Os novos herois do Olimpo escrita por valberto


Capítulo 70
Com licença senhor... este é o elevador que vai para o Olimpo?


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora. Problemas em casa. Aproveitem!



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Oliver acordou sentindo-se moído. Ele não aparentava mais nenhum ferimento e todos os cortes que tinha recebido do pai estavam devidamente curados, deixando discretas cicatrizes. Ele estava na varanda, ou o mais próximo que poderia chegar disso, no chalé de Astréia. O seu colchão tinha sido arrastado até lá de modo que ele pudesse receber tudo que a noite tinha para oferecer: a brisa noturna fria, o som dos insetos e o céu noturno, sapecado de estrelas. Lá em cima a lua brilhava pálida como se quisesse se esconder em protesto pela vilania de Apolo. Oliver sentou-se à beira do colchão e percebeu que estava apenas de cuecas. E não eram as cuecas boxers que gostava de usar. Estava com uma cueca modelo zorba, que, de repente, parecia bem apertada e justa. A mente dele divagou uns instantes. Quem ele conhecia que usava cuecas zorba? A resposta não poderia ter vindo de uma forma mais estranha...

– Mano Oliver! Você acordou cara! Estávamos preocupados. Você dormiu quase doze horas cara. Seguidas. – a voz de Eric era ao mesmo tempo estridente e firme. Sua preocupação soava verdadeira no meio das palavras animadas. – Foi estranho dar banho em você quando você estava desacordado, mas o Lucas ajudou pra caramba! O sujeito tem o dom, eu só digo isso. Eu até emprestei uma de minhas cuecas para você.

Oliver olhou pelo canto de olho para o colega. Não sabia se o agradecia por tê-lo trazido até ali e cuidado dele ou se o matava por ele ter tentado envenená-lo com suas cuecas radioativas. No fim Oliver simplesmente sorriu, grato por ter um amigo que se preocupava tanto assim com ele.

– Cara, o pessoal do santuário vai ficar muito feliz em te ver! Você e a Jade salvaram tudo! Incrível. Vocês eliminaram aquele meteoro do capeta! Que louco! – Eric estava eufórico. Enquanto ele ajudava Oliver a se vestir e descer para ver todo mundo foi contando tudo o que aconteceu. – E daí vocês dois sacaram um arco de energia muito doido e explodiram o meteoro. Bom, explodir não né? Já que vocês criaram um buraco negro em miniatura que comeu a pedra toda. Mano eu já disse como foi sensacional?

Por um minuto Oliver viu na figura do amigo todos os velocistas que conhecia das histórias em quadrinhos e filmes. Desde o Flash da série de TV, passando pelo Flecha de os Incríveis, sem deixar de lado tipos bem mais cômicos como Speedy Gonzalez, o Ligeirinho da turma do Pernalonga. Por dentro ele riu, mas sabia que alguma coisa não estava certa. Ele se sentia estranho, como se tivessem entrado dentro dele e bagunçado tudo o que ele sabia e sentia. Como se tivessem mudado coisas de lugar. Como se tivessem entrado em lugares sem permissão. Era... era simplesmente estranho.

Mais estranho mesmo foi se deparar com a festa que estava preparada em sua homenagem. Ele e de Jade, claro. Afinal os dois tinham salvado o Santuário do meteoro. É certo que ninguém deixava de dar os devidos méritos aos outros: Nathalia, Eric, Lucas e até mesmo Isabel eram tidos como heróis de marca maior. Desses que são imortalizados nas lendas.

Todo o resto da gang dos heróis estava numa mesa comprida, num lugar de honra do refeitório. Todos os campistas restantes estavam lá, com suas melhores roupas. Alguns ainda mostravam as feridas da batalha, devidamente enfaixadas e cuidadas. Uma cortesia das curandeiras do chalé de Apolo. Comida e bebida farta, boa música e dança. Era uma comemoração de vitória. Oliver sorriu e tentou se misturar às comemorações. Abraços, tapinhas nas costas e até mesmo alguns beijos mais aflorados de uma das filhas de Afrodite e uma mão boba da filha Dionísio, com um claro convite para que ela pudesse “agradecê-lo” com mais intimidade mais tarde.

Mas tudo passou como um borrão pelo menino. Ele respondia mecanicamente, como uma resposta automática ou sem jeito. Por fim o conduziram até a mesa. Ele sentou-se ao lado de Jade. Ela estava ainda mais linda, como se fosse possível. Ela usava as roupas do santuário e os cabelos loiros estavam amarrados em duas tranças grossas e elegantes que saiam do alto das orelhas e desciam em direção à sua nuca. Ela estava linda, mas Oliver reconheceu nela a mesma angústia. Assim como ele, Jade também se sentia mexida por dentro.

O jantar durou por mais algum tempo e foi arrefecendo com o avançar da noite. Por fim apenas alguns festeiros de Dionísio ainda disputavam passos de dança no salão. No fim Nathalia, que estava sentada na cadeira de chefe do santuário, deu os festejos por encerrados. Mas convidou os líderes restantes dos chalés e os heróis do momento para irem á sala de reuniões.

