Os novos herois do Olimpo escrita por valberto


Capítulo 80
A coroação de Apolo




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De um lado para outro, dezenas de serviçais, ninfas e sátiros corriam preparando o grande salão para a coroação de Apolo. Carregamentos de vinhos, presentes e especiarias não paravam de chegar e todo o ambiente parecia mais com uma grande feira do que com um castelo. A torre de Zeus estava mais para a torre de Babel. Restava apenas saber qual das duas era a mais recheada de balbúrdia e confusão. O tempo parecia ser sempre menor que as tarefas a serem concluídas e finalmente, as ampulhetas de Cronos não paravam para ninguém.

Supervisionando os últimos ajustes estava Artêmis, a irmã de Apolo. Embora fosse uma caçadora nata e detestasse aquele tipo frívolo de formalidade, ela sabia que tinha muito a ganhar com toda aquela palhaçada pomposa. Afinal de contas ela era irmã gêmea de Apolo. Quando ele fosse elevado a senhor do panteão, ela seria a sua senhora. Artêmis se deliciava com a possibilidade de multiplicar infinitamente seus poderes e sua esfera de influência. Ela sim seria uma deusa mãe como a amargurada Hera jamais fora capaz de ser. De que valeria agora a fútil beleza de Afrodite? Deméter agora seria apenas uma mera serviçal rural. Atenas seria sua comandada, rendendo-lhe as armas em sua homenagem... até mesmo aquela insuportável Astréia teria de se curvar para ela.

O palco da coroação estava pronto quase pronto. Pequenos detalhes a separavam da conclusão de sua tarefa. A sacada da sala do trono estava pronta para receber o novo senhor do Olimpo. Estava toda decorada com girassóis dourados e com lírios brancos: as cores de Apolo. Um enorme tapete vermelho ligava a sacada até a sala do trono. A sala do trono tinha sido redecorada e as câmeras da TV Olimpo estavam à postos para captar cada momento. O próprio Aeolous, o deus dos ventos, deixou excepcionalmente, de apresentar o seu programa de previsão do tempo na TV para se dedicar àquela cerimônia. Não era sempre que o Olimpo mudava de líder. Aliás, a última vez que isso tinha acontecido fora quando Zeus destronara Cronos, eras atrás. Bem ao lado direito do trono, estacionada de forma discreta estava Isabel. Ela estava sentada num conjunto de almofadas, dentro de uma gaiola dourada. Sua expressão era de cansaço e apatia.

Finalmente os convidados chegaram: os outros grandes deuses. Ou pelo menos seus avatares, uma vez que os deuses mesmos estavam presos na sala do conselho. Foi uma jogada de mestre de Apolo. Ele tinha conseguido prender os deuses maiores naquela sala, limitando muito seus poderes, enquanto ele mesmo jamais estivera lá: sempre que sua presença era solicitada ele mandava seu avatar. Os outros nunca suspeitaram. Mas só por via das dúvidas Artêms mandou que todos usassem correntes e grilhões, como se fossem prisioneiros. Estavam dispostos no lado esquerdo do trono, logo abaixo de uma abóboda por onde entrava lindamente a luz da manhã. Hera foi colocada ao centro, com Poseidon à sua direita e Hades à sua esquerda. Atenas, Ares e Hermes seguiam do lado direito, enquanto Deméter, Hefesto e Afrodite estavam dispostos à esquerda.  Dionísio não estava entre eles, mas era uma questão de tempo para que ele fosse capturado ou que tivesse que prestar homenagens à Apolo. A reação mais visível entre eles era de contrariedade, na melhor das hipóteses. Os avatares refletiam o ultraje e o ódio quase incontido de seus criadores.

Não demorou muito as trombetas começaram a soar, avisando que o momento havia chegado. Apolo entrou por uma porta lateral, escoltado por duas filhas de Artêmis, vestindo armaduras rituais do tempo das guerras com os titãs: peças de couro e bronze trançadas e um elmo com véu que deixava apenas os olhos de fora. Atrás dele seis de seus próprios filhos vestidos de forma grega tradicional, carregando uma enorme caixa dourada, com um formato que muito se assemelhava a um caixão, marchavam em passos ensaiados e cadenciados.

Aeolous viajou como uma rajada de vento até a cabine da imprensa, de onde coordenaria as câmeras para transmitir ao vivo, em cores e em HD. Enquanto ele mesmo posicionava as câmeras remotamente, começou a narrar os acontecimentos que se passavam. Num estalar de dedos Artêmis vestiu-se de forma sóbria, com o mais próximo de que um traje de caça pode se tornar solene. Quando o cortejo real passou em frente aos deuses cativos, Apolo fez questão de dirigir algumas palavras a seus confinados.

