Os novos herois do Olimpo escrita por valberto


Capítulo 79
A sinfonia da guerra




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O acampamento avançado das tropas de Apolo nas terras de Hefesto era uma verdadeira imagem de se ver e de se admirar. Parecia que algum artista genial dos efeitos especiais tinha conseguido reunir no mesmo plano um exército de vikings musculosos de pele azul, enfileirados em colunas desconcertantemente retas. Ao fundo ciclopes monstruosos se uniam às fileiras, escoltados por criaturas reptilianas armadas com arcos e flechas, de longas caudas pontiagudas. Ao lado dezenas de armas de cerco, catapultas e balestras, algumas com contrapesos que passavam facilmente das duas toneladas. Bem ao centro e na frente do exercito fora erguido uma espécie de palco onde três figuras vestidas de branco se destacavam. Suas vestes lembravam muito os trajes dos assassinos da famosa série de jogos Assassin’s Creed.

Por fim o burburinho das tropas cessou e os três assassinos também entraram em formação quando Ion juntou-se a eles no palco elevado. Vestia trajes de guerreiro grego, como se tivesse saído diretamente do set de filmagens de Troia. Ele pegou um microfone e começou a falar em um tom firme e poderoso.

— Senhores afiliados de Apolo! Este é um grande dia para nós! – ele disse erguendo o braço num saudação longa. Apenas os seus comandados vestidos de assassinos saudaram junto com ele. Se Ion enfureceu-se pela displicência de seus mercenários não deixou transparecer. – Mesmo agora, enquanto falamos, os filhos de Hefesto se acovardam dentro dos muros de seu palácio de bronze. É apenas uma questão de tempo para que nós tomemos tudo para a glória do poderoso deus sol!

Ao que aprece esta segunda parte de seu discurso trouxe mais efeito sobre a multidão de guerreiros trolls que lhe observavam. Muitos deles urraram de alegria, em antecipação a batalha que se seguiria em poucas horas.

— Preparem-se para o ataque homens! Nagel, você liderará as forças de ataque em terra, a infantaria e os trolls. Prepare-se para invadir o interior do palácio e buscar o nosso prêmio, assim que os portões de bronze caírem!

— Claro, mestre Ion! – respondeu o jovem assassino, o menor e mais magro dos três, olhando por entre as mechas do cabelo longo e encaracolado que lhe caíam sobre o rosto moreno.

— Elodin você liderará a tropa dos ciclopes. Esmague qualquer resistência em nosso caminho!

O menino ergueu os olhos castanhos. Dos três assassinos ele era o de estatura mediana, nem tão alto e nem tão baixo. Ele olhou o celular pela última vez e explodiu uma bola de chiclete rosa nos lábios antes de assentir positivamente com a cabeça.

— De Lima! – disse Ion apontando para o maior dos três, uma verdadeira montanha em vestes brancas e pele negra – você vai liderar as armas de cerco e as arqueiras de Medusa!

— Pode apostar, chefe! – berrou o jovem erguendo um arco dourado nas mãos. As arqueiras  ergueram os arcos em saudação.

— Eu mesmo vou liderar o ataque do alto, usando a carruagem de Apolo! Uma graça que o senhor Apolo concedeu apenas a mim! É uma pena que meu pai não nos deu a opção de trazer prisioneiros... eu gostaria muito de ver Sweldma rastejando aos meus pés, implorando por... hum? Mas que som é esse?

Os outros pararam para ouvir. No começo parecia apenas o barulho do vento, ressonando de leve pelas paragens à volta. Mas o som foi aumentando, ficando mais intenso, cada vez mais alto e forte, como se o som do vento fosse convertido numa turbina de avião à jato. De repente a cabeça de um dos ciclopes rolou pelo chão quando a majestosa figura de um cavalo alado, feito de metal e montado por uma poderosa amazona, rugiu pelos limites do campo de batalha. Atônito, Ion levou dois segundos para perceber o que estava acontecendo.  Ele teve o microfone tomado de suas mãos pelo guerreiro que mais cedo ele tinha chamado de Nagel.

