Sinal escrita por Universo das Garotas


Capítulo 14
14º Capítulo




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14º Capítulo – Beatriz

Havia muitas pessoas ali. Uma multidão na verdade. Mas se olhasse bem para elas você perceberia que se tratavam de fotógrafos e jornalistas.

Que ótimo papai! Você tem um bando de abutres em seu enterro.

Tudo bem isso soava um pouco mórbido e de mal gosto, mas nem internamente eu poderia perder a piada. Porque meu pai ao longo de sua vida cercou-se de abutres e acabou morrendo com todos eles em cima do seu caixão.

Mas eu me sentia triste por isso também, queria ver ali mais amigos e familiares. Avistei minha mãe próxima a entrada da pequena capela, provavelmente aonde o corpo estava sendo velado. Ela estava de óculos e chapéu. Tentando inutilmente se misturar. Era ridículo, mas valia a tentativa.

Enquanto eu caminhava pela entrada da Igreja Matriz, um bando de abutres quiseram me importunar com perguntas e eu limitei a responder: sem comentários. Isso não parecia detê-los de me acompanhar mas pelo menos reduzia a insistência de mais perguntas.

Sentei ao fundo da Igreja, sozinha, rezando mentalmente para não encontrar ninguém. Então percebi que alguém tinha sentado ao meu lado. Arrisquei olhar para o lado e logo ouvir uma voz familiar:

– Estava preocupado Bia, você não deu notícias...

Encontrei o rosto suave do meu amigo Felipe Andreas. Esqueci como ele era agradável de se olhar. Não era um homem de aparência maravilhosa mas tinha uma simpatia tão natural que eu quase entendia como as mulheres da nossa empresa pareciam circular em sua volta como abelhas em torno do mel. E ele realmente era doce. Não resisti e abracei ele demoradamente.

– Obrigada por se importar tanto. Estive tão cansada que não retornei nenhuma ligação. Não queria falar com ninguém.

– Eu sei, seu amigo me disse – ele disse com certa mágoa na voz.

As imagens do dia anterior voltaram de uma só vez na minha mente. Eu muito bêbada acabei dormindo na casa do Frederico. Acordando em sua cama, tomando café na beira da sua piscina. Nós dois assistindo filme, com um adorável Gary Oldman sedutor. O maravilhoso almoço de frutos do mar. Eu surtando e pulando na piscina só de roupa íntima. E os olhos do Frederico me sondando seminua dentro d’água. Ele nunca esteve mais sexy do que na borda da piscina, tirando lentamente a roupa e me olhando com olhos em chamas. Parecia que antes de pular ele já estava visualmente me devorando. Acho que se ele não me tocasse eu mesma teria pulado em cima dele.

E depois fizemos amor. Literalmente. Primeiro porque não houve brutalidade e selvageria. Acho até legal uma pressão e coisa e tal. Mas ali foi bem mais que isso. Eu fechei os olhos e deixei que ele me conduzisse pelo toque. Eu nunca senti um corpo tão conectado como foi com o seu. Eu conseguia absorver até o ar que ele expelia quando penetrava mais fundo em mim. Beijei a sua pele em todos os pontos. Ele não tinha qualquer cicatriz ou marca que maculasse seu corpo. Parecia um templo perfeito e intocável. Nem sequer uma tatuagem. Só a maciez de sua pele e a rigidez de seus músculos.

Poderia ter sido mais que perfeito. Se toda a história não conduzisse a um fim trágico. Eu e Frederico não tínhamos futuro. E experimentamos essa verdade da pior maneira possível: constatando que estávamos apaixonados. Ficou claro, no segundo em que ele saiu de mim que minha pele não poderia viver sem o seu toque. Mas eu tinha feito uma escolha na minha vida. Uma que me afastou da pessoa que eu mais amava e que voltou para me assombrar. Eu não admitiria a exploração de pessoas com objetivo de riqueza. Ainda que a pessoa, tal como meu pai, que tinha optado por isso fosse para mim especial. Mais que especial.

Voltei minha atenção para Felipe, que me olhava de maneira curiosa. Eu apenas respondi:

– Sei o que ele disse. Eu o ouvi dizendo. Na verdade pedi que dissesse para quem ligasse. Evitava falar com minha mãe. Felipe, eu...eu...destruí o casamento dela quando ela pensava que estava em um conto de fadas.

– Você não destruiu o casamento de seus pais. Me desculpa Bia, mas quem fez isso foi seu finado pai, que Deus tenha misericórdia de sua alma pelos crimes que cometeu. – disse isso apertando as mãos no meu ombro para me confortar.

