Os novos herois do Olimpo escrita por valberto


Capítulo 71
Um dragão sobre o Olimpo




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Quando o som do helicóptero se abateu sobre os meninos todos pensaram que a princesa Ocípedes tinha providenciado para eles um transporte de primeira classe nessas naves executivas que carregam os chefes de estado para cima e para baixo. Mas era algo bem diferente. Havia sim um helicóptero, mas era desses de carga, capaz de carregar um contêiner inteiro. Ele carregava um contêiner vermelho e parecia usar toda a força de seus motores para fazer isso. A enorme estrutura vermelha foi pousada com segurança num descampado ao lado da casa principal e logo depois o helicóptero voou de lá.

– Estou impressionado. – comentou Oliver, pondo as mãos no ombro do amigo, num gesto de afeição e aprovação. – O que tem aqui dentro? Um tanque? Um veículo leve de assalto? Uma perfuratriz de abrir túneis de metrô?

– Nada disso – respondeu o filho de Hermes, satisfeito consigo mesmo. Ele foi até a lateral da enorme caixa retangular de aço frondeado e inspecionou o cadeado. Com um toque de Eric o cadeado abriu-se com um click metálico. Ele abriu uma portinhola revelando um painel alfanumérico. Depois de digitar uma sequencia de letras e números ouviu um barulho como o de um pistão hidráulico disparando. Depois, uma a uma as folhas de metal que serviam de laterais do enorme contêiner foram se abrindo, como uma flor que desabrocha para colher os primeiros raios de sol da manhã. No seu interior parecia ter uma enorme estátua de bronze, que ocupava toda a área do contêiner: um dragão adormecido, enrodilhado em torno de si mesmo como um cachorro dormindo sossegado na soleira de uma porta.

– Um dragão de bronze celestial! – exclamou Nathalia, incapaz de segurar dentro de si as lembranças terríveis que aquele tipo de criatura lhe trazia. Logo atrás dela Pacato ofereceu sua simpatia, lambendo-lhe a mão esquerda.

– Não é um dragão qualquer. É “o” dragão de bronze celestial. Este é o modelo original, criado por Ares e Hefesto. Este é o famoso Dragão de Tebas. – disse Eric com certo orgulho – ele foi um bastante modificado ao longo do tempo, mas esta é sem dúvida a sua versão mais formidável. É a versão “Valdez 3.1.0” tem espaço para levar todos nós e é capaz de se defender e de nos defender se for o caso.

Eric avançou sobre o monstro que parecia ainda estar dormindo e inspecionou a lateral da criatura em busca de alguma coisa. Achou uma algibeira de couro solitária, pendurada ao lado do pescoço serpentino da criatura. De lá sacou o que aprecia uma chave de carro, com botão de alarme e tudo mais. Ele apertou o botão e os olhos do dragão acenderam.

O dragão começou a se espreguiçar, soltando vapor de suas juntas. Ele bocejou soltando uma baforada de fogo curta e inofensiva. Depois esticou as patas e voltou a se deitar sobre as patas, usando as asas como um tipo de couraça sobre si mesmo.

– Aqui estão Nath. Faça as honras... – disse Eric entregando a menina as chaves do terrível veículo.

– Como assim, eu vou pilotar essa coisa? Eu mal dou conta de dirigir uma van! – rebateu a filha de Ares, muito mais por ranço do passado que por receio de suas habilidades. – Como você espera que eu pilote essa coisa?

O dragão resfolegou pesadamente ao ouvir a palavra “coisa” se referindo a ele. Ele olhou fundo nos olhos de Nathalia e depois abriu boca, falando com uma voz que lembrava a do dublador de Sean Connery.

– Eu não sou uma “coisa”. Meu nome é Foverí Savra. Mas pode me chamar de Sav, filha de Ares. – o dragão falava com um certo sotaque grego, o que lhe dava ainda mais charme.

– Como é que ele sabe que eu sou filha de Ares? – perguntou Nathalia, ainda incrédula.

– Pois é... como é que ele saberia de uma coisa dessas? – perguntou jocosamente Jade, passando por Nathalia e dando batidinhas em sua armadura e armas penduradas em todo lugar. – Olá dragão, quero dizer Sav. Prazer em conhecer você. Eu sou Jade, filha de Apo... quer dizer, filha de Balder. É você que vai nos levar ao Olimpo?

– Levarei vocês até onde quiserem filha das brumas do norte. Faz parte do que eu sou.