– Que bom que a festa finalmente terminou! – disse ela jogando-se sobre uma poltrona perto da janela que Oliver arrebentara mais cedo. Nathalia parecia exausta, como se bancar a política fosse mais cansativo do que combater. E deveria ser, julgando pelo fato que Dezan não ficou nem mesmo para a festa. Saiu andando sozinho pela estrada que levava para fora do santuário. Nathalia sentia agora o peso muito maior de suas decisões. Antes ela era responsável apenas pelo chalé de Ares, mas agora cada vida do santuário estava na sua conta.

– Poderia ter durado um pouco mais. – deixou escapar Lucas que passara a noite dançando com o seu amado. – mas sei que temos assuntos sérios a tratar. BêPê?

A filha de Atena adiantou-se, ainda muito enfaixada e mancando de uma perna. Não fosse a ambrosia era por certo que precisaria de meses de tratamento num hospital para se recuperar. Não que estivesse 100%, mas estava firme o bastante para falar.

– Bom, eu estudei o pergaminho. Ele é fascinante. Nada é tão completo quando o assunto é o Olimpo. Ele mostra em detalhes todas as entradas, saídas e tudo o mais que você quiser no Olimpo. É informação que um filho de Atena poderia estudar a vida inteira e jamais chegar ao seu final. É tudo tão lindo que chega a ser hipnótico.

Nalgum ponto do salão alguém pigarreou limpando a garganta, como uma deixa para que a arquiteta largasse suas divagações e fosse direto ao ponto. BêPê se recompôs e continuou.

– Com a ajuda de Isabel, divisamos o melhor lugar para ser usado como a prisão que “nem mesmo Zeus pode abrir”. Fica bem abaixo da sala do trono de Zeus. Infelizmente, pelo que conseguimos decifrar a “chave” é a única que pode abrir a sala.

– E a chave é Isabel – disse Eric visivelmente desconfortável – mas não se preocupe principeza, o cavaleiro Eric, o rei das fechaduras e senhor das corridas em cima da água estou aqui para protegê-la.

– Pois é... As horas que Jade e Oliver estavam descansando e que Isabel e BêPê estava decifrando o pergaminho foram bem usadas, mas foram horas perdida. Temos menos de 28 horas para impedir que Apolo se aposse definitivamente do trono do Olimpo. – um arrepio correu pelas costas de Nathalia ao pensar o que o vingativo senhor do sol poderia fazer com eles caso isso realmente acontecesse. – Então, seja lá o que vamos fazer, não temos tempo a perder.

– Eu sei como podemos chegar até o Monte Olimpo com rapidez – disse Eric – mas preciso chegar no centro da cidade do Gama para isso.

– Existe uma ponte entre o Olimpo e a cidade do Gama? – perguntou Karina, espantada.

– Não diretamente – explicou Eric. – Mas eu conheço uma ponte entre a cidade do Gama e uma ilha Grega, perto da cidade de Salonica, na costa grega. Salonica é a segunda maior cidade da Grécia e fica a apenas 100 km do Monte Olimpo. – o menino suspirou como se se repente não tivesse mais tanta certeza. Mas quando ele virou os olhos para Isabel, encheu-se de confiança novamente. Nem que tivéssemos um avião supersônico seríamos mais rápidos.

– E como vamos chegar na cidade do Gama? – perguntou Lucas.

– Os filhos de Hefesto fizeram um ótimo trabalho em colocar as vans do santuário para rodar. Temos uma pronta e abastecida, pronta para sair. Vamos levar umas duas horas no máximo para chegar na cidade.

– E o que estamos esperando? – perguntou Lucas, subitamente exasperado. Ele era um dos campistas que tinha muito a perder caso Apolo assumisse o trono. Toda aquela demora ali não fazia sentido para ele.

– Estamos esperando por nossos salvadores. – disse Nathalia, olhando na direção de Jade e Oliver, que tinham ficado calados o tempo inteiro da reunião, perdidos cada um seu mundo. A filha de Ares se levantou e foi até onde os dois estavam, sentados num sofá, com o espaço que caberia facilmente outra pessoa entre eles. Não apreciam um casal e sim pessoas incomodadas com a presença um do outro e ainda assim que não conseguiam se afastar um do outro. Nathalia foi até eles e se ajoelhou na frente deles. Encarou seus olhos abalados dos dois e segurou em suas mãos, colocando-as juntas novamente. – Eu não sei o que houve quando vocês se uniram. Ninguém sabe... – ela olhou de relance para Isabel, tão arrasada quanto podia estar – mas eu preciso de vocês. De vocês dois. Eu... Nós não podemos salvar o santuário sozinhos. Preciso que vocês façam mais um esforço. Eu sei que é complicado e que provavelmente vocês fizeram mais que qualquer um, mas eu preciso mesmo de vocês. Mais uma vez.

