Sinal escrita por Universo das Garotas


Capítulo 18
18º Capítulo




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18º Capítulo – Beatriz

Estou há duas semanas fugindo de todos, principalmente de Frederico. Ela já esteve no meu trabalho (local que não pus os pés desde a minha conversa com Diogo) e na minha casa segundo o porteiro. Felizmente ele não sabe o endereço da casa da minha mãe.

Passo os dias alternando entre ler livros, ajudar minha mãe no jardim e na horta da sua casa. De noite vemos filmes, mas me recusei a ver qualquer um dos Chaplin (minha mão não compreendeu muito bem).

A vida se tornou um fardo. Sinto como se o chão fugisse dos meus pés.

Deus deve achar engraçado plantar um magnata como Frederico na minha vida quando tudo que fiz foi fugir desse tipo (como fiz com meu pai). Ironia da vida eu tinha me apaixonado por alguém que reunia todas as características que eu odiava. Mas pessoalmente ele era muito interessante.

A começar pela aparência. Definitivamente um homem atraente. Mais que bonito, ele tinha um tipo físico maravilhoso. Cabelos bem cortados, pele morena, altura considerável e um tórax invejável. Nada demais, Frederico era gostoso na medida certa. Pelo menos na minha medida...

Balancei a cabeça para afugentar esses pensamentos e me concentrei na tarefa que a minha mãe me deu. Coloquei vários jarros de flores em cima das janelas. De repente um deles caiu em cima de mim, esparramando terra pelo meu corpo e pelo chão. Além disso, notei minhas mãos ensanguentadas. No esforço de agarrar o vaso acabei me cortando.

Não gritei mas minha mãe veio correndo na minha direção, com uma toalha para me limpar. Não foi suficiente, o sangue esguichava porque acabei me cortando perto dos pulsos. Desesperada, ela disse:

– Beatriz, temos que ir para o Hospital!

Olhei para minhas roupas que estavam completamente manchadas de terra e sangue. Enrolei o pulso cortado com a toalha mas lembrei que minha mãe não sabia dirigir. Fui logo para o banco do motorista, mas quando dei o retorno com o carro, girando o volante, senti uma dor terrível. Liguei para Felipe, mas ele não me atendeu. Diogo estava viajando com esposa, assim não era uma opção. O jeito era chamar um táxi...

– Bom dia, preciso de um táxi urgente para o Bairro Jardim Botânico – minha mãe atropelava as palavras enquanto tentava dar as instruções para linha de táxi de onde estávamos.

De repente o mundo começou a rodar, eu não consegui enxergar nada. Senti minha mãe me segurando pelos ombros, desesperada para eu acordar mas as minhas pálpebras teimavam em fechar. Não via mais nada, só ouvia os gritos da minha mãe....

Comecei a sentir umas imagens como se fosse sonho. Só poderia ser sonho. Estava chegando a uma ala hospitalar, alguém colocava tubos e cateteres em mim, ao meu lado estava minha mãe preocupadíssima e bem na minha frente quem eu menos esperava: Frederico. Ele estava com roupas normais, uma calça jeans e camisa fora da calça. Quando me viu, abriu um sorriso tranquilizador enquanto falava devagar: está tudo bem!

Fiquei apavorada. Não sei se por causa do Hospital, da apreensão nos olhos de minha mãe, das palavras de Frederico ou porque o próprio estava ali! Como ele chegou ali?

Não pude encontrar respostas. Desmaiei novamente e tudo virou um grande borrão cinza.

______________________________......______________________________

Inicialmente senti uma quentura no lado direito do rosto. Não era algo queimando propriamente, era mais como se um raio solar timidamente me atingisse a face. Estava tão gostoso, porém não resisti e cedi ao impulso de acordar. Abri os olhos lentamente, tentando acostumar com a claridade que inundava o quarto. Pensando bem, não era meu quarto. Estava em uma sala de hospital, equipada com equipamentos para respirar e vários tubos. A cama era daquele modelo que sobe e desce conforme acionamos o botão. Minha mãe, estava deitada em uma poltrona improvisada de cama.

Como não queria acorda-la não fiz qualquer barulho. Desci lentamente na ponta dos pés, desconectei os tubos, andei na direção do que parecia ser o banheiro. Precisava urgentemente escovar os dentes. Quando olhei para o espelho, vi uma mulher de cabelos desgrenhados, boca inchada com um leve corte e lateral da cabeça enfaixada. Um dos meus pulsos também estava enfaixados.

