Os novos herois do Olimpo escrita por valberto


Capítulo 73
Nas terras de Hefesto




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O teleporte pelas sombras não era nada agradável. Nada mesmo. Oliver finalmente encontrou alguma coisa que ele odiava mais do que aeroportos e quartos de hotel. A sensação inicial era de estar numa sala escura. Depois a escuridão foi ficando opressora, como se as sombras o estivessem pressionando fisicamente. Depois veio a ausência de sentidos. Era como saltar de um trampolim alto de olhos fechados. Por longos segundos tudo o que você sente é seu corpo largado no espaço. Você não tem tanta certeza se está caindo mesmo. E de repente, splash, você cai na água e finalmente abre os olhos. Só que no caso de Oliver ele caiu no chão, na grama. Ele estava tonto e tudo o que conseguiu fazer foi ficar de quatro no chão enquanto o seu corpo despejava o que sobrou do seu café da manhã no chão.

Ele perdeu as forças e tentou rolar para longe do vômito. Mal aguentava abrir os olhos. Por fim sentiu algo molhado e áspero açoitar suas bochechas. Com dificuldade ele abriu os olhos e viu Pacato, o lobo de Nathalia. Ao ver que o menino tinha acordado o lobinho ficou realmente feliz e começou a correr em torno do próprio rabo, ganindo de alegria. Então ele parou, coçou atrás da orelha peluda e ficou sentando, balançando o rabo. Depois Oliver ouviu passos raspando na grama. Era Nathalia. Parece que para ela a viagem foi tão ruim quanto para ele.

– Essa é a última vez que eu viajo pela aerolinhas sombrias do submundo inferior. O vôo é terrível, o serviço de bordo é inexistente e o pouso... bom o pouso me custou o café da manhã – disse Oliver tentando ser espirituoso.

– Eu já tive dias melhores enfrentando um lobisomem gigante na arena – concluiu Nathalia com um sorriso. – Você está em condições de pegar a estrada? Temos uma entrega de presentes para interceptar.

– Acho que sim – disse Oliver pondo-se de pé. Finalmente ele pode olhar a seu redor. Será que estavam mesmo no reino de Hefesto? Eles estavam numa floresta temperada paradisíaca: grama lisinha, árvores plantadas e bem cuidadas, riachos limpos e cristalinos, com rochas que pareciam ter sido colocadas milimetricamente para conseguir o melhor som da água correndo entre as pedras. Até mesmo as nuvens do céu pareciam ter a textura ideal para criar o ambiente perfeito. – Estamos no reino certo? Eu sempre imaginei a casa de Hefesto como uma grande forja ou oficina mecânica, tipo um vulcão, com manchas de óleo e fuligem para todos os lados...

– Eu pensei nisso também. Se eu não soubesse diria que estamos no reino de Afrodite. Mas então eu pensei: Hefesto É casado com Afrodite. Ele pediu a mão de Afrodite, a deusa da beleza e do amor, como recompensa por ter fabricado os raios de ouro com que Zeus venceu os Titãs. Pelo que eu sei ele é um marido dedicado, sempre presenteando a vaidosa esposa com joias e presentes. Eu não me espantaria se ele moldasse seu reino para ficar do gosto de sua amada. – Nathalia não pode deixar de se lembrar da estranha relação que permeava os filhos de Hefesto e as filhas de Afrodite. Era tudo tão... estranho.

– Bom, e para que lado deveria ficar a oficina de Hefesto? – perguntou Oliver enxaguando a boca na água de um riacho próximo.

– Pacato me disse que sente o cheiro de fuligem e óleo naquela direção – disse Nathalia apontando para o oeste. O lobinho assentiu e começou a se transformar, ficando do tamanho de uma moto-lobo, que Oliver conhecia tão bem. Nathalia montou, colocando um capacete de motociclista sobre os lindos cabelos vermelhos. – parece ser a nossa melhor opção.

Oliver invocou seu cavalo de mármore e os dois guerreiros saíram a toda velocidade para o oeste, seguindo pela grama verdinha. O reino de Hefesto era realmente lindo, mas tinha um padrão não natural. A sua beleza era estranhamente artificial. Não parecia haver nenhuma pedra fora do lugar. Tudo era perfeito e mesmo o canto dos pássaros parecia ser ensaiado. Os dois seguiram em silêncio, parando esporadicamente para que Nathalia checasse as direções com seu moto-lobo, mas logo depois de uma colina eles perceberam que não precisavam mais do faro de Pacato.

