Os novos herois do Olimpo escrita por valberto


Capítulo 72
Unidos cairemos, divididos venceremos.




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A voz veio de um beco próximo, tomado por uma sombra não natural. Era uma sombra sim, mas era densa, quase como se fosse feita de puro piche. A voz era realmente conhecida de quase todos ali, mas soava bem mais familiar para Eric e Oliver. Os meninos se aproximaram e depois pararam subitamente, quando a cabeça do corcel infernal saiu das sombras. Os seus olhos vermelhos fitaram os dois e de suas narinas um bafejo de fogo escapou.

– Olá kólasis – disse Eric tentando ser amigável, mas desvencilhando-se do abraço de Isabel e colocando a pequena bruxa às suas costas. – Parece que você ainda não gosta de nós. – a égua infernal relinchou animadamente, balançando a cabeça como se estivesse concordando. Ou ameaçando... Depende muito do ponto de vista. Sav tentou rir discretamente, mas o trincar de suas escamas não deixou. Kólasis e ele trocaram olhares e depois mantiveram um estranho silêncio de entendimento mútuo.

– Muito pelo contrário – outra voz familiar surgiu das sombras, mas dessa vez uma feminina. – se ela os odiasse já teria devorado vocês. Essa deve ser a égua infernal mais geniosa de todo o Tártaro!

Finalmente a figura do professor Roberto saiu das sombras. Ela vestia um pesado manto com capuz, feito de um couro negro e trazia sua poderosa espada de ébano numa bainha atada à sua cintura. Ele parecia mais velho e cansado, esgotado. Barba por fazer e cabelo desalinado. Era a imagem da morte. Ao seu lado a Dra. Cassandra surgiu também, usando um traje tradicional das sacerdotisas de Apolo: um vestido longo e branco, com detalhes em dourado. Nas costas trazia um arco longo e uma alijava cheia de flechas de bronze celestial. Trazia também uma bolsa de couro amarrada no cinto. Uma bolsa que ela trazia com muito cuidado.

– Vocês chegaram bem longe, tenho que admitir. – disse Cassandra, inspecionando a todos com um rápido olhar. – Mas temo que sua missão vá fracassar se vocês seguirem seja lá qual for o plano de vocês. Vocês precisam de um plano mais maduro – disse ela sorrindo – um plano que pode ser que funcione.

– E você vai nos dar esse plano? – disse Jade aproximando-se – afinal você é uma filha de Apolo. Como saber se você não está do lado do seu pai? – indagou Jade, com uma ponta de rancor ao citar o nome do deus sol.

– “Seu pai”? –empertigou-se Cassandra – pelo que eu saiba, ele também é seu pai, mocinha...

– Não é mais – adiantou-se Oliver. – Depois que Jade o desobedeceu para nos salvar, Apolo a deserdou. Tirou dela a centelha divina. Ela quase morreu no processo. – o punho do menino crispou quando ele lembrou-se de Jade naquele estado.

– Mas eu sinto o poder dos deuses em você... – disse Roberto, referindo-se a Jade, como se farejasse o ar – mas é uma energia diferente... selvagem... e você também garoto. Sinto um pouco dessa energia em você... não... um pacto... uma promessa... na sua alma. – Oliver gelou ao lembrar do pacto que tinha feito com a senhora de Helgardh.

– Quando Apolo me deserdou ele causou um desequilíbrio entre as forças que regem o mundo. Outro deus do sol precisou me adotar. – disse Jade. De algum modo ela sabia do pacto.

Jade contou a história dos arquétipos da melhor maneira que conseguiu se lembrar. Quando Zeus foi aprisionado a sua presença foi extirpada do multiverso. Quando isso aconteceu, o aspecto arquetípico do chefe do panteão foi ameaçado. Zeus deve ser libertado para que o equilíbrio volte ao universo.

– Isso explica muita coisa, mas não tudo. – ponderou Roberto, apoiando-se no dorso de sua égua infernal e acariciando o seu pescoço.

