"When the day has come, that I've lost my way around, and the seasons stop, and hide beneath the ground, when the sky turns grey, and everything is screaming, I will reach inside, just to find my heart is beating. Oh, you tell me to hold on. Oh, you tell me to hold on, but innocence is gone, and what was right is wrong." - Bleeding Out, Imagine Dragons.

***

Pov. Jamie

***

A primeira coisa que vi, não foi bem uma coisa.

Foi alguém.

E esse alguém era Astrid.

E ela possuía manchas de sangue por todo o corpo, deitada em posição fetal, no chão frio.

Acendo a luz, que consistia em puro fogo dentro de uma caixa de vidro, e corro em sua direção.

Há lágrimas descendo seu rosto e ela está em choque. Seu queixo não consegue parar de tremer.

Seus braços estão colados ao corpo, abraçando a si mesma, em uma posição que parecia desesperadamente pedir ajuda.

Não sei o que fazer, julgue-me.

O que você faria se visse algo assim? Tanto sangue assim saindo de alguém que você conhece?

Tentei levantá-la, mas qualquer esforço parecia causar-lhe ainda mais dor e isso está completamente fora de cogitação. Não acho de onde o sangue está saindo.

–Espere, Astrid, aguente firme. Aconteça o que acontecer, não morra. – Eu sei, foi um aconselhamento de merda. – Eu vou voltar com ajuda!

–Espere. – Ela sussurra, quando já estou levantando. Tosse duas vezes, uma tosse fraca assim como ela por completo nesse momento. – Soluço, onde ele está?

–Eu não sei, eu... escute, eu vou buscar ajuda.

–São tantas vozes. – Ela tentava desesperadamente gritar, mas não conseguia, então saía com um desespero incrível.

–São sim, eu sei, está tudo bem. – Tentei acalmá-la, mesmo não entendendo absolutamente nada do que ela estava falando.

–Você as ouve também? – Sua pergunta me tira do ar por alguns bons segundos.

O que ela quis dizer com isso? Que vozes são essas que ela escuta?

O que Pitch fez com ela?

–Eu preciso ir buscar ajuda, fique aqui, por favor.

Certifiquei-me de que ela não saísse de lá, como se fosse algo possível, e corri em direção à sala, passando direto por Rapunzel e Flynn, abrindo a porta da frente.

Meus pés parecem mover-se em câmera lenta por um breve segundo e tenho a sensação de que jamais chegarei em lugar algum.

Preciso achar o Hiccup.

O vento frio acerta-me em cheio, toda vez que ando, e as janelas, a maioria, estão fechadas. Penso em ir até a casa dele, mas algo me para. Uma fogueira acesa à poucos metros daqui.

Corri, contando meus passos inconscientemente.

Ao chegar realmente perto, percebo Hiccup e Merida, conversando.

Por um pequeno momento, quase esqueço o que vim fazer aqui.

Merida tinha seus cabelos soltos em cachoeiras alaranjadas, que, tão perto assim do fogo, parecia em chamas.

Ela estava concentrada em um fio de couro e suas expressões eram tão diferentes do que costumo ver. Ela parecia mais calma, em paz. Eu não havia visto Merida assim desde que ela chegou.

Odiaria quebrar essa paz.

Mas é algo preciso.

–Hiccup! – Chego perto dele, com mais alguns passos. – Rápido, é a Astrid.

Eles se entreolham e Hiccup parece sair do transe que foi eu ter tocado no nome dela assim, de repente.

–O que houve?

–Não há tempo para explicar, vamos!

Merida joga o fio no chão e corre conosco.

Meus pés parecem afundar a cada passo que dou, mas tudo bem, porque se eu afundar, serei o único.

***

Pov. Astrid

***

(Momentos antes de tudo acontecer.)

***

Alguns perdem toda a mente e se tornam alma, insanos.

Alguns perdem toda a alma e se tornam mente, intelectuais.

Alguns perdem ambos e se tornam aceitos.

Eu perdi toda a mente.

Na fogueira, eu senti que algo errado estava para acontecer e eu estava certa.

E agora minha cabeça é governada por vozes estranhas de pessoas que jamais vi na vida.

Umas pedem socorro com gritos altos e outras choram baixinho, dizendo que tudo vai ficar bem.