Bem ali, diante deles, erguia-se uma majestosa estrutura. Era um castelo, lindamente angular, feito todo de bronze. De longe parecia que alguém tinha esquecido uma maravilhosa coroa de ouro escurecido sobre a grama verde. O palácio se espalhava por dezenas de quilômetros, de forma circular, fazendo um raio perfeito. Não havia nada fora do lugar. Todas as peças finamente encaixadas. Algumas paredes estavam desnudas, revelando engrenagens, molas e rodas dentadas complicadas, que fariam um relógio suíço corar de inveja. No alto da torre central um imenso rubi, do tamanho de uma Ferrari, no formato de um coração ganhava a atenção de quem quer que pouse seus olhos nele.

Mas nem tudo eram flores. Ou neste caso, bronze, ouro e joias. Lá embaixo, como uma insidiosa mancha de óleo, podiam-se ver as forças de Apolo cercando o portão principal do castelo. Oliver pegou o seu tablet-torradeira e ligou sua câmera com zoom máximo. Apolo tinha escolhido um verdadeiro mosaico variado de asseclas.

Imponência parecia ser o adjetivo que descreveria com exatidão o aspecto daquelas criaturas: sua estatura avantajada, aliada a um físico possante, constituía uma visão ao mesmo tempo poderosa e assustadora. Oliver chutou que tinham a estatura em torno dos dois metros de altura, embora pudesse ver espécimes bem mais altos, beirando os quatro metros ou mais. Havia fêmeas entre a horda de inimigos, que embora musculosas, pareciam ser ligeiramente mais leves e esguias.

A musculatura da parte superior do torso era hipertrofiada em relação ao restante do corpo. Era o que Nathalia chamava de “frangos de academia”: pessoas que exercitam demais a parte superior do corpo e negligenciam a parte inferior. Eram estranhamente semelhantes aos seres humanos... isso se os humanos tivessem pele variando do azul escuro até o marrom claro, tivessem cabelos lisos e de tonalidades impossíveis e possuíssem dentes pontiagudos e afiados que lhes saltavam às bocarras, especialmente os inferiores. Apresentam também pequenas protuberâncias ósseas na porção onde estariam as sobrancelhas, além de orelhas pontiagudas.

Todos, invariavelmente, usavam armaduras rústicas, como se fossem bárbaros de jogos de videogame ou filmes de baixo orçamento. Suas armas também não eram de metal nobre como o bronze celestial: a maioria delas era de ferro mal cozido, madeira, pedras e até ossos. Variavam de machados de duas mãos, lanças pesadas de caça e apenas uns poucos portavam espadas longas que pareciam ser feitas de aço.

– Se eu não soubesse, poderia jurar que estamos diante de trolls. Assim como os humanos eles nascem em Mannheim, ou Midgard. – divagou Oliver, sem pensar muito no que dizia.

– Mann-o que? – perguntou Nathalia. – e mais importante, como é que você sabe deles?

– Eu não sei. Eu só sei que sei – Oliver coçou a cabeça, confuso. Ele mesmo não sabia dizer de onde essa informação sobre a cultura nórdica e seus mitos tinham saído. Mesmo assim ele continuou. – Nas lendas antigas os trolls são descritos como criaturas humanoides, nada inteligentes mas muito trabalhadoras. Às vezes são descritos como gigantes nórdicos ou algo semelhante aos ciclopes, seus tamanhos variando a depender da história. Vivem por muito tempo, mais de mil anos; vivem em bando e são muito agressivos.

– E eles têm algum ponto fraco? – perguntou Nathalia, tentando divisar a melhor maneira de enfrenta-los. É certo que ainda trazia algum armamento pesado e que Oliver era uma verdadeira ogiva nuclear ambulante, mas quanto menos riscos tivessem melhor.

– No livro do Hobbit eles viram pedra quando são tocados pela luz do sol. Mas como são lacaios de Apolo, aposto que o deus sol tratou de curar-lhes esse defeito.

Os trolls haviam montado acampamento bem às portas do palácio, numa ousadia ímpar. Suas tendas, feitas de retalhos de couro mal costuradas, se espalhavam de forma não uniforme por toda a área. Havia também um entra e sai frenético das tendas e dos bosques ao redor. Eles estavam colhendo madeira nas matas próximas e estavam usando essa madeira para construir alguma coisa.

– Não sei se teremos chance com um ataque frontal. Eu esperaria até anoitecer, mas tenho certeza que essas criaturas são tão ativas de dia quanto de noite. – Nathalia observava tudo com um certo pesar na expressão. Ela estava nitidamente contrariada. Se por um lado desejava descer a colina e brandir sua espada contra as feras, por outro sabia que tinha que ser mais esperta do que isso para vencer. Muito mais gente do que ela mesma dependia de suas escolhas.