— São os servos de Hefesto! Eles criaram coragem para atacar! Tropas de Apolo, ao combate! – berrou o jovem jogando o capuz branco sobre a cabeça e correndo para coordenar sua tropa.

O campo de batalha se encheu de combatentes. Por todos os lados o combate rugia feroz, como o urro de um leão acuado. As tropas de autômatos chocaram-se pesadamente com as tropas estacionadas ainda em formação, quebrando a sua linha central pelo flanco direito. A tropa de anões liderada pelo tenente Valton atacou pelo flanco esquerdo, dividindo-se em duas hostes. Uma das arqueiras puxou o arco e logo depois foi tolhida pela bocarra da moto-lobo. Enquanto Pacato se divertia destroçando a mulher cobra e cuspindo fora seus pedaços, Nathalia combatia as que tinham restado, atacando ora com sua espada romana e ora com uma submetralhadora uzi.

Lá no alto Sweldma e Tempestade voltavam para mais um mergulho quando algumas catapultas começaram a lançar pedregulhos na sua direção. A menina não se intimidou com a chuva de rochas em seu encontro, apesar da menor delas pesar pelo menos oitocentos quilos. Ela passeou pelo meio da primeira saraivada de pedregulhos com maestria, esquivando das rochas mortais, mas perdendo a chance do seu ataque. Tinha que dar mais uma volta e desta vez além das catapultas, as balestras estavam também apontadas na sua direção. Sob as ordens do assassino De Lima as catapultas e balestras disparam em uníssono, enchendo o ar com suas cargas mortais. Mas algo diferente do usual aconteceu. As rochas e setas pararam no ar como se tivessem congelado. Então, sem aviso algum voltaram, descrevendo a sua mesma trajetória de origem para as máquinas de cerco lá em baixo. A destruição era indescritível. Sweldma sorriu por baixo do pesado elmo que usava e acenou para o jovem filho de Astréia que limpava o suor do rosto.

Depois de alguns preciosos segundos perdidos em meio à confusão da primeira onda de ataque os mercenários de Apolo puseram-se em formação e contra-atacaram. Se não tinham tanto poder de fogo como os semideuses, pelo menos tinham muita força nos números. A linha dos autômatos foi a primeira a ser estraçalhada pelos trolls. Os anões, divididos em suas hostes, também foram forçados a recuar e se reagruparem. Do alto Ion cavalgava a fantástica carruagem de Apolo e dela disparava certeiramente flechas de luz nos alvo abaixo. Cada anão abatido era mais que um soldado a menos. Era um amigo querido, um pai ou uma mãe, um irmão ou uma irmã, ou até mesmo o companheiro de uma vida inteira. Inebriados pela dor e pelo desejo de vingança alguns anões saiam de suas formações lançando-se nas ondas de inimigos azuis, até que eram fatalmente mortos como frágeis velas à bordo de velas jogadas no mar tempestuoso.

Nathalia tinha se juntado a uma das hostes dos anões e os estava ajudando a reagrupar. Já destruído o seu terceiro ciclope quando sentiu o ar tremeluzir no seu flanco esquerdo. Era o assassino de branco que atendia pelo nome de Elodin. Ele tinha conseguido romper a linha dos anões, sozinho. Na sua frente estava o tenente Valton servindo de escudo para meia dúzia de anões feridos. Ele mal teve chances de bloquear o ataque do Assassino. A sua espada cingiu no ar e depois foi arremetida longe.

— Meus parabéns, mestre ferreiro. – disse ele sorrindo – não são todos que conseguem me perceber e muito menos bloquear o meu ataque. Eu vou ter o prazer de ter a sua cabeça adornando a minha lareira.

— Ora, vá se lascar! – respondeu o anão, cuspindo sangue e postando-se sem medo diante do implacável inimigo.

Elodin ergueu a espada quando à sua volta choveram projéteis de bronze celestial. Ele recuou alguns passos quando viu Nathalia passar entre os anões feridos.

— Desculpem o atraso... deixem o resto comigo. – disse ela apontando a uzi para o assassino. – Tenente leve seus homens e reagrupem. Sem heroísmo e sem questionamentos.