Nathalia sustentou o olhar por mais alguns instantes e depois se afastou. Ela tinha feito tudo o que poderia. O resto era com os dois. Oliver olhou para Jade. Não pode deixar de sentir afeto pela menina, mas olhar para ela era tão dolorido, tão angustiante... Jade por sua vez olhou de volta. Dentro dela havia um ingrediente a mais do que havia em Oliver. Ela queria se vingar de Apolo. Queria detê-lo. De súbito esse desejo por vingança passou a alimentá-la e o brilho voltou aos seus olhos. Ela apertou as mãos de Oliver, primeiro com ternura, depois com força. Sim, ela estava quebrada por dentro, mas ela iria se recuperar. Ela ia escalar de volta todo aquele abismo para ser ela de novo.

– Estou... estamos prontos! – disse ela levantando-se e carregando Oliver junto com ela.

A van partiu silenciosa, sem despedidas esfuziantes ou longos beijos de adeus. Nathalia deixou o santuário sob o comando de Karina. Ela poderia muito bem não ser a melhor escolha do mundo, mas saberia manter todos sob controle. Todos unidos caso o pior acontecesse.

A viagem foi silenciosa, apesar de todas as tentativas de Eric descontrair o ambiente. O seu charme parecia ter encontrado uma barreira intransponível. Como não havia trânsito ou qualquer fiscalização àquela hora da noite, chegaram até a cidade do Gama sem problemas. Oliver levantou a cabeça quando passou pelo Subway. “eu comi aqui” ele comentou como se estivesse semidesperto. Por fim a van parou em frente ao Hotel Syros.

– Chegamos – anunciou Eric enquanto todos desciam da van.

– Um hotel? – indagou Lucas.

– É... esse hotel tem uma passagem que pode nos levar diretamente à Grécia.

Entraram todos pela recepção. Por trás da mesa Nausícaa estava distraída, olhando para o seu celular.

– Olá Nausícaa... quero pedir um favor.

A menina levantou os olhos e por um momento empalideceu, como se fosse acossada pelo seu pior pesadelo. Ela começou a balbuciar algo em grego, mas Eric tratou de acalmá-la, falando em seu ouvido. Era impressionante a capacidade que ele tinha de fazer isso. depois ele pegou alguma coisa do seu bolso e depositou nas mãos de Nausícaa. Ela abriu as mãos e viu uma bolsa de couro pequena. Inspecionando melhor viu que tinha dez dracmas, feitas de platina.

– Dracmas de platina... – disse Eric como se saboreasse cada palavra. – cada uma vale pelo menos mil dracmas comuns. O bastante para você sumir daqui... para sempre. Só o que precisa fazer é nos deixar usar o elevador do seu chefe.

Era possível ver o conflito nos olhos da menina. Ela poderia fazer o que quisesse com aquela fortuna. Era mais dinheiro do que poderia juntar em séculos de servidão fiel ao Rei Eumeu. Por fim ela levou os meninos até o elevador e desejou-lhes boa viagem.

– Como é que você conseguiu aquela grana toda? – perguntou Oliver, liberto de sua letargia.

– Peguei emprestado dos cofres do santuário – ele olhou sério para Nathalia – não se preocupe. Eu vou devolver cada dracma... se sairmos vivos dessa.

– Pode ficar – disse Nathalia. – Esse dinheiro nunca existiu. E se você fizer essa “generosa doação” para o santuário, vou garantir que o chalé de Hermes seja completamente reconstruído.

– Que bom que você pensa assim. Porque eu ainda vou usar um pouco mais dessa grana toda quando chegarmos na Grécia.

Entraram pelo elevador e Eric viu o painel. Os botões eram os mesmos que ele se lembrava. Ele apertou um botão que dizia privativo. O elevador sacudiu. Ninguém sabia dizer se estavam subindo ou descendo. Mais de um minuto se passou antes das portas se abrirem. Os meninos mal podiam acreditar. Não era mais noite. Eram os momentos que antecediam o amanhecer. Estavam no topo de uma colina. Ao lado uma linda casa de praia ao estilo havaiano, mas numa visão mais moderna, daquelas que custam milhões de dólares. Só que em reforma. Tapumes tapavam toda a lateral do lugar. O estrago foi grande.

– Lembra-se de ter estado aqui, Oliver?

– Eumeu... você e Roberto me salvaram daquele doido criador de porcos.

– É... fizemos isso mesmo. – Ele pegou uma dracma comum e jogou na piscina da casa, evocando a mensagem do arco-íris. Do outro lado do arco-íris a imagem de uma harpia bem conhecida de todos. – Oi princesa Ocípedes. Aqui está o pagamento.

O menino arremessou cinco dracmas de platina dentro da piscina e do outro lado da imagem a harpia as recebeu, sorrindo de prazer. Ela contou as cinco moedas e depois falou:

– Arrumem-se, que vocês vão para o Olimpo em grande estilo. Lutem bem... – disse ela afastando-se da imagem e comentando em voz baixa – eu sempre o guardarei em meu coração, filho de Hermes.

O transporte chegou. Não era nada que nenhum deles tinha visto antes.


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