– Bom, vamos pensar um pouco. Esse é um palácio, mas também é uma oficina de criação de itens. Aposto que foi daqui que veio a minha espada estelar. Uma boa forja precisa de minério de carvão para funcionar, além de água em abundância. – Oliver sacou sua espada e com ela cavou algumas vezes no chão até chegar numa pedra dura, pouco mais de trinta centímetros abaixo da linha da grama. Ele arrancou um pedaço da pedra e mostrou com triunfo no olhar – carvão mineral. Eles não devem ter problemas para combustível. Aposto que em baixo daquele palácio existem centenas, talvez milhares, de túneis de exploração de minérios. Quem sabe podemos entrar por um deles que tenha ligação com a superfície. Vamos dar a volta na estrutura maior do castelo... quem sabe temos alguma sorte.

Sorte parecia que era um item que começava a abundar nos jovens. Ao dar a volta pelo castelo Oliver identificou pelo menos uma dezena de canos que pareciam levar água para dentro e para fora das estruturas. Mas todos eles eram pequenos demais para os dois heróis. Ao chegarem ao local que deveria ter a porta dos fundos, deram de cara com mais um acampamento, só que sensivelmente menor do que o primeiro. Se os pegassem de surpresa Oliver e Nathalia tinham muitas chances de vencer a luta antes que qualquer reforço pudesse chegar.

– O que estamos procurando, exatamente – disse Nathalia forçando a vista em busca de alguma entrada.

– Aposto que Afrodite é uma deusa sofisticada. – começou Oliver – Se ela sai para caminhar por este lugar com Hefesto, com certeza não gostaria de passear ao lado de uma lagoa cheia de dejetos de mineração. Dobro minha a posta e digo que Hefesto deve ter a sua forja 100% sustentável e gerando o mínimo de poluição. Ele deve reaproveitar a água das caldeiras. Ali! Está vendo aquela estrutura um pouco mais afastada, como se fosse uma casa quadrada coberta por grama? Triplico minha aposta e digo que ali é a estação de tratamento. Deve ter um túnel de manutenção ali, grande o bastante para passar um ciclope...

– Ou dois semideuses – concordou Nathalia com um sorriso. – e como vamos chegar lá?

– Vamos saltando... – Oliver não se deu ao trabalho de explicar seu plano. Com uma das mãos ergueu a moto-lobo de Nathalia, com ela em cima, em pleno ar, como se não tivessem peso algum. Depois, ainda com os dois seguros no alto, deu o comando para que seu cavalo corresse o mais rápido possível. – Quando eu der a ordem, Marmarino, quero que você salte o mais alto e mais longe que puder. – o cavalo assentiu. Continuaram correndo e ganhando velocidade até que Oliver deu o comando. O cavalo de mármore flexionou as patas, lançando-se uma centena de metros para cima. Mas isso não era o mais impressionante. Eles se moviam no ar em câmera lenta, como os astronautas se moviam nas gravações feitas na lua.

– O que? – reagiu Nathalia, tomada por um rápido susto antes de perceber que os poderes de controle de gravidade do amigo os estavam mantendo no ar. Não demorou muito, começaram a descer até pousarem em câmera lenta do outro lado da casa quadrada coberta de grama.

– Chegamos – disse o menino triunfante colocando Nathalia e Pacato no chão e guardando Marmarino em sua tatuagem mágica.

– Da próxima vez, avise. – ralhou sem muita seriedade Nathalia. – E agora?

– Agora você me ajuda a abrir essa porta e vamos ver o que podemos fazer.

– Vocês podem começar se rendendo em nome do grande rei sol – a voz gutural e áspera veio de trás deles. Um par de trolls, armados com machados. Mal tiveram de terminar a frase foram jogados ao chão por uma esmagadora força invisível. E no chão foram alvos fáceis para os golpes degoladores de Nathalia. Oliver observou curiosamente seus corpos se desmanchando como se fossem bonecos de neve enfiados num forno quente. Logo não restava nada que denunciasse que um dia estiveram ali, a não ser pela mancha de água na grama.

Nathalia o Oliver abriram a porta. Lá dentro a estrutura de reciclagem de água, abastecida por um enorme cano de bronze celestial. Ao lado do cano, um túnel de manutenção. Oliver sacou sua espada e foi na frente iluminando o caminho, enquanto eles seguiam cada vez ais para dentro da escuridão, tendo por companhia apenas suas respirações, seus passos e o constante som da água correndo pelos canos.


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