As minhas sete ex-melhores amigas. escrita por Rodrigo Lemes


Capítulo 8
Parte II - Ajudamos as pessoas erradas pelo fato de sermos pessoas boas.




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Noelle ainda soluçava alto quando a convidei para entrar e tomar uma água. Ela ficou conversando com JP sobre vídeo games enquanto eu estava na cozinha, já que os dois também eram amigos. Aquilo tudo, ver nós três reunidos no mesmo espaço conversando, me dava uma sensação de nostalgia. Nós sempre fazíamos isso, antes da chegada de Alice, claro.

Já fazia quase duas semanas desde que me declarei para Noelle, e desde esse tempo, nós nunca mais conversamos. Eu havia tentando bater na porta dela, ligar para ela, ou chama-la no facebook, mas tudo o que eu recebia em troca era ser ignorado. Eu simplesmente desisti de reatar nossa amizade quando Alice me disse que nada daquilo valia a pena, mas ela também não era o tipo de pessoa que valia a pena sofrer. Sinceramente, não.

Durante todo o tempo em que ficamos encima da cama conversando, ela não havia largado meu braço. Estava apoiada em meu ombro, melancólica demais. Noelle só foi contar o ocorrido para mim depois que JP havia ido embora para casa, já que ela considerava tudo aquilo pessoal demais. Respeitei a opção dela.

“É verdade que o gordo engravidou uma menina, Collins?” Perguntou-me Noelle, logo após ele bater a porta ao sair.

“Sim, é verdade. Eu não acreditei muito nessa história, mas pelo jeito que ele veio chorando me procurar, acho que ele tá sendo verdadeiro.”

“Ele é feio demais para transar com alguém.”

“É sim.” Concordei.

E então começamos a rir, como fazíamos antes de tudo aquilo acontecer. E estava sendo tudo tão bom, tão simples, tão doce.

Enquanto eu e Noelle preparávamos alguma coisa para comer no almoço, resolvi perguntar o porquê dela estar mal. “Hey, porque você estava tão mal quando a encontrei debruçada sobre a porta?”

Ela demorou alguns minutos para responder, lavando as mãos sujas de tempero na torneira, e depois prendendo o cabelo num rabo de cavalo.

“Hum, sinceramente Dan, eu não sei. Acho que foi porque briguei com o Marco, percebi que ele era um completo babaca, e que não valia a pena sofrer por alguém que não liga para você, e tal. Mas meu maior medo era te perder, meu pequeno... Você sabe como eu te amo, sem malícia, é claro. Fui uma completa babaca. Desculpa.”

“Por mim tudo bem, eu também sou um completo babaca.” Respondi, aceitando o pedido de desculpas.

“Aquele dia... Eu estava meio chapada, por isso estava falando igual ao Sherlock Holmes, e também por isso te rejeitei daquela maneira, sem explicar nada. Eu havia fumado muita maconha com o Marco antes de voltar de viagem, e tudo aquilo me deixou muito mal, por ter ficado chapada.” Ela me encarou com os olhos cor de oceano, cada vez mais fixos em mim. E então sorriu com seus lábios carnudos avermelhados. Estava muito linda, como sempre.

“Nossa, que rebelde você, cara.” Ergui uma sobrancelha, parecendo surpreso pelo fato dela ter ficado drogada um dia.

E então ficamos sorrindo, enquanto fritávamos frango para o almoço. Brincamos de guerrinha de água na torneira, e eu acabei molhando a blusa branca de Noelle, perto dos seios. O sutiã preto dela ficou um pouco visível, o que me deixou um pouco excitado, já que ela é uma garota muito bonita.

“Hãã.... Des-cul-pa...” Gaguejei.

“Ah, não precisa se desculpar. Vai me dizer que você nunca viu uma menina de sutiã, ou biquíni?” Noelle parecia descontraída, porque ela certamente sabia que eu não era o tipo de cara que abusaria de uma garota, por mais que ela realmente fosse bonita.

“Hum... Sutiãs são mais sexys do que biquínis, dá uma sensação de poder para a mulher, sei lá, é bem excitante. E sim, nos últimos dias eu vi até uns sutiãs.”