Lavei o rosto, tentando recordar o que tinha acontecido. Eu estava colocando grandes vasos de plantas da minha mãe, nas janelas da sua casa, após nós trocarmos as terras e flores. De repente um deles caiu em mim. Na hora notei apenas o corte no pulso, não lembrava de ter cortado a cabeça. Ou teria sido apenas um batida forte?

Terminei de me limpar e saí do banheiro. Dei de cara com minha mãe acordada. Estava recorrendo as enfermeiras sobre a minha ausência do quarto.

– Beatriz! Você desceu da cama e nem me chamou? Não percebe que está sendo monitorada? Aquele maldito vaso de planta antes de cair aos seus pés bateu fortemente nessa sua cabeça dura!

– Nossa mãe, precisava ir ao banheiro. O que aconteceu?

– Não se lembra? Ele olhava de maneira curiosa para mim e gritou: Ai Jesus será perda de memória?

– Mãe, para de bobeira, sei quem é você, sei quem sou eu, sei que papai morreu há poucos dias. No máximo estou confusa sobre o que aconteceu após a queda do vaso de planta. Há quanto tempo estou aqui?

– Desde ontem de manhã. E agora são 13hs da tarde, isso significa que você dormiu mais de 24 horas... – ela falou isso sorrindo, me lembrando mais uma vez o quanto eu gosto de dormir.

– Nossa mãe, você deve estar cansada de dormir nesse sofá. Sabe se terei alta hoje? Peraí, o que de fato aconteceu com minha cabeça? Sinto como se tivesse sido cortada mas não lembro de nenhum corte ontem.

– Não, você não cortou a cabeça. Teve uma concussão pela forte batida do vaso e um corte profundo no pulso. Alguns arranhões nos pés. Mas como você desmaiou e saía muito sangue do seu pulso fiquei desesperada com que poderia acontecer. Tentei chamar um táxi só que a empresa me informou que naquela hora não poderiam atender. Estavam com uma fila de espera de mais de 40 minutos. E como o nosso plano não cobre ambulância saí ligando para seus contatos. Consegui falar com Diogo, mas ele estava fora do Estado. Perguntei a ele quem era o tal de Frederico que estava em 20 chamadas não atendidas no seu celular. Ele não quis me falar, desconversou, mas afirmou que eu poderia ligar que ele nos socorreria. E realmente, filha, esse moço veio voando. Falando nisso, quem é ele Beatriz?

Congelei. Frederico realmente tinha vindo e estava comigo na entrada do Hospital. Não foi apenas um sonho. Minha mãe conheceu Frederico. Santo cristo, como Diogo mandou ela ligar para ele?

– Mãe, ele não é o que você tá pensando. Não imagino o que ele te disse mas nós, bem nós não temos alguma coisa...

– Apenas porque sua filha não quer, Sra Joana Figueiroa – Frederico entrou nesse momento no quarto e foi sorridente cumprimentar minha mãe. Para piorar minha mãe nem disfarçava a sua reação. Estava com os olhos arregalados e a boca escancarada demais em um amplo sorriso. Desviei meus olhos para o chão. Provavelmente estava vermelha igual um pimentão. Mas tive que encara-lo quando veio na minha direção:

– Sente-se melhor? Seus olhos estavam concentrados em me avaliar desde a cabeça aos pés e eu apenas fiz um sim com a cabeça.

– Vou deixá-los a sós para conversarem – minha mãe disse isso e saiu da sala segurando um sorriso. Vendo minha mãe sair pela porta, tive a coragem para falar o que precisava:

– Olha, me desculpe por qualquer coisa que a minha mãe tenha dito e sinceramente não leve em consideração essa ousadia dela em chama-lo para isso, não tinha a menor necessidade.

– Beatriz, não se desculpe por nada. Embora não tenha ficado feliz em saber que você estava com um baita corte no pulso e desmaiada por um vaso de planta, pelo menos tive a oportunidade de revê-la. Sabe que tenho procurado você em quase todos os lugares e te ligado. Então estou mais que grato que pelo menos sua mãe, ao invés de você, tenha retornado a minha ligação. E aqui estamos.

Não gostei do jeito que ele falou. Parecia um homem impondo sua vontade sobre sua propriedade. Não gostava de me sentir assim, nem mesmo com Frederico.

– Aqui estamos, Frederico. Nada mudou. Você é quem é. Eu sou quem sou. Machucada ou não, ainda estamos divididos pelos nossos mundos. Sabe que a perícia deu certo em um dos processos, não é? – nem esperei ele responder e fui logo concluindo – logo você é perfeitamente capaz de concluir porque não te atendi ou recebi você. Seria melhor que a gente não se veja mais e eu toque meus processos.