— Ora, ora... você deve ser o filho de Ares que é o guerreiro capitão desses fracotes. Espere aí... eu conheço você... a filha de Ares que teve a cabeça posta à prêmio por Apolo. Você vai ser um troféu muito mais interessante do que aquele anão.

— Sabe, eu vim com os meus amigos aqui para chutar a bunda de Apolo. Mas acho que vou ter que me contentar com você no momento. Se você quer um pedaço de mim, que venha buscar!

Os dois correram um na direção do outro, como se fosse alguma coreografia combinada. A uzi de Nathalia cuspia balas na mesma velocidade que a submetralhadora Skorpion de Elodin também o fazia. Por fim os dois saltaram e se cruzaram no ar, espadas crispando faíscas. Nathalia girou o corpo e enroscou as penas no pescoço do jovem, jogando-o a diante. Elodin dobrou-se no ar, pousando em pé. Os dois voltaram a cruzar as espadas, dessa vez com intensidade crescente. Golpes e contragolpes eram desferidos à velocidade ímpar. Os dois estavam tecnicamente empatados. Mas a onda de choque proveniente do último ataque entre ambos explodiu coma força de uma granada, jogando cada de um de um lado.

Nathalia percebeu que estava com a sua espada e com a espada de Elodin ao alcance de sua mão. O rapaz, por sua vez, estava com as duas submetralhadoras. Nathalia não perdeu tempo e correu na direção do oponente brandindo as duas espadas. Como resposta Elodin descarregou as duas armas na direção da filha de Ares. Nathalia defletiu todos os tiros em sua direção, usando as espadas como placas rebatedoras. Em sua volta a carga mortal dos tiros explodia. Ela finalmente conseguiu uma brecha entre os disparos e atacou com as duas espadas. Apesar do fantástico ataque, ele acabou por morrer no bloqueio de Elodin. O menino sorriu por baixo do capuz e disparou em Nathalia uma rajada à queima-roupa. A filha de Ares mal teve tempo de esquivar, sendo atingida de raspão por alguns disparos. Em resposta ela jogou a espada de Elodin contra ele mesmo. O assassino bloqueou a trajetória da lâmina mortal com as duas submetralhadoras, que finalmente sucumbiram aos esforços dos guerreiros, desfazendo-se numa confusão de peças partidas.

Nathalia não pode saborear a breve vantagem. Elodin evocou seus poderes e mergulhou na direção de Nathalia como um relâmpago branco. Uma manobra parecida com a que Eric mesmo costumava usar: ele movia-se tão rápido que borrava a visão do inimigo. Nathalia já tinha visto o amigo usar essa técnica, mas nunca a tinha enfrentado de verdade. Elodin conseguiu passar por ela três vezes, sempre golpeando com rapidez. Ela sabia de pelo menos três cortes fundos que tinham vencido a armadura que usava: um nas costas, um na perna esquerda e outro no braço direito.

No outro lado do campo de batalha Oliver tinha destruído todas as máquinas de cerco e agora forçava os dois assassinos para longe. Nagel tratava de se esquivar dos ataques do jovem guerreiro das estrelas à medida que também dava o seu melhor para proteger o outro assassino que dividia com ele as mesmas vestes brancas. Sob o comando de Nagel uma verdadeira horda de trolls caiu sobre Oliver, como uma onda musculosa e azul.

— Vamos embora grandão. – disse ele esforçando-se para levantar o ferido companheiro de ébano – De nada vai valer a recompensa pelo trabalho se nenhum de nós estiver vivo para gastar.

— Você não passa de um mercenário preocupado com a própria vida – cuspiu o outro, com um tom de desdém.

— Então isso nos faz quites – respondeu Nagel com um tom de animação e conseguindo arrancar um sorrido do companheiro. Tinha sido um prodígio que ele tivesse sobrevivido àquela chuva de rochas e setas. O menino olhou em volta e viu que Elodin acertar uma guerreira com o seu melhor ataque. Quando a poeira abrandou ele esperava ver a guerreira estendida no chão, mas ela ainda estava de pé. Elodin estava de pé, mas ressentia-se de um golpe que lhe rasgara o peito.  Era um corte bem feio. Não que a menina estivesse em melhores condições. Logo atrás dele a montanha de trolls parecia que ia romper a qualquer instante. – Elodin, vem cá. Preciso de você!