– Heloow people! Temos um deus para salvar e outro para impedir. Tic-tac, tic-tac faz o relógio. Se não fizermos tudo o que tem que ser feito em algumas horas nossas vidas não vão valer muita coisa! Seria pedir demais que os grandes estrategistas se apressassem antes que morrêssemos todos queimados? – disse Lucas enfiando-se no meio de todos. Cassandra olhou feio para ele, mas o menino ignorou a médica, o que a deixou ainda mais irritada. Afinal de contas eram todos membros do Santuário: definitivamente ela não estava acostumada a ser interpelada, desafiada ou ignorada.

– O filho de Demeter tem razão. Deixe que eu explique o plano. Apolo precisa da anuência de pelo menos sete dos deuses maiores para conseguir seu intento. Cada um dele lhe dará um presente, que o fortalecerá. Se ele receber os presentes terá todo o poder do Olimpo nas mãos. Mesmo que soltemos Zeus, Apolo estaria pau a pau com ele. A ordem do dia é impedir que Apolo receba mais presentes.

– “Mais”? – perguntou Nathalia, tentando manter o focinho curioso de Pacato da traseira de kólasis.

– Ele já recebeu os presentes de Hera, Artêmis, Afrodite, e Dionísio. Ele precisa de apenas mais três. – disse Roberto. – pelo que sei nem todos os deuses que o apoiam abertamente estão felizes com a sua ascensão ao trono. Hefesto e Atenas estão fazendo corpo mole para dar seus presentes. Então invadiu os reinos Hefesto para conseguir os presentes na marra e sitiou o reino de Atenas.

– As palavras que ele usou para justificar suas forças nos reinos de seus irmãos e irmãs foram “vou mandar forças de paz apenas para assegurar que seus tributos cheguem à salvo”. Um verdadeiro charme – disse a Dra. Cassandra com verdadeiro desprezo na voz.

– Desculpe, mas a senhora disse “reino”? – perguntou Isabel, subitamente interessada.

– Sim, foi o que eu disse. Quando vocês vieram voando neste dragão devem ter visto o Olimpo, mas não todo ele. Cada “bairro” é como se fosse um reino do seu deus. A torre central e seus arredores são o reino de Zeus. Ao seu lado direito está o reino de Apolo e no seu lado esquerdo o reino de Hera. Não se iluda com o tamanho que viram dos céus. Cada reino é grande como um continente. É como se fossem bolsões dimensionais. Lá cada deus é absoluto.

– Fico imaginando como uma deusa orgulhosa como Deméter permitiria que tropas inimigas vasculhem suas terras – ponderou Lucas, lembrando-se do temperamento um pouco complicado que a mãe apresentava às vezes.

– Ela não permite. Não de bom grado, pelo menos. Mas todos os deuses estão confinados na torre de Zeus desde que esta crise começou. Enquanto não escolherem um novo líder ou não libertarem Zeus, não podem sair. Bom... alguns mais poderosos podem projetar suas presenças, mas é isso. – subitamente Roberto lembrou-se da última cerveja que tomou com seu pai o que o fez repensar suas palavras. – Se Apolo não receber esses presentes até a hora da coroação ele não vai ter apoio o bastante para se tornar o novo líder.

– Então você está dizendo que a nossa melhor chance de deter Apolo é sabotar a chegada dos presentes dele. É isso mesmo? – perguntou Oliver.

– Isso mesmo. Apolo não é tolo o bastante para invadir as terras de Hades, Hécate ou Poseidon, mas as terras de Hermes e Deméter são mais vulneráveis, uma vez que “seus donos não estão em casa”. Com certeza ele vai pressionar os reinos de Atenas, Hefesto, Hermes e Deméter. É aí que vocês entram. Quero que vocês se dividam em grupos, entrem nos reinos e impeçam que os presentes cheguem até Apolo. – disse a Dra. Cassandra.