– Mas você não está tocando seus processos Beatriz! – ele disse meio explodindo e notando meu desconforto sua voz abrandou - Sei disso. Fui pessoalmente em algumas audiências na esperança de encontrá-la, mas tudo que vi foi a cara enfezada daquele seu colega advogado.

Estranho, Felipe não havia me dito nada sobre Frederico nas audiências. E ele me ligava todos os dias me atualizando dos nossos processos.

– Não estou me sentindo muito bem. Acabei tirando uma licença do escritório para resolver problemas pessoais... – tentei dar a ele uma resposta evasiva.

– Seu problema é comigo! – e vendo que arregalei os olhos ele continuou - não precisa responder, saiba que meu problema também é você. Não durmo direito, não como. Sinto falta do seu cheiro e da sua pele, principalmente quando ela fica corada assim como está – eu abaixei meus olhos nessa hora sem conseguir responder.

– Se for preciso vou colar em você até o dia que sair daqui, assim posso saber aonde se esconde, Beatriz – ele disse meu nome de uma forma doce e pegou minha mão – não pense, deixa apenas acontecer e vamos nos adaptar as nossas diferenças. Não ofereço perigo nenhum a sua vida. A única aqui que tem o poder de me prejudicar é você. Em qualquer lugar que você mire, e acredite eu sei o quanto você é boa, você pode me acertar. E não estou falando nos campos do negócio, pelo menos não só disso. Estou vulnerável e me recuso a ceder, não vou te perder pelo que eu sou e pelo que você é.

– Não se trata de perder ou ganhar! Não percebe o que vai acontecer? Ou eu vou chegar ao patrimônio da sua empresa – eu claramente omiti que já tínhamos chegado – ou você vai novamente prejudicar os trabalhadores com fraudes trabalhistas! Não posso ser conivente com isso. Não posso aceita-lo por isso.

Frederico andava de um lado para o outro do chão Hospital, refletindo a seriedade do que falei. De repente ele teve uma ideia, que pareceu gostar, e sorriu para mim:

– Não vou discutir isso com você nesse estado. Entendo seu ponto de vista Beatriz, mas vê-la assim desperta uma vontade imensa de tê-la nos meus braços para te proteger! – ele falou meio exasperado como se quisesse colocar a ideia na minha cabeça - Nunca tive isso com ninguém, senti-la tão vulnerável me agride intimamente. Pretendo me redimir aos seus olhos, nem que para isso seja necessário reformular meus negócios, mas eu te peço não me afaste, deixe-me cuidar de você como merece. Me dê tempo para consertar as coisas!

Não consegui pensar. E definitivamente não tinha resposta para Frederico. Como eu queria acreditar que Frederico consertaria as coisas! Mas a sua natureza de empresário de sucesso não terminaria de um dia para noite. Levaria tempo. Tempo. Ele me pediu tempo. Eu poderia realmente crer que as coisas mudariam a tal ponto?

Ele percebeu minha hesitação e se apressou a dizer:

– Vou faze-la lembrar porque valeria a pena...

E me deu um beijo longo, delicado, segurando meu rosto com as mãos. Beijar Frederico era passear por um universo de sonhos. Era ao mesmo tempo surreal e familiar. Como aquele sonho que se repete anos e anos. Você sabe aonde está, de certa forma como vai ser, mas ainda sim a experiência sempre se mostra de maneira incrível.

– Ahram, hummhum! Desculpem, não quis incomodar – disse minha mãe ao entrar e vendo a cena.

Frederico se empertigou, com o rosto que demonstrava que estava orgulhoso e educadamente se retirou, não sem antes dizer:

– Mais uma vez é sempre meu prazer, Sra. Figueiroa. Boa tarde para as damas. Ah, Beatriz não se preocupe volto mais tarde – e mandou um beijo sedutor para mim da porta.

Minha mãe olhou com aquela cara interrogativa, e eu fingi cansaço para dormir. Mas ela não se deu por vencida, disse mesmo sem eu perguntar:

– Esse moço gosta de você filha. Mesmo vendo que se trata de um homem de negócios e todo ocupado, ele ficou muito tempo aqui com você quando chegamos. Na verdade ele só foi para casa dormir hoje de manhã cedo. Por causa dele conseguir passar em casa para tomar banho e pegar umas roupas... – eu não demonstrei qualquer reação às palavras dela e ela insistiu com mais - Não feche seu presente pelo passado, filha. Você tem um futuro.

– Ai mãe, não se trata só do passado. Eu estou presa na realidade do meu presente. Me deixa dormir, estou estranhamente cansada...

A última coisa que vi foi a cara de ternura da minha mãe quando olhava para mim.


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