Algumas murmuram vingança e outras colocam a culpa em si próprias.

No começo, eu não percebi que vinham de dentro da minha cabeça, no começo eu pensei que vinham de fora. Corri por todo lugar, cai em buracos no meio da floresta, gritei perguntando onde eles estavam.

Mas não respondiam. Eles continuavam a lamentar e a pedir ajuda.

Lembro-me de ter corrido de volta para casa.

E foi aí que as vozes ficaram ainda mais altas e se misturavam em uma frequência quase insuportável.

Almas doloridas e perdidas no vento.

Lembro-me de ter enlouquecido.

Lembro-me de me arranhar incansavelmente com minhas próprias unhas. E faca. E dentes.

“Isso é o que você ganha por sair incompleta, por não ter ficado tempo suficiente para aprender seus dons. ”

A voz martelava em minha mente. Barulhos de vidros quebrando, de pessoas chorando, de Pitch.

Recordo-me de ter saído, de ver Rapunzel e Flynn, dormindo.

Me lembro de ter voltado.

Meu corpo coberto de sangue.

Pensei que se voltasse para o quarto, ninguém notaria, e com sorte eu estaria bem no outro dia. Ou morta.

Ambas agora pareciam boas alternativas.

Mas o chão frio lembrava-me da caverna, as paredes pareciam fechar-se em mim, o cheiro de sangue era tão profundo que eu não sabia mais o que era oxigênio.

E então Jamie entrou no quarto, tomado por um susto plausível. Minha voz era fraca e eu não conseguia falar muito.

Ele disse que buscaria ajuda, mas que tipo de ajuda se traz para alguém que já não tem esperança de ficar melhor? E não estou falando fisicamente.

Então Jamie foi embora, buscar a tal ajuda.

E eu só conseguia pensar no Soluço.

Só nele, no jeito como ele me abraçou, como ele esperou por mim, no jeito como ele me beijou.

Um beijo que demonstrava claramente que ele sentia saudades.

O que eu fui fazer indo embora? O que eu estava pensando naquele momento?

O que eu fui fazer confiando em Pitch?

Eu preciso do Soluço.

Eu preciso da minha mente de volta.

Eu preciso viver.

***

Pov. Merida

***

Não pensei que sentiria tanto enjoo na minha vida.

O cheiro de sangue era repugnante e vinha do quarto.

Com a nossa entrada, Rapunzel e Flynn acordaram, meio tontos, tentando entender toda a situação.

Alguém bateu à porta, mas não fui ver. Na verdade, engoli em seco e adentrei o quarto, tampando a respiração, pensando que talvez isso fosse ajudar, sem êxito.

Hiccup foi o primeiro a entrar e então Jamie o seguiu, e Flynn.

Os três seguraram Astrid e a tiraram de dentro do quarto.

Ela tentou gritar para eles pararem, parecia totalmente fora de si.

As marcas em seu braço jorravam sangue para fora, escorrendo por todo o chão.

Quando me dei conta, Elsa estava ao meu lado, Anna também.

E Kristoff e os guardiões.

Praticamente todos estavam ali, deixando a casa extremamente pequena e desconfortável.

Todos gritavam entre si, perguntando o que estava acontecendo.

E então eu ouvi alguém sussurrar, entre os gritos.

–Merida...

–O que? – Tentei ouvir melhor, mas parecia algo vindo do meu imaginário.

–Ajuda...

–Parem de gritar! – Gritei tão alto que todos se calaram e me olharam. Hipocrisia? Hipocrisia.

Apurei meus ouvidos e fui andando por entre todos ali da sala.

–Merida... Você... – Quando constatei que a voz vinha da Astrid, gelei. Ela se engasgava com as palavras, tentando dizer algo.

Cheguei mais perto, com sérios problemas de respiração, por conta do cheiro.

De súbito, ela segurou meu braço e inclinou um pouco seu rosto em minha direção.

Seu queixo tremia descontroladamente e ela fazia movimentos estranhos com a cabeça, como se tentasse se livrar de algo dentro dela mesma.

Quando sua voz finalmente saiu, um calafrio percorreu minha espinha de baixo para cima.

–Seu nome. Eles estão gritando seu nome.

***