– Pega logo essa chave e deixa de fazer doce. Leve logo a gente embora Nathalia. – disse Lucas um tanto ríspido. O tempo parecia urgir para ele muito mais que para qualquer outro.

Nas costas do dragão havia bancos confortáveis, com cintos de segurança que pareciam ter saído de carros da stock-car. O painel na frente do piloto era mínimo e intuitivo. Após dois minutos de voo a escolha de Eric por Nathalia parecia ser mesmo a mais acertada. Como o Dragão de Tebas era uma criação de Ares e era também uma arma, Nathalia dominou seus comandos num instante. Ao seu lado, no banco do co-piloto, Pacato tinha diminuído até caber na poltrona e poder ser abarcado pelo cinto de segurança.

– Cara, nem acredito que você comprou isso aqui! – comentou Oliver enquanto o dragão serpenteava pelo ar em grande velocidade.

– Eu não comprei. Cinco dracmas de platina são grana para burro, mas não compra a posse de um automatoi como este. Pense no Sav como um braço armado contratado, no caso dele, uma garra armada.

– Tipo um mercenário? – Oliver ficou calado, ponderando as palavras do amigo. Que acordos fez Eric para estarem ali? Com quem ele falou? Como ele conseguiu todo aquele dinheiro? O que ele vinha escondendo por baixo da pele de “filho de Hermes bonachão”?

– Esperamos algum tipo de resistência, não é mesmo? – perguntou Jade. – Afinal de contas estamos voando na coisa mais perigosa que já voou pelos céus desde que Deathwing, o Destruidor, varreu os céus de World of Warcraft: Cataclysm.

– É... esperamos... – respondeu Eric pensando quando foi que Jade teve tempo de saber o que era World of Warcraft. – O Olimpo não é famoso por ser gentil com invasores. Somos semideuses e temos a entrada mais ou menos acertada... mas, com Apolo dando as cartas é certeza que teremos problemas.

Poucos minutos depois chegaram ao Olimpo. Era lindo. Montado sobre o sopé do Monte Olimpo era uma estrutura hexagonal, toda urbanizada à moda clássica grega. Bem ao centro destacava-se o palácio de Zeus, uma imponente estrutura em forma de torre. Cada setor do Olimpo era como se fosse um hexágono dentro de outro hexágono. Dava para ver a mancha de fuligem escurecida que deveria ser o quarteirão de Hefesto, a mancha verde de plantas cultivadas que deveria ser o quarteirão de Deméter ou quem sabe de Dionísio. Era tudo lindo e muito bem organizado. Mesmo da altura que estavam podiam perceber a lindeza das pedras de calçamento finamente encaixadas, sombreadas pelos aquedutos que cortavam a cidade, das inúmeras praças e esculturas que embelezavam ainda mais o lugar.

– Tem alguma coisa voando na nossa direção, pelo lado esquerdo! – berrou Lucas ao ver a mancha vermelha se aproximando deles.

– Águias de sangue, às onze horas! – berrou Isabel. – Apertem os cintos! Nathalia, manobra evasiva! Lufbery de três para quatro horas!

– Lub o que? – berrou de volta Nathalia. Parece que todo mundo tinha aprendido um monte de coisas novas nas últimas doze horas, menos ela.

– Puxa um círculo para baixo e para a direita, fazendo uma curva sustentada, sempre tentando proteger a cauda do Sav! – berrou de volta Isabel. Nathalia fez como ordenado, evitando o mergulho da nuvem de aves vermelhas.

– O que são aquelas coisas? – indagou Lucas, tomado pela súbita lembrança de estar voando a mais de dois mil metros de altitude sem um paraquedas.

– São águias de sangue – explicou Oliver. São descendentes do casal de águias que bicou o fígado de Prometeu por séculos. – a cara de perplexidade de Lucas suscitou pelo menos mais um comentário adicional – Imagine águias criadas por Zeus que se alimentaram de sangue de titã por alguns milênios e você vai ter uma boa ideia do que estamos enfrentando.

O bando de águias dividiu-se em três grupos: o maior e mais lento continuou perseguindo a traseira do dragão, um segundo grupo tentou flanquear pela esquerda enquanto que o restante deles arremeteu para cima.

– Estão tentando nos cercar! – avisou Isabel.