Noelle arregalou os olhos e abriu a boca, parecendo surpresa. Os olhos cor de oceano estavam mais lindos que eu poderia imaginar.

“Então você perdeu a virgindade Collins? E nem me conta, nossa que amigo malvado você.”

Ela parecia feliz por mim. E eu também estaria feliz por ela se alguma coisa significantemente boa acontecesse em sua vida.

“Ainda não minha querida, ainda não.” Respondi um pouco vermelho. Não sei o porquê de eu ter ficado com vergonha, já que nós vivíamos conversando sobre sexo antes de saber o que realmente era sexo.

“Sua habilidade para manter-se virgem é impressionante, Dan. Se você soubesse como é bonitinho e atraente para algumas menininhas, certamente não seria tão bobo. Mas esse é seu essencial: você é diferente, você é fofo, e existem pessoas especiais o suficientemente para te merecer. E eu não sou uma delas.”

E então ela sorriu para mim, os dentes esbranquiçados e perfeitos. Eu só retribui o sorriso.

Fui até a cozinha pegar um maço de cigarros de meu pai, mas ele só havia deixado um tabaco intacto no maço, o que me deixou meio irritado. Sai com o cigarro apagado entre os dentes, perguntando se Noelle tinha algum isqueiro, mas ela falou que não.

“Você fica mais sexy quando não acende ele.” Anunciou a garota de olhos azuis.

“Só por causa desse elogio, eu não irei acendê-lo. Sete minutos há mais de vida para passar com você. Haha!” Respondi, tirando-o do meio do canto de meus lábios e o atirando pela janela. Espero que ele não tenha caído na cabeça de nenhum pedestre.

“Vamos comer logo, o frango já está pronto.”

“Ok.”

E então forramos a mesa com uma toalha branca, enchendo duas taças de Coca-Cola, e depois despojamos todo o frango frito encima de um arroz com cenoura que Noelle havia preparado.

“E então Dante, você não me disse o que aconteceu na sua vida desde que paramos de nos falar.” Ela fez uma longa pausa, dando um gole no refrigerante enquanto terminava de mastigar a comida por completo. “Conta aí o que aconteceu.”

“Ah, aconteceu muitas coisas loucas. Se eu falasse de tudo nós ficaríamos até o ano que vem aqui nessa mesa, então contarei só um resumo, pode ser?”

Ela balançou a cabeça num gesto positivo.

“Então, eu conheci uma menina ruiva que é viciada em sexo. A gente viajou até uma casa no litoral do estado, eu fiquei com uma menina numa festa e comecei a fumar cigarros constantemente. Ainda estou triste, porque a garota ruiva me decepcionou. Ela estava usando minha camisa do Duende Verde enquanto transava com um cara sarado. Foi decepcionante, e o pior de tudo é que ela parecia gostar de mim! Mas estou tentando evitar pensar nisso, é deprimente.”

Noelle quase vomitou quando eu me referi à Alice como viciada em sexo, e depois começou a rir de novo, como se tudo fosse uma piada.

“Poxa, logo com a sua camisa favorita! E olha que eu é que usava a blusa do Duende Verde, seu trairá. Agora me diga uma coisa: porque você estava andando com essa menina?”

“Pode parecer meio louco, mas ela me disse que poderia me ajudar a reconquistar as garotas que eu me deixaram na zona de amizade. E eu topei tudo isso no começo, pois estava sozinho, precisava ficar com alguma menina. Mas depois eu percebi que eu só queria ajuda-la a superar tudo isso, olhar para ela e simplesmente apoiá-la, dizendo que ela tinha um cara ali com ela que não queria só transar. Eu não me importaria que fossemos só amigos, Noelle. Não me importaria com nada... Ela é especial demais pra se limitar a isso.”

A garota com olhos cor de oceano pareceu-me pensativa, em outro mundo. Retornou a falar logo depois de mastigar o pedaço de frango de sua boca por completo.

“Esse é o nosso problema Dan. Nós ficamos com as pessoas porque achamos que podemos muda-las, porque somos generosos demais. Mas, no fundo, não podemos fazer isso. Eu só voltei com Marco porque queria que ele fosse um rapaz melhor, mas não adiantou de nada no final. Ele continuou fazendo as coisas erradas... O que eu quero dizer meu pequeno, é que você nunca poderá mudar alguém se essa pessoa não tiver força de vontade.”