— Nada disso precisava ser assim. Bastava que vocês me dessem o aval para reinar sobre o Olimpo de bom grado. Agora eu o terei de qualquer forma.

— Você não venceu ainda, fedelho. – a voz de Ares soou rouca, mas cheia de vitalidade, como se cada palavra velasse uma ameaça. – Quando eu sair daqui...

— Você não fará nada, deus da guerra. – interrompeu Apolo. – De todos nós você é o mais fraco. Até os mortais sabem disso. Se você nunca conseguiu desafiar Zeus o que vai poder fazer comigo, já que terei além de meus próprios poderes, os poderes de Zeus? Peça que o clima seja agradável e que eu tenha a bondade de não substituir você do cargo.

— Isso é um ultraje! – exclamou Posseidon. – Eu sou um dos três grandes. Você não pode reinar na terra sem o meu apoio. Quando meus súditos virem essa transmissão, vão ver o que você fez e será guerra no Olimpo, tendo você o poder de Zeus ou não.

— Ah, você quer dizer “esta” transmissão? – disse Apolo fazendo surgir em sua mão um Iphone dourado. Ele destravou a tela e sintonizou a transmissão através do aplicativo da TV Olimpo. Naquele momento a imagem mostrava Apolo apertando as mãos de Posseidon, enquanto o mesmo dirigia doces e esperançosas palavras de paz e prosperidade ao novo senhor do Olimpo. – Está vendo, “titio”? Eu tenho tudo sob controle. Seus súditos não vão fazer nada. Aliás, o Olimpo inteiro não vai fazer nada, porque todos vão acreditar naquilo que eu quero que eles acreditem.

— Essa manipulação da névoa... nem mesmo Hécate pode fazer isso! – deixou escapar Atena num suspiro espantado.

— É mesmo minha irmã... é uma pena que estas correntes previnam vocês de se curvarem perante o novo senhor do Olimpo, mas não se preocupem. É como os mortais dizem: uma imagem vale mais que mil palavras.

— É uma pena que estas correntes previnam de que eu coloque as mãos no seu pescoço e apertem até que seus lindos olhos azuis saltem para fora das órbitas. – disse Astréia num tom firme, porém estranhamente calmo.  

— Corajosas palavras irmã... vamos ver se você fala assim tão bravamente depois que eu encarcerar você de volta às estrelas, longe desta terra e de seus filhos. – respondeu Apolo. Astréia não deixou transparecer se tinha acatado ou não a ameaça do irmão. Ela apenas endireitou-se da melhor forma que pode e passou a sorrir de ladinho, como se soubesse alguma coisa que ninguém mais sabia.

Apolo tocou o cortejo para frente até que se separou dos seis semideuses que carregavam a caixa de ouro. Eles posicionaram cuidadosamente a caixa atrás do trono de Zeus e saíram discretamente da sala pela mesma porta lateral que entraram. Cada uma das caçadoras assumiu o posto de guarda de um dos lados do trono, enquanto que Artêmis foi para a plateia, sentar-se na primeira fila. A plateia era um caso à parte: sua centena de cadeiras estava um tanto distante do palco onde o trono de Zeus tinha sido montado, mas ainda assim perto o bastante para que tudo pudesse ser ouvido com a ajuda de alguns microfones. A plateia estava ocupada por semideuses adultos que tinham grande influência no mundo mortal, assim como alguns sátiros e até mesmo alguns centauros mais ao fundo. Todos estavam vestidos com roupas de gala, como se fosse a noite da estrega do Oscar.

Apolo caminhou ate um microfone estrategicamente no centro de um elegante púlpito de madeira colocado na frente do trono. O púlpito era adornado com a efígie do sol nascente, em substituição a antiga efígie dos relâmpagos de Zeus. Como um político acostumado a fascinar as multidões ele fez uma pausa curta na frente do púlpito, fingindo hesitação.

— Deuses, semideuses, parentes... Nos últimos meses boatos têm corrido nas redes sociais e na mídia em geral sobre uma crise interna no Olimpo. Eu, juntamente com os outros grandes deuses, nos reunimos para tentar por fim a essa crise. – Ele fez uma pausa dramática, limpando a garganta e puxando para si uma taça de cobre simples, mas muito elegante, contendo vinho. Bebeu delicadamente e retornou ao discurso. – Depois de muitas horas de debate, no melhor estilo de Aristóteles o meu nome saiu como possível substituto do grande senhor Zeus, meu pai, por conta de sua doença. Sim, meus amigos e compatriotas, uma terrível doença se abateu sobre nosso grande pai e mesmo eu não fui capaz de curá-lo.