– Deixe que tentem – explodiu em resposta Nathalia, forçando o dragão a um mergulho de 180 graus para a esquerda, colocando-se bem na linha de frente do segundo grupo de aves. O dragão abriu sua bocarra e explodiu num cone de fogo que fritou muitas águias em pleno ar, dividindo sua formação.

Eric largou o cinto de seguranças e deu um beijo em Isabel antes de lançar-se para o vazio. Ele caiu uma centena de metros antes de suas asas se abrirem, e jogar o menino para cima, indo de encontro a um grupo de aves que tinha escapado do hálito de fogo do dragão. Suas adagas abriram caminho pelo grupo, diminuindo mais ainda o seu número.

As águias que tinham arremetido para cima se uniram numa formação esparsa e mergulharam contra Eric. O menino conseguiu derrubar algumas delas, mas algumas bicadas afiadas acabaram por acertá-lo. Uma delas dilacerou sua asa esquerda, num corte longo e dolorido, que fez o filho de Hermes despencar no ar, tal qual a lenda do vôo de Ícaro.

– Eric! – berrou Isabel enquanto livrava-se do cinto de segurança e jogava-se para o ar. – Das profundezas do inferno, em silêncio! Suas magias, violência explosiva! Pilotas russas voam perfeitas! Anjos invisíveis da noite nunca erram seus alvos! – gritou a menina a plenos pulmões, enquanto tentava vencer a resistência do ar. Ao lado dela o circulo arcano formou-se no ar e um biplano russo Polikarpov Po-2 o atravessou, dissolvendo o círculo como se nunca tivesse existido. Assim como as aeronaves que invocou no santuário esta também era feita de madeira, cobertas com lona. Tirando um rasgo do tamanho de uma bola de basquete na fuselagem o avião parecia ótimo. Isabel estendeu o braço e foi agarrada pela pilota russa que a colocou no banco de co-piloto.

O biplano mergulhou em direção à Eric, suas metralhadoras cuspindo chumbo nas águias de sangue, abatendo-as enquanto descia vertiginosamente. Enquanto isso, lá em cima, Oliver fez a menção de abrir o seu cinto de segurança, mas foi detido pela mão de Jade.

– Sei que você o ama, mas ele pode se salvar sozinho. Além do mais Isabel já está no seu encalço. Você também sabe disso – disse a menina forçando sua vontade com o olhar. – Eu preciso de você aqui.

Oliver assentiu. Ele olhou o bando de aves que se aproximava pela cauda do dragão. Eram muitas. Demais para o gosto dele. Oliver se concentrou nas forças da gravidade e as aves começaram a se chocar umas com as outras. Os choques, cada vez mais frequentes e violentos, as derrubavam dos céus com força. Mesmo assim muitas delas conseguiram acertar o dragão. Seus bicos afiados arranhavam a lataria de bronze riscando o céu matinal com uma chuva de fagulhas. Algumas acertaram Jade, mas com o mesmo efeito já conhecido. Lucas converteu um de seus braços num enorme porrete e pôs-se a derrubar aquelas que se aproximavam demais dele. Mesmo a sua pele convertida em cascas de carvalho grossas não era imune aos bicos e garras afiadas.

No comando do dragão Nathalia tinha perdido a conta de quantas aves já tinha mandado ao solo. Mas parece que esse número não tinha fim. Por fim o avião zumbi de Isabel cruzou a sua frente, fazendo sinal para que ela o seguisse. A aeronave fez seguidos mergulhos, indo pousar numa ruazinha apertada onde mal cabiam suas asas. Isabel desceu apoiando Eric e seu ombro e logo atrás dela o avião evaporou-se. Ainda puderam ouvir o grito da pilota: Do svidaniya, malen'kaya ved'ma! (até logo, bruxinha). Elas estavam cada vez mais vivas e de melhor aparência a cada vez que eram convocadas por Isabel.

– Não vamos conseguir chegar até o palácio ou a prisão de Zeus pelo ar. Cada vez que chegamos mais próximos, mais das defesas do Olimpo vão se abater sobre nós. A nossa melhor chance é ir por terra, divididos em dois grupos. Um grupo deve libertar Zeus e outro deve tentar retardar a coroação de Apolo ao máximo. – Eric falou de um fôlego só, com firmeza, como se tivesse ensaiado a semana inteira. – Por terra podemos nos mistrar com os moradores do Olimpo.

– E como vamos nos dividir? – perguntou Jade.

– Eu tenho uma sugestão... – a voz conhecida veio de um beco ali perto – se estiverem dispostos a me ouvir.


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