Eu só concordei. Certamente, aquela era a maior verdade que Noelle já havia dito.

Nós dois estávamos todos nos divertindo, ouvindo música alternativa alta, enquanto lavávamos a louça, e por um segundo eu percebi como aquela menina era especial para mim, há ponto que eu conseguisse deixar minha depressão de lado por ela. Estava indo tudo muito bem, até que ouço alguém bater na porta do apartamento.

Assim que eu resolvi abrir a porta da minha casa, vi uma figura ruiva completamente diferente da que eu conhecia. A maquiagem do rosto estava toda borrada por conta de lágrimas, e ela ainda vestia a minha blusa do Duende Verde, embora a camisa estivesse muito amassada.

“Me perdoa Dante Collins, me perdoa, me perdoa! Eu te amo!” Arfava Alice, parecendo muito nervosa. Ela certamente não estava muito bem psicologicamente.

Tentei abraça-la, segurando-a em meus braços, mas eu estava com muito nojo do que ela havia feito. Não iria conseguir vê-la com os mesmos olhos de antes, a magia simplesmente tinha acabado.

“Calma, calma Alice! Não é porque você faz as suas besteiras que precisa vir chorando por aqui. Entra logo dentro dessa porra de casa e me explica o que aconteceu naquele quarto, naquela hora, naquela tarde.” Meu tom de voz estava ligeiramente irritado, mas mesmo assim não gritei tão alto.

Assim que a garota de cabelos avermelhados sentou-se no sofá da sala, Noelle foi da cozinha até lá ver o que estava acontecendo.

“Pera aí, o que essa vadia tá fazendo aqui Dante Collins?”, Perguntou-me Alice, assim que viu Noelle sentando ao seu lado, oferecendo um copo da água.

“Olha o respeito com ela, Alice!” Adverti.

Noelle parecia estar completamente tranquila, ela simplesmente não ligara muito pros insultos da ruiva. Principalmente pelo fato da garota se encontrar num estado psicológico grave, ela simplesmente tremia e não tinha controle de suas ações.

Sentei-me ao lado de Alice no sofá, envolvendo-a meus braços. Ela chorava e parecia ainda mais nervosa do que todas as vezes que eu a havia visto, e seus olhos cor de mel ganhavam uma tonalidade avermelhada.

Ela pousou o nariz em meu pescoço longo, depois encostou os lábios, e sussurrou em meus ouvidos.

“Seu cheiro é bom, Dante Collins. Você é tão especial, tão protetor... Não me abandone. Eu te imploro.” A essa altura, a garota ruiva depositou as mãos gélidas em meu peito, passando-o por debaixo da camisa. Era um gesto de afeto que não havia malícia, por mais que viesse de Alice. Eu a encostei em meu seio, beijei sua testa, e sussurrei que ficaria tudo bem.

Noelle voltou da cozinha com um remédio para insônia, que a deixaria mais tranquila. Bom, pelo menos era o máximo que poderíamos fazer para acalmá-la. Alice tomou o remédio sem resistência, depois tomou um gole de Coca-Cola na taça, e botou-se a adormecer em meus braços. E eu beijei sua testa branca e sardenta novamente, a apartei forte, e deixei um pouco de minhas lágrimas caírem encima da garota ruiva.

“Você é um anjo, Dante. Não acredito que está fazendo isso por uma pessoa... Ninguém faria isso nos dias de hoje em dia.” Noelle parecia surpresa com minha familiaridade com Alice, e tudo mais. Ela não sentia ciúmes, ou algo do tipo, ela simplesmente sabia o que estava acontecendo, e no fundo só queria me ajudar com tudo isso.

Deixei que mais lágrimas caíssem de meus olhos escuros, para então falar:

“Uma vez essa menina me disse que cada um merece a cruz que quer carregar. E no fundo, ela está certa. Eu morreria carregando essa cruz que chamo de Alice, só para vê-la sorrir novamente.”

Naquele instante, Noelle não pode deixar de evitar que algumas lágrimas de choro caíssem de seus olhos cor de oceano.


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