Um burburinho na plateia. Algumas pessoas confirmam a história de Apolo. O deus do sol esperou um pouco até que o silêncio se fizesse novamente e continuou:

— Em primeiro lugar quero dizer que me orgulho de ser o mais apto na linha sucessória. Tenho orgulho disso. Ser um deus honesto e confiável é ter uma grande vantagem. Posso liderar com zelo e responsabilidade, tratando a todos como iguais. – Uma nova pausa, mas agora mudando o foco da câmera para um close de perto – Correram também boatos de um grupo de semideuses, reunidos para tentar achar uma cura para Zeus. Estes semideuses falharam e Zeus continua a dormir, sob minha responsabilidade. Agora, além de ser guardião de meu pai eu também serei... – mas a frase não pode ser completada: o som do microfone se fora.

— Mas o que é que está acontecendo? – questionou Artêmis enquanto Apolo fazia cara de quem não estava entendendo nada lá na frente.

— Você não vai vencer, Apolo. Precisa de nosso aval para ser o novo líder e nós não lhe confiamos isso.  – comentou em voz alta Hera.

— Errado mãe... eu posso sim. Essa menina, ela me permite manipular a névoa. Permite que eu possa fazer o que eu quiser. Eu só preciso tomar emprestados os poderes de Zeus. Somados aos meus poderes e as habilidades dessa bruxinha eu posso ordenar a névoa que reescreva a realidade como quiser.

De repente um técnico trouxe um novo microfone, levando o outro embora. Ele fez mais uns testes com ele, dizendo alô algumas vezes antes de continuar. Enquanto isso Apolo fez surgir em suas mãos novamente o Iphone, mas dessa vez ele parecia ver outras coisas. Logo o seu rosto empalideceu ao ver seus exércitos rechaçados em quase todos os reinos dos deuses.

— Alguma coisa errada, maninho? – a voz de Hermes carregava ironia. Apolo sentiu-se imediatamente caçoado por ela, virando-se irritado. – Parece aquele dia em que roubei o seu rebanho. Você foi sempre muito bobo. Você vai perder.

— E quem vai me deter? Os mortais?

Tão logo Apolo terminou de falar as janelas de sua sacada explodiram, enchendo a sala de poeira e fumaça. Em meio aos escombros o enorme dragão de bronze surgiu, trazendo nas suas costas alguns semideuses.

— Sav, detenha os reforços da plateia! – gritou a voz de Nathalia, sendo prontamente atendida pela terrível criatura. De sua bocarra metálica uma torrente de fogo grego surgiu, criando uma parede entre os espectadores e o palco da grande festa. Quando as chamas tocaram o teto elas se congelaram formando uma barreira de gelo quase indestrutível.

— Bom menino! – gritou Lucas enquanto corria em direção a porta lateral. Na metade do caminho ele parou, arremessando contra a porta o que parecia ser um saquinho plástico cheio de terra preta. Ao bater na porta o saquinho explodiu, cobrindo a porta e as paredes em volta com uma série de trepadeiras, grossas e resistentes como os troncos de carvalho. – Isso deve segurar qualquer reforço. You shall not pass!

— Senhor dos anéis? Muito bacana! – gritou Oliver enquanto fazia surgir a sua espada mágica. Jade postou-se ao seu lado. Mas dessa vez o menino não sentiu-se desconfortável. Os dois trocaram olhares. Ainda era estranho, mas dessa vez parecia que poderiam se entender.  

As guarda-costas de Apolo partiram para a batalha, mas poucos passos depois elas pararam inexplicavelmente. Viraram-se para Apolo. Arrancaram os véus do rosto. Verônica e Bárbara sorriram, sacando suas armas.

— Mana! – gritou emocionada Nathalia que já corria para fazer formação com a sua irmã.

— Você não achou que eu deixaria vocês salvarem tudo sozinhos, né? – Respondeu a caçadora de Artêmis livrando-se das roupas cerimoniais e indo ao encontro da irmã.

— Você não se emociona com esses reencontros? Cara eu adoro meu trabalho! Oi chefinha... – disse Bárbara acenando para Astréia.  

Logo Apolo viu-se cercado pelos semideuses.

— Parece que hoje você vai aprender uma lição que eu aprendi faz muito tempo, Apolo – disse o avatar de Hermes, sentando-se numa cadeira vinda só deus sabe de onde – Não subestime os mortais.

A derradeira batalha pelo santuário e pelo Olimpo tinha começado bem.


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