Elodin viu a filha de Ares à sua frente. Era o seu troféu. O que falaria mais alto? A lealdade à seu amigo ou a busca pela satisfação pessoal? Não tinha muito tempo para se decidir. Mas quando a figura de Pacato saltou entre ele e a guerreira de Ares, uivando ameaçadoramente ele não teve duvidas. Deu meia volta e foi na direção de seus amigos.

— Ah, o que eu não faço por você, Nagel. – disse ele se apressando. Porem ele deu poucos passos antes de ser alvejado nas costas por uma flecha. Uma fecha de luz.

— Covardes! – gritou do alto Ion, com o arco ainda em punho. – É o que dá empregar seres inferiores. Eu vou dar cabo de cada um de vocês, traidores miseráveis.

De Lima largou dos braços do amigo e agarrou uma pedra do tamanho de uma máquina de lavar, arremetendo-a para cima com a força de uma catapulta. Foi um disparo impressionante, ainda mais para ele que estava tão machucado. Mas a rocha foi despedaçada por uma flecha de luz ainda no caminho.

— Quer dizer que para me enfrentar a coragem surge em seu peito vil? – Ion esbravejava preparando novamente o arco. Nem De Lima e nem Nagel se moveram. A corda do arco tencionou e foi solta com o som característico de sempre e a flecha de luz voou mortal até explodir a poucos centímetros do pé de Nagel.

— O que? – perguntou espantado Ion. – Eu não erro!

Atrás dos assassinos a montanha de trolls azuis explodiu. Em seu centro apenas Oliver, espada em punho, olhando fixamente para Ion. De novo seu corpo estava envolto a uma luz azulada e seus cabelos ondulavam como se ele estivesse debaixo da água. A espada apontava diretamente para a carruagem de Apolo.

— Estou cansado dessa sua empáfia. – a voz de Oliver saiu grave e furiosa – Vocês filhos de Apolo, salvo raras exceções, são os maiores bundões do Olimpo. São todos filhinhos de papai mimados e arrogantes. Vamos ver como você se sai sem o brinquedinho do papai. – Astéron thráfsma!— gritou Oliver, quando da sua espada surgiu um raio de energia concentrado, muito mais forte e brilhante do que ele tinha usado contra Zeus, ainda no Santuário.

Ion tentou mover-se, mas não foi rápido o bastante. Ele conseguiu saltar da carruagem antes dela ser reduzida a cinzas, junto com o seu arco de luz. O brilho do disparou varreu o campo de batalha, chamando a atenção de todos os combatentes que estavam vivos. Os trolls remanescentes resolveram que não valia à apena lutar contra alguma coisa daquele nível. Eles debandaram ordenadamente, deixando suas armas em grandes pilhas, desaparecendo pelo caminho. Ion olhava o resto do seu exercito desmantelar-se a olhos vistos. Então ele sentiu o frio da espada tocar-lhe as costas. Era Sweldma.

— Pegue sua espada. – disse a menina com seriedade na voz.

Ion não respondeu. Ele olhou para trás e se levantou do chão. Limpou a sujeira de suas roupas com palmadinhas afetadas e então gargalhou histericamente. Por quase um minuto tudo o que se ouviu no que restara do campo de batalha era a sua risada ecoando, enlouquecida, pelas centenas de corpos que jaziam no chão. Por fim ele parou. Olhos fundos e vazios, sem brilho ou vida.  

— Eu não vou lhe dar esse prazer... Apolo... ele vai destruir todos vocês. Todos! – estas foram as suas últimas palavras, o seu epitáfio, antes que a sua adaga fizesse o trajeto de um lado a outro de suas orelhas. Ele caiu de joelhos engasgando com o próprio sangue.

O campo de batalha ficou em silêncio, até que o tenente Valton adiantou-se, erguendo o braço da Rainha Sweldma e gritando a plenos pulmões:

— Viva a Rainha! Longa vida a Rainha! Viva os capitães-guerreiros!

O campo de batalha ecoou em gritos de felicidade dos sobreviventes.


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