada.

Eis que surge meus amigos. Todos os quatro.

― Vem, Du. – Isabel puxa o Edu pela manga da camisa cinza que ele está usando. ― Vamos pegar uma bebida.

Marina é arrastada pelo Gustavo para a pista de dança. Ela está sempre muito bonita, toda fofa, em um vestidinho solto rosa-chiclete, All Star branco e os cabelos pretos lisinhos com uma tiara no alto. O Miguel está de olho em alguém, mesmo que ele não diga nada e nem tenha comentado comigo quem seja a tal garota, só de olhar pra ele sei que ele está interessado em alguém. Ele se afasta para agir. Ou não.

Somos só eu e a Clarissa.

― Vou pegar uma refrigerante pra gente. – digo, aproximando-me dela para ela poder me ouvir sobre a música alta. ― Depois vamos até lá fora, nos fundos, deve estar bem melhor que aqui.

Ela assente. Eu me afasto em busca das bebidas. As bebidas estão na cozinha, no imenso freezer. Tem gente por todos os lados, nos cantos, até em cima do balcão, dando risada e bebendo muito. Tento me livrar de todas elas até conseguir pegar copos com refrigerante para mim e para a Clarissa. Quando estou voltando para onde deixei-a da última vez, vejo a Lorena, no corredor, aos beijos com o Rafael.

A cena não me agrada. Não era exatamente o que eu esperava ver.

― Aqui está. – entrego um corpo a Clarissa que ficou me esperando no mesmo lugar. Sem nem se mexer. ― Vamos?

― Finalmente. – ela suspira, pegando o copo. Seu dedo roça no meu. É uma sensação agradável. Sinto uma corrente elétrica passando pelo meu dedo, depois pelo braço, até o peito. ― Chegou uns garotos aqui fazendo graça comigo, me chamando pra dançar... Credo!

― Serio? – olhei pra ela espantado. ― Que garoto fizeram isso com você? Não posso te deixar sozinha nem por alguns segundos e....

― Ah – ela me cortou. ― Eu não sei quem são. Mas eu não gostei. Fiquei apavorada! – ela soltou um riso, me tranquilizando. ― Não estou acostumada a esse tipo de tratamento.

Era o que eu imaginava, por isso me preocupo, e vou fazer de tudo para não deixar voltar a acontecer.

Com muita dificuldade saímos pela porta dos fundos, podendo enfim respirar ar puro. Eu conheço bem aquele lugar, essa casa, cada cômodo. Por todo o tempo que namorei com a Lorena. Tivemos muito bons momentos naquele jardim. Alguns inesquecíveis, mas que evito ficar lembrando. Não me faz bem.

Levo a Clarissa até um canto mais afastado e sentamos naquelas cadeira velhas de madeira. Não há ninguém na piscina, por enquanto, até a bebida fazer efeito nas pessoas. Os grilos e cigarras cantam a nossa volta. A música de dentro da casa sai abafada junto com o som das vozes, dos gritos e das risadas.

― Casa legal, da sua ex-namorada. – Clarissa quebra o silêncio, levando depois seu copo até a boca. Ela dá uma gole no refrigerante. É Coca-Cola, pois sei que ela gosta. ― Todos seus amigos tem piscina em casa?

― Não todos. Mas não é grande coisa. – sorrio, segurando firme meu copo e olhando em volta pelo jardim. ― Na nossa cidade costuma fazer muito calor. Você sabe.

Ficamos em silêncio outra vez, tomando nossos refrigerantes.

É agradável estar ao lado dela. Não precisamos estar aos beijos ou agarrados para fazer disso algo bom. A festa nem começou, mas estou com bastante expectativas com o desenrolar. Por mais que certas coisas tenham me incomodado. Ao lado da Clarissa sinto uma espécie de satisfação misturada com ansiedade. Não sei exatamente o que esperar dela. Sinto uma vontade imensa de beija-la pelo resto da noite e esquecer dessa festa que foi só mais uma desculpa para passar mais tempo com ela. E ao mesmo tempo só quero abraça-la e sentir seu corpo pequeno acolhido dentro do meu. Protegendo-a. Por enquanto, o silêncio basta. É reconfortante de certa forma. Pois eu sei que ela está ali pelo menos e deve ter se sacrificado muito por isso.


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Notas finais do capítulo

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