– Sem esquecer de que temos ainda de descobrir como libertar Zeus – comentou Isabel, subitamente tomada pelo desânimo perante tarefa tão penosa.

– Segundo os meus informantes ele pretende fazer uma investida pesada contra o reino de Deméter nas próximas horas. Neste momento ele já está com suas “forças de paz” estacionadas do lado de fora do palácio de Hefesto para assegurar que seus tributos cheguem à salvo. – disse Roberto. – Dessa forma vocês vão ter de se dividir em três grupos: um vai para as terras de Hefesto, o segundo vai para as terras de Deméter e o último vai para a torre de Zeus para tentar libertá-lo.

– Eu vou para as terras de minha mãe. – afirmou corajosamente Lucas. – Afinal eu sou filho dela. A sua terra deve me ajudar, não é?

– De fato é o que se espera – disse Cassandra pesadamente – mas os relatos indicam que existem àqueles que são leais à Apolo, mesmo alguns nascidos e criados nas terras dos deuses. – um calafrio de ódio correu pelas costas de Lucas. Quem quer que tenha traído sua mãe nas terras dela deveria ter uma boa explicação ou pagar pela traição com a própria vida.

– Então não vai ter mito problema. Com o filho de Hades do meu lado não vou ter de temer ninguém – disse Lucas, confiante da vitória.

– Não poderei ir com você. Aliás, com nenhum de vocês. Apolo selou os reinos. Apenas os deuses podem entrar.

– Mas aí como é que vamos entrar? – perguntou, aflita, Isabel.

– Cada um de vocês carrega uma marca dos deuses. Essa marca, a tatuagem mágica de vocês, pode enganar a magia de Apolo e deixar que vocês entrem. Por aqui, rápido. – explicou Cassandra, enquanto guiava o grupo em direção a outro ponto da rua, momentos antes de uma patrulha de centauros passar por onde estavam antes.

– Se é assim eu acho que eu devera ir às terras de Hefesto. Lá eu posso descobrir sobre o presente e ter uma pista de como impedir o deus sol. – Falou Nathalia confiante. – quem sabe uma arma, capaz de ferir um deus...

– Bom, onde quer que minha principeza for, eu vou junto. Vamos libertar o tio Z e voltar para chutar a bunda de Apolo.

Jade e Oliver pareciam estar satisfeitos com as proposições dos times. Da forma que estavam formadas as equipes eles não precisavam estar na mesma equipe. O que era bom, porque dentro deles as coisas ainda estavam turbulentas: eles precisavam mesmo de um tempo um do outro.

– Com o meu domínio sobre as sombras eu posso levar vocês até a entrada de seus destinos, mas o resto é com vocês. – disse o professor Roberto, como se ensaiasse um adeus.

– Nem se atreva em morrer nesta jornada, Eric. Eu ainda quero mostrar a você que Ken é melhor que o Ryu no Street Fighter II Turbo. – disse Oliver abraçando com vontade o amigo. Era o melhor adeus que ele poderia dar antes que as lágrimas pudessem pensar em brotar de seus olhos.

– Pode ir preparando suas fichas cara. Conheço um barzinho em Diadema onde vamos resolver nossas diferenças! – disse o filho de Hermes se despedindo e sendo engolido pelas trevas.

– Jade, não vai dizer nada? – Lucas inquiriu a amiga. – Eu não sei o que há entre vocês, mas não perca a chance de dizer adeus. – Jade não respondeu. Ela agarrou Oliver e o beijou, até que suas lágrimas molhassem o rosto de ambos. Depois ela saiu pela escuridão, puxando Lucas pelas mãos.

Os times estavam formados. Eric e Isabel iam buscar resgatar Zeus nas suas próprias terras. Jade e Lucas iriam até as terras de Demeter e Oliver e Nathalia iriam se aventurar pelas terras de Hefesto.

26 horas para a coroação de Apolo.


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