Mas meu dia já estava péssimo. Queria que aquilo acabasse rápido para poder ir pra casa e dormir. Mais cedo liguei para Diogo, meu sócio, depois de andar uns sete quarteirões da casa de Frederico. Ele imediatamente me buscou, e como sempre, conhecendo-me como poucos não fez qualquer pergunta por onde andei e porque estava ali. Ele apenas me deu um abraço e seguiu direto para o velório do meu pai. Eu também não protestei quando percebi a direção que o carro tomava. Estava emocionalmente esgotada.

Nesse momento minha mãe apareceu do meu lado:

– Que bom que está viva e lembrou que tem família! – ela estava magoada, pela voz eu pude perceber. Mas detrás daquela carranca eu percebi o que ela precisava... eu a abracei com toda a minha força, enroscando em seu ombro e soluçando entre muitas lágrimas.

– Mãe, eu sinto muito! – as lágrimas começaram a correr atrevidas por meus olhos – me perdoa mãe, eu não pensei que você iria sofrer tanto!

– Oh filha! – ela disse com a voz embargada e pega de surpresa pela minha reação – jamais se culpe pelo que aconteceu! Seu pai provocou aquela tragédia, ele fez aquilo com as pessoas Bia, você apenas denunciou o que ele fez – ela dizia as palavras tirando fios rebeldes do meu cabelo que se empoleiraram nos meus olhos - Nem eu ou você sabíamos que se passava na empresa. Posso ter muitos defeitos, mas eu jamais admitiria que para mantermos a nossa situação colocaríamos a vida de pessoas em risco!

– Mas mãe, por minha causa você saiu de casa, foi morar comigo...

– Ana Beatriz Figueiroa, se você continuar dizendo asneiras mando te prender em um hospício! Eu sou sua mãe, ouviu bem mocinha? Eu tinha que te proteger até mesmo do seu pai! Agora se comporte e vamos cumprir com nossa obrigação. Deixa de bobagens, seu pai se foi nesse momento mas isso não apaga o que ele fez...

E ficamos abraçadas pelo resto do velório. Não fiquei para o enterro. Felipe ficou o tempo todo do meu lado, enquanto a minha mãe tentava inutilmente me consolar. Engraçado que pensei que seria eu a fazer isso por ela. Mas no final, ela segurou as pontas. A verdade é que eu chorei por muitas coisas. Estava caindo sobre mim o peso do que fiz no passado e que provocou a grande separação da minha família. O que meu pai poderia ter sido e não foi. E também, o quanto eu me enganei ao me envolver com Frederico Costa. Eu me apaixonei por ele, sabendo tudo que ele era. Cometi o erro novamente de permitir se decepcionar com alguém que você ama. Só que meu pai, bem, era meu pai. Frederico era um estranho e ficaria assim pelo resto dos meus dias...

Fui para casa, dormir um pouco depois que Felipe me trouxe, após deixarmos minha mãe. Sentei por uma hora na frente da TV mas não consegui prestar atenção em nada. Coloquei meia taça de vinho e apanhei umas castanhas que encontrei no armário, mas o pote e o copo estavam do mesmo jeito que os deixei em cima da mesinha de centro. Intocáveis.

Forcei o meu corpo para fora do sofá e quando estava indo em direção a cozinha notei um envelope pardo debaixo da minha porta, na entrada do meu apartamento. Seriam condolências de algum conhecido?

Com pouco interesse, apanhei o papel no chão e congelei quando abri o conteúdo:

Beatriz,

Novamente, lamento muito pelo que aconteceu com seu pai. Agora entendo quando você disse que era impulsionada por injustiças. É uma pena que tenha passado por tanta coisa quando na verdade deveria ter sido cercada de muito carinho e amor. Tenho certeza de que ele te amava, apesar de tudo. Seria impossível que acontecesse de maneira diferente.

Sinto muito também por não compreender seu sofrimento e força-la em algo que não queria. Eu não mereço você contudo, tenho a convicção de que não consigo ficar longe de você. Me desculpe, mas apesar da sua indireta em não me querer ao sair da minha casa nessa manhã, eu sou bastante teimoso para desconsiderar se isso significar mais uma chance com você.

A propósito seu carro está estacionado na frente da sua casa. Sei o carinho que você tem por ele. Agora conheço sua história, pelo menos em parte, para saber que são coisas simples que conquistam você. Esse carro foi o projeto do seu pai na montadora nacional. Significou para você mais do que a riqueza de todo o mundo. Hoje, especialmente, gostaria de devolve-lo a você como uma parte do seu pai que você guardou. Amanhã ou depois continuará a guia-lo para seu trabalho, como faz todo o dia. E eu continuarei esperando por uma nova chance...

Meu Deus! Não esperava algo assim para terminar a noite. Não me aguentei e caí no chão aos soluços enquanto muitas lágrimas escorriam pela minha face e cobriam a carta de Frederico nas minhas mãos.


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